Deu entrada na Câmara
de Vereadores o Projeto de Lei nº 0060/2023, que risca o nome de Domingos de Brito Peixoto como fundador da Laguna e o transforma em mero povoador. Os novos fundadores da Laguna passariam a ser dois freis espanhóis.
O documento também altera a
data em que é comemorado oficialmente há 48 anos, a fundação da Laguna, de 29 de julho de 1676 para 1º de dezembro de 1537.
O projeto é
assinado pelo vereador Rodrigo Bento (PL), mas é todo ele baseado nas ideias,
pontos de vistas e propostas do ex-prefeito Cadorin, que já as apresentou informalmente no
ano de 2019 no plenário da Câmara.
Domingos de Brito Peixoto perde o título de Fundador da Laguna e é rebaixado a povoador, diz o projeto. |
Domingos de Brito Peixoto vai perder o título de fundador da Laguna...
Logo ele o desbravador bandeirante vicentino paulista que obteve Carta-Régia da Coroa Portuguesa o autorizando oficialmente a fundar a Póvoa lagunense em 1676, data que consta
em dois documentos citados e mostrados por historiadores de renome e assinados por seu filho Francisco de Brito Peixoto, presente quando da fundação.
Além disso, o citado projeto altera a data de fundação da Laguna, uma efeméride que vem sendo comemorada oficialmente desde 29 de julho de 1975, portanto há 48 anos, criada pela Lei Municipal nº 15/1975, de 02/05/1975.
E que nunca foi feriado, ao contrário do que diz a justificativa do Projeto.
Alterações merecem amplas discussões e um parecer do IHGSC
Mudanças dessa magnitude mereceriam,
no mínimo, amplas discussões com a sociedade, sobre os contraditórios, sob os
diversos pontos de vistas históricos.
Afinal, entre
historiadores e pesquisadores há muitas divergências e controvérsias históricas. Há variados entendimentos e pontos de vistas.
Há documentos interpretados sob a perspectiva que lhes confere o pesquisador/historiador.
Querem dois exemplos?
1 - O chamado Mapa-Múndi (Planisfério) de Alberto Cantino. Para muitos historiadores várias informações nele contidas foram feitas a posteriori, afinal esteve desaparecido durante anos, dado até como perdido. Pesquisem.
2 - Outra divergência entre pesquisadores e historiadores são os relatos de que o Apóstolo Tomé (Sumé na tradição indígena) teria passado pelo Brasil. Há até pegadas atribuídas a ele, na Bahia.
Em "Visão do Paraíso", Sérgio Buarque de Holanda diz que "O mito de São Tomé é o único mito da conquista de procedência luso-brasileira".
Outros historiadores afirmam que o mito teria surgido da junção entre um mito cristão e um mito indígena que os jesuítas teriam se apropriado para dar um novo resignificado.
Enfim, não vou me alongar porque o assunto é complexo, cheio de nuances e interpretações e pontos de vistas. Dá para escrever um livro.
Ou uma série de "considerandos", tão em moda.
É um projeto que precisa ser mais debatido. E analisado
Um projeto mudando o nome do fundador e data de fundação de um local precisa de maiores estudos, mesas redondas, seminários com pesquisadores,
historiadores, escritores, estudantes e professores.
ALÔ, ALÔ VEREADORES
DA LAGUNA, um Projeto de mudança dessa natureza, em minha humilde opinião, necessitaria, pelo menos, de um parecer da
Fundação Catarinense de Cultura e, principalmente, de historiadores do Instituto Histórico e
Geográfico de Santa Catarina (IHGSC) para embasar, avalizar ou não, os argumentos para se fazer tão drástica mudança.
Sinceramente gostaria de ouvir o renomado pesquisador e escritor João Carlos Mosimann (membro do IHGSC) que em sua bem embasada obra "Catarinenses - Gênese e História", diz:
"Pequenos núcleos feitos por sobreviventes de naufrágios não caracteriza um pólo dinâmico de povoamento, nem o início de um processo de colonização, pois ocorreram interrupções no processo.
Em consequência, os historiadores não podem atribuir-lhe qualquer missão histórica de povoamento".
Gostaria de ouvir o meu professor de história da UFSC Nereu do Vale Pereira autor de inúmeras obras consagradas e membro ele também do IHGSC, além da Academia Catarinense de Letras.
