quinta-feira, 27 de agosto de 2020

O Seresteiro canta. Manoel Silva, sua voz e seu violão

Manoel Silva, sua voz e seu violão, o rouxinol do sul, como era conhecido, o boêmio que interpretou boleros, valsas, sambas-canção, fox...
Manoel Silva das músicas românticas empolgando gerações.
Ouça a canção "Maria Helena" com sua voz ao final deste texto.
O Seresteiro Manoel Silva. Álbum de família.
Nascido na Laguna em 20 de maio de 1913, já em sua adolescência demonstrou sua paixão pela música.
Entrevistei Manoel Silva em Julho de 1996
Assim ele me narrou em sua casa situada nos altos da rua Júlia Nascimento (Morro da Nália) quando o entrevistei para o meu jornal Tribuna Lagunense em julho de 1996:
“Foi um tempo gostoso, da juventude, dos sonhos, onde, acompanhado do Luiz Guedes ao violão e do Chamego (Manoel Gonçalves Andrade) ao cavaquinho, promovemos rodas musicais em inúmeras festas que marcaram época, não só na Laguna”.

Na PRC-4 Rádio Clube de Blumenau
Bem depois, já em 1940, Manoel Silva foi morar em Blumenau, cantando na Rádio Clube PRC-4, a mais antiga de Santa Catarina, fazendo shows e participando do Conjunto Jazz Garcia.
“Foi quando conheci Vicente Celestino, Bidu Melo, Emilinha Borba e tantos outros que lá passavam para suas apresentações. Era a oportunidade de mostrar a cidade e de conversar com nossos ídolos”.

Militou também em várias outras emissoras do Brasil, dentre as quais destaco a PR-2 Rádio Clube Marília; PR-32 Rádio Clube Paranaense; Rádio Difusora de Porto Alegre; Rádio Guanabara do Rio de Janeiro; Rádio Araguaia de Brusque; Rádio Mirador de Rio do Sul; Rádio Difusora de Criciúma; e Rádios Tubá e Tabajara, de Tubarão.

Em meados da década de 50, Manoel Silva retornou à Laguna e começou a participar dos Conjuntos Musicais Jazz Lagunense, Jazz Catarinense, Jazz Kasbah e Conjunto Capri, embriões de músicos do futuro Conjunto Melódico Ravena, que nasceu embalado nos sucessos da Orquestra de Espetáculos Casino de Sevilla.
O Conjunto Jazz Catarinense. Ao microfone Manoel Silva; no Contrabaixo ? ; no violão Alfredo Henrique Fortes; nas maracas Pedro  Floriano Júnior (Pepê) e  Hamilton Palma da Silva (Merré) na bateria.
Dessa época Manoel citou alguns nomes de músicos, como Murilo Ulysséa, Sebastião Salgado, Isália Viana, Custódio Ezequiel, Ricardo Brandl, Emanuel Maiato (Duca), Enita Vieira (Lita), Orgel Ávila, Álvaro Alano, João Juvêncio (salame) Martins, Pedro e Zé Maria, Paulo dos Reis (Baeta), Antônio dos Reis (Cacique), Luiz Carlos Ambrozini e o crooner Aliatar da Silva Barreiros.

No palco da Rádio Difusora
Depois, foi a época dos shows aos domingos à tarde, no palco da Rádio Difusora, então situada na Praça Vidal Ramos.
Na década de 60 apresentou três programas musicais que marcaram época no rádio lagunense: “Encontro ao Meio Dia”, “Meio-dia Romântico” e “Noturno para Sonhar”, este último pela Rádio Garibaldi.
No ano de 1955, no palco da Rádio Difusora, o Programa Meio-Dia Romântico, apresentado por Agilmar Machado.  Da esquerda p/ direita: Orgel Ávila, Agilmar Machado, Manoel Silva, Álvaro Alano e Sebastião Santhiago.
“O Agilmar Machado que era locutor e gerente da Rádio Difusora foi um dos primeiros que me apresentou e penso que o mais importante em toda a minha carreira”, disse Manoel na entrevista, em frente aos seus familiares.
Agilmar em seu livro “História da Comunicação em Santa Catarina”, escreveu: “Manoel Silva é efetivamente, a Laguna em canção. Sua voz maviosa e inconfundível legou-nos clássicos da música brasileira e internacional que marcaram seu nome como corretíssimo e inspirado intérprete”.

