quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Reportagem da UNI TV destaca Banda Musical União dos Artistas e lançamento do livro

        Reportagem de Isabel Silva com imagens de Gabriel Machado para o Programa Câmera Aberta Meio Dia da UNI TV (Unisul TV) (Laguna e região Canal 26), desta quinta-feira (29), trouxe reportagem sobre o Projeto “EM CANTAR”, em execução pela Sociedade Musical União dos Artistas da Laguna. E uma curta entrevista sobre um livro de minha autoria sobre a centenária banda, que lançarei em novembro deste ano.


   O Projeto é uma parceria com a prefeitura da Laguna através da secretaria de Assistência Social e do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, com assinatura do Termo de Fomento nº 002/2022 para repasse de recursos do Fundo da Infância e Adolescência-FIA.
Com isso foram abertas em junho as inscrições gratuitas para a Oficina de instrumentos de sopro e percussão voltada para crianças a partir de 10 anos e adolescentes vindos de escolas públicas da Laguna.
Neste mês de setembro de 2022 quase 60 alunos estão inscritos.

Livro sobre a Sociedade Musical União dos Artistas será lançado em novembro de 2022

À ocasião fui entrevistado para falar rapidamente sobre o meu livro intitulado “SOCIEDADE MUSICAL UNIÃO DOS ARTISTAS – Atravessando os séculos”, em fase de finalização, com previsão de lançamento para o próximo mês de novembro.
A edição é deste próprio autor, sem verbas públicas.
São mais de 250 páginas bem ilustradas onde viajo no tempo. Listo bandas mais antigas, relembro datas e nomes esquecidos pela memória coletiva, biografias de maestros, músicos, diretores e colaboradores. Trago à tona fatos históricos pouco conhecidos e conto muitos episódios interessantes, alguns pitorescos.
É um resgate da memória da Sociedade Musical União dos Artistas desde o ano de 1860, quando a corporação foi fundada. É um trabalho de fôlego que levei quase três anos e onde entrevistei mais de cinquenta pessoas, entre músicos, ex-diretores, familiares, colaboradores.
No livro, procuro detalhar uma trajetória que atravessa três séculos, com suas retretas, tocatas e concertos.


segunda-feira, 26 de setembro de 2022

João Henrique Teixeira, o marinheiro lagunense que ajudou Garibaldi e morreu pela República

 Vários foram os lagunenses que se destacaram quando da República Catarinense, em 1839. Evidentemente, historiadores, pesquisadores, jornalistas e escritores se dedicam em abordar mais  a heroína Anita Garibaldi, seus feitos e glórias, além do romance com o italiano Giuseppe Garibaldi.
 
O marinheiro João Henrique
Um dos participantes das batalhas daqueles dias, conhecido como um homem corajoso e enérgico foi o lagunense João Henrique Teixeira.
Quem era ele?
Suas origens são desconhecidas e estão a merecer maiores pesquisas.
Mas sabe-se que era marinheiro. E dos bons. Foi um dos primeiros a aderir à causa republicana. Aliás, havia muitos simpatizantes desse regime em nossa região.
Quando da Tomada da Laguna em 22 de julho de 1839, foi João Henrique Teixeira que, conhecedor da região, orientou Garibaldi e seu barco “Seival” quando esta embarcação entrou pela Barra do Camacho e percorreu os pequenos canais e lagoas até chegar ao Rio Tubarão. Assim surpreendeu, pela retaguarda, as forças imperiais que aguardavam a invasão pela Barra da Laguna.
O historiador Henrique Boiteux diz em sua obra que Garibaldi conseguiu transpor a Barra do Camacho “não sem dificuldades; graças porém à perícia de um prático, filho do local, o provecto marinheiro João Henrique, com ele subiu o Rio Tubarão”. (A República Catharinense – Notas para sua história).
O barco "Seival" anos depois em nosso cais, já denominado "Garrafão"
Garibaldi em suas Memórias fala sobre o lagunense
Em suas memórias ditadas a Alexandre Dumas, Garibaldi diz que sem o auxílio do marinheiro lagunense dificilmente chegaria à Laguna.
E a confiança foi tanta, assim como a gratidão, que a primeira embarcação tomada aos legalistas pelos revolucionários republicanos foi entregue provisoriamente  ao comando de João Henrique Teixeira. Era uma canhoneira chamada “Lagunense”, tripulada por doze homens.

Na sessão extraordinária da Câmara de Vereadores realizada em 12 de setembro de 1839, David Canabarro foi nomeado em Chefe do Exército Catarinense. O decreto havia sido assinado em 5 de setembro.
Nesta mesma sessão a Vila da Laguna foi elevada à categoria de cidade com a denominação de Juliana, capital do estado. O decreto havia sido assinado em 10 de setembro.
Já na sessão de 14 de outubro Giuseppe Garibaldi foi nomeado chefe da Esquadra Catarinense com o posto de capitão-tenente.

