Dakir Nilton Polidoro foi um grande
comunicador do rádio catarinense.
Na década de 50 criou e apresentou na Rádio
Difusora da Laguna a partir das seis da manhã, o programa “A Hora do
Despertador”, que logo se tornou um campeão de audiência.
Um verdadeiro
programa de utilidade pública. Utilizava-se de sinos, despertadores e outros
barulhos estridentes para despertar os ouvintes sonolentos, além de seu
conhecido bordão: “Tá na hora... vamos levantar... tá na hora...”
Aqui Dakir casou-se com Ayêsha na nossa igreja
matriz, abençoados pelo padroeiro Santo Antônio dos Anjos. Seu primogênito
nasceu lagunense. Dakir foi também professor de Educação Física no Ginásio Lagunense.
Depois regressou a sua terra natal, Florianópolis,
prosseguindo com seu programa através da Rádio Diário da Manhã; posteriormente
o apresentou por quatro anos na Rádio Guarujá. Depois retornou à Rádio Diário,
onde das seis às sete da manhã o apresentou ininterruptamente até o ano de 1988,
quando se aposentou do rádio.
Graças à popularidade alcançada pelo programa
foi eleito por três vezes vereador em Florianópolis, assumindo a presidência da
Casa Legislativa e por duas vezes interinamente a prefeitura. Anos depois, sua filha Joyce foi morar na Laguna, funcionária da Agência do INSS de nossa cidade. Seus filhos Renata, Luíza e Hélio Polidoro passaram grande parte de suas vidas na terra juliana, onde estudaram na Fundação Bradesco. Hoje adultos já formados.
Em março de 1996, para o meu Jornal Tribuna Lagunense, entrevistei por duas
horas o radialista Dakir Polidoro em sua residência, na Ponta de Baixo, em São
José, na Grande Florianópolis.
Esta entrevista foi reproduzida no
livro “Dakir Polidoro – A Hora do Despertador”, do jornalista Moacir Pereira,
lançado em 2009 pela Editora Insular.
No prefácio da obra, o lagunense
Norberto Ulysséa Ungaretti que atuou com Dakir também como vereador em Florianópolis escreveu:
“A cidade inteira ouvia o programa.
Dakir acordava as pessoas e as mantinha cativas até o final do horário. Na
véspera, à noite, o último noticiário, ou a edição noturna do “jornal falado”,
que nenhuma emissora dispensava, ia ao ar pelas 21 ou 22 horas. Depois, só no
outro dia, com Dakir Polidoro, o qual, assim, é quem noticiava, em primeira
mão, tudo o que ocorrera no final da véspera e na madrugada do dia que
começava, inclusive os falecimentos, além, é claro, de reportar os fatos do dia
anterior”.
(...) “Dakir Polidoro deu tudo de si ao
rádio e do rádio recebeu tudo o que de melhor a vida lhe proporcionou”.
Eis a entrevista que fiz com Dakir, com
alguns acréscimos, correções e atualizações:
Dakir nasceu em Florianópolis, na Figueira da rua
Francisco Tolentino, em 12 de fevereiro de 1928, filho de Basilício e Iracema
Polidoro. Casado com Ayêsha Velozo Leite Polidoro, que conheceu em nossa cidade,
ela vindo do Acre, em visita ao cunhado, o delegado Otto Mariath.
O casal teve oito filhos: Jorge, Júlio César,
Jeanette, Jadna, Joyce, Jéferson, Juarez (este nascido na Laguna) e Polidoro
Júnior, locutor e comentarista esportivo.
“Bom-dia Brasil. Na Laguna seis horas
da manhã”
Assim o locutor Dakir Nilton Polidoro começou o seu
programa inaugural “A HORA DO DESPERTADOR”, pela ZYH-6, Rádio Difusora da
Laguna.
