sexta-feira, 26 de junho de 2020

O primeiro (e falso) Monumento de Tordesilhas na Laguna

Durante muitos anos, décadas até, um pequeno marco construído em concreto e situado no Jardim Calheiros da Graça, na Praça Vidal Ramos, foi referendado como sendo o Monumento ao Tratado de Tordesilhas.
Guias turísticos com seus grupos, principalmente a partir da década de 1970, comumente eram vistos em indicações históricas e posando para fotografias no local.
Pessoalmente assisti a muitas dessas cenas ao passar por ali. O próprio lagunense quando indagado, indicava aos visitantes e estudantes, o histórico local.
E assim foi até 1980. 
Neste ano, numa crônica publicada no jornal “O Renovador”, o professor Ruben Ulysséa explicou a origem deste marco, o seu surgimento.
E desfez o equívoco de anos.
Ulysséa explicou que em suas aulas no Ginásio Lagunense, no começo de sua carreira no Magistério lá pela década de 1930, sugestionava aos seus alunos da necessidade de uma campanha para construção de um monumento simbólico que assinalasse a passagem do famoso meridiano.

Uma ideia que virou verdade
Também apresentou a ideia aos sócios do então existente Centro Cultural Antônio Guimarães Cabral. Todos acharam muito interessante, sobretudo Tupy Barreto, um dos mais inteligentes e ativos sócios do Centro, sublinha o professor.
A ideia do marco surgiu porque Rubem Ulysséa percebia que nos livros de História, quando se chegava a esse capítulo, “Os historiadores sempre concluíam com a informação de que a linha divisória estabelecida pelos delegados de Portugal e Espanha passava ao Norte, por Belém do Pará; ao Sul, por Laguna, em Santa Catarina”.
“Aquela informação, ressalta o professor, dava certo realce à velha cidade catarinense e se constituía em mais uma curiosidade para os visitantes, embora ainda não se falasse tanto em turismo”.
Mas a proposta não foi adiante.

A origem do Marco
O professor informa que em 1940 esteve na Laguna Victor Peluso Júnior, encarregado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, para proceder ao levantamento das coordenadas do município.
Após a realização dos seus trabalhos, solicitou ao prefeito Giocondo Tasso a construção de um marco de cimento na nossa principal praça, para colocação de uma placa indicativa das coordenadas de nossa cidade.
E assim foi feito. “Imaginava-se uma vistosa placa de bronze, em alto-relevo, trazendo as coordenadas 28º 29’ 02” de latitude Sul e 48º 47’ 02” de longitude Oeste de Greenwich”.
Qual nada. O que se colocou no topo do marco foi uma “rodelinha de cobre” onde havia duas linhas em cruz com as iniciais do Instituto.
E assim passou-se o tempo.

Em 1948 realizou-se em Florianópolis o Primeiro Congresso de História Catarinense.
Ao término, promoveu-se uma visita à Laguna, entre outros locais.
Em nossa cidade, a comitiva, após visitar alguns locais, dirigiu-se ao Clube Blondin para um almoço oferecido pelo prefeito Alberto Crippa.
Ao retornar de sua casa em busca de seu discurso esquecido, o professor Ruben deparou-se com o grupo de Congressistas no Jardim, ao redor do marco, batendo foto e fazendo anotações.
No meio deles, Tupy Barreto explicava que aquele marco era o de Tordesilhas, etc.
Professor Ruben chamou-o de lado e indagou:
- Mas Tupy...
- “Não me diga nada. Eles me perguntaram o que era aquilo e eu para não parecer ignorante das coisas da terra, lembrando-me daquele seu papo lá no Centro Cultural, disse-lhes que era o Marco que assinalava a passagem do Meridiano de Tordesilhas”.

Uma fake news
A falsa informação espalhou-se – hoje diríamos uma fake-news que viralizou – e gerações passaram anos acreditando ser ali o marco do Tratado.
Por incrível que pareça, em 1956 - e que ainda nos conta é o professor Ruben - o IBGE lançou uma coleção de monografias dos municípios do Brasil.
No capítulo dedicado a Laguna informa que no “Jardim Calheiros da Graça acha-se a “Árvore de Anita”, transplantada da quilha abandonada do lanchão Seival, uma das embarcações que durante a Revolução Farroupilha, Garibaldi transportou da Lagoa dos Patos ao oceano.
No mesmo logradouro existe o Marco que fixa o ponto imaginário por onde passava o Meridiano de Tordesilhas”.

E foi assim até 7 de junho de 1975, quando na gestão do prefeito Francisco de Assis Soares foi inaugurado oficialmente, com projeto do arquiteto Wolfgang Ludwig Rau, o belo Monumento de Tordesilhas, próximo à Rodoviária, numa iniciativa da Loja Maçônica Fraternidade Lagunense, através do irmão Salum Nacif e dos Clubes de Serviço Lions e Rotary de nossa cidade.

