Sabonete,
sabão, vela, calçado, gasosa, cerveja, vinhos de frutas, caramelos e bombons, gelo, couro, fogos
de artifício e enlatados são alguns dos produtos que já foram produzidos em
nossa cidade. Além do café, arroz e pescado através de empresas de beneficiamento.
Dentre as
fábricas que existiram constam três de produção de cigarros. Uma delas, que
funcionou em pleno centro da cidade, lançou cinco marcas no mercado nacional.
Laguna já teve
muitas indústrias, fábricas e beneficiamentos. As décadas de 1910 a 1950 foram
pródigas na pujança econômica e social do nosso município.
O que refletiu, por exemplo, em sua arquitetura com a construção de sobrados e palacetes por parte de industriais,
comerciantes e armadores. Período em que nosso movimentado porto escoava a rica
produção, na ausência de rodovias. Havia muitos empregos e o capital circulava.
|
Fábrica de gasosas Gruner (1923) |
A nossa cidade já teve fábrica de gasosa, primeiramente de Paulo e depois de Willy Arno Gruner. Uma charqueada na Barbacena, de Pinho & Cia.
Já teve três fábricas de cerveja: a Brandl, primeiramente de
Antônio e depois de Otto Brandl. A Sulina, de Dolvino Felipe Martins, e outra
de Eugênio Viana.
|
Fábrica de cerveja de Antônio Brandl, em 1887. |
Teve quatro
fábricas de calçados: uma de Pio Machado, outra de Manoel Medeiros, uma
terceira de Antônio J. Silva e a quarta de Paulo Zanini.Laguna já teve
três fábricas de sabão: de Machado & Cia, de José Fernandes Martins, e de Dário Gomes de Carvalho.
Uma indústria
de vinho de frutas, enlatados e camarão seco, de Pedone & Cia. A fábrica de
Dário Gomes de Carvalho, produzindo perfumes, sabonetes, sabão e velas.
Fábrica de
engarrafamento de vinagre, a A. Pavan. De caramelos e bombons, de Dolvino Felipe
Martins. De móveis, de João Wendhausen, de José Felipe, de Manoel Umbelino e de Arcângelo
Bianchini.
Industrialização
de couros, de Ernesto Bihel, na Carniça (hoje Campos Verdes).
Fábrica de
gelo, de Teixeira & Irmãos, ali na rua Fernando Machado (rua do Rincão). Em 1915!
|
Fábrica de gelo em 1915. |
Teve fábrica
de torrefação e moagem de café, de Carlos Emilio Strauch (em 1908), a de
Eduardo Silva (Café Ned), e a de Afonso Prates Silva (Café Salete).
|
Moagem e torrefação de café em 1908. |
Fábrica de
fogos de artifício de Custódio José Duarte (1900), de José Maria Calazans (1912), e de Joaquim Soares (1920), as três no bairro Magalhães; e de Fernando Coelho (1912),
no bairro Campo de Fora.
|
Fábrica de fogos de artifício de Fernando Coelho, no Campo de Fora, em 1912. |
Teve moinhos
de arroz e de mandioca, além de muitas outras empresas de beneficiamento de
pescados, como a Santa Marta e a Nipo Brasileira. A lista é variada e extensa.
As fábricas de cigarros
Entre as
fábricas que a Laguna já teve constam três de produção de cigarros.
A primeira
delas, de menor porte, de propriedade de José de Araújo Teixeira produziu
durante alguns anos, no começo do século XX a marca Diplomata.
A segunda fábrica, de Pedro Alves Gomes & Irmão, proprietários da Casa Amazona, além de vender produtos de armarinho, cristais e porcelanas, finos doces em caldas e secos, charutos, fumos, papéis e palhas para cigarros, cachimbos, piteiras, bolsas para fumo e cigarrilhas, produzia os cigarros de afamada marca Annita Garibaldi. Isso no ano de 1908!
