sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Domingos de Brito Peixoto é o fundador da Laguna, afirmam renomados historiadores e pesquisadores

 São dezenas de eminentes e renomados historiadores, pesquisadores e escritores que em suas valiosas e importantes obras, ao longo do tempo, reconhecem no vicentista, no Bandeirante Domingos de Brito Peixoto o fundador da Póvoa de Santo Antônio dos Anjos da Laguna, em 1676.

Os mais de vinte livros citados a seguir, são importantes obras e autores, que serviram e servem de base ainda hoje, nos estudos da história do Brasil, na instrução pública, em nossas universidades e escolas.
 Livros existentes em meu acervo.
ATENÇÃO SENHORES VEREADORES DA LAGUNA, são todas essas obras de eminentes e renomados autores, que o famigerado Projeto de Lei nº 0060/2023, de 20/10/23, de autoria do vereador Rodrigo Bento (PL), quer contrariar e alterar, propondo mudar radicalmente o nome do Fundador da Póvoa de Santo Antônio dos Anjos da Laguna e a data de sua fundação.
Livros existentes em meu acervo.
Convenhamos, é muita pretensão, muita audácia. E, em minha opinião, uma absurda proposta.
As citações à data de fundação da Laguna e ao seu fundador estão sublinhadas por mim. No fim de cada citação a respectiva bibliografia.
Vejamos:

-FREI GASPAR DA MADRE DE DEUS: “Os intrépidos moradores da Capitania de S. Vicente passaram adiante da Ilha de Santa Catarina onde Domingos de Brito Peixoto, natural de São Vicente, fundou a Vila da Laguna”.
(Madre de Deus, Frei Gaspar da – Memórias, 1º Capítulo, págs 2/3, edição de 1797).

- MANOEL DO NASCIMENTO DA FONSECA GALVÃO: “A corte portuguesa, por Carta Régia, convidara ao Vicentista Capitão Domingos de Brito Peixoto, homem experimentado em trabalhos de descoberta e de largos haveres, a explorar os sertões da Capitania”.
(...) Com feliz êxito aporta à Laguna onde teve de sustentar renhida luta na qual perdera escravos e parte dos homens livres, que o acompanharam, contra os gentios comandados pelo cacique Taiaranha e consentindo este afinal que ali se estabelecesse, levantou os fundamentos da povoação de Santo Antônio dos Anjos”.
(Galvão, Manoel do Nascimento da Fonseca. Notas Geográficas e Históricas sobre a Laguna – Desde sua Fundação até 1750, págs. 22/23. Desterro, Tipografia de J.J. Lopes, 1884).

- JOAQUIM JOSÉ MACHADO DE OLIVEIRA: “Tantas foram as investidas que por um tempo (fins do século XVI fizeram os vicentistas sobre os Carijós e os Patos... e foi assim que Domingos de Brito Peixoto, natural de São Vicente...(...) onde, ao depois, fundou-se a Vila da Laguna”.
(Oliveira, J. J. Machado de – Quadro Histórico da Província de S. Paulo – 2º edição, pág. 69, 1897).

- JOÃO RIBEIRO: “Outro paulista, Domingos de Brito Peixoto, fundou a povoação da Laguna”.
(Ribeiro, João – História do Brasil. Rio de Janeiro, 1901, pág. 252).

- PADRE R. M. GALANTI: “Laguna, fundada em 1676 pelo paulista Domingos de Brito Peixoto”.
(Galanti, Padre Rafael Maria – História do Brasil – 2ª edição Tomo III, 1913).

- AFONSO DE ESCRAGNOLLE TAUNAY: “Em 1676, partiu Domingos de Brito Peixoto do porto de Santos, em grande embarcação, que construíra, transportando colonos e elementos para realizar a fundação desejada pelo Príncipe Regente”.
(Taunay, Afonso d’Escragnolle. História das Bandeiras Paulistas. Tomo I, 1924. Editora Melhoramentos. Pág. 183).

- BORGES DOS REIS: “Em 1676, Domingos de Brito Peixoto e seus filhos Francisco e Sebastião fundam o povoamento de S. Antônio dos Anjos, estabelecendo a indústria de carne, peixe, etc.”.
(Reis, Borges dos – História do Brasil, 1929)

- H. HANDELMANN: “Na terra firme da Província (Santa Catarina) junto da Laguna Camacho, uma colônia, fundada pelo paulista Domingos de Brito Peixoto, que dentro em breve cresceu, tornando-se povoação regular, a Vila da Laguna”.
(Handelmann, H. – História do Brasil, Imprensa Nacional, 1931).

- PAULO MIGUEL DE BRITO: “Que a fundação da Vila da Laguna teve lugar no ano de...”.
(Brito, Paulo Miguel. Memória Política Sobre a Capitania de Santa Catarina – Livraria Central, Florianópolis, 1932.

- BASÍLIO DE MAGALHÃES: “Do requerimento deduz-se que Domingos de Brito Peixoto, natural de São Vicente e morador em Santos, tendo previamente explorado os sítios chamados da “Lagoa dos Patos”, aparelhou os meios necessários para povoar aquelas terras incultas e, em 1676, para ali marchou, por via terrestre, acompanhado de dois filhos, Francisco de Brito Peixoto e Sebastião de Brito Guerra, levando mais 10 homens brancos e 50 escravos, ao mesmo tempo que para a mesma paragem fazia velejar de Santos uma embarcação própria, conduzindo mantimentos e ferramentas.
A leva gastou quatro meses pelo interior, até chegar ao porto de destino, onde já estava o navio. Fundado o núcleo com a indispensável capela, deram-lhe o nome de Santo Antônio dos Anjos da Laguna, participando o chefe da expedição o feliz sucesso a D. Pedro II, então regente do Reino, que lhe mandou agradecer por carta”.
(Magalhães, Basílio de – Expansão Geográfica do Brasil Colonial, páginas 134/135, Ano 1935).