Mas ainda hoje, para muita gente, o marco de cimento situado em nosso Jardim Calheiros da Graça, simbolicamente ainda é o primeiro e antigo Monumento ao Tratado de Tordesilhas.

A íntegra da entrevista à Rádio Cidade FM

Abaixo, a entrevista, na íntegra, que concedi ao Programa Notícias da Cidade da Rádio Cidade FM 103.7, de Tubarão, na manhã de hoje aos Radialistas Matheus Aguiar e Fhillipe Costa, sobre a Gripe Espanhola em 1918, através das minhas pesquisas:
Clique aqui

  Ou ouça diretamente:

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Entrevista à Rádio Cidade FM 103.7 de Tubarão

Convidado, nesta sexta-feira (26), serei entrevistado pelos radialistas Matheus Aguiar e Fhillipe Costa no Programa líder de audiência na região “Notícias da Cidade”, da Rádio Cidade FM 103.7,  de Tubarão, a partir das 9 horas da manhã.
Para sintonizar a rádio e a entrevista clique em:

Para dar o seu recado, os telefones da emissora são: (48) 9.9926-4448/3622-2222

sexta-feira, 19 de junho de 2020

"Homem-locomotiva” desafiou Laguna na corrida a pé e de bicicleta

Um espanhol de nome José Porro, denominado “Homem-Locomotiva”, se dizendo o mais veloz do mundo, apareceu na Laguna para se apresentar em nossas ruas e praças, em corridas a pé e de bicicleta. Foi desafiado por alguns jovens aqui da cidade Juliana. Quem seriam os vitoriosos na disputa? O lagunense ou o “Homem-Locomotiva”? É o que leremos a seguir:

No início do século XX poucas eram as atrações aqui na Laguna dirigidas ao povo.
As peças apresentadas no Teatro 7 de Setembro e os bailes em clubes eram frequentados por uma elite.
Para o Zé povinho havia os circos que ocasionalmente por aqui passavam; corridas de cavalos no Campo de Fora e Magalhães, festas religiosas e suas quermesses, retretas gratuitas nas praças e ruas executadas pelas Bandas União dos Artistas e Carlos Gomes, quebra-potes, pau de sebo, corridas em saco, bazar de prendas e, sem dúvida, anualmente o carnaval de rua, com seus entrudos, blocos e limões de cheiro, no que foi sempre uma festa popular.
Novidades também aqui aportavam, vindas diretamente do Rio de Janeiro, então capital federal ou de Florianópolis.
Objetos e os últimos lançamentos em costumes e moda eram para cá trazidos pelos ricos comerciantes e armadores para vestir seus familiares.

O homem mais rápido do mundo chegou à Laguna
No início de dezembro de 1904 aqui chegou um andarilho, o espanhol José Porro, dizendo-se o homem mais rápido do mundo.
Já havia percorrido e se apresentado em inúmeras cidades e ninguém o havia superado em velocidade nas corridas, a pé ou em bicicleta.
O jornal “O Comércio”, de 4 de dezembro de 1904, de Saul Ulysséa, editado em nossa cidade, diz que o espanhol vinha de Jaguaruna, onde havia se apresentado.

Naqueles recuados anos nada era mais rápido do que o trem. Bem por isso, seu mote promocional não poderia deixar de ser: “HOMEM-LOCOMOTIVA”.
Jornal "O Comércio" de 11 dezembro de 1904.
Propagandeava que percorria quarenta quilômetros em uma hora.
E desafiava contendores.

Naquela tarde a rua Gustavo Richard encheu-se de populares para presenciar o espetáculo. Comerciantes, marinheiros, políticos, imprensa e demais curiosos postaram-se ao longo da via, numa beira-mar ainda sem o cais de granito.
Todos queriam testemunhar a novidade e comprovar com os próprios olhos se o homem era mesmo veloz, como afirmava.
Seu desafiante na corrida de bicicleta foi Alcino Dutra que, apesar dos esforços, acabou em segundo lugar.
Palmas, assovios e vivas para o “Homem-Locomotiva”. 
"O Comércio" diz que "Após o percurso, José Porro não mostrava o menor cansaço, respirando tranquilamente". 
Por dedução, Alcino Dutra devia estar com a língua de fora "apesar dos esforços"...