Era um sábado frio de 31 de julho de 1954, relembrou
Dakir na entrevista:
“Quando
foi criado, o programa começava com muito barulho de xilofones, buzinas, além
de despertador. Era um importante serviço aos madrugadores em geral. Com o meu
programa – pioneiro no Sul do Brasil – o pessoal já saía de casa sabendo das
coisas. Trazia boa música, notícias fresquinhas, previsão do tempo, mensagens
de paz, quem nasceu, quem morreu...É isso que o pessoal queria saber”.
"Tá na hora, vamos levantar, tá na
hora...", foi outro bordão que usei".
O começo
Dakir Polidoro iniciou sua vida profissional aos 17
anos, transmitindo e apresentando no Cine Ritz, em Florianópolis, o programa
para crianças “Show Crédito Mútuo Predial”, das 10 da manhã ao meio-dia. “A
Hora da Petizada” foi outro programa, tendo como parceiro o ator Waldir Brasil.
Em 1948 atuou por pouco mais de três meses na Rádio
Guarujá, quando foi contratado para trabalhar na Rádio Difusora da Laguna.
Ele contou:
“Quem me levou para lá em 1951 foi o Hélio Kersten
da Silva. Fui substituindo outro grande radialista, já falecido, o Edgard
Bonassis, que estava na Difusora há algum tempo, mas que teve que voltar porque
ficou doente. A Rádio Difusora, nessa época, comandava todo o sul do estado e
tinha uma grande audiência. Comecei fazendo comercial e depois passei a ter um
programa de auditório”.
Surge “A Hora do Despertador”
E continuou:
“A Rádio Difusora abria só às 10 da manhã e eu
achava que se podia também lançar um programa mais cedo. Então, logo depois de
meu casamento, ocorrido em 1954, surgiu a ideia de lançar um programa bem cedo,
a fim de despertar o pessoal.
No início, a direção da Rádio relutou um pouco,
tinha gente que me chamava de maluco, mas o programa acabou saindo. E arrombou,
como se diz por aí.
Foi uma época de ouro do rádio. Nelson Almeida era
o proprietário da Difusora, que possuía uma excelente equipe de profissionais.
Lembro-me do Paulo Quaresma, Luiz Napoleão, Hélio Kersten da Silva, Edgar
Bonassis, os irmãos Ambrozini, o Luiz e o Agostinho, Walmor Silva, Nilton Prado
Baião, Agilmar e Aryovaldo Huáscar Machado, Júlio Marcondes, Carlos Cordeiro Horn, Sinval
Barreto, Murilo Ulysséa, Aliatar Barreiros, Manoel Silva, Emanuel Maiato,
Custódio Ezequiel, Izália Viana, Ivone Rosa da Silva, Valmir Guedes, Alceu
Medeiros e Pompílio Pereira Bento, estes dois últimos quando o PSD comprou a
Rádio.
O operador de transmissor João Corrêa, do Wilfredo
Silva, que inclusive peço que leves e lhe entregue uma medalha que recebi em
seu nome como 1º sonoplasta do programa.
Havia tantos outros, mas não recordo no momento.
Transmiti muitos jogos de futebol, principalmente
do Flamengo X Barriga Verde, ao lado de Luiz Napoleão e tendo como comentarista
o saudoso Júlio Marcondes.
1951 - Dakir Polidoro (ao centro) narra o jogo Flamengo X Barriga Verde, ao lado de Luiz Napoleão e Júlio Marcondes (à direita na foto) no Estádio do Lamego (hoje a Escola Ceal). |
Fiquei quase cinco anos, quase dois anos apresentando o
programa na Difusora, depois fui contratado pela Rádio Diário da Manhã. Mais tarde fui
para Guarujá por quatro anos e retornei à Rádio Diário, onde apresentei o
programa, ininterruptamente, até 1988, das seis às sete da manhã”.
Com uma singela canção
colocada pelo sonoplasta, Dakir anunciava em seu programa os produtos e preços
das feiras-livres e do Mercado Público:
“De manhã bem cedinho ela vai,
Arrastando as sandálias no chão
Vai, faceira
Levando a cestinha de compras na mão
Me sinto bem! Me sinto bem!
