General Golbery do Couto Silva, um dos
articuladores do golpe de 1964, no fim de sua vida, estertores da ditadura
militar do Brasil, em entrevista em forma de desabafo, disse que havia parido um
monstro.
Referia-se à criação, por ele, do
temível Serviço Nacional de Informações, o SNI, que havia extrapolado suas
funções originais, tendo vida própria e já não seguia mais as
instruções de seu criador e primeiro gestor.
Na peça, livro e filme Frankenstein, a
lenda do médico e monstro criado em laboratório, a revolta contra o próprio criador.
Criatura em geral mostrada monstruosa que se
liberta do criador - economicamente, emocionalmente, psicologicamente? – numa
rebeldia antropofágica, porque ao fim de tudo sucumbem os dois.
E não é assim em todas as situações? Na
política, nos negócios, nas amizades, na família?
Luta do bem (novo, forte e triunfante) contra
o mal (velho, fraco, perdedor)?
Chico Buarque canta em “Canção desnaturada”, a
sua decepção, através da dor de uma mãe ao ver sua filha fugir com Max
Overseas, no musical Ópera do Malandro.
Chico diz, entre outras coisas, usando a voz
materna, e é claro feminina:
Se fosse permitido
Eu revertia o tempo (...)
Eu revertia o tempo (...)
(...) Recuperar as
noites,
Que atravessei em
claro
Ignorar teu choro
E só cuidar de mim...
Deixar-te arder em febre, curuminha
Cinquenta graus, tossir, bater o queixo
vestir-te com desleixo
Tratar uma ama seca
(...)
Ignorar teu choro
E só cuidar de mim...
Deixar-te arder em febre, curuminha
Cinquenta graus, tossir, bater o queixo
vestir-te com desleixo
Tratar uma ama seca
(...)
Tornar azeite o leite
Do peito que mirraste
No chão que engatinhaste, salpicar
Mil cacos de vidro
Pelo cordão perdido
Te recolher pra sempre
À escuridão do ventre, curuminha
De onde não deverias
Nunca ter saído.
Do peito que mirraste
No chão que engatinhaste, salpicar
Mil cacos de vidro
Pelo cordão perdido
Te recolher pra sempre
À escuridão do ventre, curuminha
De onde não deverias
Nunca ter saído.
Não é pura decepção de uma genitora
(criadora)? A ponto de desejar que a filha (criatura?) nunca existisse? Ou que
retornasse às origens? Arrependimento por tudo que fez em benefício da cria?
E aí fiquei meditando com meus botões da
camisa: quantos monstros criamos ao longo de nossa existência? Monstros que
cuidamos, alimentamos e depois se volvem contra nós?
Das monstruosidades imaginárias e apavorantes
da nossa infância, na forma de bicho-papão, lobisomens, bruxas, homem do saco,
etc., passando pelos pecados e traumas de toda uma existência perpetrados pela
religião cristão-ocidental.
Das dúvidas, traumas e fobias da passagem da
pré e adolescência, até anomalias de sangue, carne e osso, educados e
diplomados já na fase adulta e que “hipócritas, andam disfarçados ao redor”.
Dos sorrateiros de sempre, procurando o
momento adequado para nos assustar/matar no conhecido e dolorido punhal da
traição.
- Até tu, Brutus? Na frase interrogativa e
decepcionada do imperador Júlio César.
Por isso as tantas desilusões, os
desapontamentos com atitudes mesquinhas, vaidosas, rancorosas e odiosas.
Na verdade esperamos demais dos outros e por
isso as mágoas existenciais por aí, com comportamentos alheios que imaginávamos
- tolos e ingênuos que somos - sempre diferentes.
Ou pelo menos não decepcionantes.
Ou pelo menos não decepcionantes.
***
Mas é isso. Não liga não leitor, são divagações
deste pobre escriba numa sexta-feira nublada de julho, vento sul, sujeita a
chuvas e trovoadas.
Boa Valmir, quase um filósofo...
ResponderExcluirBom fim de semana.
Jackson.