sábado, 9 de julho de 2022

+ Faleceu Maria Estelita Barreto

 
Faleceu neste sábado (9), aos 97 anos no Hospital Senhor Bom Jesus dos Passos, a educadora Maria Estelita Barreto.
Maria Estelita Barreto
O velório acontece na Central de Luto Cristo Rei, próximo à Escola de Ensino Médio Almirante Lamego (Ceal) até às 23h de hoje. Retornando amanhã (domingo) às 8h com sepultamento às 15 horas do mesmo dia no Cemitério da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Santo Antônio.

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Maria Estelita Barreto nasceu em Imaruí em 10 de outubro de 1924, filha de Júlio Heleodoro Barreto Júnior e Águeda (Capanema) Barreto.
Foi professora Normalista do Grupo Escolar Jerônimo Coelho a partir de 1947 e alguns anos depois nomeada por concurso diretora do Grupo Escolar Carlos Gomes, em Imaruí. Exerceu o cargo de direção em outros estabelecimentos escolares, entre eles o Grupo Escolar Visconde de Taunay, em Lauro Müller. Depois, foi nomeada por concurso Inspetora Escolar, lotada em Tubarão. De 1962 a 1978 assumiu o cargo de Coordenadora Local de Educação na Laguna.

Teatro
Maria Estelita atuou no teatro lagunense na década de 1950. Pertenceu ao Grupo Dramático Dr. Mota que era ligado à Paróquia Santo Antônio dos Anjos e tinha em Francisco de Paula Carneiro (Chico Malaquias) o seu baluarte. Os ensaios e apresentações aconteciam no prédio dos Vicentinos, ao lado da Igreja Matriz.

Rádio
Atuou também no rádio-teatro lagunense, através das novelas que eram apresentadas em tempo real, como "Salão Grená". Osmar Cook (autor do hino da Laguna) era quem escrevia os textos, ao lado de outros profissionais do rádio, como Eraldo Silveira.

Homenagens
Em 1998 recebeu a Comenda da Ordem Domingos de Brito Peixoto das mãos do prefeito da Laguna João Gualberto Pereira.
Em 2009 pelo decreto Legislativo 0020/2009 Estelita Barreto foi homenageada com o Título de Cidadã Lagunense, por relevantes serviços prestados à nossa cidade.
Em junho de 2012 foi homenageada em sessão solene pela Câmara de Vereadores da Laguna quando do tributo ao Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina pelos 50 anos de sua fundação. À ocasião foram também homenageados a professora Hilda Soares Bicca e o professor Jairo Ulysséa Baião. Era presidente do Conselho o lagunense, professor Maurício Fernandes Pereira.
Após sua aposentadoria em 1981 d. Estelita dedicou-se às atividades religiosas e beneficentes na igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos. Era moradora há muitos anos do bairro Campo de Fora.

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Entrevista com a professora Maria Estelita Barreto

Em 2008 Maria Estelita Barreto concedeu entrevista à professora e escritora Maria de Fátima Barreto Michels. O tema foi o teatro e o rádio-teatro na Laguna na década de 50 em que ela participou. A matéria foi publicada na Revista Literária Balaio das Letras nº 02, publicação do Grupo de Escritores Lagunenses Carrossel das Letras –GEL: 

Quando a sra. começou a atuar no teatro e que características marcavam a dramaturgia em Laguna, nos anos 50?
 Estelita – Comecei a representar em dramas e comédias quando, ainda interna no Colégio São José, em Tubarão, fazia o Curso de Normalista. Depois de formada, ao retornar à Laguna, fui convidada pelo sr. Francisco de Paula Carneiro (Chico Malaquias), que atuava no grupo ligado à Associação dos Vicentinos. A dramaturgia em Laguna era uma atividade amadora, realizada por pessoas que representavam por amor à arte. Cada um tinha seu emprego durante o dia e, à noite, ensaiávamos no prédio dos Vicentinos. O “Grupo Dramático Dr. Mota” era ligado à Paróquia da Igreja Matriz de Santo Antônio. Nossa apresentação em geral constava de um drama ou uma comédia acrescida ao final do chamado Ato Variado, em que atuavam moças com números de canto, dança e música.

 Que peças a sra. nos citaria como recordação de sucesso de bilheteria?
Estelita – Naquela época o teatro sempre fazia sucesso, porque era o que havia de lazer cultural para as famílias lagunenses, mas gostaria de citar uma peça em três atos, um drama de autoria de Jarbas Bayeus, cujo título era “A Carteira Fatal”.
Na comédia, fizemos grande sucesso com “Cala a Boca, Etelvina”, de autoria de Armando Gonzaga, que, depois, virou filme estrelado por Dercy Gonçalves. Estes textos em geral vinham do Rio de Janeiro e São Paulo, mas tivemos autores daqui como Osmar Cook e Eraldo Silveira, que escreveram para as rádios-novelas.