- AFONSO DE ESCRAGNOLLE TAUNAY:A fundação da Póvoa lagunense é, pois, dos mais relevantes acontecimentos nos fastos da dilatação brasileira meridional”.
(Taunay, Afonso de E., -Santa Catarina Colonial, São Paulo, Imprensa Oficial do Estado, 1936).

- OSWALDO RODIGUES CABRAL: “Vencidas as inevitáveis hesitações, com recursos próprios, como já se disse, armou Domingos de Brito Peixoto a sua bandeira destinada a fundar ao sul da Ilha de Santa Catarina, à entrada, ou em lugar que mais conveniente julgasse, do último dos três portos daquela frequentada costa, uma povoação que se tornasse um marco vivo e palpitante do domínio lusitano”.
(Cabral, Oswaldo Rodrigues – Laguna e Outros Ensaios, Edição do autor.1939).

- SERAFIM LEITE: "Laguna anda ligada à atividade dos Jesuítas, desde os fins do século XVI; nela tiveram uma Aldeia com residência fixa; e, depois de ereta a povoação de Santo Antônio, aí continuaram a ir em missão, e conservava-se uma série de atestados dos Jesuítas a favor do fundador de Santo Antônio, e seu filho Francisco de Brito Peixoto".
(Leite, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Instituto Nacional do Livro, Tômo VI, 1945, pág. 467).

- RUBEN ULYSSÉA: “No derradeiro quartel do século XVII, tiveram as tribos que ceder a terra ao conquistador branco.
Por essa época, processava-se em toda a sua intensidade a expansão bandeirante.
Partindo do centro de irradiação de São Vicente, os paulistas já tinham ganho o litoral de Santa Catarina e lançado os fundamentos de São Francisco e de Nossa Senhora do Desterro.
Na sua marcha para o sul, que se fazia rápida, pois que a serra do mar, negando profundidade dava extensão à conquista, em 1676 a corrente povoadora atinge Laguna.
Nesta data o vicentista Domingos de Brito Peixoto, “possuidor de vasta fortuna”, a instigações do governo da metrópole, parte de Santos com seus dois filhos, Francisco de Brito Peixoto e Sebastião de Brito Guerra, colonos, índios e escravos, em demanda das plagas sulinas.
Chega à então Laguna dos Patos e aqui, depois de sustentar luta com os naturais, lança os alicerces da nova colônia e levanta pequena capela em cujo altar coloca a imagem de Santo Antônio dos Anjos, que será o padroeiro da povoação fundada, a qual, por isso mesmo, recebe o nome de Santo Antônio dos Anjos da Laguna”.
(Ulysséa, Ruben Lima – Panorama Histórico da Laguna, pág. 9. In Publicação Comemorativa da Passagem do Primeiro Centenário da Comarca da Laguna, Imprensa Oficial de SC, 1956).
No Museu Paulista, Estátua de Domingos de Brito Peixoto, o fundador em 1676 da Póvoa de Santo Antônio dos Anjos da Laguna. Fonte: Publicação Comemorativa do Centenário da Comarca da Laguna em 1956. Imprensa Oficial do Estado de SC-1976. 176 págs.

- WALTER SPALDING: “Fundada na segunda metade do século dezessete para guarda-avançada do extremo sul das possessões portuguesas na América meridional, Laguna teve papel importantíssimo não só no desbravamento da “terra de ninguém” – a Capitania d’El Rei, depois Província de São Pedro do Sul, - mas também no povoamento da abandonada gleba sulina”.
(Spalding, Walter – Laguna – Rio Grande, pág. 31. In Publicação Comemorativa da Passagem do Primeiro Centenário da Comarca da Laguna, Imprensa Oficial de SC, 1956).

- OSWALDO RODRIGUES CABRAL: “Domingos de Brito Peixoto, vicentista, foi casado com Ana Guerra, neta de Pedro Leme, povoador de S. Vicente. Pais de Francisco de Brito Peixoto, de Sebastião de Brito Guerra e Maria Brito da Silva, que foi casada com Diogo Pinto do Rego. FUNDADOR DE LAGUNA, com seus filhos, tendo para ali se transportado em 1676”.
(Cabral, Oswaldo Rodrigues – Raízes Seculares de Santa Catarina, pág 75. In Publicação Comemorativa da Passagem do Primeiro Centenário da Comarca da Laguna, Imprensa Oficial de SC, 1956).

- MOACYR DOMINGUES: “É oportuno acentuar que Domingos de Brito Peixoto, o verdadeiro fundador de Laguna, apesar de ter investido capital e perdido, ao que parece, quatro sumacas, jamais, ao que se saiba, pleiteou qualquer recompensa por esse serviço”.
(Domingues, Moacyr. A Colônia do Sacramento e o Sul do Brasil. Editora Sulina. 1973. Pág. 168).

- ALICE BERTOLI ARNS: “Afinal, foi Domingos de Brito Peixoto quem recebeu a incumbência de fundar povoação no extremo sul catarinense. Armou uma expedição com destino à região dos Patos, designação dada como porto de referência” (...).
O fundador da Laguna, o abastado senhor de São Vicente, jogou no cometimento bandeirante toda a sua fortuna. Homem religioso, levava, à maneira de Cabral, um franciscano nas suas expedições, dedicando a nova póvoa a Santo Antônio dos Anjos”.
(Arns, Alice Bertoli. Laguna, uma esquecida Epopeia de Franciscanos e Bandeirantes. Curitiba. PR. 1975, pág. 52).

