Romeu
Tuma Jr., em seu livro “Assassinato de
reputações – um crime de estado”, obra que já me referi aqui há alguns
dias, traz uma palavra que me chamou a atenção e fez pensar.
A
palavra é o título desta matéria: “Sincericídio”. Que significa o ato de suicidar-se
por ser sincero. Um neologismo criado por ele.
Romeu
Tuma Jr., perdeu seu cargo de secretário de Justiça e teve seu nome enxovalhado
por ser simplesmente sincero e fazer o dever de casa, fazer e dizer aos seus
interlocutores e superiores, o que é certo.
Quantos
de nós já não perdemos amizades - inclusive familiares - por sermos sinceros? Quantos de nós já não
perdemos empregos, cargos ou de galgar posições profissionais, por dizermos
verdades?
Evidentemente
que não me refiro aqui, aqueles atos e palavras – e às vezes alguns silêncios,
muitos silêncios – a que somos obrigados a praticar no dia a dia, por mero
protocolo, por afabilidade, educação e por etiqueta.
Se
você, como se diz, for casca-dura 24 horas por dia, 365 dias por ano, acaba
sozinho, sendo taxado de um sujeito grosseiro, maus-bofes, chato e ignorantão.
Um pouco de jogo de cintura sempre há que se ter. Pode-se vergar a coluna, mas
nunca quebrá-la.
Enfim,
certo tato faz parte do jogo – e da vivência - das relações humanas. Há certas
verdades que é melhor calar, olhar para o lado e contar até dez sob pena de
você acender o estopim de uma bomba nuclear.
Imagine,
por exemplo, você responder sincero a sua mulher, a poucos minutos de um evento
social – um jantar, um cinema ou uma balada, se aquele vestido recém-comprado, lhe fica
bem, se não a deixa gorda?
Se
você for sincero, responder sempre a verdade, putzz... com certeza vai perder o
evento. E dormir no sofá, pra deixar de ser besta.
Há sempre
que se medir as palavras. E a sinceridade. Há momentos para tudo.
Mas
também não ter posição, não ter opinião, ser um insosso nas questões surgidas
no dia a dia, estar alheio aos acontecimentos, é também desaparecer na
multidão, ser um zé-ninguém, um zero à esquerda.
E por
acaso, alguém gosta de picolé de chuchú?
Pois bem.
Depois de todo esse nariz de cera que fiz, quero dizer que há muitas pessoas,
políticos principalmente, que tão logo assumem o poder, preferem ouvir somente
os áulicos que os rodeiam. Quando ouvem!
Porque
muitos políticos – vereadores, prefeitos, secretários – picados pela mosca
azul, começam a se achar a derradeira cocada preta, a última coca-cola do
deserto, como diz a letra do pagode.
E são
ludibriados pelos elogios de assessores ou pelas bocas e canetas alugadas por
cargos para si ou familiares. Ou então na base de patrocínios de milhares de reais.
Esses
políticos, ao defrontaram-se com as realidades das ruas, com a reação do povo em forma de vaias a
suas atitudes e atos, ficam surpresos. Dizem que não esperavam, que é injusto.
Não esperavam porque estão fora da realidade, porque ludibriados numa redoma de mentiras e enganações. Já vivem em
outra galáxia.
Muitos serão políticos de um mandato só ou não mais serão reeleitos ou eleitos para cargos outros.
Muitos serão políticos de um mandato só ou não mais serão reeleitos ou eleitos para cargos outros.
Machado
de Assis escreveu que é mais fácil cair das nuvens do que do quarto andar, querendo dizer com isso que é melhor despencar de um sonho, do que de um prédio, que é altura real, perigosa e mata, literalmente. Ou politicamente.
É bem
isso.
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