sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Nas cinzas das horas

Alguém já disse que infeliz do governante que não tenha oposição. Infeliz, porque passa a viver no mundo maravilhoso e colorido de um Walt Disney.
Rodeado de bajuladores (alguns sendo palpiteiros raivosos, destilando ódios pelos poros contra todo mundo), instala-se numa redoma, alheio ao mundo exterior e ao contato com a realidade.

Acostumado somente aos elogios fáceis, ou comprados a peso de ouro, não admite sequer uma crítica aos seus atos, a sua administração e vê em qualquer palavra contrária, a hostilidade, revanchismo, ciúme de homem e conspiração onde não há.
Passa a viver se gabando de obras que muitas vezes não foi o pai. Prometendo o que não pode cumprir, porque independe do seu querer.

Enxerga os problemas, mas não vê. Seus olhos estão turvados pela insensatez. Considera-se um ungido mas muitas vezes chegou lá por meras circunstâncias. O cavalo passou com a sela vazia e ele montou. Outro cavaleiro também montaria e chegaria.
É costume seu reagir a quem discorda de atos e fatos sacando pelos microfones de rádios amigos um velho e conhecido bordão: “- Quem não está contente que vá embora”.
É uma pequena variação de uns dos slogans preferidos e utilizados pela ditadura militar de 1964 aos descontentes com o regime: “Brasil, ame-o ou deixei-o”.
Quem insistia em discordar sofria as consequências, como tristemente se sabe.

Quando um governante desse tipo acordar para a realidade – e a história está recheada de exemplos - verá que seu futuro político está comprometido. Lembrará das palavras e avisos dos verdadeiros amigos que já estarão longe, nas cinzas das horas. Mas aí será tarde demais. Olhará para o lado e não mais encontrará os que o rodeavam. Estes, sempre oportunistas, trilharão outras paragens bajulando os personagens poderosos da vez.

E tudo então será mero passado no sono dos anos.

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