19 setembro 2025

Jornalista, secretário e prefeito da Laguna. Quem foi Zeca Freitas?

 
Lagunense, filho de professora, jornalista, fundador de jornal, colaborador de vários órgãos de imprensa, entre eles O Albor. Jovem ainda, se tornou secretário geral da prefeitura da Laguna, cargo que exerceu por décadas, atravessando gestões. Assumiu como prefeito em várias ocasiões. Na época não havia o cargo de vice-prefeito.
José Duarte Freitas é seu nome, mais conhecido como Zeca Freitas, um intelectual que se destacou na sociedade lagunense e bem por isso merece sempre ser lembrado.
 
O lagunense José Duarte Freitas nasceu em 29 de novembro de 1905, filho de Victor Francisco Freitas e Honorata Duarte Freitas. O casal teve mais um filho, João Duarte Freitas.

José Duarte Freitas - Zeca Freitas, jornalista, secretário e prefeito da Laguna. Acervo: Valmir Guedes Júnior.

Quando José Duarte Freitas foi matriculado no então Grupo Escolar Jerônimo Coelho em 1912, ano da inauguração deste estabelecimento escolar, já era alfabetizado na escola particular de sua progenitora situada na rua Voluntário Carpes, na mesma casa onde Zeca Freitas vai residir até o seu falecimento.
Bem cedo José Freitas demonstrou sua inteligência, cursando com brilhantismo as três séries da Escola Complementar.
Em seguida foi contratado como escriturário na Companhia Carbonífera de Araranguá-CBCA, cidade onde passou a residir.
Em 30 de novembro de 1930 foi nomeado secretário-geral da prefeitura da Laguna, com o Brasil já sob o comando da Revolução de 1930, que tinha em Aristiano Ramos como interventor federal no estado de Santa Catarina.
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Jornal lagunense A Gazeta de 23 de março de 1930, com José Freitas de Redator-Secretário.

Foi redator-secretário dos jornais lagunenses A Gazeta, de propriedade de Claribalte Galvão; Sul do Estado, de Pompilio Pereira Bento e jornal O Albor, de Antônio Bessa. Neste último vai atravessar décadas como colaborador, escrevendo crônicas até as últimas edições do jornal em 1965.
Em 1933 foi secretário do Partido Liberal em nossa cidade e em 1934 Diretor-Responsável do Jornal A Vanguarda, órgão de imprensa porta voz desse partido na Laguna.

Expediente do 1º número do jornal A Vanguarda, de 7 de setembro de 1934. Diretor- Responsável José Freitas.

Convidado pelo governo do estado, durante curto período foi redator da Imprensa Oficial de Santa Catarina.
No período que residiu na capital do estado, Zeca Freitas escreveu semanalmente uma coluna para o jornal Diário da Tarde.
Com a posse do prefeito lagunense Giocondo Tasso em 22 de abril de 1933, retorna ao cargo de secretário na prefeitura na gestão de Tasso até 1945.

Edital publicado no jornal O Albor de 8 de maio de 1938, Giocondo Tasso como prefeito e José Duarte Freitas como secretário.

E continuou na mesma função nos anos seguintes, gestões de Alberto Crippa, Walmor de Oliveira e nas duas administrações de Paulo Carneiro, assumindo em várias ocasiões a titularidade da prefeitura, já que não havia na época o cargo de vice-prefeito.

Uma lei publicada no jornal O Albor de 27 de maio de 1950 com Alberto Crippa prefeito e José Duarte Freitas como secretário.


Edital publicado no jornal O Albor de 24 de janeiro de 1959. Walmor de Oliveira como prefeito e José Duarte Freitas secretário.

Em 28 de janeiro de 1959 com a renúncia de Walmor de Oliveira do cargo de prefeito por ter sido eleito deputado estadual em 3 de outubro do ano anterior, José Duarte Freitas assumiu mais uma vez a prefeitura, agora eleito indiretamente e por unanimidade pela Câmara de vereadores, com apoio dos três partidos que compunham a Casa Legislativa: PSD, PTB e PSP.

Edital publicado no Jornal O Albor de 14 de março de 1959, com José Duarte Freitas como prefeito da Laguna.

Seu mandato tampão vai de 28 de janeiro de 1959 a 31 de janeiro de 1961, quando assume o prefeito eleito médico Paulo Carneiro. 
Duarte Freitas continua exercendo o cargo de secretário da prefeitura por mais alguns anos, até sua aposentadoria.

