quinta-feira, 29 de abril de 2021

Uma Praça, sete nomes

 
O número sete é considerado místico. Sete são as cores do arco-íris. Sete os Pecados Capitais. Sete as notas musicais. Sete os dias da semana. Sete sepultamentos teve Anita Garibaldi.
Número da Perfeição Divina: No sétimo dia Deus descansou de todas as suas obras, diz a Bíblia.
Sete também já foram os nomes de uma Praça no Centro Histórico da Laguna.
Praça República Juliana nos dias atuais.
No começo ela nem poderia ser chamada de praça. Pelo menos não como a conhecemos hoje. Era um mero descampado coberto de relva. Uma área em forma de triângulo sem qualquer tipo de infraestrutura.
Mas seu espaço era o centro nevrálgico da Vila da Laguna que depois virou cidade.

A então Praça Conselheiro Mafra (hoje República Juliana), à direita, em cartão-postal colorizado de 1910.

Num prédio na cor branca ali situado, de dois andares, eram feitas as leis municipais que regiam a comunidade.
Era também local do Tribunal de Audiências e do Júri, e do Paço da Câmara Municipal.
Notícias eram divulgadas. Decisões tomadas e proclamadas ao povo das sacadas e escadaria, após toques de um sino situado num arco, que também anunciava as horas das audiências, as chamadas dos jurados e horário de fechamento dos estabelecimentos comerciais.
O povo ali embaixo, aguardando, ouvindo, a obedecer a ordens nem sempre do seu agrado ou em seu benefício. Determinações às vezes visando outros interesses, de poderosos, influentes, mandões. Como sempre.

Da sacada foi proclamada uma República
Da sacada do prédio, historicamente foi proclamada a República Catarinense em 29 de julho de 1839. Ali David Canabarro esteve com os demais farroupilhas e simpatizantes da Revolução, entre eles o general Giuseppe Garibaldi.
Ao redor de uma mesa em seu piso superior vereadores lagunenses aceitaram o novo regime e Laguna como capital, chamada Cidade Juliana, e transcreveram em ata a histórica sessão.

Nesse mesmo prédio, em seu térreo foi instalado pelo lado norte o Corpo da Guarda. No lado sul as celas da cadeia, as úmidas enxovias onde ficavam os acusados e/ou condenados a cumprir suas penas determinadas pela Justiça.
Bem por isso o povo a chamou, primeiramente, e popularmente ficou conhecida, como Praça da Cadeia.
Sábio o povo em suas denominações de logradouros públicos na nossa Laguna: Rua das Cozinhas, Rua da Banca, Rua do Fogo, Rua Direita, Rua da Fonte, Rua da Igreja, Rua do Teatro, Rua da Praia...
Simples, direto, sem imerecidas homenagens, sem puxa-saquismo, hipocrisia e demagogia barata.
Linguagem popular, conhecida, geográfica, referencial.

Ao redor da então Praça da Cadeia, além de residências, se instalaram ao longo do tempo inúmeros estabelecimentos comerciais, como armazéns, escritórios de advocacia, barbearias, alfaiatarias, farmácias, clubes, associações, bibliotecas, ateliê fotográfico, panificadoras, restaurantes, bares, fábricas, livrarias, cartório, órgãos públicos...
A Praça, então Conselheiro Mafra, em cartão-postal colorizado em 1910. Observem que no início da Rua Raulino Horn, à esquerda, a Estação Telegráfica; logo depois a Agência dos Correios. Na esquina a casa da família Bessa (depois derrubada).
No vértice do triângulo do início da Rua Raulino Horn funcionavam em fins do século XIX e primeiras décadas do século XX, as agências do Telégrafo e do Correio. 

Nome da Praça alterado ao longo do tempo
Nossos governantes representantes, ao sabor dos acontecimentos que se sucediam, alteravam a nomenclatura do local.
Os nomes variavam conforme o regime vigente, pelo falecimento de alguma autoridade mais eminente, ou por sugestões e leis que partiam de membros do Legislativo ou Executivo Municipal.
Sete nomes teve a Praça. Uma Praça na Laguna e seus sete nomes:

1)  Praça da Cadeia
Diz Saul Ulysséa em seu livro “Laguna de 1880”, que era assim conhecida no passado. Com esse mesmo nome, Praça da Cadeia, a ela se referem outros historiadores e viajantes que por aqui passaram pelo século XIX.
Foto da Praça da Cadeia entre os séculos XIX e XX. Um dos registros mais antigos de nossa cidade. Observem que existia o sineiro no alto da escadaria, retirado na década de 1940 e que retornou com a inauguração do Museu em 1956. Nos fundos do prédio um muro (entrada?) em terras do coronel Francisco Fernandes Martins. Na esquina, à direita, ainda não havia o sobrado atual.
Como já antecipado, o nome faz ligação com o prédio no local, um dos primeiros em nossa cidade, construído em sua primeira etapa mais baixa em 1747 (informa Ulysséa), local onde funcionava o Tribunal de Audiências e do Júri, e do Paço da Câmara Municipal.
Nesse mesmo prédio, em seu térreo, foi instalado pelo lado norte o Corpo da Guarda. No lado sul as celas da cadeia. Bem por isso a denominação popular da praça.

