Na década de 80, o rock nacional vivia seu
período de maior glória. Dezenas de bandas surgiam pelo país.
O gênero, que apareceu na década de 50 nos Estados
Unidos, atravessou os anos.
Dizem os especialistas que quem gravou o primeiro
rock no Brasil foi Nora Ney, cantora de samba-canção. "Rock around the Clock", de Bill Haley & His Comets (trilha do filme Sementes da Violência), em
outubro de 1955, para a versão
brasileira do filme.
O rock atravessou a década de
60 no Brasil, com a Jovem Guarda. Na década de 70 surgem os ícones Rita Lee,
Lobão, Raul Seixas, entre outros em seus
variados estilos, inclusive os chamados rock rural e o hard progressivo.
No Rio de Janeiro, no verão
de 1975 foi organizado o pioneiro festival de rock no Brasil, o "Hollywood Rock", com patrocínio da Cia
Souza Cruz.
Na década de 80 o rock se
popularizou de vez no país. Surgiram bandas em São Paulo, Brasília, Bahia, Rio
de Janeiro e em outros estados. Algumas delas cultuadas pelos fãs até hoje. E
muitas ainda em atividade.
Enfim, não vou me estender
sobre a história do rock no Brasil, até porque há muito material em livros,
inclusive na internet. O objetivo deste texto é falar sobre a história do Rock
Laguna.
Para quem se interessar sobre
o rock no Brasil de 1955 a 1984, e de 1985 a 2000, basta clicar em:
Em janeiro de 1985 acontece o Rock in Rio, o
maior concerto da história do rock, com um público estimado em 1 milhão e meio
de pessoas, realizado na Barra da Tijuca. Veio artista de todo o mundo e contou
com bandas internacionais e brasileiras, algumas iniciantes.
O rock entrou na ordem do dia e ganhou
manchetes e matérias em toda mídia.
O Rock
Laguna 1
No ano seguinte, 1986, embalado pelo sucesso
do Rio de Janeiro, o empresário tubaronense Evaldo Marcos, dono da Cosmos
Produções, apoiado por um grupo de patrocinadores, propôs aos administradores
do município da Laguna (prefeito João Gualberto Pereira, vice Rogério
Wendhausem – 1983-1988), a realização de um Festival de Rock a ser realizado em
nossa cidade, nos mesmo moldes do que foi feito na Cidade Maravilhosa. Guardadas
as devidas proporções, evidentemente.
A Prefeitura da Laguna apoiou o evento com a
cessão do local, o Estádio Municipal do Laguna Esporte Clube – LEC, mais tarde
batizado de Estádio Municipal João Batista Wendhausen Moraes, em homenagem ao vereador
lagunense, morto prematuramente.
Secretário municipal de Cultura, Turismo e
Esporte, Hézio Heleodoro de Souza dizia que havia interesse que o evento entrasse
para o calendário turístico da cidade.
Assim, o Rock Laguna 1 foi marcado para sua
realização nos dias 6, 7 e 8 de fevereiro de 1987.
A divulgação se iniciou por todo o Brasil e
principalmente nos estados do sul. Assim como, à medida que iam sendo contratados,
os nomes das bandas, cantores e cantoras do rock nacional.
Na primeira noite, uma sexta-feira, a partir
das 21 horas se apresentaram as bandas “Camisa de Vênus”, com seu rock
agressivo; na sequência as meninas do “Sempre Livre” com seu som romântico;
depois fechou a noite o “Grupo Tubarão”, som pesado que fez a plateia delirar.
Na noite seguinte, sábado, “Encaixe Postal”,
“Ave de Rapina”, “Kromo”, “Expresso”, “Inteligence”, “Engenheiros do Havaí” e
“Titãs”.
Os Titãs fizeram o grandioso show de abertura.
No domingo ventava forte e chovia e os shows
foram transferidos para a noite seguinte, segunda-feira, a partir das 20 horas.
O encerramento do Rock Laguna 1, foi com
“KM-7”, “Zero” e “Lobão”.
Lobão abriu o espetáculo e o público cantou
todas as músicas.
No final, com o frio que fazia no local, Lobão
subiu novamente ao palco e juntamente com o Grupo Zero cantaram “Me chama”, de sua autoria.