Sempre que vejo a morena faceira,
Quando ela vem, quando ela vem,
Carregadinha de compras da feira”.
As maiores autoridades brasileiras compareceram ao
seu programa na capital do estado. Dom Hélder Câmara, Juarez Távora, Jânio
Quadros e Carlos Lacerda, são alguns nomes.
Graças à popularidade de “A Hora do Despertador”,
Dakir Polidoro foi três vezes eleito pelo PSD vereador em Florianópolis, sendo o
mais votado em duas oportunidades. Foi prefeito interino da Capital em 1964.
Teve forte participação na vida associativa e sindical,
fundando e presidindo o Sindicato dos Radialistas de Santa Catarina; fundou
também e integrou a direção da Casa do Jornalista, juntamente com Alírio Bossle
e outros.
Duas emoções
No rádio, Dakir lembrou duas grandes emoções:
A primeira uma notícia alegre: ao noticiar o
nascimento na Laguna do primeiro filho (Juarez), em 12 de outubro de 1954, no
mesmo ano em que o programa surgiu.
A segunda emoção, uma notícia triste, foi o
acidente aviatório em 1958, que vitimou Nereu Ramos, Jorge Lacerda e Leoberto
Leal. “Esse programa fiz sem dormir”, recordou.
Ao finalizar a entrevista, Dakir Polidoro confessou
um sonho: “Tive um grande sonho em minha vida, que não chegou a ser
concretizado. Era ser piloto da Força Aérea Brasileira-FAB. Cheguei até a tirar
o brevê na Laguna, mas a vida me levou para outros caminhos, mesmo assim sou
piloto civil e oficial da reserva da FAB. Se tivesse continuado, hoje estaria
rico. Ou morto”.
Dakir de microfone em punho, na transmissão de cargo do governador Ivo Silveira para o lagunense Colombo Machado Salles, em 15 de março de 1971. |
Se o Brasil perdeu um piloto, ganhamos todos nós um
grande radialista que fez história e escola na vida de gerações, trazendo
alegria, entretenimento e informação a milhares de lares, nas ondas do rádio.
Dakir Polidoro morreu aos 74 anos de idade em 23 de
janeiro de 2002.
Em sua homenagem, em dezembro de 2004, a Câmara de
Florianópolis criou o Prêmio Dakir Polidoro de Imprensa. A premiação é
concedida anualmente aos profissionais de imprensa que militam nos meios de
comunicação da Capital do estado.
No mesmo mês e ano o tradicional Largo da
Alfândega, em Florianópolis, recebeu o seu nome.
É nome de rua no bairro Campeche na capital do estado.
Lembrei do radialista João Vicente. Olha a hora, para quem trabalha, viaja ou estuda.
ResponderExcluirBem isso Renato. Depois João Vicente repetiu o bordão com pequenas variações.
ExcluirParabéns pela pesquisa e pelo resgate das fotos. Memória de nossa cidade.
ResponderExcluirEdison de Andrade
Conheci o programa A Hora do Despertador aqui em Florianópolis pela Rádio Diário da Manhã. Não sabia que tinha sido criado em Laguna. Todo mundo ouvia o Falir. Ótima matéria.
ResponderExcluirRosângela Almeida
"Todo mundo ouvia o Dakir".
ExcluirRosângela Almeida
Show. Época que nem se sonhava com internet e redes sociais.