2) Praça Conde D'Eu
Em 1881, em sua “Descrição do Município”, Francisco Isidoro Rodrigues da Costa, que foi juiz de Direito da nossa Comarca, cita o local como já sendo Praça Conde D’Eu. Mas a alteração do nome se deu alguns anos antes.
O Príncipe Imperial Luís Filipe Maria Fernando Gastão, o Conde D’Eu, marido da Princesa Isabel foi convocado, após muito insistir, para liderar como comandante-em-chefe os exércitos aliados em 1869, na Guerra do Paraguai, também denominada de Guerra da Tríplice Aliança.
Pela grande habilidade estratégica, coragem e sangue-frio que demonstrou no conflito, ao retornar ao Brasil em 1870, foi recebido como herói e realizadas grandes manifestações populares.
As homenagens se sucederam pelo Brasil com diversos logradouros públicos recebendo o seu nome.
Foi o caso da Laguna que alterou a então Praça da Cadeia para Praça Conde D’Eu.
Publicidade do advogado Luiz Vianna citando a Praça Conde D'Eu. Jornal O Município de 12 de janeiro de 1879.
Em 1884 o Conde aqui esteve, de passagem, vistoriando as obras da Estrada de Ferro e a Ponte de Laranjeiras, em Cabeçuda, que estava em construção.
Anos depois o município de Orleans foi assim denominado porque colonizado em terras pertencentes à Princesa Isabel e seu príncipe consorte.

3) Praça da República
Com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, foram substituídos pelo Brasil praticamente em sua totalidade, nomes de logradouros públicos, associações e entidades que lembravam a Monarquia ou denominações a ela vinculadas. 
Outros nomes pelo país que apoiaram e agora serviam ao novo regime implantado passaram a receber homenagens dali em diante.
Em Santa Catarina podemos citar diversos exemplos, sendo o mais destacado (e emblemático) o da nossa capital que de Nossa Senhora do Desterro passou a chamar-se Florianópolis em homenagem ao segundo presidente republicano, o marechal Floriano Peixoto. Aliás, nome que o nosso Campo do Manejo (hoje Praça Vidal Ramos) também recebeu.
O Jornal O Futuro de 26 de dezembro de 1891, editado em nossa cidade, já faz referência à nova Praça da República.
E foram milhares de Praças, ruas, associações, clubes, etc., denominados XV de Novembro, em homenagem à data.
Na Laguna foram trocadas as nomenclaturas de muitos logradouros, dentre eles:
Rua Bragança (virou 16 de abril e mais tarde João Pessoa); Travessa do Império (hoje Rua Custódio Bessa); Rua dos Andradas (hoje Voluntário Benevides); Rua do Teatro (depois Rua do Império e hoje Rua XV de Novembro).
A nossa Praça Conde D’Eu passou a denominar-se Praça da República. 

4)  Praça Conselheiro Mafra
Em novembro de 1904 foi aprovado pelo Conselho Municipal da Laguna e sancionado pelo superintendente (prefeito) José Maurício dos Santos um projeto de lei alterando o nome de Praça da República para Praça Conselheiro Mafra.
O jornal O Albor de 2 de dezembro daquele ano registrou a mudança, salientando que “Era uma homenagem ao ilustre jurisconsulto catarinense que, com tanta erudição e brilho, tem patrocinado a causa do nosso estado na questão dos limites com o Paraná”.
Jornal O Albor de 2 de dezembro de 1904.
Era a Guerra do Contestado que teve solução judicial graças ao dossiê elaborado por Manuel da Silva Mafra.
Um município do oeste catarinense recebeu seu nome, assim como uma rua em Florianópolis que teve sua denominação alterada de Rua do Príncipe para  Conselheiro Mafra.
Laguna se aliou às homenagens e também alterou o nome de nossa praça.
 
