Em meados de
1940, finalmente os trabalhos da construção dos Molhes da Barra do Porto da Laguna eram
concluídos.
Logo se saberia que o prolongamento em curva na forma de tenaz efetuada no Molhe Sul, comprometeria à entrada e saída das embarcações, principalmente as de maiores calados.
Iniciados no
começo do século XX, em 1903, conforme informação contida no jornal O Albor de junho do mesmo ano, os Molhes da Barra da Laguna levaram quatro décadas para chegarem ao seu final.
Pela obras dos Molhes e porto passaram diversos engenheiros e técnicos e seus estudos, entre
eles o pioneiro, o capitão Calheiros da Graça, depois Polidoro Olavo de S Thiago, Frederico Selva, Lucas Cândido Gaffrée,
Lucas Bicalho, Miranda Carvalho, Gordilho, Maurício Joppert, Thiers de Lemos Fleming, entre muitos outros.
Planta para construção do Molhes da Barra da Laguna, de Francisco Calheiros da Graça feita em 1882. Note-se que o Molhe Norte parte quase em direção à Ilha dos Lobos; e o Molhe Sul nem é proposto. |
Os trabalhos
foram feitos contrariando às recomendações do capitão-tenente Francisco
Calheiros da Graça que em seus estudos dizia, entre outras coisas, que nem precisava construir
o Molhe Sul, porque já existiriam dois morros como barreiras de proteção natural contra os ventos e que o
Molhe Norte deveria ter uma inflexão - vejam só! - em direção à Ilha dos Lobos.
Assim os Molhes
do Porto da Laguna foram construídos em forma de tenaz, estrangulando o canal
de acesso e promovendo uma curvatura em sua boca.
Tudo com
intenção, conforme estudos na época, de maior proteção das ondas, da não criação de banco de areia e para maior vazão
das águas, aumentando assim a profundidade do canal.
Quando essas
obras finais aconteceram o Porto da Laguna já tinha virado carvoeiro em lei assinada
pelo presidente Getúlio Vargas.
Três guindastes trabalhando a todo vapor no Porto Carvoeiro da Laguna na década de 1950 e que foram retirados no início da década de 1970. |
Mas navios
com maiores calados e tamanhos começaram a enfrentar dificuldades para acessar
e sair do porto, fazendo com que o movimento em quase sua totalidade fosse
transferido para o porto vizinho de Imbituba, porto particular.
E foi a partir
daí, ao longo dos anos seguintes, que a economia lagunense entrou em declínio,
com o comércio sentindo o baque, e as poucas indústrias existentes fechando
suas portas.
A economia
lagunense desde então ficou alicerçada somente no setor terciário da pesca e do comércio, com o turismo ainda longe no horizonte, só começando a se desenvolver na região a
partir da década de 1970, e mesmo assim precariamente.
Um novo sonho: a Siderúrgica de Santa Catarina - Sidesc
Ainda na década de 1950 mais um engodo foi proposto à comunidade lagunense: a construção de uma Siderúrgica.
Estudos e mais estudos foram realizados.
O plano previa duas usinas: Uma em Vitória, no Espírito Santo e outra na Laguna. Os navios aproveitariam a carga, tanto na ida como na volta.
Levariam carvão mineral e trariam da região ferrífera, o minério. Seria um entrosamento muito vantajoso economicamente.
Estudos criticavam a nossa barra. Depois foi proposto para localização da Siderúrgica o município vizinho de Tubarão.
O projeto nunca se concretizou, morreu na casca.
Surge o Projeto Porto Pesqueiro
Com a inauguração em 1959 da ponte rodoviária sobre o Canal das Laranjeiras, na Cabeçuda e por fim o
asfalto da Br-101, o transporte rodoviário toma à frente e outros municípios
vizinhos passam a se desenvolver em ritmo crescente.
Ainda em fins da
década de 1960, de acordo com novos estudos efetuados, acenam para o povo
lagunense com uma nova mudança e esperança: a transformação do porto carvoeiro
em porto pesqueiro.
Diziam os
políticos e técnicos que seria a redenção da Laguna e que havia viabilidade
econômica para o empreendimento.
E assim foi feito.
Levaram os guindastes do
antigo porto e em 1973 suprimiram os trilhos da Ferrovia Teresa Cristina em seu
ramal que adentrava à Laguna até a Estação no Campo de Fora e prosseguia pelo
centro da cidade até o Porto, situado entre o Magalhães e Mar Grosso.
O alegado era
que precisavam construir amplas avenidas onde passariam a circular muitos caminhões transportando
o pescado.
Novos estudos foram feitos em 1969/70 e 71 com
relatórios analíticos, sondagens, topo-hidrográficos e batimétricos prevendo
melhorias no acesso e aprofundamento da Barra da Laguna.
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As
instalações do porto foram modificadas, construídos galpões, fábrica de gelo,
posto de combustível.
Mas várias edificações ficaram inconclusas ou nem foram construídas, como restaurante, ambulatório, balança, mercado de pescado, etc., além de áreas para indústrias.
Pesca com auxílio dos Botos na chamada Toca da Bruxa. Ao fundo o Porto Pesqueiro da Laguna, hoje Terminal Pesqueiro. |
Enfim,
o porto nunca chegou a funcionar em toda sua capacidade.
Aliás,
de Porto Pesqueiro passou a ser denominado Terminal Pesqueiro.
