Vários foram os acontecimentos ao longo desses
mais de 3 séculos que ficaram registrados nesse chão do sul do Estado.
Se a terra lagunense foi palco e cenário de muitos
feitos heróicos que mereceram o registro nos anais da história pátria, foi,
igualmente, lugar de sórdidas tramas, de mesquinhas atitudes e de acontecimentos
nefastos tramados nos bastidores.
Das maledicências não escapou nem mesmo
Francisco de Brito Peixoto, o filho do fundador da Laguna, Domingos, que chegou
a ser encarcerado em 1720 pelo juiz da Vila, Manoel Gonçalves Ribeiro, por
ordem do governador do Rio de Janeiro e para lá Francisco foi enviado, preso,
conforme nos conta o historiador Oswaldo Rodrigues Cabral em sua obra
intitulada: “Laguna e Outros Ensaios”,
às páginas 47 a
59 , e editada em 1939.
Encarcerado devido às intrigas de um tal de Manoel
Manso de Avelar ("que apesar do sobrenome não era manso coisa nenhuma"), residente
na Ilha de Nossa Senhora do Desterro. Um mandão, lá da Freguesia de Santo
Antônio de Lisboa.
Diz Cabral, que Francisco Brito soube se
inocentar, acusando Avelar e o juiz Ribeiro de formarem uma quadrilha que explorava
contrabando e navio negreiro. (Não me
admira que quisessem destruir o correto e honesto Francisco de Brito Peixoto).
Os acusados conseguiram se safar e voltaram a
Desterro dois anos depois. Mas escreve Oswaldo Cabral que os acontecimentos de
tal maneira prejudicaram Brito que mais no futuro de nada lhe adiantaram os
pedidos ao El Rei, no Rio de Janeiro, de “um
quinhão de terras para a lavoura”.
Pedido negado logo a ele que depois de tantos
sacrifícios e dedicação à sua pátria, onde empregou todos os seus recursos pessoais
na povoação e exploração das terras ao sul. Logo a Brito, heróico bandeirante
paulista, “patriarca da família rio-grandense”, com seus gestos patrióticos e
de resignação.
O pedido de terras foi negado porque uma comissão da Laguna já havia
enviado documento assinado ao El Rei, “fazendo
sua caveira”, onde afirmava que Brito Peixoto não havia ajudado a desbravar
o sul. Deslavada e calhorda mentira!
Atente ao detalhe:
um grupelho de lagunenses mandou um documento direto ao Rei, fazendo
fofoca.
Veja só!
Ir à Capital ou remeter um documento falando mal
de um conterrâneo, tentando
destruí-lo, já acontece desde aquela época!
Desde
1720 !!!
Iam à Desterro a cavalo, ou pelo mar, a bordo
de palhabotes para fazer fofocas. Nada diferente do que acontece hoje e bem
mais rápido do que naqueles tempos.
Pois por conta dessas fofocas, Francisco de
Brito Peixoto morreu na miséria, esperando suas terras, tendo ao lado somente
sua amada sobrinha, Ana de Brito, mulher santa que o confortou em seu leito de
morte, conta Cabral.
E finaliza na página 112, que “Da
terra bastava-lhe agora àquela que recebera o seu velho e cansado corpo. Assim
recompensou El Rei ao seu vassalo”.
Como se vê, há sempre na Laguna uma comissão
no meio do caminho. E sempre foi esse tipo de comissão que prejudicou esta
cidade ao longo de toda sua história. Comissões formadas, na maioria das vezes,
por pessoas que se dizem representantes da Laguna, mas que cruelmente emperram
o progresso desta terra e da sua gente, visando quase sempre seus próprios interesses.
Comissões que chegaram a esbarrar-se em
ante-salas de governadores e autoridades outras, cada uma puxando para o seu
lado, impondo dificuldades, dividindo e enfraquecendo.
Uma comissão entrava no gabinete solicitando
algo para a cidade. Em seguida outra comissão visitava a mesma autoridade e
também solicitava, só que ao contrário, que o pedido anterior não fosse atendido. Laguna só perdia.
Mesmo nos dias atuais, certos acontecimentos e
atitudes maculam o caráter e a honestidade de muitos homens de bem que aqui
nasceram e deixaram suas marcas, sempre em defesa da Laguna. Sempre por Laguna,
honrando e lutando pelas mais legítimas reivindicações de seu povo e sua gente.
A união, por esses lados, nos dicionários de
muitos, não existe. É ausente. Brigas, picuinhas, ciúmes políticos (e ciúme
político de homem é mil vezes pior do que ciúme de amor de mulher),
questiúnculas, disse-que-disse e fofoquinhas vão se sobrepondo a tudo e todos.
União! Eis a palavra chave. Enquanto este
sentimento não vicejar por aqui continuaremos de pires na mão, “pedinchões”, aceitando
migalhas e lamentando as reivindicações nunca atendidas.
Alguém comentou que nas ruas da Laguna vive um bando de desencarnados a incomodar os encarnados. Será que estes que prejudicaram Domingos Brito Peixoto ainda não estão por aqui?
ResponderExcluirOlha, não é de duvidar.
João Carlos Nunes
Parabéns pela postagem Valmir, vivemos como 1720 e ainda não aprendemos, triste mas verdadeiro. Infelizmente a vida segue assim, algumas gerações simplesmente não existiram, passaram por entre os anos e não produziram e deixaram louros, só deixaram a terra de Anita mais empobrecida e sem cor.
ResponderExcluirÉ o que sempre digo...a sociedade local não é livre, sendo refem de favores politicos seculares, os quais atravessam gerações, pois o poder publico sempre foi o principal empregador da cidade. Tudo em nome de interesses privados enquanto não se pensar de forma coletiva, Terra de Anita sempre padecerá. Mari Ghedin.
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