Um busca-pé em busca de um...pé
Mas, um espírito de porco, que esses sempre os há, em qualquer tempo e lugar, aproveitou a ocasião e o ajuntamento no local para soltar um foguete busca-pé.
Foi um deus-nos-acuda. Correria, gritos, xingamentos, com a multidão dispersando-se para todos os lados da rua Gustavo Richard.
Certamente houve quem corresse mais que o artista que estava se apresentando. Também pudera, com o foguete no encalço das canelas, quem não correria? Mas ninguém cronometrou o tempo, portanto...
O jornal “O Albor” na edição seguinte registrou o fato e lamentou o incidente, com a seguinte manchete:
Jornal O Albor de 11 de dezembro de 1904.
Imprudência:
“Na ocasião em que o andarilho sr. Porro corria na rua Coronel Gustavo Richard, foi imprudentemente lançado sobre um grupo de pessoas que assistia à corrida, um busca-pé, que, felizmente, não produziu as más consequências que essas irrefletidas brincadeiras muitas vezes trazem”.
Em seguida o jornal anunciava uma nova corrida para o próximo domingo.
Dito e feito.
Jornal O Albor de 23 de dezembro de 1904.
Na edição seguinte o semanário anunciava que “O homem-locomotiva” correu na Praça Marechal Floriano (atual Praça Vidal Ramos), perante enorme concorrência”.
Mas aí começou a chover e o povo aglomerado no local mandou o espanhol parar, afinal não iam ficar encharcados presenciando a apresentação. Ele concordou.
E escreve mais uma vez o redator do “O Albor”, que como vemos, acompanhava atentamente as apresentações:
“Devido à chuva e aos protestos do povo, que bradava Para! Para!, o incansável campeão não concluiu a corrida, para cujo termo faltava dez minutos.
O sr. José Porro deu no espaço de 50 minutos 42 duas voltas em redor d’aquela praça, que mede 270 metros, tendo, portanto, corrido 9.940 metros”.
50 minutos= 9.940 metros. Bem longe, portanto dos 40 quilômetros em 60 minutos que ele tanto se gabava.
Providencial chuva...

Lagunenses desafiam o “Homem-Locomotiva”
Alguns jovens lagunenses, movidos pelo desafio da velocidade que ora se apresentava e certamente meio que enciumados pelo sucesso do atleta perante o público, em especial o feminino de gentis senhoritas da nossa melhor sociedade, apostaram com o campeão espanhol uma corrida para as seis da tarde da sexta-feira seguinte, desta vez com a utilização de bicicletas.
Desafio aceito.
Lembrando que, conforme pesquisadores, a bicicleta chegou a São Paulo em 1894. Portanto, dez anos depois bicicletas já faziam parte do cotidiano da nossa Laguna.
Viu como estávamos por dentro das modas?
Durante a semana não se falou em outra coisa na Laguna.
No dia e hora marcados – desta vez sem chuva - a multidão era enorme na Praça. Houve quem tenha se arrancado dos arrabaldes do Magalhães e Campo de Fora para exclusivamente assistir a peleja.
O redator de “O Albor” sempre muito bem atualizado (terá sido o seu Tonico Bessa?) anotou lá em seu caderninho, o título:

Corrida:
“Brilhantemente disputada pelos respeitáveis ciclistas Manoel Pinho Netto, Luiz da França Fonseca, Manoel Custódio de Bessa e Arlindo Pires, realizou-se na Praça Conselheiro Mafra (hoje República Juliana), a corrida anunciada pelo andarilho sr. José Porro, cujas condições eram-se dar 60 voltas  àquela praça  no espaço de um hora.
A corrida durou apenas 50 minutos, vencendo em primeiro lugar, o ciclista Manoel Pinho Netto, que deu 65 voltas e em 2º o sr. Porro, que deu 60.
Não obstante ter sido vencido, o andarilho nada sofreu em seu valor de corredor emérito, pois que, além de ter por contendores ciclistas de respeito, correu sempre com igual velocidade”.
Jornal O Albor 30 de dezembro de 1904.
Cá pra nós, leitor. "Nada sofreu" uma ova! Para quem se dizia o homem mais rápido do mundo foi um verdadeiro vexame, essa é que é a verdade.
O jornal “O Comércio” também aliviou, dizendo que “Apesar de vencido, ele corre sempre e com a mesma velocidade horas seguidas e é esse todo o seu mérito”.
Humm... Não sei não.

Acho que o “Homem-Locomotiva” havia sido é desmoralizado na corrida de bicicleta. E por um lagunense!
Viva! Viva! Manoel Pinho Netto! A honra tinha sido lavada por um valente ciclista da terra, montado em sua possante bike.
Alguém deve ter soltado alguns foguetes para comemorar a façanha. Do jeito que essa terra é fogueteira...
Mas busca-pé não teve mais.

O jornal depois disso não aborda mais o assunto – sobre perdedor ninguém fala, é sempre assim -, mas é bem provável que o sr. José Porro,  envergonhado, tenha tomado o primeiro vapor no porto e chispado dessas bandas.
Lá foi embora o “Homem-Locomotiva” correr em novas praças e pistas, levando seus desafios e suas performances por este Brasil afora.
No ano seguinte, em julho de 1905 o jornal "Correio da Manhã" registrou sua ilustre presença em corridas no Rio de Janeiro.
O homem ia longe...

