Vários foram
os lagunenses que se destacaram quando da República Catarinense, em 1839. Evidentemente,
historiadores, pesquisadores, jornalistas e escritores se dedicam em abordar mais a
heroína Anita Garibaldi, seus feitos e glórias, além do romance com o italiano
Giuseppe Garibaldi.
O marinheiro João Henrique
Um dos
participantes das batalhas daqueles dias, conhecido como um homem corajoso e
enérgico foi o lagunense João Henrique Teixeira.
Quem era ele?
Suas origens
são desconhecidas e estão a merecer maiores pesquisas.
Mas sabe-se
que era marinheiro. E dos bons. Foi um dos primeiros a aderir à causa
republicana. Aliás, havia muitos simpatizantes desse regime em nossa região.
Quando da
Tomada da Laguna em 22 de julho de 1839, foi João Henrique Teixeira que,
conhecedor da região, orientou Garibaldi e seu barco “Seival” quando esta embarcação entrou
pela Barra do Camacho e percorreu os pequenos canais e lagoas até chegar ao Rio
Tubarão. Assim surpreendeu, pela retaguarda, as forças imperiais que aguardavam a
invasão pela Barra da Laguna.
O historiador Henrique
Boiteux diz em sua obra que Garibaldi conseguiu transpor a Barra do Camacho “não
sem dificuldades; graças porém à perícia de um prático, filho do local, o
provecto marinheiro João Henrique, com ele subiu o Rio Tubarão”. (A República
Catharinense – Notas para sua história).
Garibaldi em suas Memórias fala sobre o lagunense
Em suas
memórias ditadas a Alexandre Dumas, Garibaldi diz que sem o auxílio do
marinheiro lagunense dificilmente chegaria à Laguna.
E a confiança
foi tanta, assim como a gratidão, que a primeira embarcação tomada aos
legalistas pelos revolucionários republicanos foi entregue provisoriamente ao comando de João Henrique Teixeira. Era uma
canhoneira chamada “Lagunense”, tripulada por doze homens.
Na sessão
extraordinária da Câmara de Vereadores realizada em 12 de setembro de 1839,
David Canabarro foi nomeado em Chefe do Exército Catarinense. O decreto havia
sido assinado em 5 de setembro.
Nesta mesma
sessão a Vila da Laguna foi elevada à categoria de cidade com a denominação de
Juliana, capital do estado. O decreto havia sido assinado em 10 de setembro.
Já na sessão
de 14 de outubro Giuseppe Garibaldi foi nomeado chefe da Esquadra Catarinense
com o posto de capitão-tenente.
Na mesma
sessão foi organizada e nomeada a Esquadra dos pequenos navios e seus
comandantes:
“Rio Pardo”,
comandado por Giuseppe Garibaldi
“Caçapava”, pelo
americano João Grigs
“Seival”, por
Lourenço Valerigini
“Itaparica”, por João Henrique Teixeira
“Santana”, por
Inácio Bilbao e
“Lagunense”,
por Manoel Rodrigues.
Defesa naval ficou a cargo de João Henrique
Nos
primeiros dias de novembro, Garibaldi seguiu para o corso pelo nosso litoral
até Santos. Com isso a defesa naval da Laguna ficou sob o comando de João Henrique
Teixeira.
Henrique
Boiteux em sua obra já citada, diz que ao retornar do corso “Garibaldi
encontrou no tocante à defesa naval tudo disposto para uma séria resistência.
João Henrique não havia desmerecido do conceito em que era tido. Revelou-se um
verdadeiro chefe e espírito organizado”.
Sobre o mesmo
episódio Wolfgang Ludwig Rau em sua extensa obra “Anita Garibaldi – O Perfil de
uma Heroína Brasileira” relata que Garibaldi “Para suprir a sua ausência, encarrega João
Henrique Teixeira, herói lagunense, da defesa do porto, comandando o barco
“Itaparica”.
O “Itaparica”
havia sido comandado pelo imperialista 1º tenente lagunense Ernesto Alves Branco Muniz
Barreto quando do combate inicial em que defendeu Laguna da invasão pelos
farroupilhas.
O comandante
Barreto quando intimado a render-se respondeu a Garibaldi, “que se rendia por se achar
desobedecido, com o navio encalhado e sem meios, portanto, de combater, jamais
por covardia”.
“Garibaldi
apreciou este gesto de bravura”, diz Saul Ulysséa em seu livro “Coisas Velhas”.
O Itaparica queimando à entrada da Barra da Laguna na Batalha de 15 de Novembro de 1839. Óleo sobre tela. Willy Zumblick. |
Quando da
Batalha Naval de 15 de novembro de 1839 em que Laguna foi retomada pelos
imperialistas que tinham em seu comando naval o almirante Frederico Mariath, João
Henrique Teixeira morreu em combate a bordo do “Itaparica”.
“Ele lutou sem
descanso, entre o sibilar das balas e o ribombar dos canhões.
O “Itaparica”
ficou com o mastro partido, todas as suas bordas esfaceladas, costados
avariados e toda sua guarnição morta”.
Em suas memórias Garibaldi narra como foi o
combate de 15 de novembro de 1839:
“O combate foi
o mais terrível e mortífero que se poderia julgar. Anita ficou sempre ao meu
lado, no posto mais perigoso, não querendo nem desembarcar nem aproveitar-se de
nenhum alívio, e sem ao menos inclinar-se como faz o homem mais bravo quando vê
a mecha (pavio) aproximar-se do canhão inimigo”.
E Garibaldi continua
narrando: “Dos seis oficiais que existiam nos navios só eu sobrevivi.
Era um
verdadeiro açougue de carne humana; andava-se por cima de montões de cadáveres;
caminhava-se sobre cabeças separadas dos troncos e a cada passo se tropeçava em
membros dispersos.