5)  Praça da Bandeira
Desde a Revolução de 1930 o Brasil vivia o tempo do getulismo, onde os símbolos pátrios tomavam proporção de verdadeira veneração, através do nacionalismo.
Desfiles cívico-militares tinham a Bandeira Nacional como símbolo máximo de um povo e seu território.
Inauguração do Obelisco na Praça da Bandeira em 29 de julho de 1939.
O prefeito da Laguna Giocondo Tasso, nomeado pelo Interventor em Santa Catarina Aristiliano Ramos em 1933 e alguns anos depois eleito ao mesmo cargo por voto direto, não fugiu à regra.
Uma solenidade na Praça. Ao fundo, à esquerda, a construção chamada Potreiro, que deu nome à praça vizinha.
Bem por isso, novamente a nossa Praça teve seu nome alterado, passando a ser denominada Praça da Bandeira, com a construção de um grande suporte para hasteamento de três bandeiras: a nacional, a estadual e a municipal; e a edificação no fim da década de 1930 de um Obelisco no centro daquela área em homenagem à República Juliana em seu centenário comemorado festivamente em 29 de julho de 1939.
O Obelisco na Praça da Bandeira em 1939.
A denominação “Praça da Bandeira” foi a que mais se fixou na memória de gerações e até hoje citada pelos mais idosos. 

6)  Praça Anita Garibaldi
Durante a gestão do prefeito Juaci Ungaretti (31/01/66) a 31/01/70), novamente foi alterada a nomenclatura da praça.
Com a inauguração da Estátua da nossa heroína no centro daquela área em 20 de setembro de 1964, o povo começou a se referir ao local, numa espécie de geolocalização, num referencial, como Praça de Anita.
A Estátua de Anita Garibaldi. Foto: Elvis Palma.
Com o nome de Anita já mais consolidado no cenário histórico lagunense, catarinense e brasileiro, com pesquisas, estudos e livros sendo publicados, principalmente de autoria de Wolfgang Ludwig Rau, o local passou a se consolidar como um ponto turístico atrativo, trazendo mais visitantes.
O prefeito Juaci com sua visão progressista, vendo no turismo histórico e de veraneio uma mola propulsora para o desenvolvimento de nossa cidade, alterou, com apoio dos vereadores, a nomenclatura da Praça.
Utilizou-se do personagem de Anita Garibaldi como chamariz, um atrativo, utilizando-se duma ferramenta que seria conhecida anos depois como “marketing turístico e histórico”.
Penso que foi o nome mais acertado, mais adequado e valoroso dos sete utilizados ao longo do tempo para denominar a Praça, sem demérito algum sobre os demais. 

7)  Praça República Juliana
Na gestão seguinte, os vereadores lagunenses aprovaram a Lei nº 14/71 e o prefeito Saul Baião (31/01/70 a 31/01/73) a sancionou, alterando pela sétima vez o nome da Praça.
De Praça Anita Garibaldi para Praça República Juliana, nome que se perpetua até os dias atuais.
Houve algumas críticas pela mudança, inclusive pela imprensa catarinense.
Mas a troca se dava por determinação da Agência dos Correios.
Praça República Juliana no início da década de 1970. Suporte e mastro para hasteamento da Bandeira.
Além disso, a prefeitura e vereadores se defenderam dizendo que “Foi justamente do Movimento Farroupilha, nesta cidade, que emergiu o nome de Anita. A República Juliana, proclamada em 1839, deu ensejo a que Anita se projetasse por sua coragem e bravura.
A nova denominação daquela Praça, embora chamando-se agora “Praça República Juliana”, continua sendo, ainda que indiretamente, uma homenagem a Ana de Jesus Ribeiro – Anita Garibaldi.
Sabemos cultuar a memória de nossos heróis, talvez, como poucos o saibam.
Nossas tradições históricas datam de trezentos anos e nos ensinaram a assim proceder”. 

Troca atendeu determinação dos Correios
Mas a mudança tinha sua razão de ser, um motivo básico. Pelo menos foi o alegado na época.
Conforme as justificativas dos vereadores e prefeito, a troca de nomes atendia “recente determinação, ou melhor, solicitação da Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos, que em uma mesma cidade não era aconselhável existir dois logradouros públicos com a mesma denominação”.
Explique-se:
No município da Laguna já existia uma Avenida Anita Garibaldi.
Onde se localizava?
Ela iniciava onde hoje é a rótula defronte ao Centro Administrativo Tordesilhas, nas proximidades do Ceal, em direção ao hoje Sambódromo, à Avenida Castelo Branco (atual João Marronzinho).
Da citada rótula em direção ao centro e bairro Magalhães, finalizando ao lado do Colégio Stella Maris, ela se chamava Avenida Brito Peixoto.
Anos depois, por volta de 1975, novos representantes municipais querendo homenagear o governador de Santa Catarina, lagunense Colombo Machado Salles (1971-1975), deram seu nome à avenida em toda a sua extensão, mesmo porque foi quase toda ela lajotada com recursos estaduais.
Para compensar, o fundador da Laguna Domingos de Brito Peixoto e seu filho Francisco ganharam um monumento em 1982 na pequena Praça defronte ao Cine Mussi; e Anita Garibaldi ganhou o nome de uma curta rua, de alguns metros de extensão, paralela à antiga avenida que levava seu nome, ali defronte à Rodoviária.
Além disso, só para lembrar, já existiam o Clube Anita Garibaldi, a Árvore de Anita Garibaldi, a Rádio Garibaldi, o Museu Anita Garibaldi, a Estátua de Anita Garibaldi e a Casa de Anita Garibaldi.
Depois surgiu o Aeroporto Anita Garibaldi na Praia do Sol, que recebeu esta denominação a partir de 2009, e, nos dias atuais, a beleza da Ponte Anita Garibaldi, inaugurada em 2015. Além de casas comerciais, produtos, fundações e institutos.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Faleceu Ricardo Netto Amboni