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Nota de falecimento +

Faleceu nesta quinta-feira (18), João Feuser, aos 88 anos completados no último dia 14 de junho.
Nascido em Vargem do Cedro, jovem ainda, mudou-se para a nossa cidade, aqui se estabelecendo no ramo de madeireira, transformada logo depois na Loja Feuser & Cia Ltda.
Foi secretário de Obras na gestão (1977-1982) do prefeito da Laguna Mário José Remor.
Foi Provedor da Irmandade de Santo Antônio dos Anjos e presidente do Coral Santo Antônio. Juntamente com o padre Antônio Herdt foi um dos baluartes na construção do Centro Cultural.
Filho de Guilhermina e de Rodolfo Feuser, João Feuser foi casado em primeira núpcias com Maria Guiomar Machado Feuser. Da união nasceram os filhos Giselda Maria, Fábio José e Sayonara.
Viúvo, casou-se novamente com a professora Dircéa Soares dos Santos.
Seu corpo está sendo velado na Casa Funerária Gomsan (Sala Mortuária Santo Antônio dos Anjos) e o sepultamento ocorre nesta sexta-feira (19), às 10 horas no cemitério da Irmandade.
Sentimentos aos familiares e amigos.

terça-feira, 16 de junho de 2020

A gripe “Espanhola” na Laguna (Parte I)

Como o mundo, Laguna também sofreu a pandemia da chamada gripe espanhola, em 1918. A doença apareceu em nossa cidade “sorrateiramente, sem ninguém esperar”. Os primeiros casos se deram em 4 de novembro daquele ano. Calcula-se em 130 o número de mortos, entre adultos e crianças. As vítimas fatais eram de cinco a dez pessoas diariamente.

No mundo
Estima-se que a pandemia da gripe espanhola tenha matado de 20 a 40 milhões de pessoas em todo o mundo, atingindo 50% da população mundial.
A doença aconteceu em três ondas, sendo a primeira entre março e abril de 1918.
Há quem afirme que a origem da doença teria sido a Ásia ou o interior dos Estados Unidos.
Sobre o termo “espanhola”, atribui-se ao fato de que, a Espanha, que foi neutra durante a 1ª Guerra, reconheceu primeiramente a pandemia e divulgou informações sobre ela para o mundo.
  
No Brasil
Historiadores dizem que a doença teria chegado ao Brasil em setembro de 1918, através do porto do Recife, a bordo do navio Plata, com marinheiros que prestavam serviço militar na África.
Outros defendem que a doença chegou a nosso país na data exata de 9 de setembro de 1918, a bordo do navio inglês SS Demerara, que partiu da Inglaterra e fez escalas em Lisboa, Recife, Salvador e Rio de Janeiro.
Os primeiros relatos na imprensa brasileira realmente se deram no nono mês do ano.
De setembro a dezembro de 1918 a gripe assolou o Brasil.
A doença se espalhou por todo o território brasileiro, atingindo principalmente São Paulo e o Rio de Janeiro.
Estima-se que 65% da população do Rio de Janeiro adoeceu, com cerca de 15 mil mortes.
Entre os mortos, para alguns autores, estaria o presidente eleito do Brasil, Rodrigues Alves, mas há contradições; e o poeta Olavo Bilac.
No país todo, a gripe espanhola matou cerca de 300 mil pessoas, mas especialistas consideram este número abaixo da estatística real.

Em Santa Catarina
Historiadores aceitam que a gripe espanhola chegou a Santa Catarina em 6 de outubro de 1918, a bordo do vapor Itaquera, que atracou em Florianópolis trazendo 38 passageiros gripados.
Já no dia 19 de outubro o jornal "O Estado" pela primeira vez anunciava a presença da epidemia, mas ainda frisava seu caráter benigno.
Dias depois a população de Florianópolis foi tomada de terror e pânico.
Conforme relatos oficiais, a doença causou 124 mortes na Ilha de Santa Catarina, infectando 10 mil dos seus 36 mil habitantes.
Laguna, Itajaí e São Francisco do Sul, cidades portuárias também foram duramente atingidas pela epidemia.

Na Laguna
A gripe Espanhola em 1918 apareceu na Laguna “sorrateiramente, sem ninguém esperar”.
Os primeiros casos da gripe em nossa cidade se deram em 4 de novembro daquele ano, conforme registra "O Albor" de 26 de janeiro de 1919.
O número de pessoas atingidas foi de 2/3 da população da época, diz o mesmo jornal. Como a população da Laguna, conforme IBGE - Censo Demográfico de 1920 era de 27.573 habitantes, mais de 18 mil pessoas teriam sido atingidas.

