Esta foi
a manchete de capa do jornal Semanário
de Notícias nº 126, de 13 de agosto de 1977, noticiando o furto do
crucifixo da venerável imagem do padroeiro da Laguna.
E continuava o jornal:
“Verdadeiro vandalismo, sem precedentes na
história da velha Laguna, foi registrado na madrugada de onze do corrente, qual
seja a profanação da Igreja Matriz da Laguna, arrancando do pescoço da
venerável imagem de Santo Antônio dos Anjos o crucifixo que ostentava.
Não sabemos, ou melhor, não encontramos no
vocabulário da nossa língua como qualificar tão repelente procedimento. Só mesmo
um tarado ou irreligioso, indivíduos sem fé poderiam ser capazes dessa façanha.
Que o culpado, se descoberto, seja declarado indigno de continuar habitando a
hospitaleira terra lagunense, mandando-o para bem longe!”.
A saudosa Nail Ulysséa, no capítulo “Três séculos na Matriz”, publicado na
edição comemorativa do Tricentenário de nossa cidade, publicado um ano antes, em
1976, assim descreveu a peça, o crucifixo:
“Das imagens existentes no templo, chama logo
a atenção do visitante, a majestosa imagem de Santo Antônio. Emoldurada pelo
altar-mor, em tamanho maior que o natural, foi esculpida na Bahia, no século
XVIII, em madeira de Laguna, remetida para este fim.
Imagem isenta de misticismo, de olhar alegre e
lábios em sorriso, traz na mão direita uma grande cruz de prata e na mão
esquerda um Menino Jesus, meio e formoso, de pé sobre as Escrituras. É coroado
de um rico resplendor de prata cinzelada, cravejado de topázios. Pendente do peito, por uma fita de veludo vermelho, um habito
da Ordem de Cristo, cravejado de pedras semipreciosas, brancas e vermelhas”.
(...)
O colunista do jornal, Munir Soares, na semana seguinte ao furto,
em seu conhecido estilo, escrevia:
“Responso.
É uma oração muita usada para “achados e
perdidos”. Sem dúvida nenhuma, um dos responsos mais usados em nossa comunidade,
é o responso de Santo Antônio, capaz de achar até um candidato a deputado, em
Laguna, capaz de unir as forças locais. Pois bem, a fita de Santo Antônio com o
crucifixo, foram roubados e até agora continuam desaparecidos. Terça-feira é
dia da devoção do santo. Não seria uma oportunidade de se rezar um responso
coletivo?”.
***
Eis uma foto, de um cartão-postal, lembrança da festividade, de 1967,
ampliada, da peça furtada:
No ano seguinte, o crucifixo foi substituído
pelo atual, com alterações da fita durante os anos seguintes.
O autor do furto teria sido um colecionador de
obras sacras? Um antiquário? Um ladrão a mando de alguém interessado somente no valor
monetário das pedras semipreciosas?
Infelizmente até hoje o gatuno não foi
descoberto, como desejou o indignado editor do jornal. E os responsos, as rezas e promessas foram muitas,
como pediu Munir Soares.
E a peça, de valor artístico, histórico e
material incalculável, nunca mais foi encontrada, entrando, ela também, para o
rol dos mistérios da Laguna.
PS: Pode ser a luz, a foto, o ângulo, mas vocês não acham que há diferença no semblante de Santo Antônio dos Anjos, entre 1967 e 2015?
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