sexta-feira, 31 de julho de 2020

Registro de falecimento +

Mesmo com algum atraso não posso deixar de registrar o falecimento de Luiz Carlos Ambrozini, aos 86 anos, ocorrido em Florianópolis, no dia 29 de junho p.p., cidade onde estava residindo.
Ambrozini encontrava-se internado, em estado de coma, desde 17 de junho, no Hospital Baía Sul, na capital do estado e faleceu vítima de complicações cardíacas.
Luiz Carlos Ambrozini. Álbum de família.
Velório, com cerimônia restrita aos familiares, foi realizado no crematório Vaticano, em Itacorubi.

Nascido em 21 de janeiro de 1934, Luiz Carlos Ambrozini se destacou na Rádio Difusora da Laguna na década de 1950, onde assumiu como sonoplasta a convite do então gerente da emissora Agilmar Machado. Ao lado de Wilfredo Silva e Jucemar Otávio Tomaz o trio marcou época no rádio lagunense no comando da mesa de som.
Mais tarde foi locutor da emissora além de atuar como pianista nas apresentações musicais de auditório.
Luiz Carlos Ambrozini (sentado), seu irmão José Agostinho Ambrozini e Luiz Gonzaga Figueiró nos estúdios da Rádio Difusora da Laguna na rua XV de Novembro em 1949. Foto Bacha.
Depois se transferiu para a Rádio Garibaldi onde trabalhou também como sonoplasta, locutor e exerceu a gerência da emissora.
Ao lado de João Manoel Vicente apresentou na década de 1990 aos domingos o programa "Relicário Musical".
Conjunto Melódico Ravena em frente ao estúdios da TV Piratini de Porto Alegre quando de sua apresentação no programa de Oderi Ramos em fins da década de 1960. Luiz Ambrozini é o segundo da direita p/esquerda. Ao lado do Duca, a também vocalista Maria Lita.
Em paralelo foi membro do Conjunto Melódico Ravena, criado em 1959, ao lado dos mais novos expoentes da arte musical lagunense, como Álvaro Alano, Newton Careca, Ricardo Brandl, Emanuel Maiato (Duca), Orgel Ávila, Hélio Dias, Custódio Ezequiel, Jairo Siqueira e Mauro Camilo, entre outros.
Atuou também nos Conjuntos Jazz Lagunense, Jazz Catarinense e Capri.
Por muitos anos assinou a coluna "Bi-focando" no jornal O Renovador utilizando o seu nome, ora o pseudônimo “Sombra”.
Era casado com Marisa Oliveira Ambrozini e deixa os filhos Myriam e Jaison.
Sentimentos aos familiares e amigos.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Entrevista à Rádio Difusora Programa Bom de Papo

Nesta sexta-feira (31/7), via Skype, serei o entrevistado de Rafael Bicca na Rádio Difusora da Laguna, a partir das 18 horas, Programa Bom de Papo.
Um bate-papo informal. 

Para sintonizar a emissora em seu rádio, no dial 91,5 FM. Pela internet aqui ou pelo Facebook  
O telefone da rádio é o (48) 3644.0025
O Whatsapp (48) 98405-8251

Participe! Deixe o seu recado.

Para assistir na íntegra clique  aqui    


Asas e Aquarelas


Jornalista Márcio Dison, de Florianópolis lançando seu mais novo livro de poesias “ASAS E AQUARELAS”, pela Editora Insular.
A obra pode ser adquirida pelo preço de R$ 40,00 e recebida em casa, através de depósito na conta do Banco Santander Agência 2186-5, C/C 0173039-8 com envio do comprovante do depósito e endereço pelo Whatsapp (48) 99184-0345 ou via e-mail márcio@tradicao.org
Sucesso!

terça-feira, 28 de julho de 2020

Laguna foi fundada em 1676. Quem disse isso? O filho do fundador, ora bolas!

A Póvoa de Santo Antônio dos Anjos da Laguna foi fundada em 1676.
Quem disse isso?
Ora bolas! O próprio filho do fundador, o capitão-mor da Laguna Francisco de Brito Peixoto. E disse não uma, mas duas vezes.
Bem por isso estamos comemorando neste ano de 2020 344 anos de fundação.
Bem por isso, antes de mais nada PARABÉNS LAGUNA!
Domingos de Brito Peixoto, o fundador
da Laguna.em 1676. 
Quem discorda?