Calcula-se em 130 o número de mortos, entre adultos e crianças. As vítimas fatais eram de cinco a dez pessoas diariamente.
Do Hospital Senhor Bom Jesus dos Passos saíam pela manhã, em carroças em direção aos cemitérios, dezenas de corpos das pessoas falecidas à noite.
Hospital Senhor Bom Jesus dos Passos Laguna. Década de 1910.
Enfermarias lotadas, todos os leitos ocupados. Nos corredores pacientes deitados em esteiras pelos corredores.
Um Posto de Socorro foi montado na sede da Loja Maçônica Fraternidade Lagunense, então situada na Praça Vidal Ramos. Os salões dos Clubes Blondin, Congresso Lagunense, Anita Garibaldi e 3 de Maio, também foram utilizados.
O Lazareto situado no Morro do Iró também foi ocupado.
O comércio foi paralisado. A cidade ficou com aspecto desolador.
Falecimentos de comerciantes, profissionais liberais, operários, armadores. A gripe não distinguiu classes, nem sexo, nem idade. Atingiu a todos, indistintamente.
Os funcionários da Agência dos Correios da Laguna foram atingidos, paralisando por completo o tráfego postal em todo o sul do estado. Funcionários tiveram que ser deslocados de Florianópolis para substituí-los.
Na Praça Vidal Ramos, entre o Cine Palace (depois Cine Arajé) e o Clube Blondin (hoje Iphan) a sede da Loja Maçônica Fraternidade Lagunense, transformada em Posto de Socorro aos infectados pela gripe.
O prédio da maçonaria posteriormente foi demolido para construção do palacete de João Guimarães Cabral. E a edificação do cinema, depois Rádio Difusora, ruiu nos anos 80.

***
As escolas isoladas do município ficaram sem frequência e, no maior estabelecimento, o Grupo Escolar Jerônimo Coelho, no centro da cidade, todos os professores e funcionários ficaram doentes.
Damas de Caridade, Tiro 137 e Irmãs da Divina Providência do Hospital e do Colégio Stella Maris, além de dezenas de pessoas da nossa sociedade, ficaram à frente da batalha contra o mal.
O Grupo de Escoteiros da Laguna também vai participar ativamente do auxílio aos necessitados. O instrutor do Grupo, René Rollin, será uma das vítimas da pandemia, cuja morte causou profundo abalo na sociedade lagunense. 
Vendo-se contaminado pela doença, Rollin despediu-se da família e partiu sozinho, a pé pelo morro em direção ao Lazareto. (Para ler a história de René Rollin clique aqui).

Os médicos Aurélio Rotolo (pai) e Ismael Ulysséa também foram contaminados. Dr. Ismael, inclusive, perdeu uma filha para a terrível moléstia.

Em minhas pesquisas, não encontrei em nosso Arquivo Público (quando ainda funcionava) qualquer documento sobre a pandemia, como relatórios, fichários, correspondências, etc.
O jornal "O Albor" não circulou na maior parte do ano de 1918. Bem por isso faltam relatos jornalísticos semanais da epidemia e suas mortes, acontecida no dois últimos meses daquele ano.
Quando este jornal retornou, o pior tinha passado e já estávamos em fins de janeiro de 1919.
Em 26 daquele mês, o jornal trouxe ampla reportagem (e a única) sobre o lamentável ocorrido, sintetizando os principais fatos, sob o título “A pandemia da influenza – Considerações retrospectivas”.
Para ler a matéria na íntegra clique aqui.

Penso que é um documento histórico importante, um verdadeiro relatório sobre a pandemia em nossa cidade e que melhor traduz o que aconteceu naqueles tristes dias.
O jornal registrava:

“A calma e a tranquilidade voltaram finalmente aos lares lagunenses.
Depois de tantos dias penosos, em que tudo ficou abalado, como se um verdadeiro ciclone tivesse caído sobre a nossa cidade, os corações mais desafogados tomam seu ritmo normal e os pulmões, quase que comprimidos pela areia das notícias dolorosas recomeçam a respirar com maior liberdade”.

Na citada matéria ainda afirma-se que “Os primeiros casos de gripe espanhola na Laguna foram constatados em 4 de novembro de 1918”.
Em meados de dezembro de 1918 já cessavam os casos de gripe na Laguna.
Cerca de um mês e quinze dias haviam se passado desde a primeira ocorrência.
Por ser cidade portuária, o vírus deve ter vindo a bordo de algum vapor proveniente de praças maiores, como a do Rio de Janeiro, onde a epidemia atingiu grandes proporções. Ou Santos, Paranaguá ou a capital do estado, Florianópolis, cidades atingidas dias antes.