- NAIL ULYSSÉA: “1676. Foi quando o Vicentista Domingos de Brito Peixoto, que por ela já passara e dela se enamorara, acompanhado de seus filhos Francisco de Brito Peixoto e Sebastião de Brito Guerra, conduzindo por terra e por mar, homens, mulheres, um sacerdote, escravos, índios domesticados e mantimentos, para a fundação e povoamento da terra”.
Estava fundada a Santo Antônio dos Anjos da Laguna, denominação com que batizou, à chegada, o insigne fundador”.
(Ulysséa, Nail – Santo Antônio dos Anjos da Laguna – Seus Valores Históricos e Humanos – Publicação Comemorativa da Passagem do seu Tricentenário de Fundação – 1676-1976. Imprensa Oficial do Estado de SC. Págs. 163/164).

- JOÃO LEONIR DAL’ALBA: “Por ser muito do gosto do Rei de Portugal D. Pedro II, o paulista Capitão Domingos de Brito Peixoto, com seus filhos Sebastião de Brito Guerra e Francisco de Brito Peixoto, depois de muitos trabalhos, percas e despesas, funda a Vila de Santo Antônio dos Anjos da Laguna”.
(Dall’Alba, Pe. João Leonir – Laguna Antes de 1880; Documentário. Síntese da História de Laguna. Florianópolis, Editora Lunardelli/Udesc Editora, 1976, pág. 169).

E o padre Leonir Dall’Alba em suas extenuantes pesquisas encontrou na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, na seção de manuscritos, um documento muito antigo escrito nada mais nada menos por Francisco de Brito Peixoto, o filho do fundador Domingos.

“É a descrição da fundação da Laguna feita por um dos fundadores”, ressalta o padre Dall’Alba.

Não vou transcrever integralmente o documento que se encontra publicado nas páginas 15 a 19 do livro citado.
Mas o título do documento escrito por Brito Peixoto dirime qualquer dúvida:

“NOTICIAS DA POVOAÇÃO E FUNDAÇÃO DA VILA DA LAGUNA, FEITA POR FRANCISCO DE BRITO PEIXOTO, QUE FOI CAPITÃO-MÓR DELA”.

- NORBERTO ULYSSÉA UNGARETTI: "Santo Antônio dos Anjos da Laguna. É este o seu nome completo e foi também o da póvoa, depois freguesia e vila fundada por Domingos de Brito Peixoto".
(Ungaretti, Norberto Ulysséa. Laguna: um pouco do passado. Florianópolis. Ed. do autor, 2002. Pág. 163).

- WALTER FERNANDO PIAZZA: “A fundação da Vila de Santo Antônio dos Anjos da Laguna, como o povoamento do litoral do Rio Grande do Sul, ocorre em virtude da necessidade de apoio à Colônia do Sacramento e de estabelecer ligação entre a costa e as estâncias do interior.
Deve-se a Domingos de Brito Peixoto a fundação de Laguna, após a pacificação de indígenas ali existentes. É a partir desta povoação que os portugueses se lançam à conquista dos territórios mais ao sul, como é o caso dos Campos de Viamão”.
(Piazza, Walter Fernando. Santa Catarina – História da Gente. Editora Lunardelli, 2003, Pág. 37).

- CARLOS HUMBERTO P. CORRÊA: “(...) o litoral sul passou a despertar a curiosidade dos bandeirantes. As notícias das riquezas acompanhavam o interesse das famílias mais abastadas e dos bandeirantes aventureiros.
Foi o que aconteceu, na segunda metade do século XVII, com as fundações de Nossa Senhora da Graça do Rio São Francisco em 1645, por Manoel Lourenço de Andrade, Nossa Senhora do Desterro em 1673, por Francisco Dias Velho, e Santo Antônio dos Anjos da Laguna em 1676, por Domingos de Brito Peixoto, todas no litoral da antiga capitania das terras de Sant’Ana”.
(Corrêa, Carlos Humberto P. – História de Florianópolis. Florianópolis: Insular, 2004. Pág, 37).

- JOÃO CARLOS MOSIMANN: “Domingos de Brito Peixoto – Este, indiscutivelmente, é o nome do pioneiro vicentista ligado à fundação e ao povoamento de Santo Antônio dos Anjos da Laguna. Ele e seu filho Francisco são considerados, da mesma forma, aqueles que impeliram o avanço português em direção ao território do atual Rio Grande do Sul, ao contrário dos bandeirantes, que depredaram a região no começo daquele século.
Assim como Manoel Lourenço de Andrade, em São Francisco e Francisco Dias Velho na Ilha, formavam uma geração de paulistas que vinha para fundar póvoas, expandir o território, criar alternativas econômicas. Nenhum dos três, por sinal, figura na história das inúmeras bandeiras que percorreram o Brasil em busca de índios ou pedras preciosas. Mas foram os três, sem dúvida, que contribuíram para ocupação definitiva de Santa Catarina e expansão para o Rio Grande”.
(Mosimann, João Carlos. Catarinenses, Gênese e História. Edição do autor -2010. (Pág. 111). Prêmio do Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura 2009 – Fundação Catarinense de Cultura).

FINAL

- EVALDO PAULI: Este pesquisador, historiador e escritor dos mais renomados, diz em sua obra sobre o Bandeirante Francisco Dias Velho, fundador de Florianópolis em 1673: 

“(...) bastante certa, de já haver habitantes entre a Ilha de Santa Catarina e Araçatuba, perto de Laguna, mas eles não criaram um centro dinamizador, de cuja polarização nascesse o atual centro urbano”.
Dias Velho criou na Ilha de Santa Catarina um núcleo polarizador e capaz de desenvolvimento. Nesta condição é o fundador da cidade. A antiga tradição sempre o reconheceu como tal”.
(Pauli, Evaldo. A Fundação de Florianópolis, Editora Lunardelli, 1973. (Pág. 74).