Faleceu nesta manhã no Hospital de Tubarão, nosso estimado Ricardo Netto Amboni, aos 59 anos, proprietário do Restaurante Pardhal’s. Filho de Geraldo Amboni e Maria de Lourdes (dª Lurdete) Netto Amboni; irmão de Ronaldo e Robson.


Ricardo, conhecido carinhosamente como “Telha”, foi uma pessoa trabalhadora desde moço. Batalhador, sempre ajudando o próximo. Simples, tratava bem a todos, desde o mais humilde.
Na esquina entre as Ruas XV de Novembro e Duque de Caxias, no Centro Histórico da Laguna, montou seu estabelecimento comercial, uma bar/lanchonete em princípio, depois restaurante.
Casou com Aline Tasso Borges Amboni e são pais de Tuanny, Natany, Tamirys e Bernardo.
Sentimentos aos amigos e familiares.

Velório acontece a partir das 15 horas na Central de Luto Cristo Rei, ao lado do Ceal e sepultamento às 17h30 desta segunda-feira no Cemitério da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Santo Antônio dos Anjos.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Diário de um Padre

 
Em 1909 o Pe. Coadjutor da Laguna César Rossi fez uma viagem partindo de nossa cidade com destino à Nova Veneza, passando por Tubarão, Pedras Grandes, Azambuja e Urussanga.
Da Estação de Passageiros da Estrada de Ferro Donna Thereza Christina (hoje FTC -Ferrovia Tereza Cristina S.A.) à Pedras Grandes, de trem. O ramal para Urussanga com sua estação só seria inaugurado anos depois, em 1922.
Pe. Rossi atravessou a 1ª Ponte Ferroviária de Laranjeiras, em Cabeçuda, Laguna com 1.480 metros de extensão.
O diário de bordo que escreveu sobre o passeio foi publicado em quatro capítulos no jornal O Albor, edições de 4 e 18 de julho e 8 e 15 de agosto de 1909.
O padre descreve suas impressões, dificuldades enfrentadas, onde passou e se hospedou, com quem conversou, o que viu e sentiu na natureza do caminho numa viagem que começou num vagão de passageiros de trem partindo da Laguna e sua estação situada no Campo de Fora, atravessando a Ponte de Laranjeiras, na Cabeçuda.
"Sai o trem da Laguna, atravessando cômoros de areia branca, como a neve, ao reverbero do Sol", diz poeticamente o padre em sua frase inicial.
Trajeto que Pe. Rossi percorreu, da Laguna à Nova Veneza. Hoje o trecho pode ser feito de automóvel em estradas asfaltadas em pouco mais de 2 horas. GoogleMaps.
No relato há análises realistas da falta de infraestrutura das estradas naqueles incipientes anos, do franco progresso da região, produção e escoamento dos produtos, com análises socioeconômicas da época e até previsão futuras.
A religiosidade, a cultura e a gastronomia da região também são temas abordados.
 
Quem foi Pe. César Rossi
Padre César Rossi nasceu em Subiaco, na Itália, em 9 de janeiro de 1879. Foi ordenado sacerdote em 19 de dezembro de 1902.
Padre/Cônego César Rossi. Arquivo de Jair Silveira/Blog do Padre Besen.
De acordo com pesquisas do Pe. José Artulino Besen, Rossi chegou ao Brasil em 1908 e logo foi nomeado vigário paroquial de Nª Senhora do Desterro de Florianópolis.
Em seguida veio para Laguna como padre-coadjutor na paróquia Santo Antônio dos Anjos e também encarregado da paróquia de Nª Senhora das Dores de Jaguaruna.