“130 mortes, entre crianças e adultos”
No livro “A Trajetória da Enfermagem na cidade de Laguna”, editora Nova Letra, 2005, as autoras, Cinthia Ferreira Corrêa Vieira, Maria Heloísa Fernandes e Regina Ramos dos Santos, informam que “Em 1918, a cidade foi atingida pela gripe pandêmica conhecida como “espanhola”.
Houve cerca de três mil casos, tendo sido registrados 130 óbitos, entre crianças e adultos”.
Enfermaria do Hospital Senhor Bom Jesus dos Passos - Laguna. Sem data. Acervo Hospital.
O historiador lagunense Antônio Carlos Marega diz que o nosso hospital não dava conta em atender o alto número de infectados e por isso diversas entidades, como a Loja Maçônica Fraternidade Lagunense e a Escola de Escoteiros ajudaram nos trabalhos.
A maçonaria, informa Marega, tinha sua antiga sede, hoje não mais existente, num casarão situado na Praça Vidal Ramos, entre o prédio do Cine Palace e o antigo Clube Blondin.
 De fato, como se pode constatar nos jornais e relatórios publicados na época, a sede da Maçonaria lagunense foi transformada em Centro de Atendimento aos atingidos pela gripe, um Posto de Saúde.

Gripe apareceu na Laguna “sorrateiramente e sem ninguém esperar”, diz jornal
No jornal “A Nota”, de 16 de janeiro de 1919, editado em nossa cidade, de propriedade de Hugo Brinck Fischer, em matéria de capa podemos ler:

“Um dia fomos informados por intermédio de um lacônico telegrama de ter aparecido na capital da República (Rio de Janeiro), alguns casos de uma moléstia que grassava intensamente na Europa, fazendo milhares de vítimas diariamente, denominada “Influenza Hespanhola”.
O medo, essa mortal tristeza que nos invade a alma, segundo a frase de Múcio Teixeira, assolou os corações dos habitantes de nossa histórica terra que ao terem conhecimento do novo e aterrorizante flagelo, preces sem número ergueram ao Onipotente a fim de conjurar o mal ameaçador.
E os dias se iam assim passando monotamente, quando sorrateiramente e sem ninguém esperar, os primeiros casos da “Hespanhola” apareceram em nosso meio, rotulados com a etiqueta de “benigna”!
Corações nobres, almas bem formadas manifestaram-se e a fim de auxiliar a exterminação da fatal moléstia, não trepidavam, mesmo com o sacrifício da própria vida.
Aqui, um grupo de destemidos escoteiros carregando em padiola um gripado moribundo; ali um Atirador sobraçando vários embrulhos para distribuir aos pobres necessitados; mais além, num trabalho extenuante, a percorrer casas assoladas pelo mal, Damas de Caridade, no apostolado de sua missão, iam distribuindo as esmolas recebidas e confortando com palavras carinhosas os infelizes doentes.
Santa e sublime caridade.
Na Loja Maçônica é instalado um Posto de Socorro, lá se veem homens, senhoras e senhoritas numa atividade extraordinária a socorrer os míseros gripados.
Mas... horrível contraste.
Enquanto assim procediam esses abnegados, cá fora nos cafés e esquinas de ruas, desocupados emprestavam numa crítica torpe e nojenta, levando a censurar estes e a menosprezar àqueles, porque desprendidos trabalham para suavizar a terrível praga que diariamente vai ceifando vidas tão preciosas”.

O relato de Agenor Bessa
Agenor Bessa numa crônica publicada no jornal “O Renovador” de 9 de dezembro de 1983, narra sobre a “espanhola” em nossa cidade. Ele foi testemunha ocular dos fatos, mesmo em tenra idade. Nascido em 1908, tinha, portanto, 10 anos à época:

 “Laguna foi atingida pela epidemia antes de dezembro de 1918. Não houve uma casa em que o germe não entrasse e, por vezes, atingindo todas as pessoas da família.
Do Hospital Senhor Bom Jesus dos Passos saíam quase que diariamente numa carroça, para os cemitérios, pessoas que haviam falecido durante a noite.
As enfermarias se achavam lotadas e além de todos os leitos ocupados com gente em tratamento, também nos corredores eram vistos pacientes em esteiras pelo assoalho, homens, mulheres e crianças que, por força da conjuntura, eram hospitalizados.
Laguna, nessa época era atendida pelo dr. Aurélio Rotolo e pelo dr. Ismael Ulysséa. Ambos foram atacados pela “espanhola” que os surpreendera, afastando-os de quaisquer atividades.
O sr. Manoel Olavo da Rosa, farmacêutico que receitava aos pobres e o sr. Henrique Esteves, médico homeopata, também foram recolhidos ao leito, ficando a Laguna dependendo apenas do sr. Tácito Pinho, farmacêutico que receitava abertamente, mas que não dava conta do serviço”.

Agenor dos Santos Bessa, continuando o seu valioso relato, cita diversos nomes que auxiliaram no combate à epidemia. Ele ressalta:

“Quero abrir um parágrafo para louvar o trabalho dos escoteiros, daquela saudosa Escola Regional dos Escoteiros da Laguna, como dr. Ramiro Ulysséa, Erlindo Amboni, Bruno Tasso, Armando Carneiro, Murilo Carneiro, dr. Agenor Carneiro, Jayme Carneiro e Célio Rollin.
Também, sem deixar desmerecer muitas outras pessoas, cujos nomes já estão esquecidos, assim os trabalhadores da Superintendência (prefeitura à época), como seu Jeremias, Cecilino, Luiz Baeta, Neco Leonardo e João Barraca.
Ainda era encarregado da desinfecção das ruas, o Lindolfo Perfeito da Silva, que talvez nem seus parentes Ned Silva e Afonso Prates da Silva, tenham o conhecido, pois estou perfeitamente lembrado de que ele, no final dos dias chegava a nossa casa, para participar a meu pai, de quantas ruas ele havia percorrido na carrocinha com as latas de alcatrão que havia sido queimado”.