Durante muitos anos a data de fundação da Laguna foi um tema bem discutido.
No início década de 70, nossos maiores historiadores lagunenses e catarinenses chegaram a um consenso. Por fim, o tricentenário foi comemorado em 1976.
O historiador, médico, escritor, deputado, lagunense Oswaldo Rodrigues Cabral, autor de inúmeras obras de relevo da história catarinense, condensou os vários estudos e versões sobre a Fundação da Laguna. 
Cabral dissecou as várias correntes num extenso capítulo publicado no livro “Santo Antônio dos Anjos da Laguna – Seus valores históricos e humanos”, edição comemorativa da passagem do tricentenário de fundação da Laguna, publicado em 1976 pelo governo do estado, Imprensa Oficial – IOESC, no governo de Antônio Carlos Konder Reis.

Mas vamos por partes, que o assunto e longo e apaixonante. Para quem gosta, evidentemente.

Ano não foi escolhido aleatoriamente
Há um documento, citado por Carvalho Franco, onde aparece o ano de fundação da Laguna. Ele está transcrito quase que integralmente no livro Bandeiras e Bandeirantes de São Paulo – Cia. Editora Nacional – Col. Brasileira – Vol. 181 – S. Paulo, 1940 – págs. 282/3/4.

Trata-se de uma petição ao Rei, assinada por Francisco de Brito Peixoto, o capitão-mor da Laguna, o filho do fundador e presente quando da fundação da póvoa, e anexa à provisão-régia de 6 de fevereiro de 1714.

Certidão de Nascimento da Laguna
Em minha humilde opinião, é dos mais importantes documentos sobre a fundação da Laguna, de valor incalculável historicamente, porque é um depoimento, fonte primária insofismável, mesmo sendo feito 38 anos depois dos acontecimentos. Narra pormenores, como tempo desprendido da viagem pelos Brito Peixoto desde Santos, o ano, a quantidade de gente que trouxe, a morte do irmão Sebastião de Brito Guerra e a do pai Domingos de Brito Peixoto na Vila da Laguna.
O documento prova que a data, o ano de fundação da Póvoa de Santo Antônio dos Anjos da Laguna não foi escolhido aleatoriamente por alguns historiadores e legisladores três séculos depois visando comemorações de aniversário.

Cabral transcreve a petição e também o fazemos aqui:

“Diz o Capitão Francisco de Brito Peixoto, morador na povoação de Santo Antônio dos Anjos, que fez e descobriu para as bandas do sul, em distância de cento e vinte léguas da Vila de Santos, que ele teve tão grandes desejos de merecer no serviço de Vossa Majestade e de lhe dilatar o Império, que, sendo das principais e mais abastadas famílias de todas aquelas vilas do sul, deixou sua casa e a própria mãe e se foi com outro seu irmão mais moço, chamado Sebastião de Brito Guerra, que era tenente da Ordenança, em companhia de seu pai, o Capitão Domingos de Brito Peixoto, a descobrir novas terras que não fossem de pessoa alguma habitadas, e com efeito, NO ANO DE 1676 saíram da Vila de Santos, donde eram moradores, levando consigo cinquenta escravos seus, com os quais bem feitorizavam as suas fazendas, que deixaram incultas e todo o mantimento necessário para a dita gente, e para dez homens brancos, que com ela iam, como também outras armas e provimento bastante de pólvora e chumbo, e ferramentas condizentes para o rompimento dos matos e feitorias de embarcações, em que fizeram uma despesa tão grande como se considera, e com este apresto saiu da dita Vila, em que meteu mantimento e mais ferramentas necessárias, dando-lhes ordem fossem dar fundos defronte da paragem chamada Lagoa dos Patos, e que aí estivessem, até que o suplicante, seu pai e irmão chegassem, para lhe apontarem a paragem em que iam desembarcar, que o dito seu pai já tinha sabido, por ter de antes ido examinar o dito sítio, e depois que gastaram quatros meses no caminho com romper os matos e buscar as passagens, foi o mesmo suplicante com os mais dar no sítio da Lagoa dos Patos, com imenso trabalho de tão áspero e dilatado caminho... e nesta viagem lhe morreram mais de vinte e cinco escravos... e assim chegou ao dito sítio da Laguna, fez pôr em terra os mantimentos e ferramentas que pelo mar tinha mandado na fragata, fundando povoação... dando o pai do suplicante notícia ao Sereníssimo Senhor Rei Dom Pedro, que a glória haja, pai de Vossa Majestade, que Deus guarde, foi servido mandar-lhe agradecer por carta este novo descobrimento e povoação, o que fez com promessa de lho remunerar, a qual carta se perdeu em uma das ditas embarcações, porém a viram muitas pessoas que dela testemunharão, e assim o dito seu pai, como o suplicante, enquanto foi vivo, gastaram muita fazenda neste descobrimento, e nele lhe morreu o outro filho solteiro, o tenente Sebastião de Brito Guerra, com muita quantidade de escravos, que lhe mataram e se perderam, e o dito capitão Domingos de Brito Peixoto, pai do suplicante se faleceu na mesma povoação, depois do dito seu filho, e por sua morte nenhum outro varão lhe ficou mais que o suplicante, Francisco de Brito Peixoto”.