Na mesma sessão foi organizada e nomeada a Esquadra dos pequenos navios e seus comandantes:
“Rio Pardo”, comandado por Giuseppe Garibaldi
“Caçapava”, pelo americano João Grigs
“Seival”, por Lourenço Valerigini
“Itaparica”, por João Henrique Teixeira
“Santana”, por Inácio Bilbao e
“Lagunense”, por Manoel Rodrigues.

Defesa naval ficou a cargo de João Henrique
Nos primeiros dias de novembro, Garibaldi seguiu para o corso pelo nosso litoral até Santos. Com isso a defesa naval da Laguna ficou sob o comando de João Henrique Teixeira.
Henrique Boiteux em sua obra já citada, diz que ao retornar do corso “Garibaldi encontrou no tocante à defesa naval tudo disposto para uma séria resistência. João Henrique não havia desmerecido do conceito em que era tido. Revelou-se um verdadeiro chefe e espírito organizado”. 

Sobre o mesmo episódio Wolfgang Ludwig Rau em sua extensa obra “Anita Garibaldi – O Perfil de uma Heroína Brasileira” relata que Garibaldi “Para suprir a sua ausência, encarrega João Henrique Teixeira, herói lagunense, da defesa do porto, comandando o barco “Itaparica”.
O “Itaparica” havia sido comandado pelo imperialista 1º tenente lagunense Ernesto Alves Branco Muniz Barreto quando do combate inicial em que defendeu Laguna da invasão pelos farroupilhas.
O comandante Barreto quando intimado a render-se respondeu a Garibaldi, “que se rendia por se achar desobedecido, com o navio encalhado e sem meios, portanto, de combater, jamais por covardia”.
“Garibaldi apreciou este gesto de bravura”, diz Saul Ulysséa em seu livro “Coisas Velhas”. 
O Itaparica queimando à entrada da Barra da Laguna na Batalha de 15 de Novembro de 1839. Óleo sobre tela. Willy Zumblick.
Quando da Batalha Naval de 15 de novembro de 1839 em que Laguna foi retomada pelos imperialistas que tinham em seu comando naval o almirante Frederico Mariath, João Henrique Teixeira morreu em combate a bordo do “Itaparica”.
“Ele lutou sem descanso, entre o sibilar das balas e o ribombar dos canhões.
O “Itaparica” ficou com o mastro partido, todas as suas bordas esfaceladas, costados avariados e toda sua guarnição morta”.
 
Em suas memórias Garibaldi narra como foi o combate de 15 de novembro de 1839: 
“O combate foi o mais terrível e mortífero que se poderia julgar. Anita ficou sempre ao meu lado, no posto mais perigoso, não querendo nem desembarcar nem aproveitar-se de nenhum alívio, e sem ao menos inclinar-se como faz o homem mais bravo quando vê a mecha (pavio) aproximar-se do canhão inimigo”.
Tomada da Laguna em 15 de novembro de 1839. Desenho de  Lucas Boiteux
E Garibaldi continua narrando: “Dos seis oficiais que existiam nos navios só eu sobrevivi.
Era um verdadeiro açougue de carne humana; andava-se por cima de montões de cadáveres; caminhava-se sobre cabeças separadas dos troncos e a cada passo se tropeçava em membros dispersos.
Em presença deste espetáculo apalpei-me e perguntei a mim mesmo como, não me tendo poupado mais do que os outros, pudera ficar incólume”. 

Uma morte terrível
No convés havia tombado o destemido marinheiro lagunense João Henrique.
Lembra Garibaldi em suas memórias “que ele foi encontrado deitado no meio de dois terços de sua tripulação com uma bala que lhe tinha feito no meio do peito um buraco, por onde podia perfeitamente passar um braço”.

Derrotados na Batalha, Garibaldi havia recebido ordens de David Canabarro para por fogo nos navios, evitando assim a abordagem pelos imperialistas. E assim o fez.
Violenta explosão que atingiu o paiol de pólvora levou pelos ares a embarcação “Itaparica” e os cadáveres de João Henrique Teixeira e de seus companheiros que tiveram como túmulo o mar ali do Pontal, defronte à Ponta da Barra.
Enquanto isso Garibaldi, Anita, Canabarro, demais oficiais e soldados partiam pela Passagem da Barra, na chamada Retirada da Laguna. 
Sobre a morte do marinheiro João Henrique escreve o historiador Henrique Boiteux “Morreu assim João Henrique Teixeira, obscuro herói, cujo nome é tão pouco conhecido na história catarinense.
Teve ele por túmulo as águas da Laguna que banham a sua cidade natal e nas quais tanto se ilustrou”.

Família "Guimarães Teixeira"
Saul Ulysséa em seu livro “Laguna de 1880”, conta que o filho do bravo marinheiro João Henrique Teixeira, chamado Fernando Henrique Teixeira, foi proprietário de uma casa comercial na rua da Praia (rua Gustavo Richard).
“Era ativo comerciante e de gênio expansivo tinha sempre uma pilhéria ou ditos prontos para atrapalhar qualquer um. Usava a barba cerrada, aparada e já grisalha”.
Este comerciante Fernando Henrique Teixeira era casado com Patrícia Torres Guimarães. O casal foi tronco da numerosa família “Guimarães Teixeira”.