Enfim, um projeto propondo tais alterações, alterando o nome do fundador de uma Póvoa e a data de fundação, ao meu ver, não pode atender aos desejos, aos argumentos, pontos de vistas, alegações e
embasamentos de uma só pessoa.
Pois é.
Uma hora alteram
trajetos tradicionais por onde passa o padroeiro Santo Antônio dos Anjos. Logo
depois proíbem as nossas bandas de participarem de Transladações e Procissões.
Mais adiante
trocam placas dos nossos monumentos históricos, inserindo novos nomes, novos
pais da criança, de gente que nem colaborou ou participou de sua criação e
instalação.
Pouco depois
trocam nomes de ruas, avenidas e praças.
E assim vão apagando as tradições, as lembranças, a memória, as datas e os nomes de vultos da nossa
história.
Vai ser aprovado?
É bem provável que não haverá protesto nem discussão em plenário por parte dos vereadores, já que alguns deles aceitam passivamente esses tipos de alterações sem se manifestarem. Aliás, como vimos há pouco tempo na proposta de mudança do nome da Praça Archimedes de Castro Faria.
E será sancionado pelo atual prefeito, que detém a maioria na Câmara e concorda com a mudança.
Deve ser até por isso que as placas informativas e com o nome do fundador no monumento em frente ao Cine Teatro Mussi não foram repostas pela Fundação Lagunense de Cultura.
Tantos problemas para serem resolvidos
E por fim, nesse momento ninguém
está ligando para esses tipos de alterações históricas, com tantos problemas imediatos e graves que a
população lagunense vem enfrentando.
E a gente se pergunta:
Tantos problemas
na cidade para os vereadores se debruçarem e buscarem resolver, como a precária infraestrutura do município.
Os péssimos serviços públicos oferecidos à população, à exemplo da iluminação pública, a Estação
Ferroviária abandonada, o restaurante-escola fechado, prédios públicos se
deteriorando, Campo do LEC abandonado, várias denúncias de irregularidades apresentadas ao MP e outras surgindo nas redes sociais, Ponte do Pontal, insegurança da população, etc. etc.
Mais mudanças
Fiquem certos, vem
mais mudanças desse tipo por aí.
Não estranhem se daqui a pouco surgirem projetos de leis visando
alterar o Brasão da nossa Bandeira, já que constam dois desenhos de bandeirantes nela, suas cores e até a Letra do nosso Hino.
Quem sabe mudar até o nome da cidade.
Questão de
tempo.
Muito triste o que está acontecendo com Laguna, se já não bastasse o desleixo com a cidade, agora também com sua história. O que realmente tem que mudar é o executivo e o legislativo nas próximas eleições.
ResponderExcluirQual historiador participou da formação do documento apresentado por Cadorin? Com base em qual estudo? Estão de brincadeira!
ResponderExcluirQue absurdo isso, Valmir. Alterar até o nome do fundador da cidade. Não acredito! É muita ousadia.
ResponderExcluirÉ querem alterar assim, da noite pro dia. Entregam o projeto numa sexta-feira e certamente já vai hoje pra primeira votação. Na correria, de afogadilho, para aprovar mesmo.
Absurdo dos absurdos. É toda hora querendo alteração da nossa história e de nossos vultos.
Eita Laguna!
Valmir, se ninguém protestar daqui a pouco vão mudar até o nome da nossa cidade. Incrível isso. Como pode? E o projeto foi protocolado já na noite de sexta feira e deve entrar em primeira votação ainda hoje. Que rapidez hein? A quem interessa?
ResponderExcluirESTÃO PISANDO NA NOSSA HISTÓRIA , ESTÃO CRIANDO OUTRAS NARRATIVAS E É BEM CAPAZ DESSES VEREADORES QUE PARECEM NÃO TER MAIS O QUE FAZER ALTERAREM MAIS ESSE FATO HISTÓRICO.
ResponderExcluirMUDAM NOMES DE PRAÇAS, NOMES DE RUAS, NOMES DE AVENIDAS. NÃO QUEREM NEM SABER QUEM SÃO OS HOMENAGEADOS.
VÃO TRABALHAR PELO POVO. LAGUNA TÁ CHEIA DE PROBLEMAS.
Valmir, toda hora é isso. Querem mudar tudo na Laguna. Querem apagar nossa história, alterar nomes de logradouros.
ResponderExcluirMe admira um vereador que se diz professor de história se deixar levar pelo canto da sereia.
Querem é aparecer.
