Leio que nesta quinta-feira, 03/04, acontecerá reunião na
prefeitura entre órgãos ambientais, associação de surfistas e autoridades
municipais visando “definir uma estratégia” para retirada dos restos de ferro
carcomidos de um velho barco encalhado no início do Molhe Norte.
Até hoje não entendi porque aquilo lá não foi
retirado. Além do feio aspecto, é um perigo para banhistas, surfistas, pescadores,
alterando inclusive a formação das ondas. Próximo sábado, completa-se 17 anos do encalhe.
Mas como o barco
foi parar lá?
Noite e madrugada de sábado,
05 de abril de 1997.
Um forte vento sul
sopra na região lagunar e em todo litoral catarinense. A maré vazante (preamar)
é forte, provocando a conhecida “ressaca marítima”.
As ruas da Laguna estão
desertas, bares fechados, o pessoal se recolheu mais cedo. Nos Molhes não se vê
uma viva alma, nenhum solitário pescador. Noite escura e fria. Até os botos cochilavam.
Um vulto desliza
pelas águas turbulentas, bem no meio do canal de navegação. Quem pudesse observar a cena,
veria tratar-se de um pequeno barco pesqueiro de nome Corintha-Tramandaí.
Mas àquela hora,
quem seriam os marinheiros aventureiros em seu convés? E qual mestre corajoso estaria
enfrentando a perigosa boca da barra?
O barco seguia seu
destino, traçado sabe-se lá por quem. Nenhuma bandeira hasteada. Na cabine de comando e por toda embarcação
o vento sibilava pelas frestas. O esqueleto de ferro rangia e pequenas ondas açoitavam seu velho casco enferrujado. O resto era silêncio. Não havia conversa, não
se ouvia uma voz. Nem o barulho de motor.
Não se ouvia porque misteriosamente não havia tripulação a bordo. Era um barco fantasma singrando
as águas.
Sem chocar-se com
nenhum “espigão”, saiu pela barra, tomou o rumo leste e, depois, através de
correntes marítimas, encalhou na praia do Mar Grosso, lado norte dos Molhes.
Seria sua derradeira
viagem.
Somente pela manhã o
barco foi avistado pelos madrugadores pescadores que chegaram para a faina
diária da pesca com tarrafa.
Delegacia da
Capitania dos Portos da Laguna foi comunicada e abriu Inquérito Policial Marítimo
– IPM. Soube-se posteriormente que a embarcação estava sub-judice, abandonada em uma área do porto, entre a balsa e o seu
cais. Desconheço o resultado do Inquérito.
Em meu extinto
jornal Tribuna Lagunense, edição de
18 de abril de 1997, registrei o
fato e coincidentemente, poucos dias antes, havia fotografado o barco
abandonado na área do porto, junto à outra embarcação, o “Esperança Nova”, que
não saiu do lugar.
Eis a reportagem e
as fotos. Para ampliá-las, basta clicá-las:
O barco, dias antes, encalhado em área do porto. |
Parabéns pela pesquisa,gostei muito.Bem interessante o assunto que quase ninguém sabia,agora muita gente está copiando e não dando créditos ao Blog.
ResponderExcluirFátima.
Bem isso, Fátima, já notei. Copiam descaradamente e acham que as informações surgiram como num passe de mágica. Até alguns dias atrás, nem o nome do barco sabiam, por falta de pesquisa. Mas fazer o quê? O velhinho lá em cima tá vendo.
ResponderExcluirPesquisa poética. Belo texto. Parabéns, Valmir!
ResponderExcluirAgradeço a leitura, amiga Zuleida.
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