sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Gritos e choros misteriosos que assustaram Laguna

 

Não se sabe o dia e ano em que tudo começou.
Foi numa noite, quebrando o silêncio, quando toda a cidade ouviu gritos idênticos a um bebê chorando. Só que os choros e gemidos vinham do alto, dos céus. Os mais corajosos saíram às ruas em busca da origem.
No início nada foi avistado e nas noites seguintes os ruídos assustadores se repetiram. O que seria?

   
Esta é uma história que atravessou gerações, contadas pelas famílias lagunenses.
Era um tempo das rodas de conversas de nossos pais e avós, quando as famílias ainda se reuniam nas salas das casas e não havia a hipnotizadora televisão e muitos menos, é claro, viciantes celulares.

Luzes bruxuleantes
Casas somente iluminadas por luzes provenientes de fracas lâmpadas ou de bruxuleantes velas e/ou lamparinas que jogavam no ar, além do cheiro de cera e querosene, assustadoras sombras nas paredes.
Estava pronto o cenário ideal para os contadores de histórias.
E quanto mais assustadores os fatos narrados, mais provocavam exclamações de pavor, principalmente entre nós crianças que a tudo ouvíamos, curiosas, atentas, sentadas pelos cantos ou atrás das portas, escondidas.
Quem dormiria depois de ouvi-las?

O porto da Laguna ainda estava localizado no centro da cidade. Em nosso cais aqui chegavam e daqui partiam navios para Florianópolis e também para  o Rio de Janeiro, então Capital Federal.
E nesse mesmo centro, hoje chamado de Histórico, moravam centenas de famílias com suas extensas proles.

Choro e gemidos vinham do alto
Não se sabe o dia em que tudo começou.
Era início de outono e uma friagem chegava do Sul fazendo com que todos se recolhessem mais cedo às suas casas. As estreitas ruas da cidade Juliana ficavam desertas a partir das 18 horas.
Foi numa noite, quebrando o silêncio, quando toda a cidade ouviu gritos idênticos a um bebê chorando.
O choro e gemidos vinham do alto, dos céus. Os mais corajosos saíram às ruas em busca da origem.
No início nada foi avistado e nas noites seguintes os ruídos assustadores se repetiram. O que seria?

Especulações 
Daí começaram as especulações por parte do povo. 
Havia quem acreditasse se tratar de uma alma penada ou de uma criança que tivesse morrido sem ser batizada.
Houve quem dissesse que era uma bruxa a bordo de sua vassoura, assustando os moradores.
Era próprio de crendices daqueles tempos. Orações e promessas foram feitas pelos mais crentes. Velas foram acesas nos oratórios.
Passadas algumas noites, alguns moradores postados nos parapeitos de suas janelas ou por trás das vidraças distinguiram a sombra do que parecia ser um enorme pássaro.
Ele voava do Morro da Glória ao Morro da Matriz, atrás da igreja e depois até ao Morro do Campo de Fora, fazendo com que os moradores daquele bairro também se assustassem.
Pouco tempo depois o grande pássaro retornava pelo mesmo trajeto com seus gritos, choros e sinistros pios que só eram ouvidos à noite.

Durante o dia nada era visto nem ouvido 
Os mais entendidos e letrados diziam pelos cafés, bares, boticas e barbearias, tratar-se de alguma ave desconhecida, migratória, perdida de seu bando e que teria sofrido alguma perturbação e ficado por aqui, voando somente à noite, de um morro a outro, confusa. 
Mas ninguém sabia sua origem, nem do que se alimentava.
Ornitólogos e passarinheiros antigos da cidade foram chamados e consultados, mas todos desconheciam a existência de tal ave.
Não constava de suas enciclopédias.

Grupos de rapazes foram formados para percorrerem durante o dia as matas dos morros em busca do pássaro. Arapucas foram armadas. Mas ninguém conseguiu avistá-lo nem capturá-lo.
E na cidade silenciosa, continuavam os voos, pios e o choro de bebê recém-nascido vindos do alto, juntamente com enorme sombra que se projetava fantasmagórica nos vidros de janelas e telhados.

Preso na armadilha. Ou fugiu
Há dois finais para essa história. Não se sabe qual deles é o verdadeiro.
Contam que alguns membros do Clube Recreativo Almirante Lamego, cuja sede ficava situada nos fundos do hoje Ceal, na rua Willy Strack, teriam preparado uma armadilha, deixando a porta aberta à noite com uma lamparina acesa em cima de uma mesa.
O pássaro, em meio à escuridão, atraído pela luz, entrou no recinto e a porta foi rapidamente fechada por uma pessoa que ficou aguardando por de trás.
Foi colocado numa gaiola, mas a ave não mais emitiu sons e nem se alimentou e por isso teria morrido.
Outra versão é que o pássaro teria sido realmente aprisionado na gaiola, mas misteriosamente no outro dia quando o pessoal chegou à sede do clube para fotografá-lo, e abriu a porta, a gaiola estava aberta e ele tinha sumido.
Ninguém nunca soube explicar o ocorrido.
Mais um mistério nessa história.

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Pássaro-Lira
Hoje, graças à internet fica-se sabendo que provavelmente era um Pássaro-Lira proveniente da Austrália. Como chegou à nossa região é mais um mistério.
No Zoológico de Taronga, situado em Sidnei, naquele país, um exemplar dessa ave surpreendeu a todos imitando perfeitamente um choro de bebê.
Funcionários desconhecem como o pássaro aprendeu a imitar o som já que o zoológico esteve fechado durante toda a pandemia.
Eis o vídeo:

5 comentários:

  1. Magnífico! A natureza só surpreende.

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  2. Que história. E que medo na época.

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  3. Edison de Andrade25/08/2023, 15:43

    Imagine no silêncio da noite esse bicho gritando no mato e nos telhados com a escuridão da época. Eu saia correndo e trancava bem a casa. Cruzes.

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  4. Geraldo de Jesus26/08/2023, 12:15

    Valmir, já dá pra reunir todas essas ótimas histórias e publicar um novo livro. Vamos lá? Muito bom.

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  5. Valmir... esta nossa Laguna é mesmo um capítulo à parte, pois, ao longo do tempo já foi até "palco" de histórias estranhas... como esta relativa aos gritos e choros misteriosos. Quanto ao Pássaro-Lira proveniente da Austrália, creio que deva ter vindo a bordo de um navio e, depois de fugir (!!) deve ter encontrado abrigo nas matas que recobrem os morros da cidade.
    Grande abraço do Adolfo Bez Filho - Joinville / SC.

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