17 agosto 2014

A história do Rock Laguna 1, 2 e 3

     Na década de 80, o rock nacional vivia seu período de maior glória. Dezenas de bandas surgiam pelo país.
   O gênero, que apareceu na década de 50 nos Estados Unidos, atravessou os anos.
      Dizem os especialistas que quem gravou o primeiro rock no Brasil foi Nora Ney, cantora de samba-canção.  "Rock around the Clock", de Bill Haley & His Comets (trilha do filme Sementes da Violência), em outubro de 1955, para a versão brasileira do filme.
     O rock atravessou a década de 60 no Brasil, com a Jovem Guarda. Na década de 70 surgem os ícones Rita Lee, Lobão, Raul Seixas, entre outros em seus variados estilos, inclusive os chamados rock rural e o hard progressivo.

     No Rio de Janeiro, no verão de 1975 foi organizado o pioneiro festival de rock no Brasil, o "Hollywood Rock", com patrocínio da Cia Souza Cruz.
    Na década de 80 o rock se popularizou de vez no país. Surgiram bandas em São Paulo, Brasília, Bahia, Rio de Janeiro e em outros estados. Algumas delas cultuadas pelos fãs até hoje. E muitas ainda em atividade.

     Enfim, não vou me estender sobre a história do rock no Brasil, até porque há muito material em livros, inclusive na internet. O objetivo deste texto é falar sobre a história do Rock Laguna.
     Para quem se interessar sobre o rock no Brasil de 1955 a 1984, e de 1985 a 2000, basta clicar em:


     Em janeiro de 1985 acontece o Rock in Rio, o maior concerto da história do rock, com um público estimado em 1 milhão e meio de pessoas, realizado na Barra da Tijuca. Veio artista de todo o mundo e contou com bandas internacionais e brasileiras, algumas iniciantes.
     O rock entrou na ordem do dia e ganhou manchetes e matérias em toda mídia.

O Rock Laguna 1
     No ano seguinte, 1986, embalado pelo sucesso do Rio de Janeiro, o empresário tubaronense Evaldo Marcos, dono da Cosmos Produções, apoiado por um grupo de patrocinadores, propôs aos administradores do município da Laguna (prefeito João Gualberto Pereira, vice Rogério Wendhausem – 1983-1988), a realização de um Festival de Rock a ser realizado em nossa cidade, nos mesmo moldes do que foi feito na Cidade Maravilhosa. Guardadas as devidas proporções, evidentemente.

     A Prefeitura da Laguna apoiou o evento com a cessão do local, o Estádio Municipal do Laguna Esporte Clube – LEC, mais tarde batizado de Estádio Municipal João Batista Wendhausen Moraes, em homenagem ao vereador lagunense, morto prematuramente.
     Secretário municipal de Cultura, Turismo e Esporte, Hézio Heleodoro de Souza dizia que havia interesse que o evento entrasse para o calendário turístico da cidade.

     Assim, o Rock Laguna 1 foi marcado para sua realização nos dias 6, 7 e 8 de fevereiro de 1987.
     A divulgação se iniciou por todo o Brasil e principalmente nos estados do sul. Assim como, à medida que iam sendo contratados, os nomes das bandas, cantores e cantoras do rock nacional.
    Na primeira noite, uma sexta-feira, a partir das 21 horas se apresentaram as bandas “Camisa de Vênus”, com seu rock agressivo; na sequência as meninas do “Sempre Livre” com seu som romântico; depois fechou a noite o “Grupo Tubarão”, som pesado que fez a plateia delirar.

    Na noite seguinte, sábado, “Encaixe Postal”, “Ave de Rapina”, “Kromo”, “Expresso”, “Inteligence”, “Engenheiros do Havaí” e “Titãs”.
Os Titãs fizeram o grandioso show de abertura.

      No domingo ventava forte e chovia e os shows foram transferidos para a noite seguinte, segunda-feira, a partir das 20 horas.
     O encerramento do Rock Laguna 1, foi com “KM-7”, “Zero” e “Lobão”.
Lobão abriu o espetáculo e o público cantou todas as músicas.
    No final, com o frio que fazia no local, Lobão subiu novamente ao palco e juntamente com o Grupo Zero cantaram “Me chama”, de sua autoria.
- "Chove lá fora e aqui tá tanto frio...”.