Abaixo-assinado pela permanência 
Em 18 de julho de 1909 o O Albor noticia que uma comissão da Laguna foi até o bispo Diocesano D. João Becker, levando um abaixo-assinado contendo 428 assinaturas pedindo a permanência definitiva do padre Rossi em nossa Paróquia.
Em 25 do mesmo mês o padre publicou no mesmo jornal uma nota de agradecimento pela solicitação feita através das assinaturas, "mostrando-se eternamente grato".
Jornal O Albor de 25 de julho de 1909.
No mesmo dia, nas dependências do Hotel Monte Claro (hoje Clube União Operária, na rua Santo Antônio)), o padre ofereceu um coquetel (um copo d'água, como se dizia) para alguns amigos agradecendo, e que a deferência pela sua permanência fosse transmitida a todos os lagunenses.
Em seu discurso o padre disse: "estar penhoradíssimo pelas deferências que até hoje lhe tem sido liberalizadas pela Laguna; que naquela hora sua mãe haveria de estar derramando, na Itália, lágrimas, pensando no filho ausente; mas que quando soubesse o modo carinhoso, gentil e querido porque tem sido tratado pelo povo lagunense, terá imensa alegria.
Ergueu, pois, sua taça à nobre e hospitaleira terra que tão boa acolhida lhe tem dado".

Criação de uma escola na Laguna: planos frustrados
De acordo com o O Albor de 3 de abril de 1910, padre Rossi planejou abrir um estabelecimento de ensino na Laguna que seria batizado como Escola Pio X e funcionaria em sua própria residência na rua Jerônimo Coelho.
"As matérias professadas no estabelecimento serão: português, francês ou italiano (à vontade), geografia, aritmética, História do Brasil e elementos de geografia", dizia a nota.
A criação da Escola Pio X na Laguna pelo Pe. Rossi: Um sonho que não se concretizou. O Albor de 3 de abril de 1910.
Mas de nada adiantou o abaixo-assinado pela sua permanência na Laguna. Em fevereiro de 1911 foi transferido e provisionado como pároco de São João Batista de Imaruí, e encarregado do Senhor Bom Jesus do Socorro de Pescaria Brava.
Com o falecimento do pároco da Laguna padre Manoel João em 29 de maio de 1911, assumiu padre Francisco Xavier Giesbert, como informa a historiadora Nail Ulysséa.

Em 1º de dezembro de 1917 padre César Rossi torna-se pároco de Sant’Ana do Mirim e encarregado de Sant’Ana de Vila Nova.
Foi interino e depois pároco de São Joaquim de Garopaba, onde construiu a torre e a escadaria daquela igreja. 
Serão décadas como pároco dessas paróquias.
Em dezembro de 1940 foi nomeado cônego. A partir deste ano sua saúde entrou em declínio. “Surgiram sintomas de arteriosclerose, doença que o levou a uma velhice triste e deprimente, acompanhando-o até o túmulo”, ressalta o padre Besen.
Faleceu em 11 de março de 1953, aos 74 anos, com 51 anos de sacerdócio, no nosso Hospital de Caridade Senhor Bom Jesus dos Passos, onde “não tendo para onde ir, pobre e solitário ficou internado por quatro anos. Foi sepultado no cemitério da igreja Sant’Ana de Mirim", pontua Besen.
 
Cabelos brancos e usando bengala pelas ruas da cidade
O procurador de Justiça aposentado Sidney Bandarra Barreiros lembra que nesses anos iniciais da década de 50, padre Rossi percorria diariamente algumas ruas da Laguna, visitando amigos e conversando no escritório da empresa Pinho, situada na rua Oswaldo Cabral. De cabelos brancos, era considerado um ancião naquela época e usava uma bengala para ajudar na sua locomoção.
Dona Salete Remor de Souza também lembra do Pe. Rossi caminhando pelas ruas da nossa cidade. "Ele de vez em quando almoçava lá em casa, conversava muito com meu pai Luiz Remor. Era bem como disse o Sidney, parecia tão velhinho, velhinho e só tinha 74 anos, veja só".
Carlos Augusto Baião da Rosa relembra: "Entre os anos de 1949/1950 moramos nos altos da rua Oswaldo Aranha, defronte ao Hospital, em casa do comandante Schneider, onde hoje funciona uma academia. Lembro de um padre bem velhinho usando bengala que ficava no jardim. Sim, o hospital já teve jardim. 
Quando morreu foi velado na Capela do Senhor dos Passos lá do Hospital".
 
Boa viagem
Depois dessa pequena biografia, vamos juntos, leitor e leitora aqui do Blog, acompanhar o trajeto junto ao Pe. Rossi em seus plenos 30 anos de idade. Vamos ser companheiros de sua viagem no longínquo 1909, através dos seus olhos e sentimentos, enfrentando chuvas, precipícios, a solidão e a escuridão da noite naqueles primórdios tempos.
É uma postagem única. Só divido o diário em quatro capítulos tal e qual fez o padre.
Uma viagem feita há 112 anos da Laguna à Nova Veneza, aqui recuperada e reproduzida para não se perder na poeira dos tempos de velhos jornais.
Partiu leitor-passageiro deste Blog.
Boa viagem! 