Edital publicado no jornal O Albor de 11 de março de 1961, tendo o médico Paulo Carneiro como prefeito e José Duarte Freitas secretário Geral da Prefeitura da Laguna.

Foram mais de trinta anos servindo à prefeitura, à imprensa lagunense e a terra que o viu nascer.
Em 15 de abril de 1939 casou-se com Gilete dos Anjos Freitas, nascida no Parobé e que durante toda a sua vida praticou a filantropia. Tiveram uma filha de coração, a Rachel, também já falecida.
Na década de 1950 José Duarte Freitas foi secretário do Clube Congresso Lagunense, onde organizou torneios de xadrez que marcaram época.

"Poeta de maravilhoso estilo"

Quem o conheceu ressalta seu grande coração, sua bondade, mostrando-se humano em todas as oportunidades, jamais deixando de socorrer a quem o procurasse.
Maestro Agenor Bessa em um de seus escritos, disse: 

 “O cidadão José Duarte Freitas foi um grande jornalista, um poeta de maravilhoso estilo, e seu brilho como literato teria muito maior reflexo houvesse ele procurado viver num meio mais desenvolvido onde pudesse dar maior expansão a sua inteligência”.

Escrevendo à mesa do Café Tupy

A primeira vez que vi José Duarte Freitas ele estava sozinho, de terno escuro, em uma das mesas com tampa de mármore do icônico Café Tupy. E, compenetrado, escrevia.
Foi no começo da década de 1970, tinha eu uns 11, 12 anos e acompanhado do meu pai, perguntei, curioso, quem era aquele senhor. Me respondeu tratar-se do jornalista Zeca Freitas, um intelectual lagunense, inteligente e educado e que escrevia uma crônica semanal para a Rádio Difusora.
Aquela imagem nunca mais saiu da minha mente. Era a primeira vez que vi um jornalista ao vivo. Me pareceu fazer um jornalismo romântico, quixotesco, como um paladino da justiça.
A mesma imagem vai se repetir anos depois, inúmeras vezes e em muitas outras mesas. Mas aí o personagem principal já será o jornalista Richard Calil Bulos, o Xaxá e estarei sentado ao seu lado, aprendendo e também escrevendo. 
Mas isso já é outra história.

Falecimento e homenagem com nome de rua

José Duarte Freitas ficou anos enfermo e faleceu em 20 de dezembro de 1978.
Três dias depois, Silvio S. Silveira em sua coluna Opinião do jornal Semanário de Notícias de 23 de dezembro assim se expressou: 

“Por muitos anos fora admirável colaborador da imprensa falada e escrita lagunense, assim como soube desempenhar, com raro desvelo, uma das principais secretarias do Paço Municipal. Foi também prefeito, oportunidade em que recebeu dos seus munícipes o respeito e a admiração destinados aos homens de bem.
Ao seu funeral compareceu grande número de amigos e pessoas de suas relações, assim como fizeram presença, também, lagunenses de poucos recursos, aos quais o falecido, em vida, soube estender suas agitadas, porém benditas, mãos.
Perde Laguna, assim, mais um dos seus filhos que tão gloriosamente a souberam notabilizar”.

Em 30 de novembro de 1982, através da Lei nº 35/82, na gestão do prefeito Mário José Remor/João Gualberto Pereira, o jornalista José Duarte Freitas foi homenageado com nome de uma pequena via pública no bairro Cabeçuda.

17 setembro 2025

Morre Terson dos Santos, Rei Momo do Carnaval lagunense por mais de duas décadas

 
Faleceu Terson Ubirajara Menezes dos Santos, aos 76 anos, Rei Momo do carnaval lagunense por mais de duas décadas.
Velório acontece nesta quinta-feira (18) das 8h às 15h na sala mortuária Pérola da Funerária Cristo Rei, com cortejo logo após para o Crematório São Mateus, em Capivari de Baixo.
Sentimentos aos familiares e amigos.
 