Um único documento desses dirimiria qualquer dúvida quanto ao ano de fundação da Laguna, não é mesmo, leitor? Mas há ainda mais.

Outra carta comprova o ano 1676 como da fundação
Moacir Domingues, em sua obra “A Colônia do Sacramento e o Sul do Brasil” – Porto Alegre – Sulina 1973 – pág. 239 – Doc. 27, transcreve outro documento assinado pelo filho Francisco de Brito Peixoto.

É uma nova carta ao Rei de Portugal, essa datada de 20 de abril de 1730, portanto 16 anos mais tarde o que já havia declarado na petição de 1714, o mesmo Francisco de Brito Peixoto, já com certa idade (85 anos, vai falecer em 1735), diz o seguinte:

“(...) Resolveu-se meu Pai Domingos de Brito Peixoto, vassalo de V.R.M, sendo morador da Vila de Santos, e abundante de bens, na mesma Vila a vir com todo o empenho, trazendo-nos em sua companhia assim a mim como a um irmão meu Sebastião de Brito Peixoto, em uma fragata, que para esse fim mandou fazer trazendo em nossa companhia muitos escravos, com todos os preparos necessários para o descobrimento deste lugar chamado a Lagoa dos Patos, cujo descobrimento fizemos em era de seiscentos e setenta e seis, e chegando à dita Laguna fizemos assento em o mesmo lugar, que é hoje da Vila...”.

E indaga Osvaldo Cabral sobre esse segundo documento:

“Por que insistiria Francisco de Brito Peixoto no milésimo 1676, se não fora ele o verdadeiro, fixado de tal modo em seu subconsciente que, mesmo valetudinário e quebrado pelos anos e desenganos, ainda era o que lhe vinha à mente para citar?”

Certidão de nascimento tardia da Laguna
Cá pra nós leitor, se fossemos fazer uma ação, requerendo na Justiça, uma espécie de Certidão de Nascimento tardia da Laguna, tal e qual ao que foi feito com a certidão de Anita Garibaldi, eis dois documentos imprescindíveis – fontes primárias, repito – que estariam em anexos aos autos.

Ainda Osvaldo Rodrigues Cabral, nas páginas 82/83 do livro “Santo Antônio dos Anjos da Laguna – Seus valores históricos e humanos, diz que aceitam o ano de 1676, preferindo-o a qualquer outro, os seguintes autores/historiadores:
Além dele próprio Cabral, Basílio de Magalhães, Aurélio Porto, Lucas Alexandre Boiteux e Aníbal de Matos.

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E o mês e dia de fundação da Laguna?
Quanto ao mês e dia de Fundação, aí sim não existem documentos que comprovem a data. Os estudiosos se dividem nas opiniões.

Diz Cabral na obra que venho me reportando até aqui, que não se conhece com exatidão

o dia em que o seu fundador, com sua gente - familiares, agregados, escravos, indígenas e homens de armas – pisou pela primeira vez, com propósitos de nele se fixar, o chão sulino e, olhando em torno, escolheu o local que lhe pareceu o melhor para deitar fundamentos a um povoado, dizendo aos circunstantes que acreditava ser aquele o sítio mais apropriados para fazê-lo, e ao mais que trazia em mente, e mandou que desenfardassem toda a tralha que traziam”. P. 57

Cabral salienta que Laguna “não seria a única de tantas povoações oriundas da expansão vicentista que perderia memória do dia exato em que se verificou o evento”.

No escudo das armas da Laguna, no segundo terço, estão a “Torre” dos Brito, fundadores do núcleo lagunense, Domingos de Brito Peixoto e seus filhos Francisco de Brito Peixoto e Sebastião de Brito Guerra; A “Cruz” florenciana dos Magalhães, genro do fundador e chefe da expedição para exploração das terras do Rio Grande; e a “Bandeira” dos Bandeiras, lembrando a atuação de Rafael Pinto Bandeira, para a incorporação do Rio Grande ao Brasil.
O único Santo Antônio dos Anjos
Sabe-se que era praxe entre os descobridores de novas terras, batizá-las com o orago a que seria dedicada.
No caso de Santo Antônio dos Anjos da Laguna, a dificuldade está justamente no complemento “dos Anjos”, sendo o nosso padroeiro o único santo com essa nomenclatura.

