Semana passada, enquanto aguardava minha vez, sentado a uma poltrona numa barbearia no
centro da Laguna, não pude deixar de ouvir o que dizia, em alto e bom som, um
político lagunense – seria ele de Pescaria Brava ou aqui da
nossa Laguna?
Fique,
estimado leitor deste blog, na curiosidade.
O
político contava ao profissional da barba, cabelo e bigode, enquanto este lhe escanhoava
os pelos do rosto, sua contrariedade, sua revolta mesmo com um padre convidado e seu sermão
proferido na missa de um domingo desses, numa igreja da região.
O
padre – certamente ao perceber a presença entre os fieis nos bancos da igreja,
de políticos da comunidade, figurinhas manjadas – deitou falação sobre corrupção em geral, mentiras e
enganações e sobre as consequências da mão grande no baleiro público, em verbas e acertos de comissões em obras e licitações carimbadas.
Dizia
o padre – e o político meio que apoplético repetia com gestos e falas as
palavras do discurso do homem da batina – que os atos, as ações de hoje de muitos políticos, nesta vida terrena, para o bem e para o mal, serão o passaporte para
entrada no céu ou no inferno, lá na outra vida espiritual.
E
mais. Que determinados políticos podem ludibriar o povo, os eleitores, a sociedade, mas
nunca enganarão suas consciências e o olhar de Deus que tudo vê, tudo sabe e
anota no livro da trajetória de cada um, os nossos débitos e créditos.
Em suma, leitor, ameaçou com o mármore do inferno os enganadores da boa fé do povo, dos que ludibriam e enriquecem ilicitamente.
Evidentemente o constrangimento se fez notar e alguns pigarreavam, atônitos com tamanha ousadia. Houve até quem pensasse em sair para mijar, mas seria pior, daria muito na vista naquele momento.
Em suma, leitor, ameaçou com o mármore do inferno os enganadores da boa fé do povo, dos que ludibriam e enriquecem ilicitamente.
Evidentemente o constrangimento se fez notar e alguns pigarreavam, atônitos com tamanha ousadia. Houve até quem pensasse em sair para mijar, mas seria pior, daria muito na vista naquele momento.
Cá
pra nós, o padre deveria estar inspirado e certamente indignado e revoltado com
a conduta de determinados políticos neste Brasil varonil, noticiada diariamente por jornais, rádios e TVs.
Eu
não sei se em algum momento o padre chegou a olhar diretamente para este
político – Da Pescaria Brava? Da Laguna? - Pode ser que sim, pode ser que não, imagino, vá lá, que olhares se cruzaram, e certamente o dedo
acusador da consciência deve ter doído e atingido o íntimo da alma do
político, que se remexia, agoniado, no banco duro da igreja, conforme confessou.
Digo
isso porque a revolta do político lagunense com o comportamento e palavras do padreco transparecia a olhos vistos.
Quem
será ele? Em qual seminário se formou esse sacerdote? Desconheço, mas desde já, seja quem for,
receba os meus efusivos parabéns e meu caloroso amplexo. Afinal, a verdade deve
ser dita e alguém deve dizê-la, já era um antigo bordão de um decano radialista
lagunense.
O
Fígaro, monossilábico, trabalhava na tesoura - trec, trec, trec - e nem ousava retrucar as palavras do político, com receio
certamente de perder o freguês e seus preciosos cobres.
E
lá ficou o nobre político lagunense a proferir suas verdades, em discurso de grande expediente em tribuna livre
improvisada, sentado numa cadeira de barbeiro, afirmando, contrariado, que política é uma
coisa e religião bem outra, não se devendo misturar as duas, como fez o padre falador.
Não
sei o final da história, até porque fui chamado por outro profissional para
cortar as minhas já grisalhas e parcas madeixas. Mas, depois fiquei meditando:
será que o político lagunense, ao ouvir as palavras do padre, teria perdido sua fé? Trocado de religião? Mudado sua maneira de ser e agir?
Como
teria recebido, na fila, a hóstia sagrada do sacerdote, enquanto ruminava lá no
fundo, olhos nos olhos, circunspecto, seus atos secretos, seus possíveis acertos em bastidores de
gabinetes? Como desvincular as causas das consequências, do aqui se faz aqui se
paga, no chamado carma do budismo, lei de retorno ou futuras reencarnações, como
prega o espiritismo?
Político acredita em outra vida ou somente no que quer acreditar, no aqui e agora, no poder dos cifrões furtados à saúde, educação e segurança do povo? Acredita na ação e reação ou somente no tilintar dos trinta dinheiros adentrando seus bolsos para aquisições de apartamentões e carrões, ou calando vozes e consciências de quem ousa discordar, criticar ou descobre suas falcatruas?
Ou para muitos políticos só existe uma divindade chamada Mamon,
com sua doutrina de cobiça, avareza e ganância?
Caro Valmir ,teve sorte em sentar em outra cadeira ,pois a coisa é contagiosa e até o momento não conseguimos combater este vírus dos POLÍTICOS.
ResponderExcluirJORGE EDU
Meu caro, tô vacinado desde criancinha e aprendi com meus pais que o que é meu é meu, o que é dos outros é dos outros. Simples assim. Nada de levar brinquedos dos coleguinhas para casa. Mesmo assim, para não pegar o "bafo", fui sentar em outra cadeira. Um abraço.
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