Terson Ubirajara Menezes dos Santos, Rei Momo do carnaval lagunense por mais de vinte anos. Carnaval de 1998. Foto: Valmir Guedes Júnior


Natural do Rio Grande do Sul, torcedor do Internacional, Terson Ubirajara Menezes dos Santos veio para Laguna em meados da década de 1970.
Foi casado com Ana Maria Silveira e da união nasceram os filhos Rodrigo, Anamares, Tatiana e Pedro Paulo.
De fácil trato, boa conversa, Terson logo conquistou inúmeras amizades, passando a residir no bairro Magalhães.
Com sua experiência profissional em escritório e contabilidade, tendo trabalhado em estabelecimento bancário, logo foi contratado pela Zilmar Indústria e Comércio de Arroz S.A.
Já na gestão do prefeito Mário José Remor (1977-1982) começou a trabalhar na prefeitura no departamento de tributos e fiscalização. Vai se aposentar como servidor público da administração municipal no início da década de 2000.
Foi tesoureiro do Sindicato dos Servidores Públicos do Município da Laguna em várias gestões.
De 1978 a 2001 foi Rei Momo do carnaval lagunense, sempre conduzindo com maestria o cetro e a coroa. Com seus mais de 170 quilos e 1m83cm de altura, encarnou como ninguém a figura rechonchuda da mitologia grega.
A partir de 2002 o Rei Momo passou a ser Anderson Passos da Rocha, o Rochinha.
Terson fez par com inúmeras rainhas do carnaval lagunense a quem sempre soube conduzir com respeito, educação e samba no pé. 
Lembro de alguns nomes: Jane Ungaretti, Michelle (1995), Gisele Barreiros (1996), Gisele  Pavanatti Soares (1998), Daniela Souza Sebastião (2000) e Kelly Caroline Dornelles (2001).

16 setembro 2025

Nos tempos do chuvisco na Laguna

      Jornal Agora Laguna, em sua valiosa seção Retalhos Históricos da Laguna, traz em sua edição de nº 31, de 11 de setembro de 2025, importante recuperação histórica dos tempos em que os primeiros sinais de televisão chegaram em nossa cidade.

O técnico de rádios e televisores Valmir Guedes em sua oficina na Laguna em 1974. Foto: Loureiro Pacheco Lapa. Acervo: Álbum de família/Jornal Agora Laguna edição nº 31 de 11 de setembro de 2025.


A matéria traz uma foto feita em 1974 por meu tio-materno fotógrafo Loureiro Pacheco Lapa, vendo-se meu pai Valmir Guedes postado em sua oficina de consertos de rádios e televisores, situada na rua 13 de maio esquina com a então Praça da Bandeira (hoje República Juliana), palco de muitas lembranças de toda uma infância e juventude.
Meu pai sempre lembrava que os primeiros aparelhos em nossa cidade foram adquiridos no comércio de Porto Alegre pelo farmacêutico Cid Cecconi Costa (Farmácia Santo Antônio) e pelo comerciante Salun Jorge Nacif. Marca Admiral. Custavam uma fortuna, no início.

As antenas "espinhas-de-peixe"

Meu pai logo foi chamado para ajustar as válvulas nos soquetes. Os aparelhos da capital gaúcha chegaram aqui todos desregulados. 
As antenas eram montadas na ponta de dois canos de ferro emendados e soldados pelo seu Itamar "Pilão" ou seu Camilo, ali na Roseta (hoje bairro Progresso). Mas havia quem usasse altos e prosaicos bambus.
A partir de 1965, com enormes antenas chamadas “espinhas-de-peixe” e as primeiras repetidoras instaladas captando o sinal da TV Piratini Canal 5, retransmitindo a Tupi dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, a novidade da televisão chegou na Laguna e virou uma “coqueluche”, como então se dizia na gíria da época.

Marcas de televisores e os desenhos e séries

Algumas marcas de aparelhos de TV daqueles tempos: Semp, Invictus, Empire Bonanza, Colorado RQ (Reserva de Qualidade), TV ABC Canarinho - A voz de ouro, Teleotto, GE Máscara Negra, Admiral e Telefunken.
Logo surgiu a figura do televizinho. Mas as imagens eram horríveis, em preto & branco e cheias de chuviscos.
Mas quantos desenhos! Tom & Jerry, Os Flintstones, Manda-Chuva, Pernalonga, Os Jetsons, Popeye, Tartaruga Touché, O Papa-Léguas, Zé Colmeia, Pepe Legal, Olho Vivo e Faro Fino, Corrida Maluca com o Dick Vigarista e o Muttley, Scooby-Doo Cadê Você e Jonny Quest. 
as séries: Perdidos no Espaço, Viagem ao Fundo do Mar, Jornada nas Estrelas, Terra de Gigantes, Vigilante Rodoviário, Batman, Rin-Tin-Tin, Agente 86, Zorro, Daniel Boone, Túnel do Tempo, A Feiticeira, Jeannie é um Gênio...

Aparelho Colorado RQ (Reserva de Qualidade) com pés de palito, assoalho encerado.