O saudoso professor Ruben Ulysséa debatia duas possibilidades:
13 de junho, data consagrada ao santo lisboeta – Santo Antônio de Lisboa, igualmente chamado de Pádua; e a data de 2 de outubro consagrado no hagiológio aos Anjos.
Hagiológio= Nome que se dá à descrição, estudo e tratado sobre a vida dos santos, no cristianismo.(N.A.)

Nail Ulysséa, estudiosa da nossa paróquia, escreveu todo um capítulo dedicado a Matriz Santo Antônio dos Anjos da Laguna, no livro em comemoração ao Tricentenário de Fundação.
Sobre o nome da Fundação, diz Nail “Que há um concerto uníssono em afirmar que a povoação foi fundada sob a invocação de Santo Antônio”.
“Porque “dos anjos”, isto sim, há diversas opiniões a respeito”, salienta.

Cita Ruben Ulysséa, para quem a povoação foi fundada a 2 de outubro, dia do Anjo da Guarda.

Nail Ulysséa também invoca a opinião de Frei Adalberto Ortmann, que em artigo publicado em 1958, no volume “Ensaios Paulistas, com o título de “Famílias de Piratininga e Franciscanos Paulistas”, afirma que frades franciscanos acompanharam Dias Velho, na fundação de Nossa Senhora do Desterro; e Domingos de Brito Peixoto, na de Laguna.
Franciscano que teria erigido “A capela de Santo Antônio dos Anjos, numa invocação típica dos franciscanos, lembrando a capelinha de Nossa Senhora dos Anjos, berço de sua ordem em Assis d’Itália”.

Nail Ulysséa também fala dos místicos, que se apoiam na lenda “de que a primeira imagem de Santo Antônio fora trazida pelos anjos e colocada na praia, onde foi encontrada”.

O historiador, pesquisador e colecionador Antônio Carlos Marega, em seu Blog, assim escreve sobre a data de fundação da Laguna:

“Chegando na Laguna no dia 02 de outubro, dia “dos Anjos” (Anjos Gabriel, Rafael e Miguel), Domingos de Brito Peixoto inteligentemente, não fugiu à tradição de oferecer a fundação ao santo do dia, só acrescentou antes o nome do santo de sua devoção (ouvi esta hipótese, pessoalmente do grande historiador Dr. Oswaldo Rodrigues Cabral). Fato é que veio com ele a primeira imagem de Santo Antônio, sendo colocada na capela de pau-a-pique, para devoção, devoção esta que chegou ao grau de intimidade entre o lagunense e o santo, como se tem para com um pai, um irmão ou para com um grande e melhor amigo. Santo Antônio dos Anjos é carinhosamente, o “Toninho”.
  
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Data de Fundação é Lei Municipal nº 15/1975
Voltemos ao início da década de 70. A data do tricentenário da Fundação da Laguna (1976) se aproximava e havia a necessidade de se marcar o dia e mês para as comemorações da Fundação. Mas que dia? Que mês do ano?
As opiniões se dividiam. Dia 13 de Junho? Dia 2 de outubro? Terceiro domingo de julho?

Legisladores lagunenses, junto aos historiadores e demais autoridades, optaram por 29 de julho. Lei Municipal nº 15/1975, de 02/05/75.

Por quê?
Dia e mês criados aleatoriamente, sem dúvida, mas onde também se pretendeu homenagear a República Catarinense com a criação de uma Semana em que se pudesse reverenciar a data, com exposições, concertos musicais, palestras, gincanas, etc...
Era o embrião da futura “Semana Cultural da Laguna”, que visava unir a população no conhecimento de sua história e se tornar uma atração turístico-cultural num mês “fraco” nesse aspecto.

Epílogo
A História não é uma ciência exata, como a matemática, por exemplo. A qualquer momento, através de novos documentos e/ou depoimentos que surgem pelas mãos de pesquisadores, tudo por ser reescrito.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Faleceu Armando Remor Mattar +

Faleceu em sua residência na manhã de hoje, vítima de infarto, Armando Remor Mattar, aos 62 anos, policial civil aposentado, filho dos saudosos Silmara e Armando Tuffi Mattar.
Deixa a esposa Jadna, três filhos e um neto, além de seus irmãos Tuffi, Marina e Marilene.
Há poucos dias (17/7) sua irmã Regina Mattar Moreira (sra. Arioswaldo Moreira) também faleceu.
Sentimentos aos familiares e amigos.