ResponderExcluirGeraldo de Jesus Florianópolis
Realmente. Tua dissertação, Valmir, expressa a vida que Dakir criou para o rádio. Quanto ao programa "A hora do despertador" a principio houve discordância da parte técnica da emissora, o transmissor usava um par de válvulas no sistema irradiante, de alto custo e difícil aquisição. A mudança de horário faria com que estas válvulas esquentassem e comprometeriam a programação, mas resolveram arriscar fazendo que houvesse um tempo para o resfriamento, dessa forma a transmissão em dois períodos: Das 06h00 às 14h00.e o segundo turno das 16h00 às 22h00,o sucesso foi tão grande que após as coisas voltaram a ser transmitidas em período completo. Embora jovem, muito conheci o Dakir e fizemos grande amizade. Tenho o livro do Moacir Pereira, meu amigo, e lendo relembro bons momentos dos bons tempos do nosso rádio. Parabéns. Carlos Araújo Horn
ResponderExcluirQue ótimo, um depoimento sobre o rádio de uma testemunha auditiva e ocular dos fatos.
ExcluirE partindo do filho do seu Carlos Horn, técnico responsável por tudo, por dar vida e alma à aparelhagem pioneira das nossas emissoras. E também, Carlinhos, pelo teu trabalho aos microfones das nossas emissoras, com tua "voz de veludo", no dizer elogiosos do nosso amigo em comum João Carlos Wilke. Agradeço a leitura e participação. Um abraço.
Tuas matérias são um oásis de história e cultura neste mundo só de desgraça em que somos bombardeados 24 h por dia. Ninguém aguenta mais ler e ouvir sobre Covid e eleição tanto aqui como nos EUA.
ResponderExcluirLeonor de Oliveira Florianópolis
Olá, Valmir. Inicialmente, em nome da Família Polidoro, agradecer pela lembrança, mantendo viva a memória de meu pai, e dizer que ele sempre relatava com orgulho esses momentos marcantes em Laguna. Minha tia Maria José também foi a primeira vereadora do município. O pai nos deixa muitas saudades e nos sentimos orgulhosos pela trajetória dele. Não faz muito tempo estive em Laguna e fui até a Difusora e também dei depoimento sobre o aniversário da emissora.
ResponderExcluirAo povo lagunense, o carinho e respeito da nossa família. Minha irmã Joyce mora em Laguna e trabalha no INSS. Meus sobrinhos Renata e Luiza e o Hélio Polidoro, que se formou em medicina, passaram boa parte da vida deles em Laguna e estudaram na Fundação Bradesco. Abraços, Valmir, saudações aos lagunenses.
Agradeço a leitura e o comentário, Polidoro. Algumas informações acrescentarei no post.
ExcluirUm abraço
Prezado Valmir, desde garoto que sou fã de rádios e de rádio.
ResponderExcluirNo meu quarto, o meu abajur era o próprio rádio de cabeceira, que emitia a luz por intermédio das válvulas acessas.
Talvez o gosto, a atração, seja atávico, pois o meu pai, Manoel Silva, não se afastava do seu indefectível Mitsubish portátil, com estojo de couro marrom, com correia a tiracolo, compartimento para o egoísta (headphone), potente e, de quebra, o olho mágico, para a sintonia fina.
Era o seu amigo e xodó.
Até hoje mantenho o contato com o rádio; praticamente, tenho uma minicoleção por aqui: dos mais antigos aos mais modernos, analógicos, digitais.
Mas, para falar sobre o Dakir Polidoro e sua passagem pela radiodifusão da Laguna, não tenho registro, era muito pequeno; me lembro dele já famosíssimo em Florianópolis, na minha época de estudante.
O teu artigo, que li com muito interesse, bem dá a ideia da importância do rádio, do radialista, dos técnicos, no cotidiano da cidade e das pessoas. É um resgate muito importante e precioso. Parabéns!
Ainda na Laguna, me lembro das vozes matinais do Wilfredo Silva e do João Manoel Vicente, que nos despertavam lá em casa. Era ouvinte assíduo, e quem não era? Bons tempos.
Abraço do Adolfo Pedro Veiga da Silva
Agradeço os comentários adicionais e lembranças, Adolfo. Enriquecem a postagem. Abraço
Excluiro Jorge não nasceu em Laguna. Quem nasceu foi o Juarez!
ResponderExcluirOk. Corrigido no texto.
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