Olha aí o nome da nossa heroína de Dois Mundos sendo utilizado já naquela recuada época em produto e peça de publicidade.
|
Casa Amazona produzia os cigarros Annita Garibaldi. Em 1908! |
Fábrica ao lado do Museu
A terceira
fábrica, Euzébio Nunes & Cia, foi fundada no ano de 1933 e pertenceu ao
industrial Euzébio Nunes. Suas instalações eram naquele casarão onde já funcionou
a Biblioteca Pública Romeu Ulysséa e prefeitura, situado ao lado do Museu Anita
Garibaldi, na hoje Praça República Juliana (antiga Praça da Bandeira).
|
Casarão onde funcionou na década de 1930 a empresa Euzébio Nunes & Cia. |
Em outubro de
1933 a empresa lançou no mercado cinco marcas de cigarro: Alaska, Nevada, Sarita, Bocanegra e Siri, além
de fumo preparado Butiá. A produção, em modernos maquinários
importados, era de 23 mil cigarros/hora.
|
Siri, Sarita e Bocanegra, três das cinco marcas lançadas em
1933 pela empresa Euzébio Munes & Cia. |
O preparo e
acondicionamento ficavam a cargo do sócio e irmão Álvaro Nunes, que havia
trabalhado sete anos em São Paulo em fábricas de cigarros. Outro irmão, sócio e funcionário era Caetano Nunes.
Como ainda não
havia lavoura de fumo na região, utilizou-se matéria prima oriunda do Rio
Grande do Sul e importada da China e Turquia.
Em paralelo,
Euzébio Nunes fez intensa publicidade aos agricultores da região sul do nosso
estado, inclusive distribuindo sementes e folhetos explicativos. As sementes
eram fornecidas pela Inspetoria Agrícola de Florianópolis, tendo como
procedência a Estação Experimental do Ministério da Agricultura da Bahia.
|
Os folhetos distribuídos por Euzébio Nunes. |
Em entrevista
ao jornal lagunense A Cidade, edição
de 7 de outubro de 1933, o industrial Euzébio era todo esperança:
“Até há pouco
tempo essa indústria não era explorada nesta zona. Estou vivamente empenhado no
cultivo do fumo A indústria do fumo em todas as suas ramificações será por nós
explorada. A partir do ano que vem esperamos já utilizar matéria prima que a
nossa região produzir”.
Já o jornal A República, de Florianópolis noticiou o
fato, inclusive destacando preços e qualidades dos produtos recebidos de
Euzébio Nunes que visitou a redação “em agradável palestra” e, claro,
aproveitou para fazer o hoje chamado marketing.
Aliás, o industrial Euzébio sabia usar a publicidade, o merchandising. No carnaval de fevereiro de 1934, o Bloco Carnavalesco de nossa cidade Pingos & Respingos trouxe como um dos carros alegóricos uma grande carteira de cigarros da marca Nevada.
O jornal destacou:
“O cigarro Nevada, ao preço de 600 réis, é uma
mistura fraca, com acondicionamento impecável, nada deixando a desejar ao
consumidor mais exigente”.
“O Sarita, para 500 réis, em elegantes
carteiras azuis”.
“Bocanegra e Siri, para 300 réis, saborosos cigarros destinados a um grande
consumo. Os produtos da novel fábrica catarinense são realmente bem feitos e
merecem a preferência do público”.
Numa velha
crônica publicada no jornal Semanário de
Notícias, o músico e maestro Agenor dos Santos Bessa, contemporâneo da
fábrica, observou:
“Não digo que
todas as marcas fossem muito boas, como o Sarita, o Siri e Bocanegra, mas o Nevada e o Alasca eram muito bons cigarros, tanto assim, que todo o sul do
estado era mercado consumidor, principalmente o comércio de Tubarão”.
Tempos outros em
que população e consumidores não tinham conhecimento dos malefícios do fumo à saúde.
A produção durou apenas um ano
A produção
durou cerca de um ano. Euzébio Nunes no ano seguinte, em 1934, informou pelos
jornais que grande parte das sementes distribuídas pelo Ministério da Agricultura
estavam falhadas. “Não sabemos ao certo se não nasceram por estarem estragadas
ou se devido ao intenso frio deste inverno”, lamentou.
Como a
produção da matéria prima murchou, a confecção dos cigarros tornou-se inviável com
a continuação da importação de fumo dos grandes centros e também do exterior. A
produção dos cigarros parou.
Em 1936
Euzébio Nunes foi eleito presidente da Associação Comercial da Laguna. Sua
empresa, junto com seus sócios, continuou no ramo de exportação de mandioca,
madeira e outros produtos primários para os mercados consumidores europeus.
Duas décadas
depois, em 1955 surgirá a empresa Souza Cruz no município de Tubarão,
utilizando-se de matéria prima produzida pelos agricultores (fumicultores) da região, com
fonte regular e constante e a integração da etapa de processamento de fumo
bruto à cadeia produtiva. Mas esse é outro capítulo.
Que fique aqui
registrado o pioneirismo do industrial lagunense Euzébio Nunes lá na década de
1930 em incentivar a agricultura de fumo em nossa região sul e instalar sua fábrica
do produto.