Em presença
deste espetáculo apalpei-me e perguntei a mim mesmo como, não me tendo poupado
mais do que os outros, pudera ficar incólume”.
Uma morte terrível
No convés
havia tombado o destemido marinheiro lagunense João Henrique.
Lembra
Garibaldi em suas memórias “que ele foi encontrado deitado no meio de dois
terços de sua tripulação com uma bala que lhe tinha feito no meio do peito um
buraco, por onde podia perfeitamente passar um braço”.
Derrotados na
Batalha, Garibaldi havia recebido ordens de David Canabarro para por fogo nos
navios, evitando assim a abordagem pelos imperialistas. E assim o fez.
Violenta
explosão que atingiu o paiol de pólvora levou pelos ares a embarcação “Itaparica” e os cadáveres de João
Henrique Teixeira e de seus companheiros que tiveram como túmulo o mar ali do
Pontal, defronte à Ponta da Barra.
Enquanto isso Garibaldi, Anita, Canabarro, demais oficiais e soldados partiam pela Passagem da Barra, na chamada Retirada da Laguna.
Sobre a morte do marinheiro João Henrique escreve o historiador Henrique Boiteux “Morreu assim João Henrique Teixeira,
obscuro herói, cujo nome é tão pouco conhecido na história catarinense.
Teve ele por
túmulo as águas da Laguna que banham a sua cidade natal e nas quais tanto se
ilustrou”.
Família "Guimarães Teixeira"
Saul Ulysséa
em seu livro “Laguna de 1880”, conta que o filho do bravo marinheiro João
Henrique Teixeira, chamado Fernando Henrique Teixeira, foi proprietário de uma
casa comercial na rua da Praia (rua Gustavo Richard).
“Era ativo
comerciante e de gênio expansivo tinha sempre uma pilhéria ou ditos prontos
para atrapalhar qualquer um. Usava a barba cerrada, aparada e já grisalha”.
Este
comerciante Fernando Henrique Teixeira era casado com Patrícia Torres
Guimarães. O casal foi tronco da numerosa família “Guimarães Teixeira”.
Em homenagem ao marinheiro João Henrique Teixeira uma rua do bairro Magalhães recebeu seu nome, mais conhecida popularmente como "rua do valo".
Outro herói lagunense. Desconhecia essa história. Parabéns.
ResponderExcluirGrande Valmir! Nos contando histórias que não sabíamos. Continue assim. Parabéns e Deus abençoe.
ResponderExcluirEsses personagens acabam esquecidos, porque o nome de Anita é mais ressaltado na história. Valeu. Muito bom.
ResponderExcluirRealmente sr. Geraldo de Jesus. Aqui em Laguna SC, somente 'Anita ' é lembrada... Só que desta vez na encenação da 'Tomada' 2022, quem foi mais falado e lembrado foi o soldado que foi 'laçado' no lugar do canhão.
ExcluirLinda matéria sobre um outro herói lagunense.Parabéns pela pesquisa e escrito.
ResponderExcluirCaro amigo, fiquei encantado com esta matéria e acima de tudo me deu a certeza de que nós apaixonados pela a hlstoria de Laguna ,cada qual no seu tema de interesse não podemos esmorecer com as dificuldades que se apresentam na nossa caminhada . Da minha parte estou determinado que para os próximos anos me dedicarei à reprodução das antigas embarcações que compunham o cenário do antigo porto do centro histórico. Iates , escunas briques navios de cruz, baleeiras canoas de convés, canoas de um pau todas com propulsão a velas, compartilharam o mesmo espaço com os barcos a vapores e barcos com propulsão a óleo diesel. Todas as histórias que estão no entorno destas embarcações nao devem ser esquecidas. Da minha parte como nautimodelista farei a reprodução destas embarcações como contribuição na preservação da identidade marinheira de Laguna.
ResponderExcluirValmir - muito oportuna esta matéria que nos ajuda a conhecer mais da Guerra dos Farrapos, onde a "tomada" da Laguna pelos chefes revoltosos David Canabarro, Giuseppe Garibaldi, Felipe José de Souza Leão (apelidado de Felipe Capote) e outros combatentes revolucionários... encontraram na Laguna praticamente nenhuma resistência. Assim, no decorrer de pouco tempo temos o romance de Garibaldi com nossa jovem viúva Anita, que acabaram por tornar um evento militar... numa história de amor. Este casal destemido foi o grande motivador que popularizou a fibra da mulher lagunense.
ResponderExcluirCom relação ao barco Seival, foi lamentável que tenha acabado destruído no início (+/- 1915) do século XX, como acontece com muitos "marcos" históricos... onde a população não preserva sua memória. É interessante mencionar que parte dos demais barcos utilizados por Garibaldi e seus bravos marinheiros, foram obtidos a partir do apresamento efetuado enquanto estavam navegando próximo a costa da Laguna com mercadorias, sendo que outros foram "requisitados" (entenda-se confiscados na marra), pois estavam atracados nos seus trapiches. Os proprietários nada puderam fazer para impedir, sendo que muitos que sobreviveram a guerra foram devolvidos aos seus donos, mas, não sem antes terem de dar muitas explicações as autoridades... para que não fossem considerados aliados dos farrapos. Sobre o bravo João Henrique Teixeira e outros citados, foi muito bom que você tenha revelado estes nomes, já que a luta envolveu outros heróis... não ficando restrito apenas ao Garibaldi e nossa heroína.
Grande abraço do Adolfo Bez Filho - Joinville / SC.
O obscuro herói lagunense, João Henrique Teixeira, deve ser lembrado também de outras formas. Entre tantas praças e pontos turísticos, através de placa ou busto. É merecedor, morreu lutando por um ideal, a liberdade.
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