Em
fins do século XIX, Laguna hospedou um terrível bandido.
Assassino,
ladrão, brigão, arruaceiro, suas armas preferidas eram a faca, o punhal e a
navalha. Todos o temiam e fez muitas vítimas em nossa cidade. Seus bairros
preferidos para atacar eram o Magalhães e o Campo de Fora. Usava o nome e apelido de
outro célebre criminoso do passado: "Pedro Hespanhol".
Existiu no Rio
de Janeiro no século XIX um malfeitor, um bandido sanguinário que apavorou os
habitantes da então Capital Federal.
Tornou-se um
criminoso célebre assaltando em plena luz do dia. Provocava terror com sua violência
e mortes e era chefe de uma quadrilha com dezenas de outros bandidos.
Contam os
antigos jornais que brigava e matava utilizando-se de armas brancas. Navalhas,
punhais e facas eram seus instrumentos de trabalho preferidos.
Seu nome era
“Pedro Espanhol”.
Fugiu da perseguição da polícia inúmeras vezes. Nas poucas oportunidades que chegou a ser encarcerado conseguiu escapulir espetacularmente
das prisões.
Consta que
quando interrogado dizia ter nascido em Portugal e não na Espanha.
Ficou famoso por
conta de sua má fama e virou posteriormente personagem de folhetins escritos por José do Patrocínio publicados no Jornal Gazeta da Tarde do Rio de Janeiro e mais tarde, em 1884,
reunidos em livro de grande sucesso.
Patrocínio conta em seu romance que o bandido, ainda jovem, teria vindo empregado de um dos fidalgos que acompanharam a Família Real (D. João VI) ao Brasil, em 1808, fugindo das tropas de Napoleão.
Capa do livro romance "Pedro Hespanhol", de José do Patrocínio. |
Depois de alguns anos transformou-se em bandido, chefe de uma quadrilha de assaltantes, um rei da malandragem carioca, que provocou o terror com assaltos e assassinatos, além de todo tipo de trambicagens. Virou um bandido célebre no Império.
Bem por isso é um
dos personagens do livro “Criminosos célebres”, do escritor Moreira de Azevedo,
obra publicada em 1872.
“Pedro Espanhol”
teria sido morto em 1833 numa emboscada onde reagiu à prisão pela polícia.
Mesmo com sua
morte, outros bandidos nas décadas seguintes, aproveitando-se de sua má fama
que ficou registrada na memória de tias e avós, passaram a utilizar-se do seu codinome
para aterrorizar o povo.
Foi o caso de
um deles que apareceu em nossa região.
O bandido “Pedro espanhol” da Laguna
Aqui na Laguna
também apareceu um sujeito chamado “Pedro Espanhol” e que igualmente
aterrorizou a nossa cidade.
Quem conta
essa história numa velha crônica é o lagunense Álvaro Dias de Lima, que foi chefe dos Correios e vez ou outra colaborava com seus escritos para os
jornais lagunenses da época. Faço um resumo.
Diz Lima que
de 1874 a 1879, “Laguna teve a infelicidade de hospedar o mais terrível dos indivíduos
aqui aportados.
Desordeiro e
atrevido capoeira, esse indivíduo usava o nome de Pedro Espanhol. Era esse seu apelido,
posto que não fosse natural da Espanha, mas parece que de algum lugar do Brasil".
Era jovem
ainda, muito forte e ágil. Tinha um gênio de quem nasceu para o crime. Sentia-se
bem sempre que, de faca em punho, tinha ocasião de provocar e parar-se à frente
de quem cruzasse o seu mesmo caminho, fosse quem fosse até
autoridade.
Suas armas eram a faca e a navalha
Em suas brigas
usava sempre faca e navalha bem afiadas. Não tinha medo de ninguém.
"Audacioso, enfrentava
a polícia composta naquela época de seis a oito praças", conta Álvaro Lima.
Dos seus crimes
foram vítimas muitos moradores da Laguna. Os bairros Magalhães e Campo de Fora
eram os pontos prediletos para as arruaças desse perverso indivíduo. Até as
autoridades o temiam.
Um dia, porém,
após mil coisas horrorosas praticadas pelo bandido e suas inúmeras fugas, o cidadão Manoel Carneiro Pinto assume
a Delegacia de Polícia da Laguna. E assume
consigo mesmo a responsabilidade de libertar Laguna de tão perigoso elemento. Sua
nomeação foi rápida. Ninguém sabia o porquê desse interesse repentino em que Carneiro
Pinto procurara ser Delegado.
Duas mulheres torturadas no Magalhães
Três dias
depois de assumir o cargo apareceu a oportunidade de prender o bandido.
É que surgiu ao amanhecer a notícia de que lá no Magalhães, Pedro Espanhol de faca em punho mantinha
duas infelizes sequestradas e encarceradas dentro de uma pequena casa, com portas e janelas fechadas. Vez ou outra ele fincava pontadas de faca sobre a carne dessas pobres mulheres levado pelo
prazer único de vê-las se contorcendo entre gemidos e gritos.
