segunda-feira, 30 de maio de 2022

Encontro de Bandas em junho na Laguna

No próximo dia 5 de junho (domingo) acontece em nossa cidade o 1º Encontro de Bandas de Concerto que reunirá cerca de 400 participantes.
Banda União dos Artistas - Maestro Gesiel Fernandes

Banda Carlos Gomes - Maestro Deroci de Oliveira
 A iniciativa do evento partiu das Bandas União dos Artistas e Carlos Gomes, através de seus atuantes presidentes Giovani Sebastião Cardoso e Bianca Silva de Oliveira Vieira, respectivamente.
Nesse dia, além das duas centenárias bandas lagunenses, estão confirmadas a participação da Banda Lira de Tubarão, Banda Amor e Arte de Florianópolis, Banda Unidos de Imaruí, Banda Cruzeiro do Sul e da Banda SATC, as duas últimas de Criciúma.
O 1º Encontro de Bandas de Músicas de Concerto iniciará com um desfile às 9 horas partindo do Cine Teatro Mussi. Em seguida as apresentações das bandas ocorrerão no palco externo da 345º Festa de Santo Antônio dos Anjos, a partir das 10h30.
No período da tarde, as bandas continuarão com suas apresentações e às 17h30, juntas, farão um desfile ao redor do Jardim Calheiros da Graça, na Praça Vidal Ramos.
Prestigie.

terça-feira, 17 de maio de 2022

Relógio da Matriz: 87 anos marcando as cinzas das horas

 A partir de março de 1935 uma novidade agitou Laguna, que passou a contar com um relógio público a marcar as horas de seu dia a dia. O aparelho foi instalado nos altos da igreja matriz, entre as duas torres. Dali em diante os afazeres, eventos, refeições e compromisso dos lagunenses serão por ele regulados em suas marcações das cinzas das horas. Portanto, o relógio completou neste 2022, seus 87 anos.

O relógio da Matriz em seus 87 anos de existência marcando as cinzas das horas.

Tudo começou em 1909, quando os lagunenses Saul Ulysséa e Luiz Néry Pacheco dos Reis constituíram uma comissão para este fim: aquisição de um grande relógio público.
O jornal O Albor de 26 de setembro daquele ano registrou o fato, ressaltando:
“Aí está uma iniciativa útil e que merece o apoio da população. Útil por vir satisfazer a uma falta há muito sentida em nosso meio social”.

O tradicional semanário do jornalista Antônio Bessa se regozijava com a novidade e explicava as deficiências e problemas que o relógio iria suprir e resolver:

“Não há nesta cidade relógio público, de sorte que não raro em rodas familiares, num círculo de pessoas, consultarem-se os relógios e cada um marcar sua hora. Às vezes entre dez não se encontram dois de acordo. Compreende-se claramente os inconvenientes oriundos deste desacordo; por isto, uma sessão, qualquer ato público nunca se efetuam à hora designada”.

A primeira contribuição financeira  partiu de Francisca Ulysséa, eleita naquele ano juíza (leia-se festeira) da Festa de Santo Antônio dos Anjos. Ela doou a quantia de 100$000 (cem mil réis) para a aquisição.

Campanha entrou pelos anos
Mas a campanha para aquisição do relógio entrou pelos anos. Serão quase três décadas até o projeto se concretizar. Membros da comissão formada para angariar recursos serão substituídos por causa de falecimentos e/ou mudanças de domicílios. Mas Saul Ulysséa, comerciante, historiador, escritor e autor da ideia continuará firme em seu propósito.
Relação de doadores e seus respectivos valores serão publicados periodicamente no jornal O Albor.
A igreja Matriz em cartão-postal de 1910, ainda sem o relógio entre as duas torres.
Em reunião da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Santo Antônio, realizada em 1929, um dos seus membros, Antônio Pedro da Silva Medeiros encampou a ideia de Ulysséa e auxiliado por Agostinho Faísca, então Provedor, montaram uma nova comissão para esse fim. Era formada por Saul Ulysséa, João Guimarães Cabral, Apolônio Remor, Padre Ignácio Ort e o próprio Medeiros. Tempos depois o padre Ort foi substituído em nossa paróquia pelo vigário Bernardo Philippi.
Era uma nova tentativa, inclusive para aproveitar os recursos já angariados e depositados no Banco do Commércio (então já denominado de  Banco Nacional do Commércio) que totalizavam 627$000 (seiscentos e vinte e sete mil réis).
Seis anos depois a quantia arrecadada chegava a 7:242$000 (sete contos e duzentos e quarenta e dois mil réis).
Adquirido o relógio da empresa Bruno Schwertner, da cidade de Estrela (RS), ele chegou à nossa cidade em fevereiro de 1935 e em 10 de março de 1935 foi inaugurado.

Dados técnicos
“O relógio é provido de corda para a marcha 10 e para as batidas 8 dias, com batidas auto-ajuste, batendo os 1, 2, 3 e 4/4 em dois sinos e as horas completas em um só sino; rodas tambor com 250mm de diâmetro, escapamento âncora Graham com impulso constante por meio de engrenagens diferenciais Sistema Planetar e haste pêndula de madeira.
O maquinário do relógio. Foto: Thiago Santiago.
2 mostradores adaptadores ao relógio internamente, sendo um para a marcação dos segundos e o outro para os minutos e as horas, funcionando em combinação com os ponteiros externos, exclusivamente para o controle destes, rolos para a derivação, rolos para os pesos, todos de rolamento de esferas; 3 mecanismos para acionar os martelos das batidas. 
1 mostrador externo de 150cm de diâmetro, 1 eixo para acionar os ponteiros com sua respectiva transmissão, cabos de aço, ponteiros e todos os seus pertences, porém sem fornecimento dos competentes pesos, que foram feitos de cimento armado, no lugar da instalação.
O pequeno mostrador controle, colocado pela parte de dentro, está provido dum foco elétrico, que será posto na cruz da torre da igreja e que acenderá para anunciar a hora oficial uma vez por noite.
Esse foco acenderá sete minutos antes e apagar-se-á na hora em ponto, que será às 9, no verão, e às 8, no inverno”.