Foi num aparelho de TV marca Empire Bonanza, pés de palitos, tipo o Colorado RQ da foto acima, e que meu pai levou dois meses para sozinho montar, que assisti ao homem pisar na lua em 20 de julho de 1969. Neil Armstrong, seus pulinhos e pegada da bota na areia. Imagens icônicas que entraram para a história da humanidade.
Foi um acontecimento que marcou toda uma geração, principalmente nós que ainda éramos crianças. E a pequena sala lá de casa, na rua Voluntário Benevides, na subida para o Morro da Glória ficou lotada de amiguinhos para presenciar as históricas imagens.
Muitos nem acreditando no que viam. Bem, alguns duvidam até hoje.

Instalação e manutenção das repetidoras

Não podemos esquecer de pioneiros que colaboraram para que o sonho lagunense da instalação de repetidoras de TV se tornasse realidade.
Saudoso Carlos Cordeiro Horn, que sabia tudo de eletrônica e todo o pessoal da Associação Comercial, entre eles Mário José Remor e do Rotary Clube da Laguna da época. Campanha para arrecadação de fundos foi efetuada.
Foi uma luta a instalação e manutenção das repetidoras lá nos altos do Morro da Glória. Nas noites de chuva e do tradicional vento nordeste jogando maresia e salitre o sistema pifava constantemente. 
Ou faltava energia elétrica, o que era comum na época, e tudo desligava e era preciso lá subir para religar o sistema. Quando faltava o sinal era um Deus-nos-acuda de reclamações.
 Muitas vezes meu pai e o técnico Antônio dos Santos, acompanharam Carlos Cordeiro Horn aos altos do Morro. Usavam um jipe cedido pela prefeitura ou um fusca do próprio Mário José Remor, à noite, com chuva e vento. 
Paulinho Remor, irmão de Mário, mais jovem e ágil era o escolhido democraticamente e perigosamente para subir nas torres.

Pioneiras lojas de televisores  e as novelas

As pioneiras lojas lagunenses a comercializarem aparelhos de TV foram a M. J. Remor e a Galeria Gigante. Lojas Fretta logo a seguir também passou a vender os aparelhos.
Meu pai era o técnico contratado da primeira loja e o jovem Lourival Tomaz Antônio se desdobrava nas vendas na Galeria Gigante. 
Depois veio o sinal da TV Gaúcha, canal 12, retransmitindo a programação da TV Globo. 
E as novelas? Ahh... as novelas. 
Direito de Nascer, Beto Rockfeller, O Bofe, Antônio Maria, Simplesmente Maria, Meu Pé de Laranja Lima, Selva de Pedra, Cavalo de Aço, Escrava Isaura, O Bem Amado, Irmãos Coragem, O Astro (E a pergunta que não queria calar: Quem matou Salomão Hayalla?)... 
E os programas? Flávio Cavalcanti e seu bordão: Um Instante Maestro!, J. Silvestre e "O Céu é o Limite", Família Trapo, A Praça é Nossa, com Manoel de Nóbrega. 
E o Ringue Doze, também chamado telecatch, favorito da rapaziada, com suas lutas livres de golpes ensaiados. 
Mas a gente, ingênuo, acreditava nas cenas. Para nós eles eram heróis e vilões se digladiando. E eles existiam, acreditem.
A voadora e a tesoura do Ted Boy Marino (hoje diríamos que ele era do bem) no Barba Roxa ou no El Duende (os dois do mal). Leopardo, Fantomas, La Múmia, Verdugo... 
Família reunida, todo mundo na sala, sentados nos sofás, olhos vidrados e hipnotizados nas cenas das telas de tubos de aparelhos valvulados.

No Blondin um televisor sobre duas mesas

Lembro-me do primeiro televisor com transmissão de imagens em cores na Laguna. Foi colocado sobre duas mesas sobrepostas no Clube Blondin para os jogos da Copa da Independência ou Mini Copa, como também foi denominada, em 1972. Cadeiras espalhadas, salão lotado. Uma festa.
A seleção brasileira na final ganhou de Portugal por 1 X 0, gol de Jairzinho aos 44 minutos do segundo tempo. Haja coração, como diria Galvão Bueno anos depois. 
Todo mundo saiu pra rua, Praça Vidal Ramos e Jardim Calheiros da Graça para comemorar.
Quem não podia comprar o aparelho que custava três vezes mais do que o que captava as imagens em preto & branco, disfarçava com um plástico colorido, degradê, instalado defronte à tela. 
Alguém lembra disso? Uma empulhação. Mas vendeu muito esse acessório. O inventor ficou rico.