Da Laguna à Nova Veneza
(Parte I)

Pe. César Rossi

“Embora não seja a Estrada de Ferro Thereza Christina uma d’aquelas grandes artérias europeias que, à farta, circulam o progresso e a civilização, fatores primordiais da grandeza das nações, em que, diariamente, passam dezenas de comboios cortando campinas  povoadas, aldeias e cidades florescentes, parando em estações eminentemente comerciais, todavia ela oferece ao passageiro esplêndidas vistas de campinas, vasto panorama de matas virgens que o alegram e encantam e lhe suscitam na mente tantas ideias e infinitas lembranças.
Sai o trem da Laguna, atravessando cômoros de areia branca, como a neve, ao reverbero do Sol.
Alguns quilômetros da estação inicial, passa n’uma grande ponte que liga as duas colinas, construída sobre a bela e imensa lagoa cujas águas banham a cidade.
Apesar de não oferecer a ponte belezas artísticas (ao menos aos olhos profanos), atrai a atenção, senão por outro fato, pelo menos pelo seu comprimento de cerca de 1.400 metros.
Ponte da Estrada de Ferro Dona Theresa Christina em Cabeçuda-Laguna, na década de 1930.
Marchando o trem lentamente pela ponte, dá lugar a observarem-se infinidades de biguás espalhados na superfície das águas.
Continuando a viagem, se nos depara a planície de Tubarão, cortada pelo rio de idêntico nome, que na época das chuvas alarga o leito, inundando muitos terrenos com enorme prejuízo dos lavradores que veem de repente, nulificados os seus esforços desaparecer a esperança de seus trabalhos.
É corrente que esta planície é tão fértil como o Vale do Nilo, do Egito; mas nota-se ser pouco povoada, com casinhas feitas de barro, meio caídas, onde mora gente pobre que se dedica ao plantio de feijão, milho e arroz.
Esta vista me fez despertar a imensa planície del’Agro Romano, completamente despovoada, mas sem as ruínas que lá existem das grandezas romanas.
Em seguida chega o trem à estação do Tubarão que apesar de não ser como aquelas a que me refiro no início d’estas toscas linhas, todavia apresenta certo movimento e importância.
1ª Estação de Passageiros da Estrada de Ferro Dona Thereza Christina em Tubarão. Fonte: Diário do Sul.
Saltando em Pedras Grandes, dirigi-me para Azambuja a cavalo, pois não há outro meio de condução, a não ser as carretas antediluvianas puxadas à custa pelos bois.
O caminho para Azambuja começa por uma leve subida, ladeando quase sempre um rio que forma esplêndidas cascatas que se precipitam, imponentes, por entre os morros e as plantas.
É uma vista encantadora digna de ser visitada por touristes que continuamente percorrem os lagos da Suíça e norte da Itália.
As sombras da noite me envolveram em caminho e nada mais ouvi a não ser o murmúrio do rio e o ladrar dos cães.
Ao chegar a Azambuja, encontrei-a envolta no manto espesso das trevas e hospedei-me na casa do vigário que, avisado, me esperava para comer o tradicional Taglarino. Após curta conversa, cansado, fatigado, entreguei-me a profundo sono.
A posição topográfica de Azambuja não é muito bonita: quase não há horizontes e quem está acostumado às tardes formosas e esplêndidas da Laguna, experimenta uma opressão como se aquelas montanhas o fossem abafar.
No dia seguinte, continuei a viagem e depois de um percurso de 20 quilômetros de caminho péssimo, incômodo, cheguei à próspera e adiantada Vila de Urussanga, onde o primeiro dever a cumprir é render graças ao Altíssimo por se ter chegado são.

(Parte II)