PS: Velório a partir das 9 horas desta terça-feira (28) na Casa Funerária Gomsan. Sepultamento às 14 horas no Cemitério da Cruz.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

O encalhe e naufrágio do navio Laguna

Era uma manhã de segunda-feira, 24 de outubro de 1921. A cidade se preparava para receber o navio Laguna, proveniente do Rio de Janeiro, que realizava este trajeto de cabotagem há muitos anos. Algumas pessoas, amigos e familiares dos passageiros já se dirigiam ao cais do centro da cidade para recepção, como era de costume.

Já nas primeiras horas do dia o posto semáforo situado na elevação mais alta da cidade, conhecida como Morro do Pau de Sinal (hoje Morro da Glória), já assinalava a aproximação da embarcação à barra dos molhes e seu adentramento.
 Vapor Laguna encalhado nas pedras da Barra da Laguna. Foto: acervo do autor.
O mesmo semáforo minutos depois alertava, através do hasteamento de três bandeiras, que o navio havia encalhado. Logo a notícia correu pela cidade.

O Vapor Laguna era um paquete de porte médio, com 49m8cm de comprimento, 8m6cm de largura, pesando 525 ton.
Fabricado pelo Estaleiro inglês Seath T. B. & Cia. Batizado com o nome de Alexandria, o vapor foi incorporado em 1890 à frota da Empreza Esperanza Marítima, sediada no Rio de Janeiro, então capital da República.

Em 1920 havia sido vendido ao Lloyd Brasileiro, continuando a fazer o mesmo trajeto de quase 30 anos entre Laguna e a então capital federal, transportando passageiros e mercadorias.
Era bastante conhecido da população lagunense, sempre participando das festividades de Nossa Senhora dos Navegantes, onde, ancorado no cais, embandeirava seus mastros. Vários de seus marinheiros eram nascidos na Laguna.

O Vapor Laguna transpôs a barra e o seu conhecido e perigoso banco de areia. Porém, logo após rebentou o gualdrope, que são cabos que vão por cada bordo enrolar no tambor da roda do leme onde o timoneiro governa a embarcação.
Desgovernado, o Laguna encalhou nas pedras do costão do Morro da Ponta da Barra, abrindo água na proa. Felizmente, todos os passageiros foram salvos juntamente com a tripulação.
Detalhe da foto ampliada mostra tripulantes e passageiros ainda a bordo do Vapor Laguna à espera de salvamento.
Um rebocador facilmente o teria retirado dali, conduzindo-o ao estaleiro para reparos. Mas, por incrível que pareça, não havia rebocador no movimentado porto da Laguna.
Os seguintes oficiais compunham o paquete Laguna:

Comandante: Ranulfo José de Souza
Imediato: Francisco José da Rocha
Chefe de Máquinas: José Antônio de Souza
1º piloto: Orlando Pires
2º piloto: Pedro Cabral
Comissário: Antônio Boaventura

Entre os passageiros que estavam a bordo, o coronel João Pinho, Salvato Pinho e Junqueira Botelho, comandante do Vapor Flamengo; além de Eugênio Magalhães e João Afonso.
Botelho, na qualidade de comandante de embarcações, disse à imprensa ser o acidente lamentável, “não cabendo nenhuma responsabilidade ao comandante do paquete Laguna. O gualdrope que partiu era novo”, sublinhou por fim.

   Rebocadores são chamados
O agente do Lloyd Brasileiro em Florianópolis era o dr. Heitor Blum, que recebeu um telegrama às 11 horas da manhã, remetido pelo comandante do Vapor Laguna, comunicando o desastre.
O documento solicitava que fosse imediatamente enviado ao local o rebocador Florianópolis. O comandante desconhecia que este rebocador estava encostado, condenado pela Capitania dos Portos.
Outro rebocador, de nome Lomba foi enviado. Às 12 horas um novo telegrama informava que a situação era crítica e que as máquinas já estavam paradas.

Às 19h30 o rebocador Lomba, abastecido de carvão, seguiu para Laguna. No comando o capitão-tenente Adalberto Cotrim Coimbra.
Também foi requisitado o rebocador Eolo, de Itajaí, comandado por Apolinário Brandão, que chegou à capital às 22 horas partindo em seguida para Laguna e levando a bordo o almirante Portilho Bastos; o comandante do porto, Manoel de Gouvêa Coutinho e Euzébio Machado, funcionário do Lloyd Brasileiro.