     O Rock Laguna 1 foi sucesso absoluto, com um público estimado em 15 mil pessoas por noite.
    Divulgação da Laguna a nível nacional. A Rede Bandeirantes de Televisão, por exemplo, noticiou a promoção em seu noticiário.

Rock Laguna 2
     Em 1988, o empresário Evaldo Marcos promoveu novamente o evento.
     O Rock Laguna 2, aconteceu nas noites de 5, 6 e 8 (sexta-feira, sábado e segunda-feira) de fevereiro, no mesmo local do ano anterior.

     As apresentações marcadas para domingo, dia 7, por causa da chuva, tiveram que ser transferidas para segunda-feira, repetindo assim, coincidentemente, o acontecido no ano anterior.
       Na primeira noite se apresentaram as bandas “Vício Difícil”, “TNT”, “Taranatiriça”, “Garotos da Rua” e “Titãs”.
    Os Titãs foram o destaque, encerrando o show com muito rock. Banda Taranatiriça também não decepcionou.

      No sábado, com um grande público e agito, a banda lagunense “Ave de Rapina”, “Tubarão”, “Celso Blues Boy”, “Kid Abelha” e “Ultraje a Rigor”.
    O Kid Abelha empolgou a plateia que cantou e dançou na voz  e figurino da vocalista Paulinha.
   O Ultraje a Rigor levou o público feminino ao delírio quando o vocalista Roger na apresentação de uma canção do primeiro álbum, de maior sucesso, e tema de abertura da novela Brega & Chique, tirou a camisa e baixou as calças, mostrando a cueca na cor azul.
- Pelado, pelado, nu com a mão no bolso...
(...)
Indecente
É você ter que ficar
Despido de cultura
Daí não tem jeito
Quando a coisa fica dura
Sem roupa, sem saúde
Sem casa, tudo é tão imoral
A barriga pelada
É que é a vergonha nacional
(...)

      Os shows previstos para domingo e realizados somente na noite de segunda-feira, trouxeram “Nenhum de Nós”, “Defalla”, “Eggo Tripp”, “Heróis da Resistência” e “Tim Maia”.
   Na banda Eggo Tripp o destaque do baterista Pedro Gil, filho de Gilberto Gil. No Heróis da Resistência, Leoni, ex-Kid Abelha fez um excelente vocal e performance corporal.

     A apresentação de Tim Maia decepcionou. Não cantou integralmente sequer uma música. Reclamava de tudo. Dos músicos de sua banda Vitória Régia, do som. Entre uma interrupção e outra cantou sucessos de seu repertório: “Primavera”, “Você”, “Dia de Santo Reis”, “Um Dia de Domingo”.
     Mas se não fosse assim, não seria o grande Tim Maia, não é verdade? Acreditava-se que ele nem vinha para a apresentação, como já havia acontecido inúmeras vezes em sua carreira.
    Ainda na segunda-feira à tarde, antes do show, Tim Maia foi visto no centro histórico da Laguna comprando uma camiseta com dizeres sobre a cidade, na Loja Lapa Confecções. Tamanho EG, off course.

Johnny Bass postou este vídeo no You Tube, feito pela RBS TVSC, onde Cacau Menezes entrevista Tim Maia no Ravena Cassino Hotel e Paulinha Toller do Kib Abelha, momentos antes de subir ao palco. Cenas de pontos turísticos da Laguna e imagens do primeiro Rock Laguna em 1986.

    O fim de semana na Laguna foi movimentado. A cidade recebeu milhares de fãs provenientes da região sul do país. Mas veio gente de outros estados, como Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro.


Rock Laguna 3
     Dez anos depois, em 1998, nas noites de quinta, sexta-feira e sábado, 5, 6 e 7 de fevereiro, foi realizado pelo mesmo empresário Evaldo Marcos, em sua terceira versão, o Rock Laguna 3.
      O prefeito era João Gualberto Pereira, e vice Rogério Wendhausen, eleitos em 1996, os mesmo administradores da Laguna quando da realização dos dois primeiros eventos.
     Uma espécie de revival.

