quarta-feira, 31 de março de 2021

Quem foi Giocondo Tasso

Giocondo Tasso nasceu em 8 de maio de 1899, filho de Jacinto Tasso e Angelina Amboni Tasso, em terras de Nova Veneza, depois Distrito de Araranguá, mais tarde Distrito de Criciúma e hoje município.
Giocondo Tasso, ex-prefeito da Laguna. Álbum de família de Luiz Fernando R. Tasso.
      Logo em seguida seus pais vieram residir na Laguna.
Teve como irmãos Ida, Dante, Cornélia (Nélia), Helena, Bruno e Irma.
Feito os primeiros estudos em nossa cidade, Giocondo em sua juventude foi para a Itália, visando aprimorá-los.
Giocondo Tasso com uniforme na 1ª Guerra Mundial. Álbum de família de Luiz Fernando R. Tasso.
Na Itália foi surpreendido pela Primeira Guerra. Foi mobilizado segundo as leis italianas (na época). Filhos de italianos nascidos em outros países eram considerados italianos. Serviu entre a chuva, neve, lama e sangue. Terminada a guerra retornou ao Brasil e a Laguna em 1921.
Jacinto Tasso e Angelina Amboni Tasso, pais de Giocondo Tasso
Passou a trabalhar no estabelecimento comercial de seu pai, Jacinto Tasso, que atuava na exportação de produtos sulinos e como representante das Indústrias Matarazzo no estado catarinense. 

Uma Associação em prol do “Foot-Ball” lagunense em 1925
Jornal O Estado de 5 de janeiro de 1925.
No começo de 1925, junto com amigos, Giocondo fundou a Associação Atlética Juliana, “cujos princípios são cultivar o Sport em geral e com especialidade o Foot-Ball”, conforme registrou o jornal O Estado de 5 de janeiro daquele ano:
Eleitos para gerir a Associação:
Presidente: Pompilio Pereira Bento
Vice-presidente: Giocondo Tasso
1º secretário: Custódio Soares
2º secretário: Ivo Pimentel
Tesoureiro: Jorge Vieira
Capitão: Dr. Tobias Xavier
Orador: Dr. Alípio Machado 

Presidente do Clube Náutico e Recreativo Almirante Lamego
Jornal O Estado de 13/01/1932.
O jornal O Estado de 13 de janeiro de 1932, em sua coluna “Vida Desportiva”, publicou correspondência recebida do Clube Náutico e Recreativo Almirante Lamego da Laguna, comunicando a eleição e posse de sua nova diretoria naquele ano, que ficou assim constituída:

Presidente: Giocondo Tasso (reeleito)
Vice-presidente: Sady Candemil
1º secretário: Tarquínio Bainha (reeleito)
2º secretário: Carlos Lebarbenchon
1º tesoureiro: Raul Ferreira
2º tesoureiro: Adolpho Lucindo (reeleito)
Procurador Geral: Miguel Laranjeira
Diretor de Natação e Regatas: Geraldino Guedes
Diretor de Esportes Terrestres: Juvenal Miranda
Orador: Dr. João de Oliveira
Conselho Fiscal: Manoel Olavo da Rosa, Antônio Baptista da Silva, Rodolfo Weickert, Luiz Severino Duarte e Luiz Fonseca.

Casamento e filhos
1942 - Giocondo Tasso e Turqueza (Pinho) Teixeira Tasso. Álbum de Família de Luiz Fernando R. Tasso.
Aqui na Laguna Giocondo casou com Turqueza (Pinho) Teixeira Tasso e foram pais de Jacopo Teixeira Tasso, Norton Teixeira Tasso, Nori (Teixeira) Tasso de Oliveira e Jadne (Teixeira) Tasso Frankemberg. 