A Vila de Urussanga está colocada em um vale a poucos metros acima do nível do mar, banhada pelo rio do mesmo nome e por isto, um pouco úmida.
Uma cordilheira de colinas proíbe ao visitador vê-la antes de lhe chegar às portas, o que torna mais aborrecida a viagem. Porém, em chegando, a vista alegre da Vila recompensa todo o trabalho, a tristeza e o enfado.
Duas fileiras de casas brancas, entre as quais há sobrados bonitos e artísticos estão em redor de uma grande praça, em cuja extremidade se ergue a igreja que, embora não seja um monumento de arte, tem algumas coisas dignas de admiração, como pelo quadro de Nª Senhora da Conceição (tipo de Murillo), lindos trabalhos de madeiras feitos pelos artistas locais e três sinos, cuja voz argentina chama extraordinário número de devotos, que vão prestar a homenagem devida ao Criador.
Prédio de 1904 situado na Praça Anita Garibaldi, de Urussanga, onde já funcionou a 1ª sede da Câmara de vereadores. Hoje nele instalado a Biblioteca Pública Municipal. Foto: Prefeitura de Urussanga/Divulgação.
É um espetáculo comovente ver como aquele povo assiste, com reverência e devoção, as sacras funções.
Aqueles colonos mantiveram a fé que receberam com o leite materno e aqui, longe da pátria, constituindo família, orgulham-se em educar os filhos na mesma fé e crença.
Oh! Como aquela igreja, talvez pobre de arte é rica de espírito religioso, à diferença de tantas que, adornadas de pinturas e mármores preciosos, são depois profanadas ou deixadas desertas!!...
Um dia de festa em Urussanga é muito divertido, porque o extraordinário concurso de povo dá à Vila um movimento digno de nota.
Ao amanhecer, o incessante repicar dos sinos anuncia o dia do descanso.
Uma multidão de colonos, velhos e moços vestidos festivamente, alegres, veem de diversos quilômetros. Ali encontram outros que moram em várias paragens, falam e conversam como se fossem de uma mesma família.
Mas o que mais admira é ver grupos de vinte e trinta cavalheiros, homens e mulheres e estas muitas vezes com crianças de colo, verdadeiras amazonas, cavalgando com tanta perícia, como não o fazem outras que, nas cidades, recebem lição de equitação.
Tinha bem razão o general Garibaldi, quando falando da cavalaria rio-grandense disse que tendo a Itália cavalheiros semelhantes faria muita coisa.
Urussanga pertence à Comarca de Tubarão e há pouco tempo constituiu-se município autônomo o que demonstra quanto aquele povo, aliás, muito bom, é amante da liberdade, liberdade que na terra natal comprou a custo de inúmeros sacrifício e muito sangue derramado para derrotar o jugo dos austríacos.
Urussanga é uma colônia completamente italiana, fundada há cerca de 30 anos: quase todos os habitantes são Vênetos e Bergamascos, povo de ótimas qualidades e incansáveis trabalhadores.
Acostumados no solo nativo, a lavrar a terra de ricos proprietários, sem ganhar muitas vezes quanto lhes era necessário para matar a fome e vestir os seus filhinhos, como outrora, mais ou menos acontecia aqui no Brasil com os fazendeiros, vivem agora bem satisfeitos.
Amam muito esta segunda pátria, onde gozando de muitas regalias, ficou dono de muitas terras que, hoje, devido a diversas causas são de pouco valor, mas que algum dia (Deus permita que seja brevemente) em que a agricultura constituir a fonte principal da riqueza do país e for mais favorecida, representarão um rico cabedal. 

(Parte III)

A 15 quilômetros ao norte de Urussanga ergue-se uma montanha de cerca de 500 metros acima do nível do mar, chamada Monte de S. Luzia.
No cume está situada uma casinha branca pertencente ao sr. Torquato Tasso que, gentilmente, me convidou a chegar até lá, em companhia do simpático, dr. Carlos Felice Bongioanni, médico cirurgião d’aquela Vila.
Opinando este que aquele ar puro me pudesse melhorar o estado da saúde, aconselhou-me que anuísse ao cortês convite e fomos.
A viagem foi agradabilíssima não só pela amável companhia como pelas lindíssimas vistas que a todos os momentos aparecem.
A entrada vai ladeando um rio pequeno, rico em água e cachoeiras, cuja força por enquanto serve só para mover duas serrarias e dois moinhos de farinha de trigo. No trajeto, os bons colonos nos cumprimentam e não falta quem nos queira oferecer ovos frescos e vinhos, coisa que ali há em abundância.
Antes de chegarmos à base da montanha o médico foi chamado para ver um doente, menino de doze anos que se torcia na cama com terríveis dores o que muito nos entristecia.
A subida não é isenta de dificuldades e perigos, os animais ficam bem cansados, o estreito caminho tem à esquerda a montanha; à direita, um precipício, verdadeiros abismo.
Escorregando o animal vai cair no fundo, onde se precipita um rio, cujo ruído se confunde com os bugios que povoam aquele lugar e formam o desespero dos colonos vizinhos que tem ali boas plantações de milho.
Finalmente chegamos à CASA BRANCA (não é a de Marrocos).
Ah! Que encanto. Parece-me estar nos meus Apeninos.
A respiração é mais livre; as contrações do coração são mais fáceis; não há montanha mais alta que nos abafe a não ser bem longe, a Serra Negra com os seus picos que se parecem confundir com as nuvens do céu.
Que vista deslumbrante se descortina ali!
Todas aquelas colinas, em redor de Urussanga, parecem uma imensa planície que se estende à Jaguaruna, à Araranguá e se confunde afinal com o imenso oceano.
A vista fica satisfeita com aqueles diferentes panoramas que me lembram as viagens esportivas feitas nas colinas romanas e nas alturas dos Apeninos.
O médico voltou no dia seguinte para Urussanga chamado pelos deveres da profissão e regressamos três dias depois, pois a isto nos obrigou a mudança do tempo.
O município de Urussanga não é muito grande pela superfície, mas é relativamente assaz povoado. Tem diversos cursos d’água e verdadeiros rios cuja força hidráulica podia dar vida a uma infinidade de fábricas, pois não falta a matéria prima. Mas somente direção, dinheiro e iniciativa.
Oh se tantos capitais, depositados na caixa Econômica ou bem fechados nos cofres fossem empregados lá em outros lugares semelhantes que juros não dariam eles?
Oxalá que chegue quanto antes este dia bem aventurado ou que os capitalistas d’aqui sigam a norma dos ricos ingleses.
Vários são os produtos de Urussanga: milho, feijão, batatas, algodão, bicho de seda, vinho, etc.
Com a seda, aliás, um pouco áspera devido à falta de máquinas, os colonos fazem lindíssimas mantilhas que podem adornar a cabeça de uma senhora.
Além disso, Urussanga possui diversas serrarias montadas pelos colonos, onde fazem lindos trabalhos, um malho, diversos moinhos para farinha de milho, empregado em fazer o indispensável prato de Vêneto, a polenta, como para muitos brasileiros o pirão.
Urussanga é a colônia mais adiantada e poderia sê-lo muito mais se como disse tivesse capitais e boas estradas, meios indispensáveis para o desenvolvimento das indústrias e agricultura.
Quem viu os trabalhos que os colonos suportam para exportar alguns produtos é que pode devidamente avalia-los.
Muitas vezes aqueles carros primitivos puxados pelos bois ficam no meio da lama sendo necessário descansá-los e transportá-los pouco mais adiante com esforço sobre humano com grande perda de tempo quando não vinham machucando e quebrando tudo. 