Agenor Bessa, sempre é bom lembrar, é filho de Antônio Bessa, proprietário do jornal "O Albor", e superintendente em exercício da Laguna naquela época. O titular era Oscar Pinho.
O nosso saudoso “seu” Agenor, relembra, por fim, que ele mesmo foi atingido pela gripe:
“Não sei como tive tanto sangue para expelir pelas narinas. As minhas horas estavam contadas, mas... teríamos que ficar mais tempo aqui, se havia contas a prestar com o mundo...”.
Agenor Bessa faleceu em 13 de março de 1994, com 85 anos e 76 anos após a gripe espanhola.

Médico na Laguna há 100 anos recomendava isolamento social e uso de máscaras
Em 5 de outubro de 1919, portanto dez meses após a pandemia em nossa cidade, o dr. Aurélio Rotolo publicou no jornal "O Albor" extenso e importante trabalho intitulado “Boletim Médico – Teremos outra epidemia de Influenza?”. Para ler o documento na íntegra clique aqui.
O título tinha sua razão de ser. A população novamente estava alarmada com o aparecimento de novos casos de gripe.
Mas era gripe comum.
Dr. Aurélio faz recomendações e aconselha o uso de máscaras e o isolamento social. Nada muito diferente do recomendado atualmente pelos especialistas da área.
Mas são sugestões feitas na Laguna há mais de um século!

No jornal O Estado, o registro quase que diário sobre a gripe Espanhola na Laguna
O jornal "O Estado", editado em Florianópolis, a partir de 18 de novembro de 1918, numa pequena nota, fez o primeiro registro da epidemia em nossa cidade.
Desta data em diante, um correspondente daqui enviou quase que diariamente os últimos acontecimentos sobre a pandemia na Laguna.
São notas históricas a quem recorro – na falta de maiores documentos - trazendo-os reproduzidos aqui. Só atualizei a ortografia:

Jornal O Estado 18 de novembro de 1918
 A influenza Hespanhola - Na Laguna 500 casos
"A gripe está se alastrando consideravelmente na cidade e arrabaldes.
Avalia-se em quinhentos o número de casos, todos felizmente de caráter benigno.
Até hoje se deram dois casos fatais”.

Jornal O Estado 19 de novembro de 1918
A peste na Laguna
“A epidemia recrudesce assustadoramente, existindo já mil casos.
De ontem para hoje registraram-se sete casos fatais.
A municipalidade, de acordo com as Damas de Caridade, age com solicitude.
O superintendente fiscaliza pessoalmente todo o serviço de Assistência.
O posto Municipal funciona na Maçonaria.
Os Clubes Congresso Lagunense, Blondin, 3 de Maio e Anita Garibaldi ofereceram os seus edifícios para tratamento dos doentes.
A cidade tem um aspecto desolador.
O dr. Rotolo está doente de gripe, o dr. Vasi e o doutorando Manoel Pinho tem sido incansável em atender os doentes pobres.
O Tiro e principalmente os escoteiros têm prestado relevantes serviços”.

Jornal O Estado 21 de novembro de 1918
A peste grassa intensamente na Laguna
“Existem atualmente aqui 1.500 casos de influenza espanhola.
Só ontem para hoje verificaram-se mais de 9 casos fatais.
Os doentes da penitenciária estão recebendo socorros.
Tácito Pinho tem sido incansável no serviço de assistência aos enfermos pobres, merecendo por isso os mais vivos aplausos”.

Jornal O Estado 22 de novembro de 1918
2.000 casos de peste na Laguna
“Já existem aqui 2.000 casos de influenza espanhola.
O comércio está paralisado.
A cidade está consternada pelo falecimento do benquisto lagunense Júlio Horn, escrivão do crime, e pelo estado gravíssimo da estimada senhorita Leonor Ulysséa, filha do humanitário dr. Ismael Ulysséa.
No meio do desolamento geral motivado pela moléstia, conforta o devotamento de inúmeras senhoritas, cavalheiros, atiradores, escoteiros e as Damas de Caridade, que dia e noite trabalham no serviço de socorros, mostrando-se incansáveis em atender os doentes.
Esse serviço tem sido irrepreensível, evitando desse modo maior mortalidade”.

