quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O imponderável em nossas vidas

O ser humano procura não compreender sua incapacidade de determinar o seu futuro. 
Ainda que eu pense, tenho comigo no íntimo, que nascemos com um prazo de validade, como um produto, uma mercadoria que vence em determinada data, muitas circunstâncias, milhares delas fogem ao nosso domínio. 
Não é assim leitor? Louco daquele que quer controlar todos os vetores e fatores, inclusive a sua própria vida e a de outras pessoas. 
E é o que mais a gente presencia por aí.
Alguém é dono da história e do futuro? Não se diz que os dias vindouros só a Ele pertencem? 

Pois é... Bem por isso quando leio ou ouço cálculos, previsões políticas, acertos nos bastidores para daqui a quatro, oito, doze, vinte anos, fico imaginando sempre que no meio do caminho tem o destino traçado, os atalhos, os chamados carmas e as surpresas que nunca entram nas avaliações. Ajustes são necessários, mas quem pensa neles?
Vide o acidente aéreo ontem que vitimou o candidato Eduardo Campos e a morte em 1985 do candidato eleito a presidente, Tancredo Neves.

A verdade é que vivemos como se fossemos eternos nesta passagem terrena. Matusaléns individuais e únicos em nossos pensamentos e desejos.
Expostos a realidade inexorável da morte, negamos, fugimos e nem queremos pensar ou falar sobre ela. Cruz, credo! Xô!
Mas nossa vez também chegará, cada um ao seu tempo e momento, na horizontal, braços cruzados sobre o peito, dedos entrelaçados, numa caixa de madeira envernizada. Mas quem pensa nisso? 

Ora, ponderamos sim, mas somente naqueles breves momentos de um velório, quando entre uma oração e outra por quem se vai, uma conversa aqui e ali com familiares e amigos, falamos sobre vaidade, orgulho e a finitude da vida. Além dos bens amealhados que nada levamos.
Meditemos naqueles tristes minutos para logo após, já na rua ou no dia seguinte esquecermos de tudo e continuarmos na luta de nossas trajetórias. Cometendo os mesmos erros, descuidando muitas vezes da saúde, presos nas teias de inúmeros vícios, mergulhados nos desamores e falhos em nossa maneira de ser.

Dizem os especialistas que não pensar na morte é um mecanismo de defesa, de autopreservação do organismo mental para não sucumbirmos. Do contrário, como seria? 

O jornalista e teatrólogo Nelson Rodrigues, na década de 50 e 60, criou a figura do Sobrenatural de Almeida para referir-se quando algo inimaginável, inesperado, acontecia nas partidas de futebol.

Não vale somente para o esporte, convenhamos. O também chamado imponderável, o acaso, sempre teima em se intrometer em nossas vidas.

E não há nada, absolutamente nada no mundo que possamos fazer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário