Há algumas semanas (ou já serão meses? Sim,
meses, constato. Foi no início de fevereiro deste ano) abordei aqui, inclusive
com fotos, sobre peças e mobiliários do Museu Anita Garibaldi que ainda se
encontram depositados (jogados) nas dependências da Biblioteca Municipal.
Para (re)ler a matéria basta clicar aqui:
A denúncia mereceu inclusive destaque no
Grande Expediente da Câmara de vereadores. Vereador Andrey Pestana de Farias (PSD),
abordou o fato.
Pois bem. Vocês acham que providências foram
tomadas? Que no dia, semanas, meses seguintes as citadas peças e móveis retornaram
ao Museu?
Nada disso.
Fossem outros os tempos, ordens seriam dadas e
cobranças de responsabilidades seriam efetuadas e imediatamente o desleixo com
nossa cultura e história seria sanado.
Mas qual, tudo continua como dantes no quartel
de Abrantes, como se diz. A preocupação parece ser somente com grandes obras
viárias. A cultura lagunense está esquecida.
Soube que o Iphan notificou a Fundação
Lagunense de Cultura quanto à falta de inventários atualizados do Museu e Casa
de Anita, além do acervo Garibaldino.
Depois disso, levantamento começou a ser
realizado. Infelizmente só agora, passado mais de dois anos e sob notificação e
ordens do Iphan, coisa que já poderia ter sido feita no início desta administração.
***
Pois dia desses, ao pesquisar uns livros na
Biblioteca Romeu Ulysséa, me deparei com uma pintura numa moldura em cima de um
armário, na primeira sala à esquerda de quem entra. Alguns alunos e
funcionários presentes à ocasião indagavam quem era o personagem retratado e qual
artista plástico o teria pintado.
O quadro pertence ao acervo do Museu Anita
Garibaldi, mas continua lá, na Biblioteca, jogado sobre um armário, à exemplo de
móveis, como a carteira de 1912, do então Grupo Escolar Jerônimo Coelho, como
já abordei aqui.
Pelo estilo, achei que o artista plástico
poderia ser o Acary Margarida. Mas não tive certeza.
Fotografei a pintura e mais tarde, em casa, ao
ampliá-la na tela do computador, pude confirmar o nome do autor do retrato a
óleo e também do retratado.
Vejamos:
Vejamos:
Eis a pintura que se encontra em cima de um armário lá na Biblioteca. Quem seria o retratado?
E a assinatura de quem o pintou:
Quem foi
Acary Margarida.
Acary
Margarida, nasceu em 12 de Novembro de 1907 e faleceu em 11 de Janeiro de 1981,
em Florianópolis.
Começou
a recebeu noções de desenho e pintura de seu pai, o professor Joaquim Antônio
de Oliveira Margarida e continuou sua trajetória como autodidata. Sua mãe
chamava-se Guilhermina Margarida.
Com uma
família grande (16 filhos) exerceu outras atividades profissionais e foi também
desenhista, engenheiro de plantas do Departamento de Portos e Rios de Santa
Catarina, cenógrafo e carnavalesco.
O
Carnaval foi outra de suas grandes paixões. Fundou em 1939 a Sociedade de
Carnaval Vai ou Racha e, em 1948, a Tenentes do Diabo.
Em
seguida veio Os Granadeiros da Ilha, com carros alegóricos criados e executados
por ele e que se tornaram grande atração. Com seu famoso quadro Pai Jacó,
ganhou medalha de Ouro da Associação Paulista de Belas Artes e participou de
exposições no Brasil em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, e em Montevidéu no
Uruguai.
Durante
mais de 50 anos em que esteve envolvido com o mundo da arte, sua vasta produção
plástica se deu na pintura. Especialista em retratos e paisagens, manteve-se
fiel ao estilo acadêmico, mesmo com a chegada do modernismo em Florianópolis.
Quando
não estava registrando em óleo sobre tela as paisagens da região, se dedicava
ao Carnaval - outra sua grande paixão.
A última
exposição - 115º do artista - foi realizada em 1981, num espaço das Lojas Pernambucanas,
na Capital.
Parte da
obra de Acary Margarida está sob a responsabilidade do Museu de Arte de Santa
Catarina (Masc), garantindo assim a conservação da peça e da memória da cidade.
Em 2010,
Acary foi tema de TCC de sua neta Fabiana Machado Didoné, no Curso de Artes
Visuais, pela UDESC.