Em homenagem ao marinheiro João Henrique Teixeira uma rua do bairro Magalhães recebeu seu nome, mais conhecida popularmente como "rua do valo".

terça-feira, 20 de setembro de 2022

Descendentes de Anita e Garibaldi que já estiveram na Laguna

 
Com o lançamento, com grande sucesso, do seu livro de memórias escrito por Alexandre Dumas, o italiano Giuseppe Garibaldi lançou para todo o mundo a figura de Anita Garibaldi como a mulher destemida, guerreira, companheira, mãe de seus filhos e grande amor de sua vida.
Pelo narrado, muitos dos seus descendentes desejaram conhecer as origens desta mulher, local de nascimento e regiões onde se desenrolaram os históricos acontecimentos descritos no livro.
Bem por isso nas décadas seguintes, e até hoje, os descendentes de Garibaldi e Anita visitam o Brasil e os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Ano 1899
Ricciotti Garibaldi, o quarto e último herdeiro, nascido em Montevidéu, foi o único filho de Anita e Garibaldi a visitar o nosso país.
Ricciotti Garibaldi. Foto: Wikipédia
      A viagem aconteceu no século XIX quando, acompanhado da esposa, passou pelo Rio de Janeiro com destino a Buenos Aires, na Argentina.
O jornal lagunense O Futuro, de 11 de junho de 1899 anunciou em sua capa:
“Depois de alguma demora, Ricciotti irá a Montevidéu, vindo em seguida para a cidade de Laguna visitar a pátria de sua progenitora”.
Jornal O Futuro de 11 de junho de 1899.
Em 27 de julho do mesmo ano o jornal A República reforçou a notícia:
“É bem provável que o filho da legendária Anita venha à cidade de Laguna visitar o torrão natal da heroína catarinense”.
Mas o jornal lagunense O Futuro de 5 de novembro esclarecia que Ricciotti já havia retornado a Roma “de volta de sua excursão pela Argentina, não se verificando a notícia que ultimamente correu a respeito da sua provável visita à terra natal de sua gloriosa progenitora”.
Ele faleceu em 17 de julho de 1924.

Ano 1914/1929
Só em 1914, outro descendente de Anita e Garibaldi, a neta Annita Itália Garibaldi, filha de Ricciotti com Harriet Constance Hopcraft viajou com destino a Laguna e Tubarão, aportando no Rio de Janeiro. Mas a eclosão da 1ª Guerra Mundial abreviou a viagem.
Ela retorna em 1929 e em 4 de janeiro desembarca em Florianópolis onde, segundo o jornal A República “Altas autoridades civis e militares e representantes da colônia italiana foram cumprimentá-la”.
Na ocasião, o desembargador José Boiteux “apresentou a senhorinha às autoridades, ao cônsul da Itália Mário Gestine e aos membros da colônia italiana".
“Manteve animada palestra com os presentes, manifestando a sua magnífica impressão que recebeu ao aportar a nossa Capital e exprimindo a sua profunda gratidão à fidalga acolhida feita”.
Uma súbita moléstia (teria sido uma gripe?) atrasou o início de sua missão no Brasil que era recolher informações para um livro que estava escrevendo sobre a avó.
Dias depois, já recuperada, se despediu e embarcou em 22 de janeiro para Imbituba onde colheu dados e visitou alguns locais.
Annita Itália Garibaldi
Em 25 veio para Laguna. O jornal lagunense O Albor de 27 daquele mês noticiou sua chegada:
“Com o trem do horário de quinta-feira, chegou à cidade, a senhorita Annita Itália Garibaldi, neta da grande heroína Anita Garibaldi, que aqui veio com o fim especial de colher dados para a obra que está escrevendo sobre aquela ilustre conterrânea.
A senhora Garibaldi foi recebida na “gare” da Estrada de Ferro D. Thereza Cristina por crescido número de senhoritas e de exmas. Famílias, cavalheiros, autoridades locais e colônia italiana, aqui domiciliada.
A senhorita Annita é hóspede do município”.

Depois foi a Araranguá, e o jornal A República de 3 de fevereiro de 1929 registrou que lá ganhou de presente a “bússola que pertenceu ao seu ilustre avô”.
Em 1º de fevereiro esteve em Tubarão onde visitou Morrinhos, foi ainda a Orleans, São Joaquim, Lages e Curitibanos.
No dia 22 de fevereiro retornou a Florianópolis e depois ao Rio de Janeiro onde partiu para a Itália.
Em 1931 retornou ao Rio de Janeiro, realizou conferência e lançou sua obra.
O livro intitulado “Garibaldi na América” foi traduzido por Renato Travassos e lançado no Brasil pela editora Alba, do Rio de Janeiro. Nele a autora Annita fala do primeiro casamento de sua avó. Textualmente diz:
“Casada cedo com um jovem da Laguna estabeleceu-se com o marido no Morro da Barra. A aparição do jovem italiano, já notável pela sua personalidade e fama, à sombra da casa em que vivia com seu marido, mudou de golpe o aspecto e a orientação de sua vida”.
Annita Itália Garibaldi faleceu na Itália aos 83 anos em 7 de março de 1962.