Revolução de 30
Com a chamada Revolução de 1930, Giocondo Tasso foi nomeado prefeito da Laguna logo depois da posse do Interventor em Santa Catarina, Aristiliano Ramos, em abril de 1933.
Giocondo era filiado ao Partido Liberal Catarinense e mais tarde filiou-se ao Partido Social Democrático (PSD).
Antes dele, três nomes haviam sido nomeados prefeitos da Laguna pelo primeiro Interventor no estado, Ptolomeu de Assis Brasil:
Gil Ungaretti (De 14/10/1930 a 24/10/1930);
José Fernandes Martins (De 30/10/1930 a 28/10/1932);
e Antônio Baptista da Silva (De 29/10/1932 a 25/04/1933).
 
De cartorário a prefeito
Ao assumir como prefeito da Laguna, Giocondo afastou-se do cargo de Tabelião de Notas em Tubarão.
Em 1938, Rubens Faraco, que vinha exercendo como tabelião-interino há alguns anos, assumiu em definitivo como titular do cargo, conforme o jornal A Notícia de Joinville, de 6 de dezembro de 1938.
Em maio de 1935, o governador eleito Nereu Ramos, que havia assumido o nosso estado, conservou Tasso como prefeito de nossa cidade. 

Eleito pelo voto
Logo a seguir, Giocondo Tasso no pleito realizado no ano seguinte, em 1º de março de 1936, foi eleito prefeito da Laguna por grande maioria de votos dos eleitores lagunenses. Com isso ficava demonstrado o reconhecimento pelos bons serviços prestados que vinha realizando à nossa sociedade.
Assumiu a prefeitura, de onde estava licenciado para concorrer, em 16 de abril do mesmo ano e exerceu o cargo até novembro de 1945.
Assinatura do prefeito Giocondo Tasso em Carteira de motorista em 1933.
Algumas obras
Em Relatório e Prestação de Contas com data de 31 de janeiro de 1939, assinado pelo prefeito Giocondo Tasso e tesoureiro Valdemar Belaguarda e publicado pelo jornal A Notícia de 5 de maio do mesmo ano, entre as inúmeras realizações pode-se destacar:
Relatório e Prestação de Contas da Prefeitura da Laguna em 1938. Jornal A Notícia de 31/01/1939.
Diversas obras de infraestrutura, entre elas o início da pavimentação a paralelepípedos das ruas da cidade, redes de distribuição de água, esgoto e energia elétrica.
A primeira via calçada a paralelepípedos na Laguna foi a rua Raulino Horn, conforme noticiário da época.
Remodelação completa do prédio do Fórum e cadeia pública da Laguna, situado na rua Voluntário Carpes.
Padronização dos passeios (calçadas) e melhoramentos no prédio do Ginásio Lagunense.
Alargamento da rua Almirante Lamego com retirada de material da pedreira para confecção de meios-fios e paralelepípedos para o calçamento da cidade.
Construção de uma avenida ligando o Magalhães ao Mar Grosso, porto e aeroporto em construção. Via que receberá o nome de Getúlio Vargas.
Organização das Comemorações do 1º Centenário da Proclamação da República Catarinense, em 29 de julho de 1939.
Elaboração de planta (projeto) para construção de um novo Mercado Público. O primeiro havia incendiado em 8 de agosto de 1939. Por problemas orçamentários o Mercado somente foi construído em 1957 e inaugurado em 19 de janeiro de 1958 pelo prefeito Walmor de Oliveira.
Transferência do Cemitério da Irmandade situado ao lado da igreja Matriz.
Abertura da estrada Laguna à Vila Nova (por onde passará a futura BR-101), não necessitando mais percorrer este trecho pela praia.
Inauguração do Posto de Saúde da Carioca em 4 de julho de 1940. Acervo: valmirguedes.blogspot.com
Além das obras que constam no relatório de 1939, posteriormente foi na sua gestão a inauguração em 4 de julho de 1940 pelo governo do estado, do Centro de Saúde da Laguna, ali defronte à Carioca; e o Posto de Puericultura, na Rua Custódio Bessa, no bairro Magalhães.
Criação do Porto Carvoeiro e inauguração do Monumento aos Trabalhadores, na rótula do porto, entre o Magalhães e Mar Grosso em 1945. (Ver matéria aqui).