Mas a história da chegada dos sinais de televisão em nossa cidade é longa. 
O jornal Agora Laguna, através do jovem jornalista Luiz Cláudio Abreu, uma alma antiga apaixonado por histórias e memórias, vai contar mais um pouco nos próximos dias, inclusive com entrevistas e um documentário com audiovisual caprichado.

06 setembro 2025

A Vila da Laguna em 1822 parabenizou D. Pedro pelo “Dia do Fico”

         
Meses antes da Independência do Brasil em 7 de Setembro de 1822, vereadores da Laguna parabenizaram Dom Pedro pelo Dia do Fico.
 
Foi em 9 de janeiro de 1822, como aprendemos nos livros, que o então Príncipe Regente D. Pedro declarou publicamente que permaneceria no Brasil, desafiando a ordem da Corte Portuguesa  que exigia seu retorno a Portugal. O Dia do Fico, como ficou conhecido, foi um  acontecimento que entrou para o calendário da nossa história.
Já com o título de Dom Pedro I será aclamado como primeiro Imperador do Brasil em 12 de outubro de 1822.
   Dia do Fico em 9 de janeiro de 1822. Dom Pedro aclamado no Paço Real no Rio de Janeiro pela decisão de ficar no Brasil. Pintura J. B. Debret
A famosa frase pronunciada da sacada do Paço Real, depois Paço Imperial após a Independência, deu nome ao evento: Dia do Fico.
“Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”. 

Vereadores da Laguna parabenizam D. Pedro
Em 3 de fevereiro, portanto algumas semanas depois do “Dia do Fico”, a Câmara de Vereadores da Vila da Laguna enviou ofício endereçado ao Príncipe Regente D. Pedro parabenizando pelo ato.
Além dos vereadores, o documento (1) contém assinaturas de outras autoridades da Laguna, entre elas seu capitão-mor, os vigários, juiz ordinário, sargento-mor e escrivão.
Vejam o teor do documento, em que só atualizei a gramática:

“Vila de Santo Antônio dos Anjos da Laguna 

Senhor. A fala com que V. A. R. (2) se dignou proferir nesta Corte – Como é para bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto, diga ao povo que fico – com estas Augustas palavras anunciou e fixou V. A. R. a paz, e felicidade perpétua neste vasto Reino do Brasil, foi atalhar os males e perigos que estávamos sacrificados com a ida de V. A. R. para Portugal, foi finalmente rasgar o véu de melancólicas ideias dos ânimos já abatidos, e sucumbidos a milhares de desgraças.

É impossível, Senhor, descrever o júbilo e prazer que se apoderou de nossos corações com esta notícia nesta pequena porção de habitantes desta Vila; uns e outros são testemunhas de tantos regozijos.

Por estes tão gloriosos motivos é que esta Câmara, e mais autoridades representativas deste Povo, como órgão do mesmo vão por meio desta felicitar-se e congratular-se com V. A. R.

Dignando-se a acolher os nossos votos mais agradecidos e sinceros, de servidão, respeito e obediência a V. A. R.

A preciosa vida de V. A. R. Deus a conserve por muitos anos, Vila de Santo Antônio dos Anjos da Laguna em vereança de 3 de fevereiro de 1822 – O juiz Ordinário Albino José da Rosa, o vereador Antônio de Souza Pereira, o vereador José Gomes de Carvalho, o vereador Miguel Marques Rabello, o procurador José Pinto de Magalhães, Pedro Pires Salgado, capitão-mor, o vigário da Vara Manoel Fernandes Cruz, o vigário da Igreja Jerônimo Francisco Coelho (3), o sargento-mor José Joaquim de Magalhães Fontoura, o escrivão Rafael Mendes de Carvalho".




1) Esse histórico documento lagunense foi reproduzida pelo jornal Gazeta do Rio de Janeiro de 17 de agosto de 1822.
2) V. A. R. é a abreviatura de Vossa Alteza Real.
3) De acordo com Norberto Ulysséa Ungaretti, esse vigário era tio e homônimo do fundador da imprensa catarinense. (Laguna, um pouco do passado, pág. 54).

 Em 1826, portanto quatro anos depois desses fatos, D. Pedro I em viagem ao sul do país passará por Laguna e aqui pernoitará, assistirá missa, atravessará o canal da Barra, continuando a viagem, como já relatei em matéria publicada no ano de 2012 AQUI neste Blog.

