08 outubro 2025

O avesso de um cartão-postal

 


Definitivamente, esse não é um cartão-postal turístico da nossa Laguna que mereça ser visto e visitado. É o avesso, do avesso, do avesso. 
Mas ele existe, sujando a paisagem e ferindo nossa visão. Moradores, visitantes e os profissionais da pesca que ali trabalham clamam por uma solução.
É de se lastimar esse cenário horroroso de comercialização de pescados ali nas Docas do Centro Histórico, além da sujeira e assoreamento do local.
Laguna com seus quase 350 anos de fundação não merece esse cenário.
Para os ufanistas, Laguna encanta e é linda demais. Mas, ela "também" é assim.
 

Banca de peixe já existia no século XIX ao lado do Mercado Público

Bancas de peixe na área externa do nosso Mercado Público, junto ao cais do antigo porto sempre estiveram inseridas em nossa paisagem do Centro Histórico.
Mas no passado nunca foi essa coisa horrorosa como hoje, o que demostra que regredimos - e muito - até neste aspecto arquitetônico e sanitário. 
Penso que, antes de mais nada, havia mais carinho, amor e atenção por essa terra por parte dos nossos antepassados governantes.
Vejamos. 
Em seu livro Laguna de 1880, Saul Ulysséa nos conta da existência de uma banca para venda de peixe naquelas imediações.
Estamos falando do século XIX!!!

A foto mostra ao centro a Banca de Pescado, situada ao lado do antigo Mercado Público, bem defronte a rua Tenente Bessa, como descreve Saul Ulysséa em sua obra.

O cais de granito ainda nem existia, nem o primeiro mercado público, inaugurado em 1897. Mas a banca para venda de pescados estava lá e pela descrição é a mesma da foto.

Diz Ulysséa: 

“Em frente à rua Tenente Bessa, no lugar onde hoje está edificado o mercado municipal, existia a banca do peixe, assim denominado o local para a venda do pescado.
Constava de um telheiro de cerca de seis metros por quatro, um estrado de madeira ao centro, de um metro de altura com cerca de três de largura e quatro de comprimento, com inclinação para o lado do mar, a-fim-de escorrer a água e tendo uma escada na parte mais baixa. Era ali que se realizada toda a venda do peixe para o consumo público.
Os pescadores quando se aproximavam da cidade com suas canoas contendo peixe, usavam uma buzina formada de um chifre curto furado na parte mais fina por onde sopravam de certo modo a produzir um som roufenho bastante forte, para anunciar de longe a sua mercadoria, sendo o som ouvido à distância.
- Está buzinando, diziam as donas de casa e despachavam para a banca, escravos ou criados a fim de comprarem peixe. (...)
 
Outra foto, esta da década de 1930, com o antigo Mercado Público em seu auge, mostra uma nova construção para venda de pescados.
A banca ficava no mesmo lado sul do Mercado, sob um telhado circular. Havia uma bancada coletiva onde pescadores e os chamados pombeiros comercializavam o pescado.
Com o incêndio do Mercado em 20 de agosto de 1939 toda a construção foi posteriormente demolida.

Bancas individuais e coletivas no novo Mercado, em 1958

No novo Mercado inaugurado em 19 de janeiro de 1958 pelo prefeito Walmor de Oliveira, bancas individuais e uma delas coletiva para venda de pescados foram criadas no interior do prédio. 
Aliás, bancas que nunca deveriam ter sido eliminadas no atual projeto.
Com o passar do tempo retornou também a venda, em paralelo, de pescados no lado externo, em caixas plásticas, nas canoas e em improvisadas bancas.

Surge um novo espaço externo

Registre-se que durante a gestão do ex-prefeito Cadorin (2001-2004) naquela pequena área ao lado das Docas houve um melhoramento. 
Foi construído e inaugurado em 9 de janeiro de 2003 um espaço em alvenaria, cobertura com telhas em barro, com torneiras com água corrente, pias e bancadas em azulejos.

Bancas para venda de pescados na gestão Cadorin em 2003.


Bancada em azulejos, com pias, água corrente e telhado em 2003.

           
Na gestão seguinte de Célio Antônio (2005-2008) e a partir de 2007 por conta da intervenção realizada no Centro Histórico, com mudança de calçamento, estreitamento de vias, paisagismo, etc., a estrutura da Banca de pescados em alvenaria foi derrubada e voltou-se às antigas e improvisadas bancas ao lado do Mercado. 
Depois, em 2009, essas bancas foram interditadas e proibidas pela Justiça.

Mercado não contemplou boxes para venda de pescados

A gente imaginava que com a entrega da obra em 1º de fevereiro de 2020 e abertura ao público em 5 de dezembro de 2021, do espaço restaurado, ampliado e revitalizado do Mercado Público, o projeto fosse contemplar boxes em seu interior para venda de pescados. Como em qualquer Mercado Público que se preze.
Tal não aconteceu, quebrando uma tradição e com isso a venda externa de pescados foi deslocada, expulsa mesmo, novamente para aquele espaço lateral sul das Docas. 
E lá está até hoje.

Casa do peixe 

Há pouco tempo acenou-se com a chamada Casa do Peixe. 
O local seria num prédio do governo federal (onde funcionou há muitos anos a Portobrás, ex DNPVN) cedido ao município e situado ao lado das Docas, onde o pescado seria comercializado.
Em setembro de 2023 foi publicada pelo estado de SC a portaria que liberava recursos no valor de R$ 408.656.49 a serem pagos em duas parcelas. 
Inúmeros empecilhos burocráticos, estruturais, de formato e porque não dizer, também políticos, emperraram todo o processo. 
Culminou com a devolução ao estado da verba específica, a metade que já havia sido antecipada e recebida.

Um projeto multifuncional

Agora, novo projeto da chamada Casa do Peixe está em elaboração. 
Como divulgado, o espaço será multifuncional, com área externa para a Lagoa (mezanino), restaurante no térreo, sede para a secretaria de Pesca e Agricultura, mini indústria de beneficiamento, trapiche...
Com todos esses acréscimos e alterações, evidentemente que o valor da obra deve aumentar consideravelmente. 
Até ser liberada a nova verba, licitada e finalizada vai se passar muito tempo.
Torcemos que se concretize. Não esquecendo que ano que vem é eleitoral.
E pensar que inicialmente o que se pedia era um local mais decente, básico e estruturado para venda do pescado.
Às vezes quem muito quer nada tem, diz a sabedoria popular.
Por fim, com o prédio que seria a Casa do Peixe interditado pela Defesa Civil e sofrendo invasão, em junho deste ano a prefeitura lacrou com tijolos  todas as aberturas da edificação.
E assim caminha a Laguna. E o tempo passa e o tempo voa.

12 comentários:

  1. É uma vergonha aquilo ali. Cenário de terror bem no centro. Imagine o turista o que acha. Favelão.

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  2. Geraldo de Jesus08/10/2025, 20:57

    Um lugar tão lindo que poderia ser melhor explorado. No fim a gente se acostuma, agora os turistas... será que acham bonito isso?

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  3. Minha opinião é que tem que ter um espaço dentro do mercado, coletivo. Se Floripa pode aqui também pode.
    Segundo: tem que dragar as docas. Tá toda assoreada, a lagoa toda.Tem que arranjar licença ambiental e se o IPHAN não deixar tem que ir a Brasília conseguir. Chega de atraso nesta cidade.
    Edison de Andrade

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  4. Verdade amigo! Tbm acho uma vergonha. Olho olho e não acredito, fico pasma! Simplesmente horrível em TODOS os aspectos. Poderiam estruturar com bancas bem estruturadas, coloridas bem organizadas e higiênicas. Um lugar que daria gosto de comprar peixinhos frescos.

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  5. Boa noite! Eu, como lagunense nata, todas as vezes que passo por aí, me vem à mente , exatamente, as barracas da beira do cais. E não era só peixe não. Tínhamos dentre outras coisas, as gostosas mexericas, ou laranja crava, como queiram chamar. Não dá pra comparar mais nada de um passado que se perdeu, onde a falta de vontade ainda impera... Que pena! Regressão é a ordem, provinda daqueles.que deveriam vê-la prosperar.

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  6. Já andei por este Brasil todo mas banca de peixe deste jeito não vi em lugar nenhum. Isto é uma vergonha para os nossos administradores. Três gestões e nada resolvido ! João Carlos Nunes

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  7. HERANÇA DOS GOVERNOS ANTERIORES - uma vergonha

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  8. Laguna regredindo essas barracas são ridículas falta de consideração com os pescadores,o antigo mercado tinha mais de 4 banca de peixe laguna tá feia bem.feia

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  9. É um cartão postal pro turista que deve sair daqui não acreditando no que viu.
    E fazem seminários e vão pra São Paulo divulgar.
    Bem no meio do centro, ao lado da avenida onde todos passam. Vergonha.

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  10. Vai ter baba ovo dizendo que é herança, que a culpa é dos prefeitos anteriores. É sempre assim. Vão trabalhar cambada.
    Antônio Luiz

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  11. Valmir... a sua matéria aborda um assunto que abrange a "saúde pública", além é claro dos demais aspectos citados e também comentados pelos leitores. Sem entrar em detalhes e por ser algo tão básico na gestão da cidade... eu vou ficando por aqui.
    Grande abraço do Adolfo Bez Filho - Joinville / SC.

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  12. Fico condoído com os pescadores expostos às intempéries; com os compradores, idem. Não há condições minimas de higiene e asseio, tanto para quem expõe quanto para quem compra. É desumano. O cenário, é o de Gaza. Vergonhoso.

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