(Parte IV - Final)

 É sabido que no movimento está a vida, por isto, n’aqueles poucos dias de passeio, quase não parei.
Convidado a ir até Nova Veneza, fui na companhia agradável do sr. Miguel Napoli, ex-diretor d’aquela colônia e dois companheiros.
Saímos de Urussanga depois de uma forte chuva. No trajeto, passamos por um caminho horrível, devido à quantidade de lama que em certos pontos chegava até a barriga dos cavalos.
Chegamos à Nova Belluno ao anoitecer e não obstante a chuva continuamos a viagem, a fim de alcançar Nova Veneza onde, no dia seguinte, se celebrava a Festa de São Marcos, seu patrono.
A chuva cada vez mais aumenta, acompanhada de forte vento e trovoada: a noite torna-se bem escura.
Protegido por um pala tinha as costas enxutas, enquanto os outros estão molhados, como pintos.
Felizmente divisamos uma luz e apressando os passos, deparamos com uma casa colonial na qual entramos com a mesma satisfação com que um náufrago entra em um porto seguro, ou um peregrino perdido no deserto para em um oásis para descansar e refrescar os seus lábios na água cristalina.
Recebidos com a hospitalidade característica da população colonial, fomos servidos do apreciado prato, a POLENTA e a roupa foi posta a enxugar.
Estávamos resolvidos a passar ali o resto da noite, mas a chuva cessou felizmente e podemos continuar a viagem, embora a noite fosse tão fechada que não permitia ver nem os animais em que íamos montados.
As 10 e ½ chegamos à Nova Veneza.
Continuando a chuva no dia seguinte, a festa ficou transferida e assim os perigos d’aquela viagem não foram compensados com o divertimento que o lugar podia acaso oferecer.
Nova Veneza, como Urussanga, está colocada em um vale fértil banhado pelo rio Mãe Luzia; faltam, porém, as “Gôndolas”, o palácio “dos Doges” e os “Leões” da velha Veneza.
Nova Veneza é uma colônia exclusivamente italiana, fundada no ano de 1890 pela Companhia Metropolitana e pertence ao município e Comarca de Araranguá.
Contando poucos anos de vida, está adiantada: não lhe faltam bons prédios, entre os quais vem em primeiro lugar o da Companhia, morada do diretor da colônia, atualmente o gentil sr. Alfredo Pessi.
Prédio da Sede da Companhia Metropolitana, hoje Museu do Imigrante, de Nova Veneza, onde Pe. Rossi se hospedou em 1909. Foto: Prefeitura de Nova Veneza/Divulgação
A posição deste prédio é magnífica por estar no cume de uma colina que domina a toda Nova Veneza propriamente dita, o vale todo com o seu rio e no fundo a majestosa Serra.
Também esta colônia produz milho, feijão, arroz, vinho, mandioca, etc., mas d’estes produtos quase nada chega à Laguna (exceção feita da banha) devido à falta absoluta de estradas.
O que ajuda e dá vida aos pobres colonos são os serranos, cujas tropas vão comprar gêneros nas casas de negócio.
É certo que se não fosse assim, seria impossível viver lá, não tendo os lavradores meio algum para prover-se das coisas mais necessárias.
Quem sabe quando o sopro da vida e do progresso chegará àquelas regiões abandonadas?
Deus permita que não seja muito tarde.

FIM