05 setembro 2025

FOTO-RETRÔ

 

Associação dos Escoteiros da Laguna. Ano 1958.

Laguna já teve vários Grupos de Escoteiros. O primeiro, com o nome de Escola de Escoteiros da Laguna foi criado em 1917 por iniciativa de Rennê Rollin. Nos anos 30 cessou suas atividades.
A década de 30 nem tinha terminado e surgiu outro grupo, a Associação dos Escoteiros da Laguna, entidade que durou até a década de 1960.
Na foto acima, de 1958, na então Praça da Bandeira (hoje República Juliana), da esquerda p/direita, os escoteiros Afonso Prates, Cacaio Carneiro, Lupércio Freitas, Edi Bascherotto e Sérgio Faraco.

02 setembro 2025

Da série: Laguna já teve

 Casas Pernambucanas 

Jornal Correio do Sul 22 de julho de 1934
Em 23 de julho de 1932, um sábado, era inaugurada na Laguna uma filial das Casas Pernambucanas, sendo gerente Norberto Fatio. Banda Musical Carlos Gomes abrilhantou o ato.
À época a empresa varejista já tinha 514 filiais espalhadas pelo Brasil, empregando 56 mil pessoas. Eram 6 fábricas no estado de Pernambuco e 3 fábricas no estado da Paraíba.
Em 1970 terá 700 filiais.
Foi fundada em 1908 no Recife pelo sueco Herman Theodor Lundgren.
A empresa trabalhava com três seções: Atacado, Chic e Varejo.
Vendia riscados, brins, chitas, gabardines, colchas, cobertores, casimira, tricoline, flanelas...
Em sua publicidade publicada no jornal Correio do Sul de 22 de julho de 1934, a empresa afirmava: "dispomos do mais sortido e maior estoque da Laguna".
Jornal O Albor de 24 de julho de 1932
A filial lagunense primeiramente era situada na rua Raulino nº 30. Um ano depois mudou-se para a rua Gustavo Richard  nº132, de propriedade de João (Joca) Nunes Neto, que ao lado tinha sua casa comercial. Seus filhos Francisco Carlos Cabral Nunes e Luiz Cabral Nunes ali também trabalharão.
Uma disputa entre herdeiros das Casas Pernambucanas nas décadas de 70 e 80, provocou o fechamento de muitas filiais, entre elas a filial da Laguna.
Em seu lugar na rua Gustavo Richard, tempos depois, a partir de 1975, funcionará a Casa dos Presentes, do jovem Sérgio Castro.
Mais tarde a Tako Papelaria ali também será instalada. Hoje no local funcionam duas lojas de moda feminina, a Tok de Energia e  a TD Jeans.
Ainda hoje as Casas Pernambucanas continua presente em 15 estados do Brasil, com 500 lojas e 14 mil funcionários.
E quem não lembra do icônico reclame, como então se chamava a publicidade e criado em 1962 por Heitor Carillo e que virou bordão da marca: 
"Quem bate? É o frio. Não adianta bater, que eu não deixo você entrar, as Casas Pernambucanas é que vão aquecer o meu lar..."

28 agosto 2025

Faleceu Marianto Fernandes +

 
Cidade acordou mais triste com a notícia do falecimento em Hospital de Tubarão de Marianto Fernandes, aos 86 anos.
Marianto Fernandes
Cerimônia de velório ocorre das 8 horas às 16 h desta quinta-feira (28), na Sala Mortuária Santo Antônio da Casa Funerária Gomsan.      Féretro às 16h para o Cemitério da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Santo Antônio dos Anjos.
Sentimentos à esposa Marilda Lopes (Dida), filhos Mariane e Fernando (Mego) e netos Gustavo, Fernanda, Gabriel e Cecilia.
"Adeus, avô querido! Levaremos sempre conosco sua sabedoria e ensinamentos valiosos! Te amo eternamente!", postou seu neto Gustavo numa rede social.
Marianto Fernandes era filho de Oscalino Fernandes e Maria de Lourdes Bessa.
Antiga placa do Ponto de Táxi onde trabalhou e que leva o nome de seu pai. (com um R inexistente). Ano 1974
Marianto trabalhou no Banco Indústria e Comércio (Inco). Mais tarde assumiu como motorista de táxi (chofer de praça, como se chamava), no Ponto de Táxi que leva o nome de seu progenitor Oscalino Fernandes, ali em frente ao Cine Teatro Mussi.

16 agosto 2025

Documentário sobre o Carnaval da Laguna

 

Na 43ª Semana Cultural da Laguna realizada em Julho deste ano, o documentário "Carnavais que Contam Laguna" sobre o carnaval das Escolas de Samba de nossa cidade foi apresentado na tela do Cine Teatro Mussi.
No áudio-visual importantes personagens da nossa maior festa deram seus importantes depoimentos.
Entre eles: Cristian Pavanate Soares, Janice dos Reis, Joel dos Reis, Thiago Laurindo, Júlio César Silva, João (Dão) Souza Júnior, Cláudia F. Sabino, Cida Milezzi, Fátima (Fafá) Regina Marçal, Anderson S. Teodoro, Arnaldo Júnior, Giselle Pavanate Soares, Admar Córdova e Ronaldo P. Vargas.
A direção e edição é de Bruno Matos. Produção: Jheniffer Andrade. Iluminação: Emerson Carneiro. Designer: João Antônio.
Eis um áudio-visual que merece ser assistido pelas novas gerações, além de ser reproduzido pelos órgãos ligados ao carnaval, à educação e à cultura do nosso município, principalmente nas escolas.


06 agosto 2025

FOTO-RETRÔ

 

Ano 1964. Escola Básica Ana Gondin, Magalhães – Laguna. As ótimas e inteligentes Professoras Selma Reis Machado, Henriette Grandemagne Viancin, Rosária Martins da Rosa e Nilza Luz Guedes. Atravessaram gerações ministrando aulas, inclusive em outros estabelecimentos escolares. Selma, Henriete e Nilza são falecidas, de saudosas memórias.


05 agosto 2025

Centenárias Sinfonias - Documentário sobre as centenárias Bandas da Laguna

 

No ano passado foi realizado um excelente documentário intitulado Centenárias Sinfonias - Um tributo às nossas duas Bandas Musicais. 
Convidado, participei como entrevistado, juntamente com maestros e músicos.
O filme, com cerca de trinta minutos, foi lançado na noite de 16 de abril de 2025 e mostrado ao público num telão defronte à Livraria Coruja Buraqueira, na Praça República Juliana. E no mês passado foi postado no YouTube.
Em abril o documentário na Praça República Juliana.
A partir do resgate da história das bandas sinfônicas Sociedade Musical União dos Artistas - SMUA e Sociedade Musical Carlos Gomes - SMCG da Laguna, o filme fala sobre patrimônio, música, formação musical e histórias da Laguna.
O documentário celebra a presença destas duas importantes instituições, conhecidas dos lagunenses desde 1860 (SMUA) e de 1882 (SMCG), que marcam presença em festividades religiosas, procissões e concertos de fim de ano.
O filme aborda não só a história das instituições, que constam entre as mais antigas Bandas Civis em atividade no Brasil, mas também sobre aspectos e personagens marcantes destas, como a presença majoritariamente negra na SMUA no início e metade do século XX e o trabalho de formação e profissionalização que as duas instituições realizam para a carreira de musicista.
O argumento e a direção geral é de SRael Libertu Andrade. Operação de Câmeras nas apresentações: Vanessa Cargnin. Operação de áudio nas entrevistas: Jhander de Souza David. Produção: Djin Samsa. Edição e montagem: Gustavo Avohai. Designer: Aline Kroth. Interpretação de Libras: Badebue Tradução e Interpretação.
O Projeto do documentário foi aprovado pelo Edital Lei Paulo Gustavo - Laguna/2023, executado pela Fundação Lagunense de Cultura, através de recursos do Governo Federal.


04 agosto 2025

Destaques da 43ª Semana Cultural

    Nesta 43ª Semana Cultural da Laguna realizada em dez dias, listo quatro atrações que foram destaques do evento, todas elas realizadas no palco do Cine Teatro Mussi. Parabéns a todos os músicos, maestros e organizadores. Foi um sucesso.:

Camerata Florianópolis


Opus 4


Ave de Rapina

Sociedade Musical Carlos Gomes


31 julho 2025

FOTO-RETRÔ

 

Time de Basquete do Clube Blondin - Década de 1970: Waldir Moraes, Nicodemos Nunes, Tuffi Remor Mattar e Haroldo Machado Pinho (Pancho). Ricardo Zambrano, Jackson (Jacó) de Oliveira e Antônio Carlos Wilke. (Clique na foto para ampliá-la).


29 julho 2025

PARABÉNS LAGUNA PELOS SEUS 349 ANOS!

 

O Vicentista Domingos de Brito Peixoto, fundador da Laguna em 1676. Nossa homenagem.

Domingos de Brito Peixoto – Este, indiscutivelmente, é o nome do pioneiro vicentista ligado à fundação e ao povoamento de Santo Antônio dos Anjos da Laguna. Ele e seu filho Francisco são considerados, da mesma forma, aqueles que impeliram o avanço português em direção ao território do atual Rio Grande do Sul, ao contrário dos bandeirantes, que depredaram a região no começo daquele século.
Assim como Manoel Lourenço de Andrade, em São Francisco e Francisco Dias Velho na Ilha, formavam uma geração de paulistas que vinha para fundar póvoas, expandir o território, criar alternativas econômicas. Nenhum dos três, por sinal, figura na história das inúmeras bandeiras que percorreram o Brasil em busca de índios ou pedras preciosas. Mas foram os três, sem dúvida, que contribuíram para ocupação definitiva de Santa Catarina e expansão para o Rio Grande”.

(Mosimann, João Carlos. Catarinenses, Gênese e História. Edição do autor -2010. (Pág. 111). Prêmio do Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura 2009 – Fundação Catarinense de Cultura).

04 março 2025

FOTO-RETRÔ - CARNAVAL PARTE 4 (FINAL)

   Para encerrar nesta terça-feira nossa série sobre o carnaval de outrora, encontro em meus arquivos uma foto datada de 1962, da rua Raulino Horn, onde eram realizados o pré-carnaval e a continuação do desfile oficial. A "Rua do Carnaval" como era então denominada. 

Carnaval da Laguna em 1962 -Rua Raulino Horn. Tema da ornamentação: Xangai ou Shanghai. Acervo: Valmir Guedes Júnior.

   Note a ornamentação (e tínhamos ornamentação, ao contrário de hoje) cujo tema naquele ano era Shangai. Perceba as tradicionais cordinhas para separar o público. Lembrando que o sentido do tráfego era inverso ao de hoje.
   À esquerda, uma parte da placa da Instaladora Rádio Elétrica, do seu Aliatar Barreiros; em seguida a placa circular, tradicional, da Galeria Gigante.
   À direita, o restaurante Brasília, que não lembro (nem podia, tinha dois anos de idade), mas que ficava ao lado do Café Tupi, e onde mais tarde vai se instalar a Panificadora Imperatriz, de Archimedes de Castro Faria.

A passarela sobre a rua Raulino Horn

   Bem no meio da via vemos uma passarela suspensa. É sobre ela que quero falar.
   A ideia foi do gerente da Rádio Garibaldi, saudoso radialista João Manoel Vicente.
   Há muitos anos ele me contou numa conversa que naquele ano da década de 1960 criou um fato novo para disputar a audiência com a coirmã e concorrente, a Rádio Difusora.

    A mais antiga estava instalada na esquina da Praça Vidal Ramos, entre as ruas Duque de Caxias e XV de Novembro e, por isso mesmo, melhor posicionada nas transmissões da folia.
   A Rádio Garibaldi, cujo proprietário era o ex-prefeito da Laguna e naquele ano já deputado estadual Walmor de Oliveira, tinha seus estúdios (veja a placa luminosa sobre a marquise) instalados sobre a sinuca do Macuco (ao lado do restaurante e bar Monte Carlo). 
   No local hoje funciona a loja By Chelo Surf Shop. Observem à direita a corneta (boca de ferro) sobre a marquise. Eram as nossas "caixas de som" de outrora..
   João Vicente criou então essa passarela suspensa de um lado ao outro da rua, com os locutores (radialistas) e comentaristas da emissora postados numa posição superior para a transmissão do desfile.
   Uma novidade, um luxo!


O trajeto do desfile

   O desfile oficial começava no início da rua Conselheiro Jerônimo Coelho (com formação na rua Oswaldo Rodrigues Cabral), contornava o Jardim Calheiros da Graça, descia pela estreita XV de Novembro e virava à direita na Raulino Horn, terminando (dispersão) na Praça da Bandeira, hoje Praça República Juliana.
   Ufa!... e isso tudo era feito sem desafinar, sem “atravessar” o samba, com carros alegóricos desviando de galhos e fios, e passistas sambando sobre paralelepípedos.
   Já o pré era no sentido inverso, começando na Praça da Bandeira (hoje República Juliana) e virando à esquerda na XV de Novembro com dispersão na Praça Vidal Ramos.