Ano 1970
Em 1970 esteve na Laguna “para uma viagem sentimental”, Giuseppina Garibaldi Ziluca, com 75 anos, também ela filha de Ricciotti Garibaldi com a inglesa Harriet Constance Hopcraft.
Viúva de Joseph Henry Ziluca, viajou acompanhada do filho, coronel Paul Garibaldi Ziluca, e da nora Luiza. Residiam em Connecticut, nos EUA.
A neta de Anita e Garibaldi chegou dia 15 de outubro em Florianópolis e foi recebida pelo secretário estadual Armando Calil Bulos (ex-deputado por Laguna), representando o governador Ivo Silveira. Acompanhados do arquiteto, pesquisador e escritor Wolfgang Ludwig Rau seguiram para Laguna onde toda a família foi recepcionada pelo prefeito Saul Ulysséa.

Da direita p/esquerda: Santos Guglielmi, Humberto Bicca, Manoel Américo de Barros, Wolfgang Ludwig Rau, Salun Nacif, Paul Garibaldi Ziluca, prefeito Saul Baião, Adib Abrahão Massih, Giuseppina Garibaldi Ziluca, Luiza Ziluca e demais familiares. Foto: Bacha. Acervo Valmir Guedes Júnior

Giuseppina Garibaldi com seu filho Paul Garibaldi Ziluca e a nora Luiza. Foto Bacha. Acervo Valmir Guedes Júnior
Aqui visitaram o Museu e Estátua Anita Garibaldi, a chamada Casa de Anita, a Matriz Santo Antônio dos Anjos e a Árvore de Anita, no Jardim Calheiros da Graça, na Praça Vidal Ramos.
Foram ciceroneados por Salun Nacif, presidente do Conselho Municipal de Cultura e fizeram muitas fotografias.
Defronte à Casa de Anita. Foto Bacha. Acervo Valmir Guedes Júnior

Em primeiro plano Giuseppina Garibaldi Ziluca com o filho  (à esquerda) Paul Garibaldi Ziluca e o prefeito Saul Ulysséa. Em segundo plano Humberto Bicca, presidente da Associação de Ex-Combatentes Seccional da Laguna e o arquiteto, historiador e escritor Wolfgang Ludwig Rau. Foto Bacha. Acervo Valmir Guedes Jr.
Em entrevista à imprensa disse que “conhecer Laguna era uma de suas maiores aspirações”.
Rau em sua obra “Perfil de uma Heroína” esclarece que “Garibaldi e mais tarde os seus filhos, ocultaram obstinadamente o fato de ter sido Anita casada em primeiras núpcias com Manoel Duarte de Aguiar”.
Pois foi nesta ocasião que informada por Rau sobre o primeiro casamento de Anita com Duarte de Aguiar, a neta Giuseppina respondeu: “Não pode ser, meu pai nunca nos falou nisso”.
Menos de um ano depois de visitar a nossa cidade, Giuseppina faleceu na Itália em 19 de julho de 1971. 

Ano 1981/1982
Em 2 de dezembro de 1981, Annita Constance Garibaldi Hibbert chegou a Santa Catarina acompanhada do seu marido Raymund Hibbert. Ela é bisneta da heroína, filha de Ézio Garibaldi (filho de Ricciotti) com Hope Mac Michael. Constance presidia na ocasião a Fundação Europeia de Cultura, e trabalhava numa antologia de telas e ilustrações garibaldinas.
Salun Nacif, Malvina com o marido Wolfgang Ludwig Rau, Raymund Hibbert com esposa Annita Constance Hibbert, prefeito Mário José Remor e um casal de amigos. Foto Bacha. Acervo Valmir Guedes Júnior
Ciceroneada por Wolfgang Ludwig Rau esteve na Laguna, Porto Alegre e Brasília. Em nossa cidade foi recebida pelo prefeito Mário José Remor.
Na capital gaúcha ficou sensibilizada com o monumento no centro daquela capital inaugurado em 1913. À imprensa declarou: “Em lugar nenhum, nem na Itália, vi uma estátua dos dois juntos”.
Em setembro de 1982 retornou com uma delegação ministerial italiana para participar das homenagens pelo centenário da morte de Garibaldi. 