“O Eolo foi antes a Fortaleza de Santa Cruz, receber mangotes para serem aplicados às bombas e de lá seguiu para Imbituba, onde foi buscar uma chata da Companhia Lage e rebocá-la para o porto da Laguna”, diz o jornal O Estado, de Florianópolis, em sua edição de 25, dia seguinte ao encalhe.
Nesse ínterim, com as horas passando à espera dos rebocadores, as águas invadiram o porão da proa e o compartilhamento de máquinas do vapor.
 Rebocador Eolo, ancorado no Porto da Laguna, que veio de Itajaí para ajudar no resgate do Vapor Laguna. Acervo do autor.
Ao chegar ao local do sinistro para verificar sua extensão e abrir o inquérito marítimo, o capitão do porto Manoel de Gouvêa Coutinho e o almirante Portilho Bastos afirmaram ser possível o salvamento do navio, desde que os serviços começassem imediatamente.
O capitão do porto declarou preliminarmente que o acidente foi devido a imprevistos materiais e naturais.
Os serviços de descarga já haviam sido iniciados e também o desmonte de equipamentos para aliviar o peso da embarcação, que estava presa por quatro espias. Um guindaste a vapor foi providenciado e retirava equipamentos metálicos que vinham a bordo para a Companhia Carbonífera de Urussanga.

Proveniente de Florianópolis, a bordo do navio Max da firma Hoepcke Irmão & Cia, um dia depois chegou à Laguna, o comandante Carlos de Abreu para dirigir os trabalhos de salvamento do navio.

Com o mesmo objetivo, juntos também chegaram o maquinista Colombo Pires e o escafandrista de nome Luiz Hubert, cedido pela firma Lage & Irmãos. Este último profissional veio se juntar ao seu colega de profissão, escafandrista Athanásio Feijó, da Companhia de Melhoramentos da Barra da Laguna.
O Max também trouxe em seus porões uma bomba centrícula, ferros e uma espia.
O que parecia fácil e de rápida solução foi se tornando demorado, com opiniões divergentes quanto a métodos de salvamento.
O navio Laguna ancorado no cais do velho porto (imediações da Capitania dos Portos), todo embandeirado na Festa dos Navegantes, na década de 1910.
Um mês se passou
Passado quase um mês, no dia 20 de novembro, o jornal O Albor noticiava numa pequena nota que haviam retornado no dia 19 a Florianópolis pelo rebocador Lomba e pelo paquete Oyapock, respectivamente, o almirante Portilho Bastos e Manoel Gouvêa Coutinho, membros encarregados da comissão de salvamento do navio.

Na mesma edição, O Albor trazia estampada a informação de que havia chegado a Laguna o paquete Oyapock, de passageiros e mercadorias, da mesma companhia proprietária do Vapor Laguna, a Lloyd. Trazia a bordo uma nova comissão para continuar os trabalhos de salvamento do vapor Laguna. Vinha direto do Rio de Janeiro, designada pelo diretor do Lloyd Brasileiro, Buarque de Macedo.

A comissão era composta pelo inspetor de máquinas João Vicente da Cruz, pelo prático-mor José Antônio de Araújo e mais treze operários, entre escafandrista, carpinteiros, bombeiros e maquinistas.
Sobre o navio Oypock que havia chegado ao porto lagunense, O Albor se derrama em elogios, descrevendo que era elegante e luxuoso e que havia sido muito visitado durante a estada no porto. Era dotado de “intensa iluminação elétrica, inúmeros, espaçosos e higiênicos camarotes de primeira classe, uma elegante sala para senhoras e um vasto salão para refeições”.

Ao fim da nota, o editor aproveitava para ressaltar que os comerciantes da Laguna iriam se dirigir à diretoria do Lloyd Brasileiro a fim de que este navio substituísse o Vapor Laguna em viagens regulares Rio de Janeiro-Laguna. Com isso a publicação já demostrava que não havia mais esperanças de salvamento para este navio.
Ressalte-se que durante muitos anos a imprensa e comerciantes lagunenses também fizeram ampla campanha junto ao governo federal solicitando um rebocador permanente para o porto da Laguna. Nunca foram atendidos.

   Uma entrevista provoca protestos
Em sua edição de 22 de novembro de 1921, o jornal O Estado, de Florianópolis, trouxe uma entrevista com o contra-almirante Portilho Bastos, sobre o encalhe do Vapor Laguna com explicações sobre os serviços de salvamento que foram efetuados durante quase um mês.