Carneiro, que
aguardava a oportunidade, reúne imediatamente alguns homens do povo somando-os à
polícia, que se compunha de apenas seis praças e dirige-se ao lugar em que a terrível cena
se passava.
O corajoso delegado Carneiro
Amigos e
pessoas da família procuravam impedir o gesto de Carneiro, por considerarem-no
temerário e muito arriscado, afinal Carneiro já era um ancião, hoje diríamos um homem idoso.
Carneiro então
disse:
- “Fiquem
tranquilos porque eu vou levado por um dever para com a sociedade lagunense,
que precisa ficar livre dessa figura nefanda, prejudicial à tranquilidade de
nossos lares. Fiquem tranquilos: Pedro Espanhol vai ser preso hoje, haja o que
houver”.
E Carneiro
seguiu para o Magalhães. Era por volta das nove horas da manhã. Levava consigo um total de quatorze
homens, número que não era por demais grande, quando se sabia o elemento perigosíssimo que teriam que enfrentar.
Chegando ao
local (onde seria?) em que se desenrolava a terrível cena praticada pelo facínora,
o Delegado dispõe o pessoal de forma a evitar tentativa de fuga por
qualquer das aberturas (portas ou janelas) laterais e de fundos.
Arma engatilhada e faca no chão
Depois, ordena
o arrombamento e salta de revólver em punho no meio da sala, gritando ao bandido:
- Se não quer
morrer, entregue-se, jogando esta faca no chão!
Pedro
Espanhol, que jamais vira na Laguna pessoa alguma enfrentá-lo com tal coragem,
acovarda-se deixando cair a faca a seus pés.
E o velho Carneiro,
com a arma sempre engatilhada, ordena seja ali mesmo amarrado o bandido que,
nestas condições, é levado para bordo de um navio que partia naquele mesmo dia
do nosso porto para o do Rio de Janeiro.
E lá na
capital federal em uma de suas masmorras, esse bandido, alcunhado "Pedro Hespanhol da Laguna" cumpriu longa pena pelos seus crimes e de quem nunca mais se
ouvir falar.
E a Laguna
pelos próximos três anos ficou livre e sossegada de criminosos. Até que...
Bem. Até que
por aqui apareceu três anos depois, em 1880, outro valentão e criminoso chamado
“Manoel Tesoura” que aprontou muito e foi terror nos assaltos, brigas e violências.
Mas esse é
outro capítulo que contarei em breve.
Essa, eu não sabia. 'Pedro Espanhol'. Laguna deve ter muitas estórias para contar!! Parabéns!
ResponderExcluirQue história Valmir. A gente lê com ansiedade. Dá um folhetim mesmo.
ResponderExcluirJá tô curioso pra ler quem foi Manoel Tesoura. O apelido é sugestivo.
ResponderExcluirDe prender os olhos na leitura!!
ResponderExcluirTambém curioso para saber a estória de MANOEL TESOURA.
Olá, Valmir. A tua crônica é de prender a atenção e a respiração, típica daquelas histórias contadas à luz de velas pelas nossas avós. Tchan tchan tchan tchan ... Aguardaremos, com expectativa, o próximo episódio. Abraço
ResponderExcluirDá pra fazer um filme, um curta, com esse Pedro Espanhol. Agora Manoel Tesoura... Usava tesoura será? Era tipo um Jack Estripador? Que medo não passaram nossos antepassados.
ResponderExcluirE então Valmir... nesta matéria você nos faz lembrar que a "bandidagem" é tão antiga quanto a história do homem, mas, creio que na época em que estes fatos ocorreram, as autoridades policiais eram mais atuantes e logo tiravam de circulação os maus elementos. Assim, no caso do “Pedro Espanhol” do Rio de Janeiro teria sido morto em 1833 numa emboscada onde reagiu à prisão pela polícia... saiu de circulação (creio que tenha sido apressada sua viagem para o céu). No caso do “Pedro Espanhol” da Laguna, ficou evidente a determinação do delegado Manoel Carneiro Pinto que estava a altura do cargo e, rapidamente acabou com as estripulias do Pedroca e o enviou algemado para o Rio de Janeiro, onde também logo deve ter encontrado com o criador. Meus parabéns por fazer voltar no tempo e reviver o quanto as autoridades, mesmo com poucos recursos... mesmo assim, de forma agil retiravam do convivio social os que insistiam em se manter como fora da lei. Ou seja, que diferença para os tempos atuais, onde as pessoas de bem são obrigadas a viver com medo enquanto os ladrões e bandidos ficam soltos e são acobertados por advogados amparados numa legislação frouxa e que estimula a impunidade.
ResponderExcluirGrande abrço do Adolfo Bez Filho - Joinville / SC.