Ano 1985
Em setembro de 1985 aqui esteve de passagem Erika Garibaldi com seu filho dr. Giuseppe Garibaldi e esposa Flávia.
A família veio em viagem de peregrinação cultural e sentimental e também para participar no Rio Grande do Sul das festividades pelo Sesquicentenário da Revolução Farroupilha.
Foram recebidos no Paço Municipal pelo prefeito João Gualberto Pereira e vice Rogério Wendhausen.
Visitaram a Matriz Santo Antônio dos Anjos, a Casa onde Anita vestiu-se para seu primeiro casamento e a casa onde morou, na rua Fernando Machado (rua do Rincão).
No dia seguinte as homenagens aos ilustres visitante foram feitas na Praça República Juliana, com discursos e visita ao Museu Anita Garibaldi. O Coral da Pastoral da Juventude do Magalhães se apresentou.
Erika Garibaldi, progenitora do dr. Giuseppe Garibaldi, bisneto de Anita e Giuseppe. Foto Divulgação A Notícia.
.     Dr. Giuseppe Garibaldi (bisneto de Anita e Giuseppe) é filho de Ézio Garibaldi que por sua vez é filho de Ricciotti com Harriet Constance Hopcraft.
Quando de sua visita a nossa cidade, Erika Garibaldi presidia o Instituto Internazionale di Studi Giuseppe Garibaldi, entidade dedicada a resgatar e glorificar a memória do herói da reunificação italiana.
À imprensa ela disse que achava muito positiva a bandeira levantada pelos catarinenses de transferência dos restos mortais de Anita para Laguna "mas acho que os italianos não aprovarão esta ideia".
Giuseppe Garibaldi bisneto de Anita e Giuseppe Garibaldi, filho de Erika e Ézio Garibaldi, ele filho de Ricciotti com Harriet Constance Hopcraft. Foto Divulgação A Noticia

Ano 2013
Em 4 de agosto de 2013 esteve na Laguna a italiana Constanza Samuelli Ferretti, filha de Maria Stefania Ravizza Garibaldi. Sua mãe é bisneta de Domenico (Domingos) Menotti Garibaldi (primogênito do casal Anita e Garibaldi), nascido em Mostardas (RS).
Constanza Samuelli Ferretti, trineta de Anita e Giuseppe Garibaldi. Foto: Elma Sant'Ana. Divulgação/Instituto Anita Garibaldi (RS).
Passeou de barco para conhecer a região da Barra da Laguna, local da Batalha Naval entre Republicanos e Imperiais.
A trineta Constanza Samuelli Ferretti. Foto Marco Bocão/Divulgação/PML
Ela não conteve lágrimas de admiração e de emoção por estar no local onde a história da família começou e ficou entusiasmada por vivenciar as narrativas que ouvia desde pequena.
Era ciceroneada pela escritora e historiadora Elma Sant’Ana.
Constanza, trineta de Anita e Garibaldi, estava acompanhada de seu marido Fábio Buscaglione e dos cinco filhos: Giulio, Giovanni, Alessandro, Francesco e Maria Gabriella.
A família participou de cerimônias em Mostardas, Porto Alegre, Capivari do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi (RS).

Ano 2020
Em 15 de fevereiro de 2020 esteve em nossa cidade a convite do Instituto Cultural Anita Garibaldi, a bisneta de Anita e Garibaldi, a professora Annita Garibaldi Jallet.
Aqui plantou uma muda da Rosa de Anita, uma flor híbrida criada na Itália pelo botânico Giolio Pantoli, símbolo do Bicentenário de nascimento da heroína, comemorado naquele ano.
Bisneta de Anita e Giuseppe Garibaldi, professora Annita Garibaldi Jallet. Foto Divulgação.
Ela cumpriu extenso roteiro nos locais por onde o casal Garibaldi passou e participou de eventos referentes ao projeto em comemoração ao bicentenário de Anita.
Jallet é filha de Sante Garibaldi e Beatrice Garibaldi. Seu pai era filho de Ricciotti e Harriet Constance Hopcraft. Ela já veio ao Brasil e outras ocasiões.
Em 2000 prefaciou o livro “Garibaldi O Leão da Liberdade”, de Yvonne Capuano, pela Companhia Editora Nacional.

Ano 2022
E agora em setembro de 2022, para assistir a encenação da Peça Teatral A Tomada da Laguna, estará na Laguna o trineto de Anita e Garibaldi, Francesco Garibaldi Hibbert. Ele é filho de Annita Constance Garibaldi Hibbert e Raymund Hibbert. Ela bisneta de Anita e Garibaldi.
É a primeira vez que visita o Brasil.
Francesco Garibaldi Hibbert, trineto de Anita e Giuseppe Garibaldi. Foto Divulgação.
Sua progenitora é filha do general Ézio Garibaldi (filho de Ricciotti) com Hope MacMichael e já esteve em nossa cidade em 1981 e 1982, conforme destacado acima.
Francesco cumpre extenso roteiro pelo nosso estado na companhia do Cônsul honorário do Brasil em Nice, na França, Carlos Maciel.
Além da Laguna irá visitar Tubarão, Pedras Grandes, Urussanga, Imbituba e Curitibanos. Nesta última cidade inaugurará um monumento em homenagem a Anita.
Dia 22 estará em Urussanga na Praça Anita Garibaldi para homenagens.

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Manoel Tesoura: ladrão e valentão

 Um sujeito alcunhado Manoel Tesoura foi outro bandido que apareceu na Laguna e atormentou a população com seus roubos, brigas e violências.