Prédio da antiga Rodoviária em obras em 1945. Construtor: Antônio (Pirata) Duarte. Acervo Carlos Araújo Horn.
E inauguração em 1945 do prédio da antiga Rodoviária na rua Gustavo Richard.

O elogio do jornal A Notícia de Joinville
Com a manchete “Laguna Progride”, o jornal A Notícia, de Joinville, de 18 de dezembro de 1937 elogia o prefeito da Laguna, sua maneira de ser e obras realizadas: 
Manchete do jornal A Notícia, de Joinville, de 18/12/1937
“Laguna tem sido uma das cidades do estado que mais lucrou com a Revolução de 30, e o seu crescente progresso se fez notar principalmente de 1933 em diante, desde que assumiu a direção do município o operoso Giocondo Tasso.
Não há lagunense, por mais pessimista que seja, que não manifeste francamente seus contentamento pela administração do seu incansável prefeito.
Nunca outro prefeito cuidou com tanto zelo dos negócios do município. Quem vai à prefeitura a qualquer hora do expediente, lá encontra o prefeito confundindo-se com os demais funcionários na luta incessante em prol do encargo que em tão boa hora lhe foi confiado, e como se esse dinamismo não bastasse para o tornar credor da amizade dos lagunenses, todas as obras da prefeitura são fiscalizadas pelo próprio prefeito e – o que é ainda mais notável – fora das horas do expediente”.

O elogio do jornal Sul do Estado
Em seis de maio de 1939 o jornal Sul do Estado de nossa cidade, é farto em elogios ao prefeito, em matéria de capa:

“Laguna também colhe os frutos plantados na gloriosa jornada renovadora de 30.
Giocondo Tasso, o seu atual prefeito, é um dos mais legítimos valores da mocidade lagunense e vem se impondo à admiração e reconhecimento dos seus conterrâneos desde que assumiu a administração municipal”. 
Prefeito Giocondo Tasso junto a Trabalhadores em 1º de maio de 1938, na rua Fernando Machado (Rincão). Álbum de família de Luiz Fernando R. Tasso.
Últimos anos
Em janeiro de 1948 passou o bastão de comando da prefeitura ao prefeito eleito Alberto Crippa.
Em seguida Giocondo Tasso foi Oficial Administrativo da Caixa Econômica Federal (CEF) da Laguna, e gerente daquela Instituição em nossa cidade, até sua aposentadoria.
Giocondo Tasso faleceu aos 63 anos, em 12 de janeiro de 1963. É nome de rua em nossa cidade, via situada entre os bairros Mato Alto, a Vila São Francisco e o bairro Cabeçuda.

O elogio e o adeus do amigo médico Ângelo Novi
Pelas páginas do Jornal O Albor de 19 de janeiro de 1963, o médico Ângelo Novi prestou sua última homenagem ao companheiro Giocondo Tasso em matéria de capa:

“Viveu intensamente. Foi amigo incondicional de seus amigos. Jamais os abandonou. Possuía no mais elevado grau uma qualidade rara hoje em dia: 
Era franco e leal.
Franco por vezes demais, é possível; mas sempre franco no seu modo de entender os fatos. Nunca mandou recados. Dizia o que tinha a dizer, de “corpo presente”. A bajulação não se coadunava em absoluto com seu temperamento.
Nós o amigos cultuaremos sua memória, preenchendo com saudade a lacuna que sua ausência nos causou”.