O Seresteiro canta
Data também deste período o início do programa que mais tempo levou no rádio: “O Seresteiro Canta”, apresentado primeiramente no período noturno pela Rádio Difusora e mais tarde, tradicionalmente aos domingos a partir do meio-dia, com grande audiência nos lares da Laguna e em todo o sul catarinense.

Almoçando aos domingos com música 
Mais tarde o radialista João Manoel Vicente apresentou durante muitos anos este programa pela Rádio Garibaldi aos domingos a partir do meio-dia.
Rara era a família lagunense que aos domingos não almoçava aos acordes do violão e da voz de Manoel Silva irradiados pelo aparelho  de rádio postado na cozinha. 
Se alguém passasse pelas ruas da Laguna neste horário ouviria praticamente todos os aparelhos das casas sintonizados neste programa, tradicional e de absoluta audiência. 
E ligados nele ficávamos sabendo de aniversários, nascimentos, falecimentos, bodas disso e daquilo e o famosos "oferecimentos musicais".
Parece que a maionese, a galinha ensopada, o molho, o macarrão, a farofa, o churrasco e até a salada ficavam mais saborosos ao som da voz do nosso seresteiro Manoel.
Anúncio do Programa "O Seresteiro canta", no jornal Semanário de Notícias.
Manoel Silva dizia que tinha sido influenciado pelos grandes músicos e cantores. Era fã de Gilberto Alves, Orlando Silva, Cyro Monteiro, Sílvio Caldas e Lupicínio Rodrigues.
“Eu adorava Silvio Caldas e, principalmente, Gilberto Alves. Minha voz era afinada com a dele”.
“Era uma vida de boêmia, mas uma boêmia sadia, sem vícios, de alegria, de arte, da boa música para nosso deleite e do público”, finalizava o seresteiro que deixou saudades em quem o conheceu.
Manoel Silva, sua voz e seu violão.
Suas interpretações das canções "Gente Humilde", "Maria Helena", "Perfídia", "Sabes que te Quero" ("Sabrás que te quiero"), "Coimbra" e "Barracão", até hoje são lembradas pelos mais saudosistas.
O músico Afonso Prates da Silva também muito o acompanhou pelo estado em apresentações.
Funcionário primeiramente do Ginásio Lagunense depois Conjunto Educacional Almirante Lamego (Ceal), e do Colégio Comercial Lagunense (CCL), Manoel Silva era casado com Leda Veiga Silva, com quem teve os filhos Adolfo Pedro, Izabel e Aimara. Uma família orgulhosa da carreira musical do marido e pai.

Nome de Troféu e Tema de Escola de Samba
Em 1993, ainda em vida, Manoel Silva foi tema da Escola de Samba Mocidade Independente, de nossa cidade. O homenageado desfilou num carro alegórico que representava o palco da Rádio Difusora. Na pista, sambando em sua homenagem, a esposa, filhos, netos e sobrinhos.

Em 2010 o Troféu do 3º Concurso de Marchinhas de Carnaval, promoção do Bloco da Pracinha e Prefeitura da Laguna recebeu o seu nome.
Manoel Silva faleceu em 29 de abril de 2002, mas sua voz e seu violão têm o reconhecimento pelo seu talento, por sua obra sempre presente na memória de quem a apreciou.
Foi embora o Manoel levando no bolso, colocado por familiares e enrolado em um lenço  branco, um passarinho companheiro seu chamado "Amigo" que, coincidência ou não, também morreu no mesmo dia do seresteiro.
Foram os dois juntos cantar em outras paragens, trinar melodias e acordes, alegrando os anjos no mundo espiritual do eterno.