As mesmas expressões podemos utilizar quanto ao Bandeirante Domingos de Brito Peixoto: 

Criou um centro dinamizador que polarizou a criação de um centro urbano e a antiga tradição sempre o reconheceu como fundador da Póvoa de Santo Antônio dos Anjos.

Que os vereadores lagunenses reflitam sobre essa proposta radical de mudanças que altera profundamente toda a nossa história, contrariando todos esses eminentes historiadores/pesquisadores e escritores. 
Mudança que não tem razão de ser, ao meu ver.


segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Projeto muda o fundador da Laguna e a data de fundação

 
Deu entrada na Câmara de Vereadores o Projeto de Lei nº 0060/2023, que risca o nome de Domingos de Brito Peixoto como fundador da Laguna e o transforma em  mero povoador. Os novos fundadores da Laguna passariam a ser dois freis espanhóis.
O documento também altera a data em que é comemorado oficialmente há 48 anos, a fundação da Laguna, de 29 de julho de 1676  para 1º de dezembro de 1537. 
O projeto é assinado pelo vereador Rodrigo Bento (PL), mas é todo ele baseado nas ideias, pontos de vistas e propostas do ex-prefeito Cadorin, que já as apresentou informalmente no ano de 2019 no plenário da Câmara.

Domingos de Brito Peixoto perde o título de Fundador da Laguna e é rebaixado a povoador, diz o projeto.

    Domingos de Brito Peixoto vai perder o título de fundador da Laguna... 
Logo ele o desbravador bandeirante vicentino paulista que obteve Carta-Régia da Coroa Portuguesa o autorizando oficialmente a fundar a Póvoa lagunense em 1676, data que consta  em dois documentos citados e mostrados por historiadores de renome e assinados por seu filho Francisco de Brito Peixoto, presente quando da fundação.

Além disso, o citado projeto altera a data de fundação da Laguna, uma efeméride que vem sendo comemorada oficialmente desde 29 de julho de 1975, portanto há 48 anos, criada pela Lei Municipal nº 15/1975, de 02/05/1975. 
E que nunca foi feriado, ao contrário do que diz a justificativa do Projeto.

Alterações merecem amplas discussões e um parecer do IHGSC
Mudanças dessa magnitude mereceriam, no mínimo, amplas discussões com a sociedade, sobre os contraditórios, sob os diversos pontos de vistas históricos.
Afinal, entre historiadores e pesquisadores há muitas divergências e controvérsias históricas. Há variados entendimentos e pontos de vistas.
Há documentos interpretados sob a perspectiva que lhes confere o pesquisador/historiador.

Querem dois exemplos?
1 - O chamado Mapa-Múndi (Planisfério) de Alberto Cantino. Para muitos historiadores várias informações nele contidas foram feitas a posteriori, afinal esteve desaparecido durante anos, dado até como perdido. Pesquisem.

2 - Outra divergência entre pesquisadores e historiadores são os relatos de que o Apóstolo Tomé (Sumé na tradição indígena) teria passado pelo Brasil. Há até pegadas atribuídas a ele, na Bahia.
Em "Visão do Paraíso", Sérgio Buarque de Holanda diz que "O mito de São Tomé é o único mito da conquista de procedência luso-brasileira".
Outros historiadores afirmam que o mito teria surgido da junção entre um mito cristão e um mito indígena que os jesuítas teriam se apropriado para dar um novo resignificado.

Enfim, não vou me alongar porque o assunto é complexo, cheio de nuances e interpretações e pontos de vistas. Dá para escrever um livro. 
Ou uma série de "considerandos", tão em moda.

É um projeto que precisa ser mais debatido. E analisado
Um projeto mudando o nome do fundador e data de fundação de um local precisa de maiores estudos, mesas redondas, seminários com pesquisadores, historiadores, escritores, estudantes e professores.

ALÔ, ALÔ VEREADORES DA LAGUNA, um Projeto de mudança  dessa natureza, em minha humilde opinião, necessitaria, pelo menos, de um parecer da Fundação Catarinense de Cultura e, principalmente, de historiadores do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (IHGSC) para embasar, avalizar ou não, os argumentos para se fazer tão drástica mudança.

Sinceramente gostaria de ouvir o renomado pesquisador e escritor João Carlos Mosimann (membro do IHGSC) que em sua bem embasada obra "Catarinenses - Gênese e História", diz:

"Pequenos núcleos feitos por sobreviventes de naufrágios não caracteriza um pólo dinâmico de povoamento, nem o início de um processo de colonização, pois ocorreram interrupções no processo.
Em consequência, os historiadores não podem atribuir-lhe qualquer missão histórica de povoamento".

Gostaria de ouvir o meu professor de história da UFSC Nereu do Vale Pereira autor de inúmeras obras consagradas e membro ele também do IHGSC, além da Academia Catarinense de Letras.

Enfim, um projeto propondo tais alterações, alterando o nome do fundador de uma Póvoa e a data de fundação, ao meu ver, não pode atender aos desejos, aos argumentos, pontos de vistas, alegações e embasamentos de uma só pessoa.

Pois é.
Uma hora alteram trajetos tradicionais por onde passa o padroeiro Santo Antônio dos Anjos. Logo depois proíbem as nossas bandas de participarem de Transladações e Procissões.
Mais adiante trocam placas dos nossos monumentos históricos, inserindo novos nomes, novos pais da criança, de gente que nem colaborou ou participou de sua criação e instalação.
Pouco depois trocam nomes de ruas, avenidas e praças.
E assim vão apagando as tradições, as lembranças, a memória, as datas e os nomes de vultos da nossa história.