domingo, 28 de março de 2021

Faleceu Jairo Duarte

 
Faleceu ontem em nossa cidade, Jairo Duarte, aos 85 anos.
Sua esposa Terezinha de Jesus Viana Duarte faleceu há poucos meses, em 16 de setembro do ano passado, aos 84 anos.
Deixa 4 filhos, 13 netos e 11 bisnetos.
Jairo é filho de Antônio Duarte mais conhecido como “seu” Pirata e Adelaide Ezequiel e teve como irmãos Jurandir (já falecido) e Antônio Duarte Filho.
Jairo Duarte foi proprietário durante muitos anos da tradicional Churrascaria Peralta, ali na Paixão (rua Calheiros da Graça), um estabelecimento com mais de 60 anos, sempre administrado por familiares.
Uma Churrascaria que marcou época em nossa cidade pelo peculiar e caseiro sabor de seus pratos. Era ali que muitas famílias lagunenses almoçavam aos domingos.
Aos sábados a Churrascaria Peralta era frequentada pelo mundo político-empresarial e jornalístico. A “dobradinha”, “roupa velha” e feijoada se tornaram famosas.
Jairo Duarte com a esposa Terezinha de Jesus Viana Duarte num baile no Clube 3 de Maio. Foto: Álbum de Família de Jairo Viana Duarte.

Em fevereiro de 1996 em meu jornal Tribuna Lagunense publiquei reportagem onde contava sobre uma tempestade que caiu sobre Laguna em 16 de fevereiro de 1987  e que provocou muitos prejuízos. Um deles o deslizamento de uma barreira do morro que pôs abaixo a casa onde funcionava a Churrascaria Peralta, destruindo-a por completo.
Provisoriamente o estabelecimento passou a funcionar num imóvel ao lado.
Mas toda família trabalhando unida, com muito sacrifício, nove anos depois, em 11 de fevereiro de 1996, no mesmo local, reerguia o novo prédio da Churrascaria, mais moderno e funcional.
Abaixo a matéria com fotos comparativas do antes e depois:

Funcionário da Prefeitura da Laguna, Jairo Duarte fez o projeto de construção do Módulo Esportivo (Estádio do LEC), no Alagamar (hoje Vila Vitória). Seu irmão, também funcionário da prefeitura, Antônio (Pirata) Duarte Filho fez o levantamento topográfico da área em 1979, na gestão de Mário José Remor/João Gualberto Pereira (1977-1982).
Os dois irmãos seguiam os passos do progenitor, Antônio (Pirata) Duarte que era construtor, além de receitar doses de homeopatias à população, trabalho benemérito até hoje lembrado por muita gente.

Jairo Duarte foi também folião em nossos carnavais da Bandinha Maluca Os Palhaços de Momo, inclusive como membro de sua diretoria.

Cerimônia de velório de Jairo Duarte, ocorre neste domingo (28/3) das 14h às 17h na Sala Mortuária Santo Antônio na Casa Funerária Gomsan. Sepultamento às 17 horas no Cemitério da Glória.
Sentimentos aos familiares e amigos.

quinta-feira, 25 de março de 2021

O Monumento aos Trabalhadores - Lugar de memória

 
O Monumento em homenagem aos Trabalhadores do carvão, situado entre os bairros Magalhães e Mar Grosso, bem na rótula de entrada ao Porto lagunense foi inaugurado no começo de 1944.
A homenagem foi também ao presidente Getúlio Vargas, que havia assinado em 16 de setembro de 1939, através do
Decreto nº 4.676, a criação do Porto Carvoeiro da Laguna.
1945 - O Monumento ao Trabalhador. À esquerda é a via de acesso ao Porto. Ao fundo pequenas casas dos primeiros moradores, onde hoje é a região do acesso à Balsa.

Da festa de inauguração do Monumento não ficaram registros nos jornais lagunenses da época. Não encontrei fotos nos arquivos públicos da cidade ou em mãos de particulares. O mundo vivia então os turbulentos anos da IIª Guerra Mundial, mas o Brasil, apesar de já ter declarado guerra ao eixo, ainda não tinha entrado no conflito através da Força Expedicionária Brasileira (FEB).

Se houve divulgação do evento ele aconteceu de maneira discreta. Mas não era o usual naqueles tempos, onde tudo acontecia com grandiosidade. Vivíamos então o Getulismo, de obras faraônicas, tempos do Brasil Grande. 