Estou mandando pra todos os meus contatos e pedindo que quem vota em Laguna não vote jamais nesse cara.
Vou mandar também pra historiadores e órgãos culturais.
Vão procurar um tanque pra lavar uma Zorba.
A Laguna com tantos problemas. Vão trabalhar cambada.
Não, é inacreditável! Vejo como audacioso, pretensioso, anacrônico, descabido, desrespeitoso, petulante, inusitado e, porque não dizer, sensacionalista, o teor de tal projeto de lei. Alguém está querendo capitalizar, atrair ou afastar as atenções, só pode ser. Ademais, para se avaliar, apresentar, tratar e discutir um assunto de tamanho quilate como este, se faz necessário um amplo e rico debate; debate plural, de altíssimo nível, por detentores de currículos acadêmicos elevados. É, como diz a máxima, em terra de cego, quem tem um olho é rei. A seguir do jeito que a moda dita, pobre Lagunamada. Parabéns, Valmir, por tirar mais esse véu. Abraço
ResponderExcluirLi as justificativas do projeto. Todos aqueles dados ali inseridos podem ser contestados. Os historiadores divergem em muita coisa.
ResponderExcluirDois freis espanhóis que aqui naufragaram e ficaram 3 anos e depois foram embora vão ser considerado fundadores da Laguna?
Absurdo isso.
Eles não vieram pra fundar nada, não era intenção. Iam pra Assunção no Paraguai.
Que coisa né?
E um vereador se presta a isso?
É muita ousadia mesmo. Que o eleitor lagunense anote bem o nome dele e ano que vem mande pra casa . Absurdo.
Excelentes argumentos, Valmir, parabéns! É um absurdo a proposta do referido vereador! Ao citares Carlos Mosimann, resumiste a história: não é porque estiveram aqui padres, náufragos ou quem quer que seja, que a povoação, hoje cidade de Laguna, tenha sido fundada por eles. Pelo contrário, a documentação histórica existente confirma o protagonismo de Domingos de Brito Peixoto neste ato, atendendo aos interesses portugueses no Sul do Brasil. Não fosse assim, muito antes dos freis espanhóis, teriam sido os indígenas os verdadeiros "fundadores" de Laguna. Os primeiros povoadores sim, não fundadores. Este ato coube a Domingos de Brito Peixoto na segunda metade do século XVII, e é um dado histórico comprovado, portanto, inquestionável, sobretudo, a partir dos argumentos rasos apresentados nessa proposta da Câmara de Vereadores. Querem fazer em Laguna o mesmo erro grosseiro cometido em São Francisco do Sul, onde, por razões marqueteiras, para torná-la uma das cidades mais antigas do Brasil (o que absolutamente não é), teve sua fundação atribuída a um naufrágio francês ocorrido em 1504, o que é um completo absurdo!
ResponderExcluirValmir, tomei a liberdade de compartilhar teu artigo no Instagram e Facebook, pois entendo ser necessário que o maior número possível de pessoas tome conhecimento desse absurdo. E como eu já imaginava, as reações estão sendo de indignação. Muito obrigado, um abraço!
ResponderExcluirValmir... parabéns por nos informar com riqueza de detalhes, mais uma iniciativa descabida da Câmara de Vereadores da Laguna. Os comentários até agora efetuados demonstram a realidade dos fatos e apontam o desrespeito de alguns dos nossos vereadores para com a cidade, sua história e seus habitantes . Todos sabemos que a Laguna necessita urgentemente de medidas relacionadas com a melhoria da infraestrutura (que está precária), assim como, outras ações que tornem a cidade melhor para os habitantes e turistas. É importante que a população lembre bem destes "nomes" e de outros que prejudicam nossa terra... e, na próxima eleição de 2024 para Prefeito e Vereadores, dando o merecido desprezo... não votando neste pessoal.
ResponderExcluirGrande abraço do Adolfo Bez Filho - Joinville / SC.
Laguna tem um tumor maligno no seu cerne cultural, histórico, erudito, intelectual...
ResponderExcluirÉ falta (não) é fraca capacidade de lidar com as coisas de Laguna, que estão de mal a pior!!!
ResponderExcluirComo já criaste em dois trechos da reportagem!!!!
Cada vez mais me convenço de que nossa terra está virando uma "PAPUÁZIA", todos mandam conforme seus interesses!!!
Como dizia minha saudosa mãe: vão pegar um tanque cheio de roupa cag......a.