Aqui fez fama em 1880, três anos depois de outro bandido, o Pedro Espanhol (post anterior) ter sido preso e remetido num porão de navio para o cárcere no Rio de Janeiro.
Jornais como O Município, de nossa cidade traziam os crimes cometidos por Manoel Tesoura. Em editoriais exigiam providências enérgicas por parte da polícia.
“Não há segurança individual nesta cidade. Debalde temos reclamado enérgicas providências para se por fim aos abusos que se cometem impunemente”, protestava esse semanário em sua edição de 23 de novembro daquele ano.
E narrava a “última façanha" de Manoel Tesoura que diziam ser desertor. Nada ficou comprovado.

Roubando no Campo de Fora
Pois o ladrão entrou na Casa de Fazendas e Secos & Molhados de Manoel Baião e pediu para separar algumas peças de fazenda que foram expostas no balcão à disposição do freguês. O total da compra importava em 100 mil réis.
Cá para nós leitor, o “seo” Baião, cuja loja era situada na esquina das ruas Pinto Bandeira com a atual Jacinto Tasso, bem ali no começo do bairro Campo de Fora, não devia conhecer o bandido ou não teria colocado a mercadoria assim tão fácil, de lambuja, de bobeira em cima do balcão. Ou não imaginou tal ousadia por parte do bandido, sei lá.
-Perdeu! Perdeu! Xará! deve ter dito Manoel Tesoura, se essa expressão já existisse na gíria dos bandidos naqueles tempos.
E Tesoura com as peças de fazenda debaixo do braço meteu sebo nas canelas – é óbvio - correndo pela rua Almirante Lamego, no Campo de Fora.
O bondoso “seo” Manoel Baião foi à porta de seu estabelecimento comercial e começou a gritar pela polícia, pedindo socorro com seu sotaque de português:
-Pega ladrão, pega ladrão! Pega o gajo!
 Sim, sim, Manoel Baião, conforme o nosso historiador Saul Ulysséa, era português, tronco de numerosa e honrada família.
Imaginemos nós o que deve ter ajuntado de gente querendo saber o que se tinha passado. Do jeito que o pessoal é curioso...

Delegado foi chamado
Logo o delegado da Laguna Manoel Carneiro Pinto (olha outro Manoel aí, é o terceiro nesta história), que era o mesmo que tinha prendido o Pedro Espanhol três anos antes, compareceu ao local para tomar ciência do ocorrido e lavrar o respectivo BO daquela época.
Rapidamente soube (alguém deve ter visto e reconhecido ou foi talvez pelo modus operandi) tratar-se do ladrão Manoel Tesoura e que ele havia se escondido (mocozado) numa casa abandonada no fim daquela rua, a Almirante Lamego (é o jornal quem diz).
Para lá foi o delegado com mais dois policiais, um paisano e mais o comandante do destacamento. Cinco pessoas para capturar o famoso bandido.

Atacando com navalha
Vendo-se cercado, Manoel tesoura saiu pela porta do quintal enfrentando na munheca dois policiais e o paisano que, diz o jornal, era o sr. Cabreira, carcereiro da nossa cadeia naquela época situada no térreo do hoje Museu Anita Garibaldi.
Manoel Tesoura entrou em luta corporal com o sr. Cabreira em quem fez oito ferimentos utilizando-se de uma navalha.
Não entendo porque então ele não era chamado de Manoel Navalha, seria mais coerente.
E diz o jornal que “Certamente o sr. Cabreira, que é pai de família, seria hoje cadáver se outro fosse o instrumento de que servira-se o larápio para defender-se”.
Entende-se com esta nota que os ferimentos não devem ter sido profundos e nem atingido veias, artérias ou algum órgão vital. Manoel Tesoura deve ter “apenas” lanhado o coitado do Cabreira mas deixando cicatrizes para o resto de sua vida.
Manoel Tesoura com isso conseguiu evadir-se do local, desapareceu, escafedeu-se, pirulitou-se, que ligeiro ele era, como já sabemos.

Dois cavalos de estimação
Na manhã seguinte o delegado Carneiro Pinto partiu em novas diligências na captura de Tesoura que estaria refugiado em algum rancho de pescador lá pras bandas do Areal. Outro jornal, o A Verdade fala que o esconderijo seria em Itapirubá.
Para isso o delegado mandou encilhar dois velozes cavalos de sua estimação e os deu para os dois policiais procurarem o bandido.
Manoel Tesoura tão logo avistou os agentes da lei e se vendo cercado esfaqueou os dois cavalos e fugiu, obrigando os policiais a voltarem a pé.
Se o fato se deu em Itapirubá foi uma longa caminhada de volta.
Era a desmoralização das forças de segurança de nossa cidade. Por conta disso o delegado pretendeu até se exonerar do cargo. 