O prefeito Giocondo Tasso
Na vinda do presidente Getúlio Vargas ao estado catarinense em 12 de março de 1940, em Florianópolis, o então prefeito da Laguna Giocondo Tasso juntamente com outras autoridades, expôs a necessidade de acelerar a construção do porto lagunense.
O decreto de criação já havia sido assinado, como já informado. Aliás, uma reivindicação das chamadas forças vivas da Laguna, com o prefeito Giocondo Tasso à frente, juntamente com representantes do comércio e da política lagunense.

Com a chamada Revolução de 1930, Giocondo Tasso foi nomeado prefeito da Laguna logo depois da posse do Interventor em Santa Catarina, Aristiliano Ramos, em abril de 1933.
Antes dele, três nomes haviam sido nomeados prefeitos da Laguna pelo primeiro Interventor no estado, Ptolomeu de Assis Brasil:
Gil Ungaretti (De 14/10/1930 a 24/10/1930);
José Fernandes Martins (De 30/10/1930 a 28/10/1932); e Antônio Baptista da Silva (De 29/10/1932 a 25/04/1933). 
Em maio de 1935, o governador eleito Nereu Ramos, que havia assumido o nosso estado, conservou Tasso como prefeito de nossa cidade.
Logo a seguir, Giocondo Tasso no pleito realizado no ano seguinte, em 1º de março de 1936, foi eleito prefeito da Laguna por grande maioria de votos dos eleitores lagunenses. Com isso ficava demonstrado o reconhecimento pelos bons serviços prestados que vinha realizando à nossa sociedade.
Assumiu a prefeitura, de onde estava licenciado para concorrer, em 16 de abril do mesmo ano e exerceu o cargo até novembro de 1945.

O porto carvoeiro
As obras do novo porto foram iniciadas nos primeiros meses de 1940, mas andavam em ritmo lento desde a assinatura do documento pelo presidente em 1939.
Basta ver que a primeira estaca de aço do cais do Porto Carvoeiro só foi fincada em 15 de fevereiro de 1941, conforme noticiaram os jornais da época.
Feita a reivindicação, dali em diante houve aceleramento do empreendimento, com a construção do cais acostável de 300 metros, aquisição de guindastes elétricos, construção de armazéns, duas carvoeiras, usina elétrica própria, extensão dos trilhos da Estrada de Ferro até o bairro Magalhães, etc.
Durante a Guerra foi através do porto lagunense que os navios da Democracia na luta contra o nazifacismo vinham abastecer-se com a hulha negra que alimentava suas caldeiras.
Era o escoamento pelo porto lagunense, em caráter industrial, em novo padrão produtivo, do carvão retirado às minas do sul do estado.
O transporte já vinha acontecendo de forma rudimentar pelo velho porto situado no centro na cidade, mas este não oferecia mais condições por causa do baixo calado de sua lagoa.
Navio Carvoeiro Capivari recebendo carga através de guindaste elétrico no Porto da Laguna.

Com o surgimento de navios carvoeiros maiores (Guararema, Guaratuba, Guarapuava, Guaratan e Guaraú, os famoso “Guarás”, ligados principalmente à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), de Volta Redonda, houve necessidade de levar as instalações para perto da entrada/saída da Barra da Laguna.
O prolongamento dos trilhos da Estrada de Ferro pelo Magalhães (hoje Rua Prefeito Guimarães Cabral), ainda com as águas da Lagoa ao lado. Ao fundo o Monumento já construído e o Porto Carvoeiro com navios em seu cais. Foto: Bacha. Acervo Carlos Araújo Horn.
Os trilhos da Estrada de Ferro também para lá foram estendidos, modificando a malha viária e ferroviária urbana e produzindo o desenvolvimento urbanístico do bairro Magalhães.
Com a inauguração oficialmente do porto, o Interventor no estado de Santa Catarina, Nereu de Oliveira Ramos, sugeriu ao prefeito da Laguna uma homenagem a Vargas, ideia logo abraçada.
Em reunião promovida pelo prefeito Tasso junto a outros prefeitos e empresários da região sul, decidiu-se pela criação, com recursos de todos, de um monumento à entrada do nosso porto em homenagem a Vargas, então denominado “Pai dos Pobres” e “Pai dos Trabalhadores”.
 