Passou ao
comando da Codesp (Companhia Docas de São Paulo) em 1975 e desde 2019 a
estrutura portuária está delegada ao governo do estado de Santa Catarina,
conforme convênio.
Em 1992, faltando poucos anos para adentrar o século XXI e o porto ainda continuava em estudos. O Instituto de Pesquisas
Hidroviárias (INPH) elaborava o “Projeto de Retificação da Barra”.
Em 1994 novos
estudos do canal de acesso com vistas às obras de retificação e prolongamento
do Molhe Sul.
Obras em execução para retificação do Molhe Norte em 2008. |
As
obras para retificar o Molhe Sul e seu prolongamento foram acontecer somente em
2008.
Foram gastos milhões. E não resolveram
o problema, porque as pedras submersas continuaram no local, necessitando inclusive
de maior sinalização e dificultando a navegação segura na área.
Bem por isso os acidentes marítimos continuam acontecendo, como vimos há poucos dias com uma embarcação que ali naufragou.
Blocos de concreto
Além disso...
A recente foto de Elvis Palma mostra como ficou o Molhe Sul da Barra da Laguna após os trabalhos de retificação e prolongamento feitos em 2008. |
Mas não se enganem. Traiçoeiras e imensas pedras, além dos blocos de concreto, continuam submersos impedindo a navegação segura no local. Foto: Divulgação redes sociais. |
... Além disso, quando foi feito
a ponta do Molhe Sul, lá na década de 1940, enormes blocos de pedra e ferro pesando
cerca de 20 toneladas foram construídos no próprio local e ali despejados.
São esses que a foto mostra:
De acordo com o Decreto assinado pelo presidente Getúlio Vargas, foram construídos 100 blocos de 15 metros cúbicos de concreto iguais ao da foto, para estabilização do Molhe Sul. |
Imagino
que muitos estudos que foram feitos ao longo dos anos para retificação dos Molhes não esclareceram esse
pormenor, muito menos o demonstraram.
Raras fotos da época que obtive com exclusividade, mostram esse fato, e nunca se soube a quantidade desses enormes artefatos que
foram ali depositados.
Mas, depois de muito procurar, encontrei
uma pequena informação publicada no jornal O Albor de 10 de fevereiro de
1945 que esclarece esse evento.
O texto é pequeno no tamanho, mas de enorme importância fundamental, valiosa e histórica.
Jornal O Albor de 10 de fevereiro de 1945. No Decreto, a liberação de verba para construção de 100 blocos de 15 metros cúbicos de concreto para estabilização do Molhe Sul do Porto da Laguna. |
Conclusão
Eis um pequeno
resumo histórico quanto à Barra, Molhes e Porto da Laguna.
Há mais, evidentemente, muitos
outros pormenores, fatos e variáveis a serem mostrados. Muitos deles conto em meu livro acima citado.
Mas há muito mais ainda para contar.
Será que com toda
a fiscalização e os estudos de impactos ambientais atualmente necessários (além da autorização da Apa da Baleia Franca, Proteção aos Botos, etc.), algum
dia vão retirar as pedras submersas que lá estão, somadas aos blocos de concreto?
Conseguirão explodi-los, detoná-los como esta semana a imprensa publicou?
Sou leigo no assunto. Mas um descrente quanto a uma futura solução a médio e longo prazo e por isso duvido muito.
Um
grande erro foi cometido na construção do Molhe Sul da Barra da Laguna e parece que se perpetuará por toda a eternidade.
Mais uma ótima matéria. De pesquisa. Um resumo que mostra passo a passo o que fizeram com o nosso porto.
ResponderExcluirE há ainda quem tenha esperança.
Erraram na forma , deveria ser um camarão como os cabeçudos
ResponderExcluirÓtima explicação que demonstra o declínio econômico e social da nossa Cidade. E que já vem de tempos, lá atrás.
ResponderExcluirE ainda hoje políticos ficam acenando em busca de soluções mas só querem os votos.
Valmir... ao longo de muitos anos venho acompanhando as noticias e comentários, que procuram explicar o verdadeiro objetivo da construção dos molhes... ter resultado numa obra muito criticada por diversos conhecedores do assunto. Creio, que quando foram iniciadas em 1904 efetivamente havia um projeto honesto para resolver (!) a questão da profundidade da barra. Após um grande intervalo de paralização e o reinício na década de 40 (+/- 1942), foram finalmente concluídas as obras dos molhes Sul e Norte... junto com o "novo" cais do Porto e demais instalações. Entretanto, com o final da Segunda Guerra a realidade econômica mudou radicalmente e o Porto perdeu sua importância. A partir daí somente foram efetuadas algumas obras e todas com o único interesse de beneficiar empresas de construção, que ganhavam a concorrência e repassavam o trabalho para outras que não tinham compromisso com o projeto. Assim, chegamos finalmente a sonhar com a oportunidade de utilizar a estrutura como um Porto Pesqueiro... mas, foi o último suspiro do Porto da Laguna. Importante dizer que ao longo deste tempo, muitas pessoas da Laguna (e algumas de fora) se beneficiaram com toda a situação e como se diz popularmente "arrumaram a vida".
ResponderExcluirAbraço do Adolfo Bez Filho - Joinville / SC.
Tú dizes que és leigo no assunto?
ResponderExcluirFizesse um resumo dos mais importantes. Tem muita gente que pegou direção do nosso porto que nunca soube dessas histórias.
Esses sim foram e são leigos no assunto porto.
Mas são metidos a entendidos e ganham altos salários.
Cargos políticos. Vergonha.