Protestos do jornal e da população
O jornal O Município novamente protestou dizendo que por mais que o delegado de polícia procurasse desempenhar sua função “não pode contar com a pequena guarnição da cidade, composta de soldados inexperientes e fracos, apenas cinco soldados de polícia comandados por um alferes”.
E indagava:
“Como se pode exigir energia de uma autoridade se a esta faltam os elementos precisos para a sustentação de seus atos?”.
E finalizava o redator: “Só se procura dar prestígio às autoridades locais nos períodos eleitorais”.
O quê? Já naquela época? A coisa vem de longe, como a gente pode observar. 

Pedidos de reforços à capital
Outra medida tomada foi solicitar reforços à capital, ainda chamada Desterro e que alguns anos depois, em 1894, será rebatizada como Florianópolis.
E de lá vieram quatro soldados da Cavalaria a fim de ajudar a prender o criminoso Manoel Tesoura.
E dizia O Município: “Tesoura há de ufanar-se de ser tido por valentão e talvez pretenda substituir em “grandes façanhas” ao antigo Pedro Espanhol, que foi o terror ... da nossa polícia”.
E qual teria sido seu fim, já deve estar se perguntando o leitor, entre curioso e ansioso pela conclusão dessa história, que já se alonga em demasia.
Evidentemente a coisa não ia acabar bem para os lados do Tesoura. Lanhar com navalha o carcereiro da cadeia, atacar com faca dois policiais e matar “dois cavalos de estimação” do delegado da Laguna era muita ousadia, era zombar das forças de segurança. Haveria consequências. 

Canivete e porrete no Mirim
Toda a região sul ficou de sobreaviso. Dias depois Tesoura apareceu em Mirim. Soldados de lá deram ordem de prisão, mas o bandido armado com um canivete e um porrete entrou em luta corporal com eles que não conseguiam desarmá-lo.
O subdelegado de Mirim também foi ao local e deu ordem de prisão ao que o Tesoura respondeu que o delegado seria o primeiro que ele acabaria com a vida.
Eita cabra valente!

E dá-lhe cacetadas no subdelegado, nos policiais e em algumas pessoas do povo que foram em auxílio.
Detalha o jornal: “Feriu João Gregório dos Reis sobre o peito e cortando as roupas de particulares e dos policiais e estes não tendo outros meios de defender-se descarregaram alguns tiros que atingiram o peito, virilhas e estômago de Manoel Tesoura”.
E assim falecia o Manoel Tesoura. Indagado pouco antes confessou que seu nome verdadeiro era Motesdo.
Um nome que soa estranho e que deve ter sido mal interpretado por quem o ouviu nos estertores da vida ou é um erro tipográfico do jornal.
E este foi o fim do valente, brigão e perigoso ladrão alcunhado Manoel Tesoura ou de nome Motesdo numa história acontecida em terras lagunenses há distantes 142 anos.
Direto do túnel do tempo.

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

"Pedro Hespanhol" - Um bandido que aterrorizou Laguna

 
Em fins do século XIX, Laguna hospedou um terrível bandido.
Assassino, ladrão, brigão, arruaceiro, suas armas preferidas eram a faca, o punhal e a navalha. Todos o temiam e fez muitas vítimas em nossa cidade. Seus bairros preferidos para atacar eram o Magalhães e o Campo de Fora. Usava o nome e apelido de outro célebre criminoso do passado: "Pedro Hespanhol".
Existiu no Rio de Janeiro no século XIX um malfeitor, um bandido sanguinário que apavorou os habitantes da então Capital Federal.
Tornou-se um criminoso célebre assaltando em plena luz do dia. Provocava terror com sua violência e mortes e era chefe de uma quadrilha com dezenas de outros bandidos.
Contam os antigos jornais que brigava e matava utilizando-se de armas brancas. Navalhas, punhais e facas eram seus instrumentos de trabalho preferidos.
Seu nome era “Pedro Espanhol”.
Fugiu da perseguição da polícia inúmeras vezes. Nas poucas oportunidades que chegou a ser encarcerado conseguiu escapulir espetacularmente das prisões.
Consta que quando interrogado dizia ter nascido em Portugal e não na Espanha.
Ficou famoso por conta de sua má fama e virou posteriormente personagem de folhetins escritos por José do Patrocínio publicados no Jornal Gazeta da Tarde do Rio de Janeiro e mais tarde, em 1884, reunidos em livro de grande sucesso.
Patrocínio conta em seu romance que o bandido, ainda jovem, teria vindo empregado de um dos fidalgos que acompanharam a Família Real (D. João VI) ao Brasil, em 1808, fugindo das tropas de Napoleão. 
Capa do livro romance "Pedro Hespanhol", de José do Patrocínio.
Depois de alguns anos transformou-se em bandido, chefe de uma quadrilha de assaltantes, um rei da malandragem carioca, que provocou o terror com assaltos e assassinatos, além de todo tipo de trambicagens. Virou um bandido célebre no Império.
Bem por isso é um dos personagens do livro “Criminosos célebres”, do escritor Moreira de Azevedo, obra publicada em 1872.
“Pedro Espanhol” teria sido morto em 1833 numa emboscada onde reagiu à prisão pela polícia.
Mesmo com sua morte, outros bandidos nas décadas seguintes, aproveitando-se de sua má fama que ficou registrada na memória de tias e avós, passaram a utilizar-se do seu codinome para aterrorizar o povo.
Foi o caso de um deles que apareceu em nossa região. 

