sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Foto-Retrô

 

1978 – Nas oficinas do jornal Semanário de Notícias, de propriedade de Luiz Paulo Carneiro, as presenças de Jarbas Guedes Rosa (colunista de política); Mário (Marinho) Nobre (tipógrafo); Richard Calil Bulos (Xaxá), jornalista, colunista e editor; Sílvio Silveira (colunista de esportes e tipógrafo); Jacques Calil Bulos, colaborador; e Ênio Agenor Marques, Aleir Rodrigues e Evilásio Fernandes, os três últimos tipógrafos da velha impressora Marianni.
Eram também colaboradores do Semanário de Notícias: Munir Soares, Márcio Carneiro, Ruben Ulysséa, Ivaldo Roque, Nêmesis de Oliveira, Manoel Américo de Barros, João Carlos Wilke, Valmir Guedes Júnior, José Carlos Natividade (Bujú), entre outros.
A redação e oficinas do Semanário ficava na Praça República Juliana nº 1, bem no começo da rua Raulino Horn.
Em meados de 1979, na gestão do prefeito Mário José Remor/João Gualberto Pereira (1977-1982), o Semanário de Notícias foi encampado pelo recém-fundado jornal O Renovador.
E aí começa uma nova história na imprensa lagunense. Foto: Geraldo Cunha (Gê).

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Homenagem à Cida Milezzi, nossa "primeira" Anita Garibaldi

 
Nas comemorações do bicentenário de nascimento de Anita Garibaldi, nossa homenagem à atriz lagunense Aparecida (Cida) Milezzi que primeiramente tão bem representou a nossa heroína, ainda nas décadas de 1990/2000 quando dos espetáculos teatrais. 
Foto: Valmir Guedes Jr./Ano: 1999

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Teatro na Laguna – Grupo Dramático João Caetano – Peça O Pivete

 
Foto em 7 de junho de 1950 do palco do Teatro Sete de Setembro, onde também funcionava o Cinema Central, na Praça Vidal Ramos.
É um raro registro do interior do local.
Mostra uma cena da apresentação do Grupo Dramático João Caetano, de nossa cidade, da encenação em três atos da comédia "O Pivete", escrita por Luiz Iglésias.
Iglésias era ator, letrista, compositor, escritor, dramaturgo, roteirista, ator, produtor e diretor. Nascido no Rio de Janeiro em 1905 e falecido em 1963. Foi casado com a atriz Eva Todor.
Da esquerda p/ direita: Maria de Lourdes Simas, Maria Alzira Nicolazzi (de chapéu), Walter Boppré e Zenir Janz, Francisco de Paula Carneiro, Manoel Rodrigues de Oliveira, Arita Farias Gomes, Topázio Solon da Silveira e Dulcio Ulysséa.

Os ensaios técnicos eram de José Alfredo de Brum, com cenário de Cláudio Moreira Carpes.
O presidente do Grupo Dramático João Caetano era Afonso Butemberg.
A arrecadação do espetáculo foi em benefício do nosso Hospital de Caridade Senhor Bom Jesus dos Passos.
Como complemento do programa foi apresentado um ato variado (canções e declamações) no qual tomaram parte os aplaudidos cantores Aliatar da Silva Barreiros e Henrique Stefan, além de Teresinha Reis e Hilda Soares (Bicca).
A execução das músicas esteve a cargo do Jazz Municipal, sob a direção de Manoel Bessa “o qual deleitou a plateia, nos intervalos, com bons números de seu moderno repertório, muito contribuindo assim para o brilhantismo do evento”.
Sucesso total, lotação completa dos 300 lugares.
Note-se o piano defronte ao palco para execução do fundo musical nos filmes do chamado cinema mudo.
O abajur à esquerda foi tomado emprestado à Rádio Difusora, conforme me informou tempos atrás Carlos Araújo Horn.

O prédio, inaugurado em 1858, com reformas e ampliações efetuadas ao longo dos anos, pegou fogo em 1968, mas mesmo restando apenas quatro paredes em pé, foi utilizado para as quermesses da Festa de Santo Antônio dos Anjos. E também de Festivais de Chope.
Em fins da década de 1970 foi derrubado o que restava do imóvel e em 30 de abril de 1982 inaugurado em seu lugar o Centro Cultural Santo Antônio dos Anjos.