- "Chove
lá fora e aqui tá tanto frio...”.
O Rock Laguna 1 foi sucesso absoluto, com um
público estimado em 15 mil pessoas por noite.
Divulgação da Laguna a nível nacional. A Rede Bandeirantes
de Televisão, por exemplo, noticiou a promoção em seu noticiário.
Rock
Laguna 2
Em 1988, o empresário Evaldo
Marcos promoveu novamente o evento.
O Rock Laguna 2, aconteceu nas
noites de 5, 6 e 8 (sexta-feira, sábado e segunda-feira) de fevereiro, no mesmo local do ano anterior.
As apresentações marcadas para
domingo, dia 7, por causa da chuva, tiveram que ser transferidas para
segunda-feira, repetindo assim, coincidentemente, o acontecido no ano anterior.
Na primeira noite se apresentaram as
bandas “Vício Difícil”, “TNT”, “Taranatiriça”, “Garotos da Rua” e “Titãs”.
Os Titãs foram o destaque,
encerrando o show com muito rock. Banda Taranatiriça também não decepcionou.
No sábado, com um grande público e
agito, a banda lagunense “Ave de Rapina”, “Tubarão”, “Celso Blues Boy”, “Kid Abelha”
e “Ultraje a Rigor”.
O Kid Abelha empolgou a plateia
que cantou e dançou na voz e figurino da
vocalista Paulinha.
O Ultraje a Rigor levou o público
feminino ao delírio quando o vocalista Roger na apresentação de uma canção do
primeiro álbum, de maior sucesso, e tema de abertura da novela Brega &
Chique, tirou a camisa e baixou as calças, mostrando a cueca na cor azul.
- Pelado, pelado, nu com a mão no bolso...
(...)
Indecente
É você ter que ficar
Despido de cultura
Daí não tem jeito
Quando a coisa fica dura
Sem roupa, sem saúde
Sem casa, tudo é tão imoral
A barriga pelada
É que é a vergonha nacional
(...)
É você ter que ficar
Despido de cultura
Daí não tem jeito
Quando a coisa fica dura
Sem roupa, sem saúde
Sem casa, tudo é tão imoral
A barriga pelada
É que é a vergonha nacional
(...)
Os shows previstos para domingo e
realizados somente na noite de segunda-feira, trouxeram “Nenhum de Nós”, “Defalla”,
“Eggo Tripp”, “Heróis da Resistência” e “Tim Maia”.
Na banda Eggo Tripp o destaque do
baterista Pedro Gil, filho de Gilberto Gil. No Heróis da Resistência, Leoni,
ex-Kid Abelha fez um excelente vocal e performance corporal.
A apresentação de Tim Maia
decepcionou. Não cantou integralmente sequer uma música. Reclamava de tudo. Dos
músicos de sua banda Vitória Régia, do som. Entre uma interrupção e outra
cantou sucessos de seu repertório: “Primavera”, “Você”, “Dia de Santo Reis”,
“Um Dia de Domingo”.
Mas se não fosse assim, não seria
o grande Tim Maia, não é verdade? Acreditava-se que ele nem vinha para a
apresentação, como já havia acontecido inúmeras vezes em sua carreira.
Ainda na segunda-feira à tarde,
antes do show, Tim Maia foi visto no centro histórico da Laguna comprando uma
camiseta com dizeres sobre a cidade, na Loja Lapa Confecções. Tamanho EG, off course.
Johnny Bass postou este vídeo no You Tube, feito pela RBS TVSC, onde Cacau Menezes entrevista Tim Maia no Ravena Cassino Hotel e Paulinha Toller do Kib Abelha, momentos antes de subir ao palco. Cenas de pontos turísticos da Laguna e imagens do primeiro Rock Laguna em 1986.
O fim de semana na Laguna foi movimentado.
A cidade recebeu milhares de fãs provenientes da região sul do país. Mas veio
gente de outros estados, como Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.
Rock Laguna 3
Dez anos depois, em
1998, nas noites de quinta, sexta-feira e sábado, 5, 6 e 7 de fevereiro, foi
realizado pelo mesmo empresário Evaldo Marcos, em sua terceira versão, o Rock Laguna
3.