Vai ser aprovado?
É bem provável que não haverá protesto nem discussão em plenário por parte dos vereadores, já que alguns deles aceitam passivamente esses tipos de alterações sem se manifestarem. Aliás, como vimos há pouco tempo na proposta de mudança do nome da Praça Archimedes de Castro Faria.
E será sancionado pelo atual prefeito, que detém a maioria na Câmara e concorda com a mudança.
Deve ser até por isso que as placas informativas e com o nome do fundador no monumento em frente ao Cine Teatro Mussi não foram repostas pela Fundação Lagunense de Cultura.

Tantos problemas para serem resolvidos
E por fim, nesse momento ninguém está ligando para esses tipos de alterações históricas, com tantos problemas imediatos e graves que a população lagunense vem enfrentando.
E a gente se pergunta: 
Tantos problemas na cidade para os vereadores se debruçarem e buscarem resolver, como a precária infraestrutura do município.
Os péssimos serviços públicos oferecidos à população, à exemplo da iluminação pública, a Estação Ferroviária abandonada, o restaurante-escola fechado, prédios públicos se deteriorando, Campo do LEC abandonado, várias denúncias de irregularidades apresentadas ao MP e outras surgindo nas redes sociais, Ponte do Pontal, insegurança da população, etc. etc.

Mais mudanças 
Fiquem certos, vem mais mudanças desse tipo por aí. 
Não estranhem se daqui a pouco surgirem projetos de leis visando alterar o Brasão da nossa Bandeira, já que constam dois desenhos de bandeirantes nela, suas cores e até a Letra do nosso Hino. 
Quem sabe mudar até o nome da cidade.
Questão de tempo.


quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Grelha-Arapuca faz mais uma vítima na Praça

 
A “grelha-arapuca” da Praça República Juliana (de Anita) fez ontem, quarta-feira, mais uma vítima.
Também chamada de “grelha dos infernos”, é uma verdadeira armadilha instalada no local.

Ontem uma senhora idosa se acidentou ao pisar numa grelha dessas (foto abaixo) defronte ao prédio do antigo Sine.
Grelha-arapuca onde a idosa caiu, em frente ao antigo prédio do Sine.

O ferro cedeu e virou e a perna da mulher entrou pelo buraco, com a senhora se estatelando no chão.
Como estávamos passando no momento no local, eu e a professora Almerinda Guedes Castro a auxiliamos a se levantar.
Com muita dor nas pernas nos oferecemos para levá-la na emergência do Hospital ou no Posto de Saúde ou chamar o Samu.
Mas ela se recusou alegando compromissos e saiu mancando e gemendo de dor.
Foi só por Deus ela não ter quebrado a perna, braço ou a cabeça. Porque o tombo foi feio e chamou a atenção de muita gente.

Não é a primeira vez que isso acontece. São vários os relatos de pessoas que se machucaram ao passar por essas grelhas que ficam por cima de uma horrorosa e desnecessária calha pluvial.
Nem uma providência é tomada.
Só na prancheta delirante de um engenheiro bolar esse troço que só serve para lixo, mato e ferrugem. E para causar acidentes.
É uma vergonha!
Bem que o Iphan poderia notificar a prefeitura, sob pena de multas e exigir uma atitude.
Ou arruma tudo ou fecha aquilo e arranca todo aquele ferro.
Não pode é continuar como está.
Quem resolve?

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Ruas são fechadas para evento particular. Pode isso, Arnaldo? Na Laguna pode.

 
As fotos mostram o trancamento ao trânsito, com cones, de uma movimentada via pública no centro da Laguna. No caso específico, a rua Raulino Horn e suas adjacências à Praça República Juliana. (Praça de Anita). Rua e todos seus acessos proibidos ao tráfego para realização única e exclusivamente de uma festa particular, um evento, é óbvio, visando unicamente lucro para os proprietários de um estabelecimento comercial. Pode isso?
 
Os moradores do citado local questionam se um estabelecimento comercial particular pode fechar uma movimentada via pública onde transitam veículos de moradores e de turistas? E não é a primeira vez que isso acontece.




Fechar para promover durante muitas horas, de manhã à noite, uma festa musical, particular, de estridente volume, em detrimento do silêncio e do direito de ir e vir do cidadão?
Fechamento que prejudica, além dos moradores, o movimento de clientes de outro estabelecimento vizinho.
Mas hoje em dia poucos ligam para o próximo, não é mesmo? Na inversão egoísta de valores que estamos vivendo, o próximo que se rale, o próximo e vizinho que se lixe, que se f...
Interessa é faturar.

Então, perguntamos:
Há autorização expressa para isso?
Quem assinou a ordem do "tranca rua"?
Foi o prefeito interino substituto do outro interino?
O prefeito de licença médica?
O prefeito de férias?
O departamento de Trânsito?
A Guarda Municipal?
A Polícia Militar?
Quem, afinal, expressamente, por escrito, autoriza esse tipo de trancamento?
Queremos saber.

Diz o Art. 6º da Lei Complementar nº 270, de 12 de dezembro de 2013 (Código de Posturas do Município da Laguna):

“É proibido embaraçar ou impedir, por qualquer meio, o livre trânsito de pedestres ou veículos nas ruas, praças, passeios, estradas e caminhos públicos exceto para efeito de obras públicas ou quando exigências administrativas ou policiais o determinarem”.

 Mas para alguns na Laguna parece que tudo pode, tudo é permitido, tudo é liberado.
Pode proibir o direito de ir e vir? Pode perturbar o silêncio, o sossego da vizinhança formada em sua maioria por idosos e enfermos?
Para alguns pode. E que ninguém ouse protestar e reclamar. Os incomodados, ordeiros e pacatos cidadãos pagadores de impostos que se mudem.