Bastos preliminarmente conta à reportagem como recebeu a notícia do encalhe do navio Laguna e os preparativos que empreendeu para a viagem até Laguna. Depois narra as providências tomadas. É um verdadeiro relatório pormenorizado dos trabalhos efetuados, repleto de termos técnicos.
Julgo interessante reproduzi-lo aqui, em seus principais trechos, até para enriquecer esta pesquisa e melhorar o entendimento dos serviços de salvamento realizados, há quase cem anos, num navio encalhado na Barra da Laguna:

“Ali chegados, tratamos de melhorar o espiamento do paquete e demos começo à descarga de seus porões, serviço este já iniciado por bordo, com talhas patentes, visto que os guinchos para este serviço só podiam funcionar com vapor”.
Tratamos de procurar em terra e colocar a bordo uma caldeira e bem assim bombear a vapor para atacar o esgotamento preliminar, necessário neste caso.
Efetuada a descarga dos porões, com os dois mergulhadores, fomos conhecer da verdadeira situação do navio.
Para o aparelhamento do esgoto, retiramos uma bomba a vapor de 70 ton do rebocador “Eolo”; outra de 25 ton do paquete inutilizado “Paulo de Frontin”; outra de 25 ton da obra do porto e outra que requisitamos do rebocador “Florianópolis”.
O serviço foi coroado de excelente êxito, ficando inteiramente esgotado, com exceção do porão de vante onde existem os rombos.
Foram vedadas por meios diferentes as anteparas dos compartimentos estanques do porão de vante para as caldeiras e máquinas e assim, os da máquina para o porão de ré, como também a cravação do túnel da hélice, que passa por esse porão.
Depois de executar este serviço, verificamos existir no porão de vante 4 rombos, sendo um de 1m60cm de comprimento por 1m20cm de largura e os outros de 25cm mais ou menos; o maior está situado ao centro da braçola da escotilha a vante, junto ao pé de carneiro, e os outros a bombordo e dois a boreste.
Foram fabricadas duas camisas de colisão, feitas de lona nova, dobrada.
Depois da execução daqueles serviços, ficamos convencidos que precisávamos aliviar a proa do navio, parte em que está situado o porão, o qual permanecia cheio d’água, acompanhando o nível da maré e onde se apoiava, tendo pela parte interna uma pedra no maior rombo com 11 e meia polegada para dentro. Assim tratamos de retirar deste mesmo porão, três grandes tanques de ferro, que pelas suas capacidades, nos dariam um deslocamento suficiente, e mais setenta e três barris de óleo vazios, obtidos na estrada de ferro.
Aqueles tanques foram preparados com dois tubos, um suficiente para o seu completo esgotamento e outro para entrada de ar, os quais, um foi por nós colocados em posição conveniente, isto é, a boreste, à ré do porão, sendo que o outro das mesmas dimensões deveria ser colocado à mesma posição a bombordo e o terceiro à meia nau, por entre a ré do porão de vante, todos no mesmo porão já citado e assim os barris deveriam ser colocados, distribuídos convenientemente atracados ao fundo do porão por meios de cabos nos pés de carneiro.
Ordens foram dadas para que as amarras, ferros, paus de carga, enfim, todo peso existente à proa fosse retirado de bordo ou passado para a ré do navio.
Dois foram os ensaios feitos para esgotar o porão das máquinas e caldeiras, os quais deram excelentes resultados tendo-se esgotado até abaixo dos estrados e daí não baixando mais. Assim deixou-se equilibrar o navio sobre o fundo.
O porão de ré, assim como os compartimentos para ré, depois de esgotados foi mantido com pouca água, pois era isso de toda conveniência”.

No final do texto, no último parágrafo, o contra-almirante informava que essa foi a situação deixada à nova comissão que havia sido enviada pelo Lloyd Brasileiro à Laguna para assumir a continuação dos trabalhos.

Encalhado sobre pedras?
De tudo o que foi dito, do extenso relatório técnico bem produzido e publicado no jornal O Estado, o que causou indignação e revolta às autoridades e imprensa lagunense, levantando os ânimos críticos, foi uma afirmativa logo no começo do texto: a de que o paquete Laguna estava “encalhado sobre pedras existentes no banco da entrada da barra”.
Eis um tema que despertava paixões, uma invenção maldosa que já vinha de alguns anos, parecendo ser até uma campanha orquestrada, se dizia, para desqualificar a barra da Laguna e prejudicar seu porto. Hoje falaríamos, utilizando uma expressão atual, tratar-se de uma fake news.
O tempo realmente mostrou que nunca existiu naquele local um obstáculo em forma de pedra ou laje.
Na verdade, o encalhe do Vapor Laguna se deu após a transposição do banco de areia, já dentro das águas da barra, por um problema mecânico, o encalhando desgovernado nas pedras do costão da Ponta da Barra.