O prefeito era João
Gualberto Pereira, e vice Rogério Wendhausen, eleitos em 1996, os mesmo
administradores da Laguna quando da realização dos dois primeiros eventos.
Uma espécie de
revival.
Na quinta-feira, a
banda Os Titãs, com o show “Acústico”, foi o destaque.
De acordo com a
produção, 4 mil pessoas estiveram presentes.
Na sexta-feira, a
roqueira paulistana Rita Lee agitou a plateia.
Antes, Stonkas Y Congas, de Florianópolis se
apresentou. O público de cerca de 2 mil pessoas, se abrigava numa lona que foi
montada sobre o gramado do estádio municipal.
Logo em seguida a banda
Imigrant, cover de Led Zeppelin e Pink Floyd, levantou
o pessoal, num esquenta para a grande atração da noite.
A apresentação da
maior roqueira brasileira, com o show “Santa Rita de Sampa”, começou exatamente
à uma hora da manhã, conforme exigência e durou 1h e 15m.
Rita foi toda
simpática e cativou o público logo no início quando exclamou: “Laguna, você me dá água
na boca!”.
A banda da Rita Lee era formada
por Roberto de Carvalho (guitarra), Beto Lee (guitarra), Lee Marcucci (baixo),
Paulo Zinner (bateria), Maurício Gasperini (vocal, violão e percussão e teclado)
e PG Cecheto (teclado).
No dia seguinte, no hotel, quando da partida de Rita Lee e banda para Florianópolis para o voo para São Paulo, consegui conversar alguns minutos com a maior roqueira do Brasil, que também autografou um CD com seus maiores sucessos. Fotógrafo André Luis Bacha registrou o momento.
No dia seguinte, no hotel, quando da partida de Rita Lee e banda para Florianópolis para o voo para São Paulo, consegui conversar alguns minutos com a maior roqueira do Brasil, que também autografou um CD com seus maiores sucessos. Fotógrafo André Luis Bacha registrou o momento.
Entrevistando Rita Lee e ganhando um autógrafo num Cd da roqueira. |
No sábado, a banda
Planet Hemp, criada pelo Marcelo D2 e Skunk em 1993, no Rio de Janeiro, se apresentou
com seu rap rock. Apresentou vários sucessos de seus dois discos “Usuário”
(pelo qual ganhou o Disco de Ouro) e “Os cães ladram mas a caravana não para”,
como “Legalize já” e “Queimando tudo”.
Pequeno
público
O público esperado decepcionou durante o Rock
Laguna 3. Não passou de 4 mil pagantes, num local idealizado para receber 10
mil pessoas.
Diversos fatores contribuíram para isso.
Primeiro dez anos tinham se passado da última
realização e o rock brasileiro já não tinha o mesmo boom musical dos anos 80. Outros
gêneros musicais tinham surgido, como o Axé.
Conhecidas bandas de rock tinham ficado pelo
caminho. E faltou também maior divulgação do evento.
Sobre o pequeno público presente comparado aos
dois Rock Laguna da década de 80, o próprio empresário e produtor Evaldo Marcos
reconhecia que “Os tempos eram outros. As bandas antes não circulavam tanto
pelo país. Hoje, no interior, há muitos shows", comentou Evaldo à imprensa
na época.
Enfim, o Rock Laguna marcou época
e até hoje é lembrado pelos fãs.
Excelente resgate histórico, meu caro. Parabéns pela matéria! Um abraço. Fernando Faria.
ResponderExcluirEu estava lá. Faltou falar que o Ultraje a Rigor substituiu o Paralamas que não quis vir para Laguna,e se não me engano há apenas 2 dias da apresentação, o Viana disse para a imprensa de SP que após cantar no Rock in Rio, não cantaria no Rock Laguna, para o o vocalista Viana, um evento que para ele não "existia", não valia a pena, moral da história, a arrogância do Viana, fez com que a banda "acabasse' muito antes do que se esperava.
ResponderExcluirMas o paralamas esteve aqui antes. Estiveram no Iate Clube quando ainda eram mais desconhecidos.
ExcluirEu estava lá !
ResponderExcluirfui no primeiro rock laguna e lembro que foi no tão falado "verão da lata", e tinha um trailer de sanduíches que servia o X da lata, uma espécie de x-larica. o final com Zero e Lobão foi demais!!!
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