Manoel Silva acompanhado de Luiz Alberto Gariba nos arranjos e teclados gravou algumas canções, preservadas carinhosamente pelo seu filho Adolfo Pedro Veiga da Silva.
Eis uma delas, "Maria Helena", de Lorenzo Barcelata, com versão de Haroldo Barbosa. Uma recordação preservada e um resgate histórico da voz do Seresteiro Canta, de presente para os nossos leitores:

9 comentários:

  1. Valmir
    Manoel Silva, meu grande amigo, de muito tempo até seu desaparecimento. Tive a satisfação de ser apresentador por algumas vezes de seu programa que mantinha na antiga Rádio Difusora, o "Noturno para Sonhar". Fui representante de uma empresa de Blumenau que era especializada na confecção de brindes, e tive a satisfação de receber do Maneca proposta para a confecção de flâmula desse programa, infelizmente não guardei um exemplar. Maneca quando trabalhou junto ao Ginásio |Lagunense e CEAL muito me safou, mas isto é outra história. Parabéns amigo, por nos lembrar dos nossos amigos que marcaram época. Carlos Araújo Horn

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  2. Nossa! Que saudades! Verdade, escutávamos o programa, aos domingos. "Seu" Manequinha, muito educado e calmo, ficávamos conversando com ele na portaria do CCL. Essa foi n'alma!

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  3. LOURENÇO FERNANDES27/08/2020, 17:22

    Tive o prazer de fazer sonoplastia para este seresteiro aos domingos na radio difusora.

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  4. Viajei com essa Valmir. Me vi almoçando nos domingos ao som do Manoel Silva e depois correndo pra pegar a sessão das 2 horas no Mussi ou no Roma. Antes trocar uns gibis. Ah.. Saudade.
    Edison de Andrade

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    1. Edison, vais achar que não mas quando estava escrevendo a matéria senti o cheirinho da comida sendo preparada pela minha mãe. Ah essa memória gustativa e sonora que nos remete ao passado.

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    2. Parabéns ao Walmir que guarda essa relíquia, aqui tbm pude ver fotos de meu pai no Jazz Lagunense. Grandes recordações desses artistas.

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  5. Prezado Valmir, muito envaidece, a mim e minha família, ver resgatada, mais uma vez por ti, a memória da vida musical e artística do meu pai, Manoel Silva. O teu registro me faz relembrar o quanto ele se dedicava e gostava da música, do cenário radiofônico, dos colegas de rádio e de palco. Tive o prazer e a oportunidade rara, no início dos anos 1980, de ser seu locutor dominical bissexto exclusivo, quando, no estúdio da Rádio Difusora, ao seu lado, adentrávamos no ar e nos lares lagunenses, levando o melhor do nosso cancioneiro romântico. Abraço e muito obrigado pela homenagem prestada.

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  6. Parabéns mais uma vez pelo resgate musical e biográfico. Quantos personagens temos que sempre lembrar de nossa Laguna. Gente que fez história é ficou na memória.
    Geraldo de Jesus

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  7. Valmir... tudo bem!
    Creio que todos que viveram nesta época na Laguna conheceram o Sr. Manuel Silva, que além de ser pessoa alegre e simpática, também, desempenhou atividades que de certa forma colaboraram para sua imagem pública. Minha lembrança mais forte dele foi durante os anos em que estudei nos cursos do Ginásio e Científico do CEAL, onde ele e o Sr. Camilo eram os encarregados de manter a ordem e disciplina enquanto os alunos não estavam em sala de aula. Nem é preciso dizer que não era uma tarefa fácil, já que erámos (em função da idade) não muito adeptos aos bons modos exigidos.
    Muitos anos depois, tendo algumas vezes conversando com ele... percebi o seu “grande coração”, quando comentava que as vezes tinha que ser enérgico e fazer valer sua autoridade, mas, que sempre foi respeitado pela garotada.
    Grande abraço do seu amigo de Joinville – SC (Adolfo Bez Filho)

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