Quem acha isso correto, justo e perfeito deveria levar para sua rua e botar na frente ou ao lado de sua casa. Quero ver se não muda logo de opinião.
Pode isso, Arnaldo? Pode trancar vias públicas para uso particular? Para promover festas? As regras não são claras? E os direitos de ir e vir do cidadão, como ficam?
Quem poderá ajudar? O Batman? O Homem Aranha? O Chapolin Colorado?


quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Opus 4 e Quarteto em Fá juntos, no Cine Teatro Mussi

 

Um encontro especial vai abrilhantar a noite de domingo, 29 de outubro.
O Grupo Opus 4 e o Quarteto em Fá estarão juntos, no Cine Teatro Mussi, a partir das 20h30. Haverá ainda participação especial do saxofonista Jayson Prates Jr.
Os ingressos antecipados no valor de R$ 25,00 já estão à venda nas lojas Paraíso Presentes, no Centro Histórico e na Mormaii e Vivida, no Mar Grosso.

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Venceu o Miss Laguna, mas era de Imbituba. Houve protestos

 Em 1959 marcou época em nossa cidade o concurso Miss Laguna com seu desfile no Clube Blondin e escolha da vencedora. O evento foi bastante comentado durante muito tempo.
Isso porque uma das concorrentes era de Imbituba, mas representava a Capitania dos Portos de nossa cidade.
Com sua beleza, charme e elegância a moça da vizinha cidade conquistou os jurados e saiu vencedora, tornando-se Miss Laguna 1959. Merecidamente.
Houve críticas e protestos por parte de torcidas organizadas.
Mas não houve choro nem vela e o resultado foi confirmado.
Mas alguns dias depois tudo mudou.

Quer saber toda a história? Então se acomode, se aconchegue no sofá e vamos a leitura, que o texto é meio longo, mas penso que interessante.
Tudo começou assim...

Um assunto dominava as conversas na Laguna após o carnaval daquele ano de 1959.

Era o concurso Miss Laguna marcado para ser realizado em nossa cidade no mês de maio.
A expectativa era grande para saber quem seriam as candidatas que disputariam o certame.
Internamente, as diretorias de vários clubes lagunenses escolhiam nomes de senhoritas de nossa sociedade para representar com suas belezas, elegâncias e charmes a mulher da nossa terra.
E que pudessem, claro, com esses atributos, serem vitoriosas no concurso.
O evento era promovido pelo Clube Blondin e também visava arrecadar recursos financeiros para custear a construção da cancha de futebol de salão a ser construída nos fundos daquela tradicional sociedade recreativa.
Um mês antes todas as mesas já estavam vendidas, ingressos esgotados para a grande noite. Um programão, como se dizia. 

Finalmente o sábado tão esperado
E o sábado, 9 de maio de 1959 chegou. Os poucos salões de beleza da cidade ficaram lotados. Também houve quem fizesse sua própria maquiagem. Costureiras  e costureiros trabalharam arduamente para aprontar todas as encomendas.
Os salões do clube Blondin estavam lindamente adornados, toalhas de linho sobre às mesas e castiçais davam um toque romântico.
Para isso foram divulgados pela primeira vez os nomes das concorrentes e suas representações. Aplausos, muitos aplausos. 
Era mestre de cerimônias o colunista social da capital do estado, Zury Machado.
Seis senhoritas concorriam ao título. Eram elas:
As candidatas a Miss Laguna 1959 na passarela do Clube Blondin, em seus nomes de solteiras: 
Da esquerda p/direita: 
Maria Odécia Moraes ((representando o Cordão Carnavalesco Bola Branca)
Leda Cotrim (representando a Capitania dos Portos da Laguna)
Maria da Graça Remor (representando o Clube Blondin)
Solange Martins Nacif (representando o Clube Congresso Lagunense)
Ana Maria Mendonça Mendes (representando o Cordão Carnavalesco Bola Preta) e
Mércia Bárbara Rodrigues (representando o Clube de Natação e Regatas Almirante Lamego).

(No final desta matéria, com exclusividade para este Blog, leia o testemunho sobre o concurso de duas das participantes.)

Antes do desfile e baile, ali pelas vinte e duas horas correu um Bingo com mais de dez sorteios, com prêmios ofertados por empresas comerciais da Laguna.
Jornal O Albor de 9 de maio de 1959.
Logo após, um conjunto musical intitulado Prata da Casa, formado, entre outros, por Álvaro Alano, Ricardo Brandl, Jairo Siqueira, Manoel Bessa, executou vários sucessos.
Isália Viana também se apresentou ao piano e Luiz Paulo Carneiro no acordeom.
Os casais foram para o salão e entre mil rodopios dançavam valsas, boleros, marchinhas e sambas-canções.

A grande atração da noite

Passado cerca de uma hora foi anunciado o início da grande atração da noite: 
O Concurso Miss Laguna.
Por duas vezes as candidatas desfilaram mostrando belos modelos de vestidos confeccionados por profissionais da linha e da agulha de nossa cidade e também de outros municípios.
Luxo e elegância que provocaram novamente muitos aplausos. 
Não, não houve desfile com maiô Catalina.
A maior torcida vinha de membros/foliões do Cordão Carnavalesco Bola Branca, que aplaudiam entusiasticamente sua representante; e também de sócios do Clube Congresso Lagunense para sua candidata.
As duas eram as preferidas e muita gente achava que uma delas seria a vencedora.
O representante do Cordão Carnavalesco Bola Branca, professor Agenor Brum apresenta Maria Odécia Moraes, candidata da agremiação.