O corte das pedras
O empreiteiro Íris Luz, proprietário de uma empresa de prestação de serviços, foi contratado para, juntamente com seus operários, efetuar o corte de pedras em granito rosado que serviriam para a base do monumento.


Assim foi feito. Utilizando-se de caibros com talha para 5 toneladas, e mais de uma dezena de operários, as pedras rosadas foram cortadas milimetricamente ali na própria encosta da Praia do Iró, abrindo assim caminho para a futura via feita em curvas, denominada posteriormente Rua Luiz Severino Duarte, à época presidente da Associação Comercial da Laguna.
Datas constantes nos versos das fotos registram os primeiros trabalhos como sendo efetuados em 3 de maio de 1943.


Íris Luz, além de empreiteiro, em muito contribuiu com o carnaval lagunense, através do bloco O Cacareco, da rua João Henrique (do Valo), no Magalhães, local onde residia.
Mas isso é outra história que merece ainda ser contada num futuro. 

O artista Leão Veloso
As estátuas e painéis do Monumento são obras de arte trabalhadas pelo artista plástico e escultor Hildegardo Leão Velloso, em bronze aplicada e mostram homens dedicando toda a sua força e vigor ao trabalho.
Ano e assinatura do artista no trabalho registram sua confecção: “Rio, 1944”.
Assinatura do Escultor Hildegardo Leão Velloso no Monumento aos Trabalhadores - Laguna -SC

Velloso nasceu em São Paulo em 1899, estudou escultura e modelagem com Rodolfo Bernardelli. De reconhecido valor artístico, exerceu a livre-docência da cadeira de escultura da antiga Escola Nacional de Belas Artes a partir de 1950.
O Escultor Hildegardo Leão Velloso. Foto: Portal das Artes
Executou diversas obras pelo Brasil e Argentina, entre elas as esculturas em mármore de Carrara que adornam os túmulos de D. Pedro II e da Imperatriz Teresa Cristina, na Catedral de Petrópolis.
O Monumento ao senador Pinheiro Machado, em Ipanema, no Rio de Janeiro.
É dele também a estátua equestre do General Osório, na Praça da Alfândega, em Porto Alegre, em 1933.
Faleceu no Rio de Janeiro em 1966.

O Monumento na Laguna
Na Laguna o Monumento aos Trabalhadores tem ao todo 11,50 metros de altura, com o perfil do presidente Vargas gravado em bronze em uma das laterais, com os dizeres:
“Ao presidente Getúlio Vargas, o Estado de Santa Catarina”.
Logo abaixo, uma frase retirada de um de seus discursos:
“Habituei-me a ver a Pátria como um todo sem fronteiras internas, formando perfeita unidade moral e material”. 
O Monumento ao centro da foto, com o bairro Mar Grosso ao fundo. Foto: Elvis Palma.

O Monumento tem em sua parte central a forma de um obelisco, figura geométrica retilínea muito em voga na época, mas lembra chaminé de fábrica, mesmo em sua forma quadrada.



Os trabalhadores estão representados em sua forma de trabalho rudimentar, rústicos, desnudos e descalços, extraindo pedras de carvão utilizando-se de bastões de ferro e alavancas e transportando o material nos ombros, em grande esforço.
Essas figuras contrastam com o representado em dois painéis laterais, do mesmo artista, que já demonstram a utilização de equipamentos, vagões, tratores, pás e botas. Um navio ao fundo faz a analogia ao transporte marítimo do minério, escoado através dos vagões da Estrada de Ferro Tereza Cristina, pelo porto lagunense.
São dicotomias que demonstram um novo tempo, o progresso tecnológico e melhores condições de trabalho, tão apregoadas e implementadas na Era Vargas.
A principal via do bairro Magalhães, onde se situa o Monumento e aberta naquela mesma época, também recebeu o nome do então presidente do Brasil. 