Então a sra. atuou no teatro e no rádio? Poderia falar da rádio-novela?
Estelita- Sim, as novelas da Rádio Difusora faziam muito sucesso naquela época. Novamente a convite do sr. Chico Malaquias fui atuar no rádio. Convivi com profissionais da competência de Nelson Almeida e Carlos Horn, que eram diretores. Um programa que fez muito sucesso foi “Salão Grená”, onde as novelas iam ao ar em tempo real.

Poderia nos falar dessa experiência da rádio-novela, em comparação com a atuação diante do público no teatro? E com quais atores a sra. trabalhou? Quais os lagunense que atuaram no teatro e no rádio?
Estelita – A experiência da rádio-novela era gratificante, porque gerava uma empatia muito grande com o público e havia uma abrangência ampla, que o rádio atinge. Na rádio-novela, podíamos emprestar nossas vozes e emoções a qualquer personagem, o que não é tão simples, quando atuamos no palco. No estúdio, ao microfone, fazemos a princesa e a megera com maior facilidade. Os atores que trabalhavam na rádio-novela era Chico Malaquias, Osmar Cook (que escrevia os textos também) e o próprio sr. Nelson Almeida, que fazia pontas nas novelas, além de muitos outros.
No teatro, havia atores como Lauro Barreto, Manoel de Oliveira, Miguel Faísca, Lídia Abrahão, Glorinha Roberge, Rinalda Eghert, Nelcides Ghiraldelli, Milton Castro, Antônio Capanema Barreto (meu irmão), Zaira Mattos (estudante imaruiense, em Laguna) e muitos outros.

 Havia outros grupos de teatro em Laguna? Quanto tempo uma peça ficava em cartaz? Vocês levavam o espetáculo a outras cidades?
Estelita – Uma peça era encenada umas cinco vezes e, com raras exceções, não costumávamos viajar com nosso grupo para apresentações fora de Laguna. Sim, havia outro grupo de teatro muito bem estruturado em Laguna, do qual fazia parte a professora Hilda Soares Bicca, atriz de excelente atuação no palco. Este grupo encenava suas peças no Cine Central.

 A sra. Foi professora da rede pública e particular e lá não havia teatro?
Estelita – Não ensinávamos teatro na escola, mas houve eventos onde o professor Pedro Piva convidou-nos e lembro de colegas como Mirtes Oliveira, por exemplo, que atuou. Eram peças com finalidade beneficente, em prol da Caixa Escolar do Grupo Jerônimo Coelho, onde lecionávamos.

Poderíamos dizer que a arte dramática realizada pela sua geração foi o mais belo projeto vivenciado em sua juventude?
Estelita – Sem dúvida. As atividades do teatro e do rádio preenchiam nossas horas ociosas de forma muito agradável e foi um belo projeto que realizamos na juventude.
 
A Revista Balaio das letras esqueceu algo que a sra. gostaria de comentar?
Estelita – Acrescentaria que a convivência com meus irmãos Lauro e Antoninho, no teatro lagunense dos anos 50, foi uma linda fase vivida. Diria também da minha admiração pelo talento do ator que foi Lauro Barreto. Agradeço a oportunidade que a revista Balaio das Letras me ofereceu. Muito obrigada!

 O prazer foi nosso, professora Maria Estelita Barreto! Nós é que agradecemos tão agradáveis momentos!




4 comentários:

  1. Obrigada querida professora e amiga dos pobres e necessitados!! Grande mulher e educadora, qdo saiu de Imaruí chorei sua falta. Descanse em paz!

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  2. Geraldo de Jesus10/07/2022, 12:34

    Foi uma batalhadora

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  3. Muito importante para a educação lagunense, muito correta e exigente.

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  4. Valmir.... conheci a professora Maria Estelita Barreto já como Inspetora Escolar, quando no início dos anos 70 estava cursando o Ginásio Almirante Lamego, sendo que uma ou duas vezes por ano ela passava nas salas de aula e fazia perguntas aos alunos. Muitos anos depois conversando com antigos colegas de aula, ao comentarmos sobre estas "visitas da inspetora'... sempre era comentado o quanto ela dava importância ao contato direto com os alunos, já que não se limitava a converar com os diretores e professores, mas, buscava saber diretamente dos alunos na sala de aula. A sua matéria me permitiu conhecer mais dela e percebo que ela foi muito além da profissão... foi uma Grande Mulher.!!
    Abraço do Adolfo Bez Filho - Joinville / SC.

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