A inauguração
No dia 10 de março de 1935, um domingo, após a missa das 9:00h, o relógio finalmente foi inaugurado.
Além do padre Bernardo Philippi, eram membros da comissão quando da inauguração, os comerciantes Antônio Pedro da Silva Medeiros, Apolônio Remor, João Guimarães Cabral (que havia sido prefeito de nossa cidade na década de 1920) e Saul Ulysséa.
Foto tomada no dia da inauguração do relógio da Matriz, 10 de março de 1935, com os membros da comissão responsável por angariar fundos para sua aquisição:
Da esquerda p/direita em cima do degrau: Antônio Pedro da Silva Medeiros, Apolônio Remor e padre Bernardo Philipi.
Os dois na frente são João Guimarães Cabral e Ruben Ulysséa, esse representando seu pai, Saul Ulysséa que encontrava-se em viagem.  Arquivo do autor.
Além dos membros da comissão estavam presentes os seguintes paraninfos do relógio (sim, sim o relógio teve padrinhos):
Antônio Batista da Silva, Arthur da Silva Teixeira, Octávio Lebarbenchon, Rodolfo Weickert, João Nunes Netto, João Mussi, Leandro Crippa, Olypio Motta, Plínio Braziliense, dr. Paulo Carneiro, Humberto Zanella, Romeu Machado, Luiz Severino Duarte, Francisco Martins Fonseca, João Thomaz de Souza, Paulo Cali, o prefeito da Laguna Giocondo Tasso, Leonardo Petrelli, Mário Mattos, dr. Sílvio Ferraro, Eduardo Silva, dr. Claribalte Galvão e Dolvino Felipe Martins, todos eles acompanhados de suas respectivas esposas.
E Salvato Pinho e Maria Otília Pinho Carneiro, João Rodrigues Moreira e sua filha Maria Moreira Carpes, Tancredo Pinto, Thomázia Carneiro Vianna e Lincoln Magalhães, além de enorme público e muitos fiéis católicos que haviam participado da missa.

O prefeito Giocondo Tasso puxou a fita que fazia descer a cortina que cobria o mostrador do relógio já afixado lá em cima, entre as duas torres levantadas por Marcos Gazola, o mesmo que já havia construído o chafariz do Jardim Calheiros da Graça inaugurado em 1915. Em seguida Tasso fez o mecanismo funcionar pontualmente às 10 horas.
O vigário padre Bernardo Philippi celebrou o benzimento do relógio e logo a seguir fez uso da palavra o orador do evento, médico lagunense Antônio Mussi.
Durante a solenidade tocaram as Bandas Musicais União dos Artistas e Carlos Gomes.
O sino que marcou a hora inaugural, situado na torre norte, foi colocado e batizado muitos anos antes, em 13 de junho de 1903 pelo padre Manoel João Luiz da Silva. A peça em bronze foi doada pelos lagunenses d. Quinota Fernandes Cabral e Manoel José Dias Pinho.

Ainda ficou uma dívida de 3:719$000 (Três contos e setecentos dezenove mil réis) a ser liquidada com a empresa.
Para ajudar a saldá-la o prefeito Giocondo Tasso no ato da inauguração entregou à Comissão 1:$000 (Um conto de réis) em nome da prefeitura da Laguna.
Algumas semanas depois, em 31 de março daquele mesmo ano, a Comissão publicou no jornal O Albor a respectiva prestação final de contas num total de 9:952$300 (Nove contos, novecentos e cinquenta e dois mil e trezentos réis).
Numa rápida conversão aproximada, com cada conto transformado em atuais R$ 123.000,00 (Cento e vinte e três mil reais) o valor total hoje do relógio ultrapassaria 1 milhão de reais. Uma fortuna! Não me admira que por isso a arrecadação tenha levado décadas.
A Prestação de Contas final.
O relógio está parado
O relógio da Matriz atualmente, e à véspera de mais uma Festa de Santo Antônio dos Anjos, não está funcionando. Seus ponteiros não marcam mais as horas, os quartos de hora. Estão em estáticos dez e vinte. O som dos sinos situados na torre Norte não repica, não badala mais as horas e não mais ecoa pelos velhos casarios e ruas estreitas da cidade. 
Quem sabe seja em vã tentativa de fixar uma época, de parar um tempo que não volta. Não volta nunca mais...

PS: Depois da matéria e do registro do mecanismo parado, o relógio voltou a funcionar.

Curiosidades

·        Com o passar dos anos o foco de luz instalado na cruz da torre foi retirado e o mostrador do relógio passou a ser iluminado internamente no período noturno;

Assim também vários mecanismos do aparelho foram substituídos por mais modernos. Diversas peças não mais possuíam condições de conserto. Desgastadas pelo tempo e uso não mais podiam ser recuperadas;

· Durante muitos anos Adelino Waterkemper, membro da Irmandade, foi quem deu assistência técnica gratuita quando do mau funcionamento do relógio;

·  O número 4 no mostrador do relógio da matriz é assinalado pelos algarismos romanos IIII e não IV como é usual.

O detalhe curioso: o número 4 no mostrador assinalado pelos
algarismos romanos IIII e não IV como é usual.