Jornal O Estado 23 de novembro de 1918
A peste da guerra grassa intensamente na Laguna
“A epidemia continua na sua faina, vitimando cinco a seis gripados diariamente!
Faleceu a distinta senhorita Leonor Ulysséa, dileta filha do ilustre facultativo sr. dr. Ismael Ulysséa.
A notícia da sua morte repercutiu dolorosamente pela cidade, que sofre uma pressão angustiosa. A terrível moléstia está se alastrando para o interior com grande intensidade”.

Jornal O Estado 26 de novembro de 1918
A gripe ataca os empregados do Correio da Laguna
“O sr. Major Adolfo Leon Salles, digno administrador interino dos Correios, recebeu ontem o seguinte telegrama:
Laguna, 25 – Administrador Correio – F’polis – Funcionários agência aqui atacados influenza.
Favor providenciar vinda de empregados substitui-los. Saudações – Thomaz Netto, Superintendente e, exercício.
(O titular Vicente Góes Rebello, estava afastado por causa da gripe. N.A.).
Segundo nos informaram o tráfego de malas postais no sul do estado acha-se completamente paralisado, por estar fechada a agência da Laguna, que serve de intermediária entre a administração e todas as demais agências daquela zona.
Diante dessa situação difícil o sr. Adolfo Leon Salles resolveu comissionar dois empregados, que seguirão amanhã cedo no “Max” para Laguna, a fim de tomarem conta da agência daquela cidade, regularizando o tráfego de malas.
Esses funcionários são os srs. Oswaldo Salles e Altamiro Guimarães, respectivamente praticantes de 1ª e 2ª classes”.

***
A peste na Laguna (Pág. 2)
“Embora o posto de socorro afirme que está a diminuir o número de casos novos de gripe, a situação continua angustiosa.
A peste vitimou o negociante João Estevam Soares e a viúva de Roberto Scheifler”.

Jornal O Estado 28 de novembro de 1918
A peste na Laguna
“Rarearam os novos casos de gripe.
A cidade pouco a pouco volta ao seu estado normal.
É grande o número de convalescentes que passeia pelas nossas ruas.
Hoje faleceram seis pessoas continuando ainda a média de letalidade de cinco a seis diariamente”.


Jornal O Estado 2 de dezembro de 1918
A gripe está ceifando vidas na Laguna
“Continua aqui a epidemia na sua faina, dizimando não cinco, como telegrafei, mas dez pessoas diariamente.

Necessita-se de médicos para atender todos os atacados da gripe”.

Jornal O Estado 4 de dezembro de 1918
A peste da guerra na Laguna - Mais nove vítimas – o Grupo fechado – As escolas sem frequência
“A peste da guerra continua grassando intensamente nesta cidade.
Hoje registraram-se mais nove casos fatais. O grupo Escolar Jerônimo Coelho está fechado há dias, visto os professores e empregados se acharem doentes.
As escolas isoladas estão sem frequência.
O estado sanitário atual da cidade desorganizou tudo!!”.

Jornal O Estado 14 de dezembro de 1918
A espanhola na Laguna mata o fundador do Escotismo no estado
“Nos seus últimos arrancos a espanhola vitimou Paulino Costa, negociante e René Rollin, fundador do escotismo em Santa Catarina”.

Jornal O Estado 16 de dezembro de 1918
A "espanhola" da Laguna
“Os últimos casos de gripe tem tido caráter grave.
Hoje faleceu a gentil senhorita Mimi Teixeira, filha do bondoso Ulysses Teixeira.
Realizou-se o sepultamento de Renê Rollin, cujo corpo estava vestido com o uniforme de escoteiro.
O ato foi muito concorrido, prestando a Escola de Escoteiros homenagens ao seu fundador”.

Cessam as notícias
E com a nota acima, cessam as notícias da nossa Laguna quanto à epidemia da gripe espanhola, o que leva a crer que os casos tenham praticamente desaparecidos.
Nos jornais da época constata-se que em Florianópolis a vida voltava ao normal, com realizações de retretas, peças teatrais, competições náuticas, missas e comércio reaberto.
O que se sucedeu também na Laguna.
Com a aproximação do Natal de 1918 e o Ano Novo de 1919 somem como por encanto as notícias sobre a gripe nos jornais. Não há uma nota sequer no jornal "O Estado." 
No jornal "O Albor", com exceção da matéria retrospectiva de janeiro de 1919, somente foi publicado o relatório do dr. Aurélio Rotolo dez meses depois, em outubro daquele ano. 
O assunto desaparece da agenda da imprensa lagunense e catarinense.
Era como um esquecimento proposital daqueles tristes dias que enlutaram tantas famílias. 

Seria a racionalização da perda, o ajustamento de perspectivas do luto, de que tanto falam os psicólogos? Uma catarse coletiva?
De qualquer maneira, bem diferente da enxurrada de notícias dos dias atuais, sobre o Covid-19, com seus números cruéis, estatísticas, entrevistas, imagens de hospitais e sepultamentos, transmitida diariamente, ao vivo, e atravessando meses.