   Na quinta-feira, a banda Os Titãs, com o show “Acústico”, foi o destaque.
     De acordo com a produção, 4 mil pessoas estiveram presentes.
     Na sexta-feira, a roqueira paulistana Rita Lee agitou a plateia.
Antes, Stonkas Y Congas, de Florianópolis se apresentou. O público de cerca de 2 mil pessoas, se abrigava numa lona que foi montada sobre o gramado do estádio municipal.
    Logo em seguida a banda Imigrant, cover de Led Zeppelin e Pink Floyd, levantou o pessoal, num esquenta para a grande atração da noite.
     A apresentação da maior roqueira brasileira, com o show “Santa Rita de Sampa”, começou exatamente à uma hora da manhã, conforme exigência e durou 1h e 15m.

Rita Lee no Rock Laguna III - 1998 - Foto: Valmir Guedes Júnior 

   Rita foi toda simpática e cativou o público logo no início quando exclamou: “Laguna, você me dá água na boca!”.
    A banda da Rita Lee era formada por Roberto de Carvalho (guitarra), Beto Lee (guitarra), Lee Marcucci (baixo), Paulo Zinner (bateria), Maurício Gasperini (vocal, violão e percussão e teclado) e PG Cecheto (teclado).
    No dia seguinte, no hotel, quando da partida de Rita Lee e banda para Florianópolis para o voo para São Paulo, consegui conversar alguns minutos com a maior roqueira do Brasil, que também autografou um CD com seus maiores sucessos. Fotógrafo André Luis Bacha registrou o momento.

Entrevistando Rita Lee e ganhando um autógrafo num Cd da roqueira.

     No sábado, a banda Planet Hemp, criada pelo Marcelo D2 e Skunk em 1993, no Rio de Janeiro, se apresentou com seu rap rock. Apresentou vários sucessos de seus dois discos “Usuário” (pelo qual ganhou o Disco de Ouro) e “Os cães ladram mas a caravana não para”, como “Legalize já” e “Queimando tudo”.

Pequeno público
    O público esperado decepcionou durante o Rock Laguna 3. Não passou de 4 mil pagantes, num local idealizado para receber 10 mil pessoas.
       Diversos fatores contribuíram para isso.
     Primeiro dez anos tinham se passado da última realização e o rock brasileiro já não tinha o mesmo boom musical dos anos 80. Outros gêneros musicais tinham surgido, como o Axé.
    Conhecidas bandas de rock tinham ficado pelo caminho. E faltou também maior divulgação do evento.
      Sobre o pequeno público presente comparado aos dois Rock Laguna da década de 80, o próprio empresário e produtor Evaldo Marcos reconhecia que “Os tempos eram outros. As bandas antes não circulavam tanto pelo país. Hoje, no interior, há muitos shows", comentou Evaldo à imprensa na época.
      Enfim, o Rock Laguna marcou época e até hoje é lembrado pelos fãs.

5 comentários:

  1. Excelente resgate histórico, meu caro. Parabéns pela matéria! Um abraço. Fernando Faria.

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  2. Eu estava lá. Faltou falar que o Ultraje a Rigor substituiu o Paralamas que não quis vir para Laguna,e se não me engano há apenas 2 dias da apresentação, o Viana disse para a imprensa de SP que após cantar no Rock in Rio, não cantaria no Rock Laguna, para o o vocalista Viana, um evento que para ele não "existia", não valia a pena, moral da história, a arrogância do Viana, fez com que a banda "acabasse' muito antes do que se esperava.

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    1. Mas o paralamas esteve aqui antes. Estiveram no Iate Clube quando ainda eram mais desconhecidos.

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  3. fui no primeiro rock laguna e lembro que foi no tão falado "verão da lata", e tinha um trailer de sanduíches que servia o X da lata, uma espécie de x-larica. o final com Zero e Lobão foi demais!!!

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