Curta redenção e início da estagnação
A construção do Porto Carvoeiro parecia ser a redenção da Laguna. De fato o foi no primeiro momento. Viveu a nossa cidade nos primeiros anos um período de progresso com a expansão da indústria carbonífera do sul catarinense.
Mas os problemas começaram a surgir. Estudos encomendados mostravam a precariedade da entrada da Barra em forma de tenaz e obstaculizada por bancos de areia, provocando o baixo calado. Havia até quem afirmasse que existiria uma pedra (uma laje) atrapalhando a navegação.
Outros fatores também contribuíram, como o desenvolvimento do transporte rodoviário e da agricultura.
Pouco a pouco o transporte de carvão, em grande volume, começou a ser escoado pelo Porto de Imbituba, particular.
Era o início da estagnação econômica de nossa cidade já no começo dos anos 1950.
E foram nos primeiros anos dessa mesma década de 50 que surgiu uma nova esperança -mais uma- no seio da comunidade lagunense, fomentada por políticos e autoridades em vários níveis: a construção de uma siderúrgica na Laguna, a famosa Sidesc.
Mas este é outro capítulo de lutas e esperanças de um povo traído, ainda a ser abordado futuramente.

PS: O Monumento ao Trabalhador precisa de manutenção, melhor iluminação e limpeza. Suas esculturas precisam de um "banho" de cera de carnaúba.
Alô, alô Fundação Lagunense de Cultura e Secretaria de Turismo.

sexta-feira, 19 de março de 2021

Triste fim de um Conservatório de Música

 
Ontem à noite, uma placa descartada numa caçamba de entulho defronte à Casa Paroquial, ao lado da igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos, era o retrato fiel, simbólico, metafórico até, de um tempo que passou.
A placa do Conservatório Lagunense de Música descartada no entulho. Aos fundos o prédio dos Vicentinos onde ele funcionou. Foto: Valmir Guedes Jr.
Na placa branca em mosaico com letras na cor azul, o sonho, a realidade e o fim do Conservatório Lagunense de Música que funcionou em salas ali em frente, no prédio São Vicente de Paulo (dos Vicentinos).
Placa que ficava tradicionalmente afixada na parede frontal do quase centenário edifício.
O Conservatório fechou suas portas há muitos anos, em 2014.
A placa ontem misturada a outros detritos, móveis e velhos instrumentos musicais é a lápide que faltava em seu túmulo. 

Histórico
O Conservatório Lagunense de Música, fundado em 17 de julho de 1986 pelo então padre e pároco Antônio Gerônimo Herdt, ensinou e formou toda uma geração de músicos. Muitos também foram os professores e maestros desta instituição cultural de ensino.
Músicos profissionais e amadores que estão em bandas militares e civis por todo o Brasil ou em carreira solo. Estão por aí, se apresentando em recitais, corais, orquestras, quartetos, em shows, gravando discos e tirando seus sustentos de vida.
Os cursos do Conservatório nos melhores anos incluíam o violino, violoncelo, guitarra, violão, piano, teclado, acordeom, saxofone, flauta doce, baixo acústico, técnica vocal, teoria musical, ballet e dança latina.
Em 2008 foi montada um Orquestra de Cordas reunindo músicos do próprio Conservatório, com apresentações no encerramento daquele ano.
Prédio dos Vicentinos onde funcionou o Conservatório de Música ainda ostentando a placa frontal.

Durante dezessete anos Herdt o dirigiu, subsidiado por verbas oficiais (subvenções sociais) em convênios obtidos com muito empenho e dificuldades com o estado e o município. Além de bolsas de estudos conseguidos ao Ministério da Educação e Cultura (MEC).
Na época, ao final do curso de quatros anos, o aluno recebia um certificado emitido pelo MEC, de formação em teoria musical em nível de Ensino Médio.
O Conservatório foi declarado de Utilidade Pública pela Lei Estadual nº 9.330, de 24 de novembro de 1993, assinada pelo governador Vilson Pedro Kleinubing.
Depois, outros maestros e diretorias o dirigiram, inclusive implantando cobrança de mensalidades dos alunos para tentar mantê-lo.
Por diversos fatores, principalmente a falta de apoio, o Conservatório encerrou suas portas em 2014.
Uma lamentável perda da comunidade lagunense – mais uma! – e que também entrou tristemente para o extenso rol do “LAGUNA JÁ TEVE”.
 
Conseguirá um dia a comunidade lagunense retornar com o seu Conservatório de Música, que pelo constatado continua ativo nos registros cadastrais?
Renascerá ele das cinzas? Quem empunhará essa bandeira?

Carta de uma mãe: “Perdi um filho!”

 
Luiz Felipe Remor faleceu na Laguna aos 58 anos no último dia 7 de março, vítima da Covid-19. (Ver post aqui).
Um choque para sua família, amigos e a todos que conviveram com ele.
Uma morte repentina que enlutou a comunidade lagunense onde era bastante conhecido e exerceu diversos cargos públicos.
Ontem, passados dez dias do triste acontecimento, sua querida mãe, professora aposentada Hilta Garcia Remor, residente lá em São José, na Grande Florianópolis, postou em sua rede social uma emocionante carta de desabafo, a título de despedida.
São palavras simples de uma mãe, tristes, mas vindas do fundo d' alma, escritas na dor do coração e da aflição, entre lágrimas derramadas.
Mas trazem o lenitivo da fé e esperança, tão necessárias a cada um de nós e a todos que perderam e estão perdendo seus entes queridos e amigos.
Tomo a liberdade de aqui reproduzir a carta da dª Hilta porque mais do que seu testemunho de genitora, são palavras de fé, compreensão e esperança na espiritualidade, tão necessárias neste momento que estamos passando, com tantas vidas perdidas a cada dia.

Perdi um filho, meu filho amado

“Gente, vocês não imaginam perder alguém da sua família, aconteceu comigo e meus outros filhos.
Dia 7 de março, às 10 horas, meu filho mais velho, Luiz Felipe Remor, deixou este mundo, indo para junto de Deus.
Entendo que estamos emprestados aqui na terra, mas é um sofrimento sem ele junto de nós.
Felipe esteve me visitando, ficando de sexta-feira até segunda.
Queria me abraçar, mas não deixei, por causa da Covid-19, então ele me respondeu que havia feito o teste e deu negativo.
Na noite de sábado, seu irmão Benito esteve aqui, riram bastante e pediram pizzas. Segunda-feira passou na praia para pegar um botijão de gás. Minha nora Ana esposa de Gustavo conversaram e riram bastante com ele, foi tudo maravilhoso e foi para Laguna cidade onde nasceu e morava.
Sua irmã Bee Scott que mora em São Paulo falava com ele todos os dias e no dia que foi internado, foi para ela que ele ligou.
Após sua saída de Florianópolis, depois de uma semana contou-me que estava com Covid-19, mas se tratando com o médico, tomando o tal kit covid-19, mesmo assim falava que a qualquer hora o hospital não teria lugar nem pra rico nem pra pobre.
Ele comentava comigo que não tinha lugar no hospital. Rezei muito aos céus para a cura de meu filho e do mundo inteiro, porém não consegui.
Quando recebi a notícia de sua partida e fiquei reclusa, minhas noras estavam comigo neste momento, passei dias não querendo falar com ninguém, só queria pensar nele, questionar sua partida.
Hoje entendo os desígnios de Deus, seu ciclo na Terra havia terminado.
Sei que estamos na Terra de passagem, mas o egoísmo é mais forte para o coração de uma mãe!
Queria-o vivo, fizemos sete dias de Evangelho no lar, minha filha é espírita e eu católica, mas o que importa é acreditar em Deus e as mensagens que lemos me confortou bastante, me fazendo mudar o pensamento e desejar que ele esteja com os espíritos iluminados e seja bem recebido.
Todos temos a nossa hora! É a única certeza dessa vida!
Ainda tenho muito que aprender e agradeço a todos que me mandaram lindas mensagens, confortando-me e a todos os meus filhos.
Perdi um filho. Meu filho amado. Perda e luto”.
Hilta Garcia Remor