Na edição de 4 de dezembro, em forte editorial com o título “Respondendo”, o jornal lagunense O Albor comprou a briga e contestou a tal afirmação do almirante:

“Custa-nos a crer que um oficial da nossa Marinha de Guerra, com a responsabilidade que lhe devia pesar os assuntos hidrográficos da nossa costa, tivesse a facilidade de incorrer em tamanho deslize profissional.
Ora, todo o mundo sabe que o banco existente em nossa barra sempre foi constituído simplesmente por camadas de areias móveis, que ora se deslocam para a direita, ou para a esquerda; daí o se constatar que hoje a barra está para o sul, e amanhã para o norte.
Também, é do conhecimento de todos que à proporção que o molhe tem avançado para o mar, o banco da nossa barra vai recuando para fora, o que fica exuberantemente provado não existir rochedo algum no banco da nossa barra e sim que ele é constituído por camadas arenosas que se movem ao léo das correntes marítimas e das águas do Rio Tubarão.
Em resumo: o “Laguna” não bateu em pedra alguma no banco, porquanto no banco não há pedra”.

   Divergências
Houve desde o início dos trabalhos, divergências entre os técnicos e os chefes da comissão de salvamento do Vapor Laguna.
De acordo com a Revista Santelmo, publicação editada na Laguna por Lucas Bainha, em sua edição de nº 1, de 1º de janeiro de 1922, o resgate da embarcação, encalhada em 21 de outubro, poderia ter sido efetuada até o dia 2 de novembro, já que o mar até a esta data manteve-se calmo.
 Vapor Laguna dois meses após seu encalhe, já sem a chaminé, sendo desmontado.
Foto: Acervo do autor.
Após esta data “caiu forte vento nordeste, a barra engrossou e o navio começou a ser fustigado pelas ondas, alargando o rombo produzido pelo mar”.
A revista também afirma que o escafandrista Athanásio Feijó propôs que o único meio para salvar o navio “seria o emprego de flutuantes: pipas, balões, etc”. Também sugeria que não era possível tapar os dois buracos da embarcação porque em cada um havia a ponta de uma pedra “que devido aos movimentos do navio estavam em constante movimento, crescendo e aparecendo outros”. Os encarregados não lhe deram ouvidos.

Uma quadrinha zombeteira
Na mesma edição alguém usando o pseudônimo Nico, publicou umas quadrinhas com o título “Roça no mar?” zombando da situação do navio. Fez uma troça, como então se dizia:

Chamar ao “Laguna” roça?!..
É coisa de algum brejeiro
Mas, ainda mesmo de troça
Convém mais, ser verdadeiro.

No mar, que o arrecife coça,
Há pescado, há pesqueiros,
Navios que sem deixar mossa.
O cortam, belos, ligeiros.

Em nobres fins, diferentes
Barras por abrir, fechar...
Náufragos de suas correntes...

Para as medir - comissões,
Como também de salvar...
- Com faces de tubarões.

Em sua edição de nº 3, a Santelmo lamenta que os serviços de resgate no navio Laguna estavam parados:

“Tivemos sempre um pouco de esperança enquanto víamos prosseguir os trabalhos para o seu salvamento, mas, agora que tudo está paralisado, foram-se, também, as nossas esperanças, não só de vermos novamente aquele belo paquete cortar as águas da nossa baía, como também a de ver outro paquete substituí-lo”.

Proposta de salvamento recusada pelo Lloyd
Em outro trecho da mesma reportagem somos informados que uma proposta de salvamento da embarcação, feita por um conhecido industrial da Laguna, havia sido recusada.

“Parece-nos que o Lloyd Brasileiro tem interesse que o Laguna não seja salvo, porquanto sabemos que se recusou a aceitar a proposta do sr. Arcângelo Bianchini. Que prejuízo podia ter o Lloyd em aceitar essa proposta? Nenhum”.

Bianchini era um forte industrial de nossa cidade, construtor do cais de granito em forma de elipse do velho porto, da grande murada de pedra do cemitério da Irmandade e da construção do prédio do então Grupo Escolar Jerônimo Coelho, inaugurado em 1912, entre outros empreendimentos de vulto.
   
  O fim
A mesma revista em sua edição nº 5 do mês seguinte, 28 de fevereiro, trouxe a triste notícia final: “O vapor Laguna vai ser abandonado por se tornar impossível o seu salvamento”.
 De fato. Os dias se passaram formando inexoráveis meses e anos. Nem a primeira ou segunda comissão de técnicos para salvamento do navio conseguiram resgatá-lo.
Retirada a maior parte de suas peças e casco de madeira lá ele ficou depositado. Seu esqueleto, carcomido pela maresia e indiferença dos homens desapareceu sob as águas do mar grosso.
Ficou sua história e o seu passado glorioso de viagens idas e vindas entre o Rio de Janeiro e Laguna. Ficaram suas fotografias em preto & branco, amareladas pelo tempo que a tudo corrói e tudo consome.