"Hoje em
dia, os nomes já não possuem significado. O que importa são os números: o
número da conta, da identidade, do passaporte. São eles que contam."
(José
Saramago)
Com números é possível
demonstrar-se qualquer coisa. E se diz que eles constituem a única linguagem
universal.
Já Gregg Easterbrook
afirmava: “Torture os números e eles confessarão qualquer coisa!”.
Platão filosofava: “Os
números governam o mundo”.
Números,
estatísticas... eles estão em todo lugar e a todo o momento são sacados por matemáticos,
técnicos, assessorias de imprensa e... políticos.
Os números explicam
tudo mesmo? Podem não explicar, mas através deles são tomadas as decisões dos
governantes.
Bem por isso, há de se ter muito cuidado quando de suas feituras e divulgações.
Políticos existem por aí que
para sobressair suas administrações e faturar, é claro, politicamente, puxam os números
ora para cima ora para baixo, ao sabor das conveniências. O perigo é cair no
ridículo.
E aí, dá-lhe afirmar
que “eu diminuí em não sei quantos % o número de pobres”; “eu construí mais
estradas”; “eu construí mais escolas, mais postos de saúde", “eu trouxe mais
turistas”, "foi o melhor carnaval", etc.”
Em releases
distribuídos à imprensa e/ou sites governamentais o que mais se vê são números.
Muitos colegas de
órgãos de imprensa – aí incluídos rádio e televisão - não se dão ao trabalho de
uma apuração mais concreta, pelo menos uma análise mais apurada, acreditam
piamente no que lhes é enviado e reproduzem, repicam integralmente o recebido,
sem maiores questionamentos.
Que tal um simples
cálculo de área aberta por metro quadrado de pessoas?
Ou a quantidade de
leitos oferecidos pela rede hoteleira? População? Infraestrutura viária? Transporte? Alimentação?
Nada disso é visto, donde
verdadeiros absurdos são publicados. Números que saltam aos olhos de um leitor,
ouvinte ou telespectador mais atento.
E como não se tem uma
fonte confiável, chutam-se fontes com frases genéricas, tais como: “Conforme
cálculos dos organizadores”; "organizadores acreditam” (quem são?); “Conforme
cálculos preliminares”; “Um mar de gente invadiu”; “uma multidão de branco
invadiu”, e outros que tais.
Querem um exemplo, dentre
inúmeros no nosso dia a dia?
Vejam, puxando a lente aqui para Laguna, o que foi divulgado nos últimos anos sobre a quantidade de
pessoas que passou o réveillon em nossa cidade.
Há passagens de anos, por exemplo, em que o público oscilou entre 100, 150, 200 mil. Uma variação inexplicável, obtusa e absurda.
E todos parecem achar normal.
Há passagens de anos, por exemplo, em que o público oscilou entre 100, 150, 200 mil. Uma variação inexplicável, obtusa e absurda.
E todos parecem achar normal.
Já neste começo de
2014, o público “estimado” pulou para estratosféricos 350, 400 mil pessoas, aí
contando, claro, todo o pessoal que foi pular as sete ondas nas praias do Mar Grosso, Itapirubá,
Praia do Sol, Ponta da Barra, Passagem da Barra, Cigana, Canto da Lagoa e Farol
de Santa Marta.
Algumas dessas não tem nem ondas, mas deixa pra lá. Marola também serve.
Algumas dessas não tem nem ondas, mas deixa pra lá. Marola também serve.
Na lista publicada - ora vejam só - esqueceram de contar a “multidão” que invadiu as Praias do
Iró e Gi.
As frases e dados
abaixo, de 2006 até 2014, estão no site da prefeitura, se quiserem conferir.
Marquei em vermelho os trechos onde aparecem os números. Saquem a variável biruta:
2006 para 2007
“Ano novo, vida nova
e o Réveillon Laguna 2007 superou todas as expectativas e reuniu um público de mais de 100 mil pessoas somente na Praia do Mar Grosso. A cidade
concentrou somente na noite da virada 200 mil pessoas vindas de todas as partes”.
2007 para 2008
“Um mar de gente
invadiu as praias de Laguna, no último dia do ano, para comemorar e renovar as
esperanças para 2008. A maior concentração foi no Mar Grosso. De acordo com a
organização do evento mais de 170 mil pessoas festejaram a chegada do ano, numa extensão de 3,5 mil
quilômetros de areia”.
2008 para 2009
“Sete ondas, flores
no mar, roupa branca, juras de amor, brinde com a família, balões nas sacadas
dos edifícios, pés descalços e palavras de otimismos. O misto de alegria,
esperanças renovadas e promessas foi o que se viu nas areias do Mar Grosso.
Organizadores acreditam no número de 150 mil pessoas brindando o ano novo”.
2009 para 2010
“Uma multidão de
branco e com muita esperança invadiu as areias do Mar Grosso em Laguna para
comemorar a virada. O ano de 2010
levou para a praia mais de 200 mil pessoas de acordo com os organizadores”.
2010 para 2011
“Se depender da
multidão que celebrou a chegada de 2011 nas areias de Laguna, o próximo ano
será maravilhoso. Mais de 150 mil pessoas comemoraram a
virada do ano somente no Mar Grosso”.
2011 para 2012
“Mesmo com chuva
durante todo o sábado, e dando uma trégua por volta das 23h, pelo menos 100 mil passaram o Réveillon
em Laguna. A concentração maior de público foi registrada na praia do Mar
Grosso”.
2012
para 2013
“O
evento acontecerá nas areias da praia do Mar Grosso, nas imediações do antigo
calçadão. Aproximadamente
150 mil pessoas estão sendo esperadas para o Réveillon em Laguna”.
2013 para 2014
“Foi
em clima de comemoração e muita alegria que uma multidão se reuniu na noite
desta terça-feira, dia 31, na praia do Mar Grosso em Laguna, para dar boas
vindas ao novo ano. Conforme dados preliminares, na orla da praia do Mar
Grosso, foram entre 100 a 120 mil pessoas.
Ao
todo, somados entre Mar Grosso, Itapirubá, Praia do Sol, Ponta da Barra,
Passagem da Barra, Cigana, Canto da Lagoa e Farol de Santa Marta, foram entre 350 a 400 mil pessoas”.
Os números para os "organizadores" são como animais de estimação caro Valmir, acariciam os donos ou mordem dependendo do petisco ofertado.
ResponderExcluirforte abraço
Outro que sofre com a maldição numerológica é o Moto Laguna. Falaram em 100 mil pessoas no evento, com 15 mil motos. Daí eu vejo eventos no sudeste e nordeste, com shows nacionais, trio elétrico, largas avenidas abarrotadas de gente até onde não se enxerga mais, e a estatística é de 6 mil, 10 mil, 15 mil pessoas. Será que o povo lá de cima não sabe contar? Coitadinhos, devem ser analfabetos, e têm que aprender com os detentores dos poderes na Cidade Juliana...
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