O bandido “Pedro espanhol” da Laguna
Aqui na Laguna também apareceu um sujeito chamado “Pedro Espanhol” e que igualmente aterrorizou a nossa cidade.
Quem conta essa história numa velha crônica é o lagunense Álvaro Dias de Lima, que foi chefe dos Correios e vez ou outra colaborava com seus escritos para os jornais lagunenses da época. Faço um resumo.

Diz Lima que de 1874 a 1879, “Laguna teve a infelicidade de hospedar o mais terrível dos indivíduos aqui aportados.
Desordeiro e atrevido capoeira, esse indivíduo usava o  nome de Pedro Espanhol. Era esse seu apelido, posto que não fosse natural da Espanha, mas parece que de algum lugar do Brasil".
Era jovem ainda, muito forte e ágil. Tinha um gênio de quem nasceu para o crime. Sentia-se bem sempre que, de faca em punho, tinha ocasião de provocar e parar-se à frente de quem cruzasse o seu mesmo caminho, fosse quem fosse até autoridade. 

Suas armas eram a faca e a navalha
Em suas brigas usava sempre faca e navalha bem afiadas. Não tinha medo de ninguém.
"Audacioso, enfrentava a polícia composta naquela época de seis a oito praças", conta Álvaro Lima.
Dos seus crimes foram vítimas muitos moradores da Laguna. Os bairros Magalhães e Campo de Fora eram os pontos prediletos para as arruaças desse perverso indivíduo. Até as autoridades o temiam.
Um dia, porém, após mil coisas horrorosas praticadas pelo bandido e suas inúmeras fugas, o cidadão Manoel Carneiro Pinto assume a Delegacia de Polícia da Laguna. E assume consigo mesmo a responsabilidade de libertar Laguna de tão perigoso elemento. Sua nomeação foi rápida. Ninguém sabia o porquê desse interesse repentino em que Carneiro Pinto procurara ser Delegado. 

Duas mulheres torturadas no Magalhães
Três dias depois de assumir o cargo apareceu a oportunidade de prender o bandido.
É que surgiu ao amanhecer a notícia de que lá no Magalhães, Pedro Espanhol de faca em punho mantinha duas infelizes sequestradas e encarceradas dentro de uma pequena casa, com portas e janelas fechadas. Vez ou outra ele fincava pontadas de faca sobre a carne dessas pobres mulheres levado pelo prazer único de vê-las se contorcendo entre gemidos e gritos.
Carneiro, que aguardava a oportunidade, reúne imediatamente alguns homens do povo somando-os à polícia, que se compunha de apenas seis praças e dirige-se ao lugar em que a terrível cena se passava.

O corajoso delegado Carneiro
Amigos e pessoas da família procuravam impedir o gesto de Carneiro, por considerarem-no temerário e muito arriscado, afinal Carneiro já era um ancião, hoje diríamos um homem idoso.
Carneiro então disse:
- “Fiquem tranquilos porque eu vou levado por um dever para com a sociedade lagunense, que precisa ficar livre dessa figura nefanda, prejudicial à tranquilidade de nossos lares. Fiquem tranquilos: Pedro Espanhol vai ser preso hoje, haja o que houver”.
E Carneiro seguiu para o Magalhães. Era por volta das nove horas da manhã. Levava consigo um total de quatorze homens, número que não era por demais grande, quando se sabia o elemento perigosíssimo que teriam que enfrentar.
Chegando ao local (onde seria?) em que se desenrolava a terrível cena praticada pelo facínora, o Delegado dispõe o pessoal de forma a evitar  tentativa de fuga por qualquer das aberturas (portas ou janelas) laterais e de fundos.

Arma engatilhada e faca no chão
Depois, ordena o arrombamento e salta de revólver em punho no meio da sala, gritando ao bandido:
- Se não quer morrer, entregue-se, jogando esta faca no chão!
Pedro Espanhol, que jamais vira na Laguna pessoa alguma enfrentá-lo com tal coragem, acovarda-se deixando cair a faca a seus pés.
E o velho Carneiro, com a arma sempre engatilhada, ordena seja ali mesmo amarrado o bandido que, nestas condições, é levado para bordo de um navio que partia naquele mesmo dia do nosso porto para o do Rio de Janeiro.
E lá na capital federal em uma de suas masmorras, esse bandido, alcunhado "Pedro Hespanhol da Laguna" cumpriu longa pena pelos seus crimes e de quem nunca mais se ouvir falar.

E a Laguna pelos próximos três anos ficou livre e sossegada de criminosos. Até que...
Bem. Até que por aqui apareceu três anos depois, em 1880, outro valentão e criminoso chamado “Manoel Tesoura” que aprontou muito e foi terror nos assaltos, brigas e violências.
Mas esse é outro capítulo que contarei em breve.