Wladyslawa
Wolowska Mussi foi a primeira mulher médica em Santa Catarina e começou a atuar
na profissão aqui na Laguna, em 1934.
Em nossa
cidade, juntamente com seu marido, o também médico, lagunense Antônio Dib
Mussi, montou consultório.
Wladyslawa Wolowska Mussi
Ela nasceu em 11
de agosto de 1910, em São José dos Pinhais, no Paraná, filha de pais poloneses.
Conheceu seu
futuro marido Antônio Dib Mussi na Universidade do Paraná (atual UFPR), ambos
alunos do curso de Medicina.
Ele era
lagunense, nascido em 10 de maio de 1911, filho de Dib Mussi e Santa Elias
Mussi.
Recém-formados,
os dois médicos se casaram. Antônio Dib Mussi retornou à terra natal em 1º de janeiro de 1935 acompanhado
da esposa. A Banda União dos Artistas foi recepcioná-lo, em sua residência na rua 1º de março (hoje Barão do Rio Branco), conforme registrou o jornal O Albor. Aqui o jovem casal montou em
conjunto um consultório e passaram a atuar na profissão, logo se destacando na
área da saúde.
Publicidade no jornal O Albor em 1935. |
O saudoso
lagunense, desembargador Norberto Ulysséa Ungaretti foi um deles.
Uma coluna no jornal O
Albor
A partir do
ano de 1937, em 4 de julho, a doutora Wladyslawa passou a colaborar com o
jornal O Albor, semanário de nossa
cidade, com uma coluna intitulada “A arte de ser Mamã”. Devido ao sucesso entre
os leitores, chegou a ocupar metade da capa da publicação em algumas edições.
E foram seis publicações
onde a médica, com seu conhecimento falava as fieis leitoras sobre hereditariedade,
gravidez, gestação, nevralgias, prisão de ventre, manchas na pele e doenças
infantis como coqueluche e sarampo. Abordava também sobre hábitos de higiene
dos bebês e das novas mamães.
Médica relembrou Bessa e o jornal
Em entrevista à jornalista Lúcia Maria de Barros Silveira sobre o jornal O Albor, a doutora Wladys em outubro de 2011 relembrou sua colaboração para o periódico lagunense e o encontro com o editor Antônio Bessa:
“Logo que eu e meu marido chegamos em Laguna ele passou na casa de minha sogra para nos cumprimentar e dar boas-vindas. Era educadíssimo e muito simpático. Tinha um sorriso muito doce. Sabe aquelas pessoas em que passamos a confiar assim que vemos? O seu Bessa era assim.
Num aniversário onde estávamos todos reunidos, ele me ouviu falar sobre meus estudos em pediatria. Calmo, ele me chamou à parte e perguntou se eu não gostaria de escrever umas colunas para seu jornal sobre aquele assunto. Considerou que seriam de utilidade pública e ajudariam as mulheres a confiarem no meu trabalho. Aceitei de imediato. Sabia da importância que O Albor tinha aqui no Estado e o quanto era considerado pelas pessoas. Era um jornal que a gente recebia, lia e guardava. Não se botava fora.
Assim foi feito. Durante seis semanas eu escrevi para o jornal a coluna A Arte de ser Mamã e depois disso o meu consultório vivia cheio. Não era só gente rica não. O nível cultural de Laguna sempre foi excelente. Muito mais gente lia lá do que em qualquer outro lugar do Estado. Com essas colunas apareceu uma clientela e tanto”.
Na coluna de
estreia ela dizia:
“A pedido de
algumas mães, abrimos hoje essa pequenina e modesta coluna, desejando
ardentemente, proporcione ela o benefício que outras mães, privilegiadas,
encontram em obras de primeira ordem”.
Na edição de 9
de junho de 1937 numa nota social, o O
Albor registrava o retorno do casal de médicos a nossa cidade vindo do Rio
de Janeiro onde esteve em curso de aperfeiçoamento por seis meses.
Professor e diretor do Ginásio Lagunense
No ano
seguinte, em 1938, Antônio Dib Mussi foi diretor do Ginásio Lagunense, estabelecimento
escolar em que já lecionava.
O casal aqui
esteve até 1939 quando, convidado, Antônio Dib Mussi assumiu como médico e
diretor do Hospital Santa Otília, em Orleans.
Foi prefeito daquela
cidade por alguns meses nos anos de 1945 a 1947, nomeado por Interventores
Federais.
