Quando das obras no Mercado Público e sua entrega em 1º de fevereiro de 2020, desapareceu
a histórica placa de bronze afixada na parede interna quando da inauguração do prédio em
1958 pelo médico e prefeito Walmor de Oliveira. Lá esteve durante 62 anos. Pois sumiu, ninguém sabe, ninguém
viu. Vem se somar a outras placas históricas de prédios e monumentos que desapareceram com o passar dos anos. Com
isso outras placas foram fixadas com “novos pais da criança”.
Na Laguna há a
péssima mania de retirar as placas inaugurais de prédios públicos, praças e
monumentos, quando são efetuadas obras de restauração/revitalização.
Basta uma obra
para que o governante de plantão, todo vaidoso, tasque lá na parede, quando de
sua reinauguração, uma placa com seu nome em letras garrafais para que fique
registrado à posteridade.
É até aceitável,
há que se perpetuar o momento para futuros fins políticos.
Mas o que não se
pode fazer é sumir com a placa inaugural, histórica, porque traz datas e nomes
da época, como um batismo do patrimônio histórico.
Acho que é uma
maneira Orweniana de apagar ou reescrever a nossa memória. Ou para usar uma
expressão atual, criar uma nova narrativa.
São vários os
exemplos
São vários os
exemplos desses sumiços. Alguns casos foram furtos, mas também nunca mais as placas foram repostas.
Cito o
busto de Giuseppe Garibaldi, no Jardim Calheiros da Graça e o busto de Jerônimo
Coelho, na praça do mesmo nome, que ganharam novas placas e datas com “novos nomes de pais
da criança” que nada fizeram por esses monumentos.
O Monumento a Domingos de Brito Peixoto é mais um exemplo. Placas sumiram e não foram mais recolocadas ou substituídas.
A mais recente
placa de bronze a desaparecer foi a do Mercado Público (foto no começo desse post), que estava afixada na
parede à esquerda do corredor da entrada frontal.
Era a placa
original da inauguração do prédio feita pelo médico e prefeito Walmor de
Oliveira em 1958. Lá ficou durante 62 anos!
Pois sumiu, ninguém
sabe ninguém viu.
Espera-se que
com o Museu Anita Garibaldi não aconteça o mesmo, depois de finalizadas as intermináveis
obras.
Histórico da
inauguração do Mercado Público em 1958
O prefeito Walmor de Oliveira governou Laguna de
31/01/1956 a 30/01/1959. Venceu as eleições de 1955 pela coligação PSD/PTB,
obtendo 3.791 votos.
Uma de suas promessas de campanha foi dotar a cidade de um
novo e moderno Mercado Público. O primeiro Mercado havia sofrido um grande incêndio em 20 de agosto de 1939.
Para sua concretização, uma parte da Lagoa Santo Antônio
dos Anjos foi aterrada, com pequena alteração no formato do cais de granito.
Os trilhos da Estrada de Ferro já cruzavam o centro da
cidade em direção ao novo Porto, transformado em Carvoeiro pelo Decreto nº
4.676, de 16/09/1939 assinado pelo presidente Getúlio Vargas, e situado quase
no início dos Molhes da Barra, entre os bairros Magalhães e Mar Grosso.
Mercado Público inaugurado em 19 de janeiro de 1958 pelo prefeito Walmor de Oliveira. Foto: Bacha. Acervo: Valmir Guedes Jr. |
O leitor leu bem. A construção durou APENAS UM ANO!
Bons tempos em que as obras começavam, não se arrastavam e
eram logo concluídas.
Mas para isso tinha que ter pulso e ser um verdadeiro gestor.
E um líder, antes de tudo.
Qualidades que hoje em dia . ..
Nos altos do Mercado foi instalada a prefeitura e anos depois a
Câmara de Vereadores.
Na ocasião, discursos do prefeito Walmor de Oliveira, do
secretário geral do Governo (não havia a figura do vice), jornalista José
Duarte Freitas (Zeca Freitas), do presidente da Câmara de vereadores da Laguna,
Henrique Bittencourt de Bona e do prefeito de Florianópolis, Osmar Cunha,
convidado.
As solenidades foram abertas com a benção do padre Osni
Rosembrock, vigário da paróquia lagunense.
Após, as “autoridades e convidados dirigiram-se ao
Clube Blondin, onde lhes foi servido lauto almoço, oferecido pelo governo do
município”.
E finaliza a matéria de capa do jornal O Albor,
edição nº 2719, de 25 de janeiro de 1958, de onde retirei os dados:
“Durante o ágape falaram os srs. Artur Teixeira e Alcides
Cascais, enaltecendo e aplaudindo a meritória iniciativa do Dr. Walmor de
Oliveira, e bem assim o jovem conterrâneo Norberto Ungaretti que mais uma
vez empolgou os presentes com sua oratória fluente e repassada de entusiasmo.
Apreciável, durante a festa em apreço, foi também a
participação de nossas bandas musicais União dos Artistas e Carlos Gomes, que
executaram vários de seus mais apreciados dobrados”.
E assim vão acabando com nossa memória. O Iphan não viu isso na época?
ResponderExcluirValmir, parece que é proposital apagar, sumir com nossos registros históricos. Querem os seus nomes no bronze ou agora nas placas de acrílico. O passado que se exploda. Sem falar que muitos nem são daqui, não conheceram nem querem conhecer nomes e fatos de nossa história. A não ser que possam faturar de alguma maneira.
ResponderExcluirConcordo com a Rosângela, o Iphan na época não viu isso?
Parabéns Valmir por contar aos seus leitores , verdades. Mas agora o que fazer para colocar esses objetivos em seus devidos lugares? Já não se fazem mais gestores como antigamente.
ResponderExcluirQuando reformaram o prédio da Carlos Gomes também levaram de lembrancinha a placa de bronze da sede...prepare qdo forem limpar a estátua do Porto VAI ficar só as pedras ...abraços meu amigo. 🤗
ResponderExcluirValmir, furtadas, refundidas, guardadas por colecionador fetichista, o certo é que, se um Sherlock Holmes moderno fosse contratado, quem sabe não encontraria um cemitério de placas históricas sequestradas em algum recanto remoto. Abraço
ResponderExcluirA empresa que fez a restauração que devia dar conta disso. E os órgãos de fiscalização do património também.
ResponderExcluirE já que sumiu que tal colocar outra placa com esses dizeres? Pelo menos resolvia parcialmente o problema.
A essa hora sendo placa de bronze já era.
E o Sino ?
ResponderExcluirÉ no mínimo bizarro uma cidade histórica não cuidar do seu patrimônio. Sou Historiador, já lecionei na rede pública e pude observar que nossos jovens estão carentes de informações referente a nossa História. Outra bizarrice é com o tanto de tecnologias que temos a nosso favor, que na maioria são utilizadas para futilidades ainda ficamos na escuridão da ignorância histórica. Nossos Imperadores Pedro I e posteriormente seu filho, Pedro II que na minha modesta opinião foi nosso melhor governante, já estiveram em nossa cidade e não há sequer uma menção sobre o fato... Triste, muito triste... essa é nossa "Pátria Educadora"!! Seu blog é fantástico Valmir, Parabéns!!!!
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