Para ler
na íntegra o trabalho basta clicar aqui:
Diz a neta Fabiana que “Acary costumava pintar retratos de personalidades da cidade
como, por exemplo, políticos, autoridades civis e militares, empresários,
médicos, entre outros. Algumas obras realizou em tamanho natural, como os
retratos do presidente Eurico Gaspar Dutra e do Vice Presidente Dr. Nereu Ramos
em 1946. Acary, por diversas vezes, pintava o retrato de alguma personalidade e
depois saía com a tela para oferecer ao retratado”.
Acary Margarida foi homenageado com nome
de rua em Florianópolis.
***
Mas
afinal, quem é o personagem da pintura?
Mais
difícil foi descobrir quem era o retratado. Algumas enciclopédias foram consultadas.
Sabia, evidentemente ter sido o sujeito um militar, pelo traje, pela vestimenta. Mas quem seria? Não era dos mais conhecidos.
Daqui e
dali, após alguns dias finalmente descobri, até porque só existe uma fotografia
conhecida do tal sujeito a quem o artista Acary o homenageou com seus pincéis e
tintas, em seu estilo.
Dr. João Muniz Barreto de Aragão
Trata-se
do coronel médico Dr. João Muniz Barreto de Aragão, Patrono do Serviço de
Veterinária do Exército Brasileiro. Nascido a 17 de junho de 1874, na província
baiana de Santo Amaro, filho de Maria Tereza Muniz de Aragão, Baronesa de Mataripe,
e de Antônio Muniz Barreto de Aragão, Barão de Mataripe, João Muniz Barreto de
Aragão foi Médico, formado pela Faculdade de Medicina da Bahia.
Faleceu
em janeiro de 1922, acometido por uma síncope cardíaca, aos 48 anos de idade,
após .
Em 1897
iniciou suas atividades profissionais pelo interior daquele Estado. Em 7 de
setembro de 1900 foi nomeado Médico Adjunto do Exército. Em 1901 prestou
concurso de admissão ao Corpo de Saúde, sendo aprovado em segundo lugar. Em 19
de abril de 1901 foi nomeado 1º Tenente Médico do Exército. Em 1904 realizou
seu grande sonho: foi designado para o Laboratório Militar de Bacteriologia. Lá
ocupou, dentre outras, a função de Diretor e onde foram iniciadas as pesquisas
científicas voltadas para Veterinária Militar no Brasil.
O
Presidente Getúlio Vargas, em dezembro de 1940, baixou Decreto-Lei de nº 2.893,
determinando o Coronel Médico Dr. João Muniz Barreto de Aragão, Patrono do
Serviço de Veterinária do Exército, como reconhecimento aos seus esforços para
a fundação e desenvolvimento daquele Serviço.
Para
ler mais sobre Muniz de Aragão, basta clicar em:
Ignoro como essa pintura veio pertencer ao acervo do Museu Anita Garibaldi. Pode ter sido uma doação do próprio autor Acary Margarida. Ou foi adquirido por alguma autoridade que posteriormente a doou ao nosso Museu.
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Eis portanto, leitor, um pequeno relato que aqui faço de obras de arte, de nossa história que estão ao abandono, se perdendo, deteriorando-se, sem maiores atenções e preservações, assim como os monumentos da cidade.
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Eis portanto, leitor, um pequeno relato que aqui faço de obras de arte, de nossa história que estão ao abandono, se perdendo, deteriorando-se, sem maiores atenções e preservações, assim como os monumentos da cidade.
A pintura de Acary Margarida retratando o
Coronel Muniz Aragão é só mais um exemplo.
O povo brasileiro em geral, e infelizmente também muitos governantes, não
tem memória pelos personagens que construíram nossa pátria.
Olá Valmir,
ResponderExcluirParabéns pelo o trabalho. Sou neto do Acary e estou aqui junto com minha mãe Terezinha.
Seria interessante se o MASC restaurasse a obra.
Obrigado
Airton e Terezinha
Parabens pela página camarada!
ResponderExcluirSou médico veterinário do Exército e estudo a história do Cel Muniz de Aragão.
Nunca havia visto a tela.
Se quiser mais informações sobre ele acesse:
medicinaveterinariamilitar.wordpress.com
Eu e colegas militares temos muito interesse na conservação da obra. Há alguma coisa que podemos fazer para ajudar?
Abraço