Em 1947
elegeu-se deputado estadual pelo Partido Social Democrático (PSD) e passou a
residir com a esposa em Florianópolis. Em 1949 foi nomeado diretor do Serviço
de Assistência Médico Domiciliar de Urgência, o famoso SAMDU, de tantos
serviços prestados.
O casal teve
três filhos, os professores universitários Zuleika Wolowska Mussi Lenzi, Carlos
Wolowski Mussi e o médico cardiologista de renome Mário Wolowski Mussi.
Médica-voluntária
A doutora
Wladyslawa clinicou até depois dos 70 anos. Era titular da Cadeira nº 9 da
Academia de Medicina do Estado de Santa Catarina. Foi a primeira
médica-voluntária em Florianópolis da Rede Feminina de Combate ao Câncer, cidade onde recebeu o título de Cidadã-Honorária. Foi fundadora da Sociedade Polônia na capital do estado.
Na festa de
aniversário de seu centenário em 2010, a doutora Wladys discursou dizendo que “A
verdadeira família é aquela que se reúne pelo sangue e também pelo espírito”.
E emocionou a
todos os familiares e amigos presentes ao falar de coragem, força e trabalho,
destacando que “Na vida há também a vitória sobre o sofrimento, a alegria de
dar ciência e amor, a recompensa solitária de ter feito o melhor, a alvorada, a
esperança...”.
Suas relações
com as pessoas, o gosto pela leitura, seu humor, sua personalidade admirável e
força de trabalho representaram o pioneirismo, a coragem e a superação de
desafios.
Foi uma
profissional médica competente, esposa e mãe dedicada e que imprimiu sempre a
sua família os valores da ética, moralidade e trabalho.
A médica
Wladyslawa faleceu em Florianópolis em 14 de julho de 2012, aos 101 anos, um mês antes de seu aniversário, vítima de complicações cirúrgicas por fratura do fêmur.
Antônio Dib
Mussi falecera muitos anos antes, em 19 de março de 1959. Foi homenageado com
nome de rua em nossa cidade e na capital catarinense.
O casal está
sepultado no Cemitério São Francisco de Assis, no Itacorubi, em Florianópolis.
Que legal. Não sabia dessa história.
ResponderExcluirLendo e aprendendo coisas da terra. Meus cumprimentos ao editor do blog,parabéns (Carlos Araujo Horn)
ResponderExcluirAdorei saber mais essa história, que me faz ainda ter esperança no nosso povo, povo que era educado, que gostava de ler. Que voltem os ventos do passado, trazendo sementes de sabedoria!
ResponderExcluirÓtima matéria. A primeira médica em SC começou em Laguna. Não sabia disso. E agora também sei porquê do nome da rua. Valeu
ResponderExcluirValmir...lendo este teu artigo passou um filme na minha cabeça. Quando a doutora Mussi foi para Florianópolis várias mulheres lagunenses continuaram fazendo suas consultas em Florianópolis.
ResponderExcluirAmigo, naquela época não tinha asfalto. Minha mãe fazia parte deste grupo de senhoras. E por aí vai.Valeu.
Magnífica matéria. Tive a felicidade de conviver com dra.Mussi, uma pessoa que nunca será esquecida.
ResponderExcluirSó gostaria de fazer uma correção: ela era mais conhecida como dona Doutora, pois muitos confundiam o título com o nome, já que a referência feminina na área dela era rara.
ResponderExcluirAh, e a foto não é minha, é de uma ex colega de trabalho que fez quando tive a oportunidade de escrever sobre ela no jornal onde trabalhava em Florianópolis.
Bom dia. Aqui na Laguna ela também era conhecida como "Doutora Wladys" por muitas de suas antigas clientes. Mas acrescentei também no texto o "dona Doutora", conforme tua observação.
ExcluirO crédito da foto é como consta do ND de 14/07/2012. Por favor me informe o nome da fotógrafa para constar o devido crédito.
Agradeço a leitura e observações e espero que tenhas gostado da matéria. Ela realmente foi uma pioneira e um exemplo para todos nós. Merece sempre ser lembrada e é um norte para as atuais e futuras gerações.
Parabéns. Não tinha este conhecimento. Obrigada pelas informações acerca desse assunto.
ResponderExcluirValmir... eu já tinha algum conhecimento deste casal de médicos que além de profissionais, foram também pessoas que buscaram colaborar com a sociedade lagunense e outras, muito além da prática médica. Entretanto, você disponibilizou uma rica matéria... nos permitindo conhecer muito mais. Parabéns pelo excelente trabalho!!!
ResponderExcluirAbraço do Adolfo Bez Filho - Joinville / SC