Maria Odécia desfila com seu traje de passeio. Ao seu lado, à esquerda, aplaudindo, a também bonita Deyse Werner Salles, futura primeira dama do estado (governador Colombo Machado Salles (1971-1975).

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O então presidente do Clube Congresso Lagunense, advogado e futuro prefeito da Laguna Saul Ulysséa Baião, apresenta Solange Martins Nacif, candidata dessa tradicional sociedade recreativa lagunense

A candidata Solange Martins Nacif, representando o Clube Congresso Lagunense.

Eram as preferidas, mas não foi o que aconteceu.

Recolhidas as cédulas dos doze jurados e feito o escrutínio, foi escolhida vencedora a candidata Leda Cotrim, representante da Capitania dos Portos da Laguna.
O resultado trouxe críticas e protestos oriundos de alguns membros das torcidas organizadas masculinas, o que provocou ligeiro mal estar entre os presentes. 

No Rio de Janeiro também houve protestos
Mas alguém acha que protestos só aconteciam por aqui? Que era a Laguna sendo Laguna, como até hoje se diz?
- Nã-nã-ni-na-não!
Um ano antes, por exemplo, em junho de 1958, num Maracanãzinho lotado também houve vaias à candidata vencedora.
Era Adalgisa Colombo que em seus 18 anos, Miss Botafogo, foi eleita Miss Distrito Federal. O Rio ainda era a capital. Depois Adalgisa vai ganhar como Miss Brasil. Mas isso é outra história.
Então, protestos sempre existiram.

Tentaram impugnar o resultado
Mas voltemos à nossa cidade. Na hora tentaram até impugnar o resultado do concurso lagunense, alegando que a moça era natural de Imbituba, logo não nascida na Laguna e por isso não poderia ter participado do concurso.
Era o atrasado bairrismo se manifestando.
E sem razão de ser. O município de Imbituba havia sido emancipado pela segunda vez da Laguna em 21 de junho de 1958, com sua instalação em 5 de agosto de 1958, separando-se oficialmente da Laguna em 6 de outubro de 1959, portanto cinco meses depois do concurso Miss Laguna.
Além disso, o regulamento nada falava sobre o local de nascimento. Não proibia a inscrição de candidatas residentes ou nascidas fora do município. Bastava representar um clube, associação ou uma entidade lagunense.
E Leda Cotrim, com sua simpatia, beleza e elegância foi declarada Miss Laguna 1959.
E visivelmente emocionada, demonstrou pelo microfone seus sentimentos de alegria e reconhecimento por ter feito jus em tão empolgante e honroso título que acabava de lhe ser conferido.
E desfilou mais uma vez na passarela, com serenidade, mostrando todos os predicados para ostentar o título, o cetro e a faixa da mais bela representante da Laguna.
A Miss Laguna 1959, Leda Cotrim, em toda sua beleza e charme , trajando um vestido balonê, must da época.
Houve saudações à eleita feitas pelo médico Paulo Carneiro, por Osny Veiga, 1º secretário do Blondin, assim como pelo presidente do Clube, médico Abelardo Calil Bulos que dirigiu palavras de congratulações à vencedora.
Logo após, o baile recomeçou, prosseguindo quase até ao amanhecer.

A renúncia

Mas... nos primeiros dias da semana seguinte uma notícia correu pela cidade. 
Ela dizia que a vencedora Leda Cotrim havia desistido, renunciado ao título. Sua faixa já havia sido até devolvida, estando depositada numa emissora da cidade.
De fato, certamente magoada pelo episódio, pelas críticas, a Miss eleita devolveu a honraria.
O colunista Zury Machado que havia apresentado o evento, registrou o fato em sua coluna no jornal O Estado de 15 de maio seguinte: 
Coluna Zury Machado noticia a renúncia ao titulo - Jornal O Estado de 15 de maio de 1959.
Com isso, houve quem quisesse e dissesse na Laguna que, quem deveria assumir a faixa foi quem tirou o segundo lugar no concurso, no caso Maria Odécia Moraes. Mas ela não aceitou o título.
Muitos de seus amigos a partir dali até brincavam quando ela passava na rua, chamando-a de Miss Laguna, de fato e de direito. Mas Odécia levou apenas na brincadeira os gracejos.
Mais uma história acontecida na Laguna. 
Direto do túnel do tempo.

E quem foi a miss estadual e a nacional?

Diversas outras cidades catarinenses também escolheram suas representantes.
Mas naquele ano de 1959 os Diários Associados, de Assis Chateubriand, que foram criadores e promotores do certame, por um motivo ou outro não o realizou em solo catarinense.
Uma jovem blumenauense, Ivone Baumgarten foi proclamada Miss Santa Catarina em um evento no Marabá Clube, no mês de maio. Recebeu a faixa das mãos de Carmen Erhardt, Miss Santa Catarina 1958 e futura esposa do cantor Gregorio Barrios.
E finalmente, em 23 de junho daquele ano aconteceu no Rio de Janeiro o concurso nacional Miss Brasil.
A vencedora foi Vera Ribeiro, representante da Cidade Maravilhosa.
A representante de Santa Catarina não se classificou entre as cinco finalistas.

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Maria Odécia relembra

A candidata Maria Odécia Moraes, filha dos saudosos dª. Armelinda Durante Moraes e de Alcides (Cid) de Oliveira Moraes, relembra para nós nos dias de hoje alguns momentos do concurso:

“Eu tinha apenas 15 anos na época, era muito tímida, muito ingênua até, quando fui convidada para representar o Cordão Carnavalesco Bola Branca no Concurso Miss Laguna.

