Sexta-feira, 1º de junho de 1984. O dia amanhece
cinzento e frio na Laguna, a despeito do sol que teimava em brilhar.
Na noite anterior a cidade foi dormir mais tarde
devido à carreata (então chamada de serenata) realizada a partir da meia-noite de
quinta-feira pelas ruas e avenidas, percorrendo o centro e bairros.
São dezenas de automóveis circulando, com
festeiros e demais fiéis promovendo a abertura de mais uma Festa em honra ao
padroeiro da cidade, a ser realizada de 1º a 17 daquele ano. Buzinas e
foguetório marcam todo o trajeto.
Trágico
acidente
Após as 10 horas da manhã daquela sexta-feira uma triste
notícia, como um rastilho de pólvora, também vai percorrer a Laguna.
Um acidente automobilístico acontecido na
BR-101 havia ceifado a vida do padre Luiz Agostinho Zocche Saccon, pároco auxiliar, ou
vigário cooperador, como era então chamado, da Matriz Santo Antônio dos Anjos.
Incredulidade e tristeza geral no mundo religioso.
Logo chegou a confirmação. Sim, de fato, logo pela manhã, na BR-101, imediações de Imbituba e vindo de Florianópolis, padre Agostinho havia se
acidentado com seu automóvel Voyage e uma carreta e, infelizmente, estava
morto.
Padre
Agostinho
Padre Agostinho. Foto: acervo de Victória Saccon Tramontin |
Foi batizado em 3 de janeiro de 1955 na paróquia de Turvo, pelo Frei Gregório Dalmont. Foram padrinhos Joaquim Lourenço (Victoria Saccon) Tramontin.
Era bastante conhecido no mundo católico da região sul e fazia um ótimo e elogiado trabalho, principalmente entre os jovens, faixa etária onde era muito querido.
Havia sido ordenado padre em 20 de dezembro de 1982. Filho de Francisca Zocche Saccon e Domingos Valentin Fachin Saccon, moradores de Meleiro - SC, descendentes dos primeiros italianos que colonizaram a localidade.
Nosso amigo Mala relembra aqueles dias e de uma frase que lhe marcou. Quando batia o desânimo nos trabalhos em prol do próximo, principalmente pelo retorno de alguns jovens ao vício, padre Agostinho costumava aconselhar: "
- Não desanima, fé em Deus porque tudo tem conserto".
Sempre promovia os chamados “Retiros”, reunindo jovens da comunidade.
Padre Agostinho, com a família, quando de sua ordenação em
1982.
Foto: acervo de Victória Saccon Tramontin
|
Ainda em 11 de maio, padre Agostinho reuniu vários amigos em sua residência. Animando o encontro, o seresteiro Manoel Silva com seu violão.
Muitas pessoas de sua relação compareceram. Prefeito Mário José Remor, Oscar Pinho, Olga Cabral, Padre Marcos Herdt, Fernando
Guedes, Licélio Freitas e Edgar Pereira, entre outros.
Velório foi realizado durante todo o dia na
Matriz de nossa cidade com centenas de pessoas se despedindo, principalmente
jovens.
No fim de tarde, começo de noite, os lagunenses, a pé, de ônibus e carro, foram até o trevo de nossa cidade, cantando, rezando e balançando lenços brancos no último adeus. Seu corpo foi sepultado em Meleiro-SC.
No fim de tarde, começo de noite, os lagunenses, a pé, de ônibus e carro, foram até o trevo de nossa cidade, cantando, rezando e balançando lenços brancos no último adeus. Seu corpo foi sepultado em Meleiro-SC.
Sábias
palavras e conselhos
Alguns dias antes, Padre Agostinho disse a um
grupo de adolescentes: “O jovem deve procurar em Santo Antônio um exemplo de união”,
e “casado é quem bem vive”. Disse também que “Antes de querermos ter devemos
ser”.
A última
carta
Naquela tarde de quinta-feira, padre Agostinho
entregou na redação do Jornal O Renovador uma matéria (carta) para
ser publicada. Com o jornal praticamente fechado, o escrito somente foi estampado na
semana seguinte a sua morte.
Eis, na íntegra:
Retiro Descoberta
“Aconteceu neste último fim de semana (quinta a domingo à
noite), encerrando com a Santa Missa em São Ludgero, um Retiro entre 33 jovens
de nossa comunidade.
Retiro Descoberta , de fato promoveu a descoberta do Jovem a si mesmo, a
Cristo e aos seus que lhe são caros.
Entre eles haviam drogados, marginalizados com os quais
iremos continuar a reuni-los e fazermos a perseverança da Descoberta do Cristo
a Deixa da droga.
Primeiro Encontro de Perseverança será no próximo sábado, dia
2 de junho, às 20 horas, no Clube Blondin. Todos eles estão com muito amor no
coração, amor a si, a todos os seus e a todos. Querem de fato viver essa
Descoberta. Vamos ajudá-los.
Vai ser feito também um trabalho de crescimento, de ajuda, de
aceitação com os pais e familiares desses jovens que tanto necessitam de ajuda.
Com muito amor no coração, agradecemos a todas as pessoas que
nos ajudaram a realizar esse Retiro Descoberta. Eles se descobriram e também
descobriram a Cristo. Vamos ajudá-los a viver esta descoberta e a Cristo em
seus corações e em suas vidas. Contamos com todos vocês. Se o seu filho não é
drogado, maior motivo para ajudar os que são.
Ajudando os outros, você estará ajudando um irmão seu que
sofre e que Cristo sofre nele.
Nós contamos com ajuda de todos. Muito obrigado, com muito
amor”.
Padre Agostinho
Premonição?
No dia anterior a sua morte, emocionou com suas palavras as pessoas do bairro Roseta (hoje Progresso) que compareceram ao velório de dª Doraci Tomázia (Dedinho) de Souza, uma
das fundadoras da igreja Nossa Senhora Auxiliadora.
Na encomenda do corpo deixou muita gente impressionada
ao ouvi-lo dizer:
“Aos parentes e amigos os meus pêsames sinceros.
A Doraci Tomázia, parabéns que vai ao encontro de nosso Pai. Hoje, é a Doraci, amanhã
poderá ser um de nós”.
Festejos
adiados
Anúncio da Festa já com a data de sua realização alterada. Jornal O Renovador de 8 de junho de 1984. |
Hoje é nome de Creche no bairro Progresso, na Laguna, e rua em Meleiro - SC.
Foram
festeiros daquele ano:
Cláudio
Dias de Castro Ramos, Adelaide Pinho Moreira, Celso Schambeck, Maria Salete Folchini
Barreiros, Maurício de Paula Carneiro, Adamândia Andreadis, Geraldo Izidoro
Barreto, Beatriz da Silva Bem, Carlos Gonçalves Netto, Maria Salete Bez Birollo
Teixeira, Antônio Maiatte, Olímpia Algarves, Mário Luiz Spillere da Silva (Bau) (não aceitou o convite e não era usual substituição de festeiro) e Adriana
Nacif Carneiro.
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