No início não queria, nem meu pai, mas o pessoal acabou convencendo com alguns argumentos. Diziam que o concurso era local, só para nós. Claro que não era bem isso, quem ganhasse teria que participar do concurso estadual e se fosse vencedora iria para o Miss Brasil.
Quando meu nome foi lançado houve algumas resistências por não pertencer e nem meu pai, ao quadro de sócios do Clube Blondin ou do Congresso. Vê como havia certo preconceito, afinal dançávamos era nos Clubes 3 de Maio e no Anita Garibaldi.
Mas enfim. O pessoal me achava bonita, era alta e diziam ter qualidades para participar.
Fui ensaiada por madame Joseph Bischop, cujo marido tinha vindo trabalhar numa draga holandesa em nosso porto.
Quem confeccionou meu vestido foi a costureira Dolores Moraes. Lembro que era azul, todo plissado, muito bonito.
Naquela época a gente usava muito pó de arroz Cashmere Bouquet, esmalte Cutex. Eu adorava o sabonete Cinta Azul e o perfume de madeira do Oriente.
Eu lembro que fiquei muito nervosa naquele dia e não lembro de muitos detalhes, até porque a gente ficava nos camarins se aprontando.
Sim, sim, havia torcida. Também diziam que duas candidatas tinham preferência. Eu, como representante do Bola Branca; e a Solange Nacif como representante do Clube Congresso Lagunense. Diziam que uma das duas iria ganhar. E criou-se toda uma expectativa na cidade.
Lembro que o Blondin estava lotado naquela noite. O desfile primeiramente foi individual e depois em conjunto, na passarela. Não desfilamos de maiô.
Minutos depois quando saiu o resultado houve algumas reclamações, principalmente por parte de alguns moços que protestaram contra o resultado.
Mas a Leda Cotrim foi de muita elegância e não perdeu a classe, ficou no salto, como se diz, e desfilou vitoriosa e ainda agradeceu quando recebeu a faixa. No final foi muito aplaudida.
Em mim me deu até um alívio porque se ganhasse eu sabia que teria que viajar para concorrer no concurso estadual e eu era muito tímida e acho que meu pai também não deixaria, afinal eu tinha apenas quinze anos, como já falei.
Enfim, isso foi no sábado e logo no começo da semana seguinte correu a notícia que a vencedora tinha renunciado ao título, à vitória e até devolvido a faixa que teria ficado depositada nos estúdios da Rádio Difusora.
Certamente deve ter saído magoada do episódio, mas essas coisas acontecem em concursos, tem sempre os que ficam descontentes, até em concursos de Miss Brasil e Miss Mundo já houve protestos pelos resultados.
Enfim, depois disso o pessoal começou a dizer que como eu tinha tirado em segundo lugar, com uma diferença de um ponto apenas, que devia assumir o título, mas nunca aceitei e levava na brincadeira.
O pessoal na rua, entre eles o Aládio Fortunato e o Antônio Viana eram os que mais brincavam comigo quando eu passava me chamando de Miss, Miss Laguna, primeira e única, essas coisas. Mas sempre levei na brincadeira.
Mas até hoje muitos daquela época lembram disso, dessa história.
Depois parece que naquele ano não houve o concurso em nível estadual.
Enfim, é isso que eu me lembro”.

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Solange Nacif  relembra
A candidata Solange Nacif, filha dos saudosos dª. Sueli e Salun Nacif, também relembra para nós alguns momentos do concurso:

“Eu tinha apenas 18 anos na época e era considerada uma moça alta com meus 1,67cm de altura e bonita.
Fui escolhida para ser a candidata pelos diretores do Clube Congresso Lagunense, entre eles o presidente daquela sociedade que era o meu cunhado Saul Ulysséa Baião, casado com minha irmã Sônia, e que iria ser futuro prefeito da nossa cidade.
Lembro que quem confeccionou os meus vestidos foi o costureiro Galdino Lenzi, de Florianópolis, muito famoso e conceituado já naquela época.
Eram dois trajes, um para a apresentação, um balonê na cor rosa que dava um ar romântico e delicado ao visual. Era a grande novidade em moda naquele ano.
 O outro era um vestido com alça, bem justo na cor verde que realçava muito o meu corpo. Um luxo!
Não tivemos desfile com maiô. Imagine! Nossos pais nem iriam permitir uma coisa dessas, além do mais Laguna era uma cidade muito conservadora. Acho que nem nós candidatas aceitaríamos.
 Quem fez o meu penteado foi a cabelereira Dionê e a maquiagem era a gente mesmo quem elaborava usando base, rímel, batom.
O pessoal dizia que eu era uma das favoritas para vencer o concurso. Mas as outras candidatas não deixavam nada a desejar.
O Blondin estava lotado naquela noite, era um grande acontecimento social que atraiu toda a alta sociedade lagunense. Havia muita torcida organizada presente.
Havia o pessoal dos clubes Blondin, Congresso, Almirante Lamego, além dos foliões do Bola Preta e Bola Branca.
O mestre de cerimônias foi o colunista social Zury Machado que chamava as candidatas para o desfile, dava algumas informações pessoais e sobre os trajes usados.
Não lembro de haver algum tipo de protesto à vencedora Leda Cotrim. Algumas pessoas questionaram foi por ela ser de Imbituba e não nascida na Laguna, mas como tu me dizes, não havia nada no regulamento que proibisse.
Disseram que houve interesse político no resultado, não sei. Passados tantos anos não lembro os nomes dos jurados.
Foi uma festa muito bonita e depois teve o baile e a gente dançou até quase ao amanhecer, embalados pelo Conjunto Prata da Casa que tinha o Álvaro Alano, o Ricardo Brandl, o Jairo Siqueira, entre os componentes.
É o que me lembro, afinal faz muitos anos”.