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Foto-Retrô

 
Década de 80 na Praia do Mar Grosso, os torneios de futebol de praia.
Time do Iate Clube da Laguna.
Da esquerda p/ direita, em pé: Marcos Faria Ferreira, Beto (Laguna) Fernandes, Júlio Willemann, Gil Ungaretti, Edmundo Ungaretti Branco, e Roxo.
Agachados: Hélder Remor de Souza, Erickson Silveira de Souza, Vecki, Elias Pigalle e Cid Miró.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

O primeiro avião nos céus da Laguna

 
- O avião, olha um avião!
Certamente gritando estas palavras é que grande parte da população lagunense avistou o primeiro “pássaro de ferro” que sobrevoou os céus desta cidade em 16 de agosto de 1920.
Foi esta a primeira vez que Laguna viu um avião singrar em seu espaço aéreo.
Era a grande novidade daquelas duas primeiras décadas do século XX. Muitos ainda não acreditavam na invenção do brasileiro Santos Dumont que havia conquistado os céus de Paris alguns anos antes com o seu 14 BIS.
Uma multidão já pela manhã cedo se postou ao longo do cais do nosso velho porto, aguardando ansiosa a passagem do avião.
Na verdade, um hidravião Macchi 9 (M.9), motor Fiat 280 HP, 180 quilômetros/hora que tentava vencer a rota Rio de Janeiro-Buenos Aires.
O Macchi 9 (M.9) de 280 HP. Foto: Instituto Histórico Cultural da Aeronáutica.
Era ainda a chamada época heroica da aviação, de proezas, desafios e dos raids.
E este era caso. Um raid lançado pelo Aero Clube Brasileiro e pelo jornal A Noite, do Rio de Janeiro.
O desafio consistia em completar o trajeto acima, utilizando um único aparelho e fazendo poucas escalas.
O jornal O Albor de 20 de agosto de 1920, editado em nossa cidade, conta historicamente como foi a passagem do primeiro avião por Laguna: 
“Às nove e quinze do dia 16 do corrente, toda a população desta cidade, foi testemunha de um belíssimo e inédito espetáculo, por cuja aspiração ela de há muito vinha esperando.
É que um hidroplano pilotado pelo tenente Aliatar Martins, e tendo como mecânico o piloto inglês Pinder, vinha com felicidade realizando um audacioso raid do Rio a Buenos Aires e já se achava na capital do nosso estado, desde o dia 14, onde havia realizado belas evoluções e prometia em sequencia ao trajeto já alinhado, passar bem a pino sobre a nossa cidade.
Sabedora daquela alvissareira notícia, ela começou de indagação em indagação, até finalmente o telégrafo de Florianópolis lhe dar a certeza de que a 16, às 8h e 30 minutos da manhã, o referido hidroplano havia levantado voo naquela capital, em direção ao sul.
É fácil imaginar-se a sugestão empolgante de que foi presa toda a população desta cidade e todos, adultos, crianças e velhos, homens e mulheres, todos não despregaram mais as suas vistas para o firmamento ao lado do norte, cada qual a ser o primeiro a poder contemplar o esperado avião.
E pouco a pouco vinham chegando notícias de sua passagem; Garopaba deu o primeiro aviso e por fim de Imbituba cientificava-nos a sua passagem ali às 9 horas.
Por fim, às 9 e 15 despontou nos ares da Laguna. E como se o aviador houvesse diminuído a velocidade, para que mais demoradamente o seu aparelho pudesse ser visto por esta cidade ei-lo o que como uma ave de enormes proporções paira sobre nossas cabeças, majestoso, sereno, caminhando lentamente e deixando como rastro de sua paisagem, um zumbir surdo e persistente.
 Aclamações, adeuses, foguetões estrugiram por toda a cidade, como ardentes saudações àqueles ousados navegadores das regiões aéreas, e que os olhos atônitos de todos os lagunenses, realizavam o milenar sonho do homem voador, que os gregos, apesar de sua adiantada civilização, julgavam uma eterna utopia, personificada em Ícaro, cujas asas de cera derreteram-se ao calor do sol.
 Enfim, de muitos se ouvia que agora estavam satisfeitos, pois que tinham presenciado com as suas próprias vistas, através de uma atmosfera clara e diáfana, um navio dos ares.
Mais alguns minutos e o aparelho, acelerada a sua marcha e voando em direção à Santa Marta, pouco a pouco desaparecia como um ponto negro no espaço.
Votos de feliz êxito e belíssima viagem, acompanharam de todos os lábios a bela e formosa aeronave”. 

Uma tragédia 
Mesmo com os maiores desejos dos lagunenses de êxito na viagem, os foguetes e os adeusinhos da população, este segundo voo não conseguirá seu intento.
Por problemas mecânicos o hidravião teve que amerissar nas águas da Lagoa dos Esteves, em Araranguá. O local do acidente hoje pertence a Içara.
O piloto Aliatar Martins e o mecânico John Pinder com seu hidroavião na Lagoa dos Esteves.. Foto: Instituto Histórico Cultural da Aeronáutica.
Dias depois, com o aparelho já consertado, ao girar a hélice para dar a partida o piloto Aliatar de Araújo Martins teria recebido um impacto do mecanismo, quebrado um braço e caído nas águas da Lagoa. Na tentativa desesperada de salvá-lo, o mecânico inglês major John Willian Pinder vai também morrer afogado. Seus corpos serão encontrados dez dias depois.
Serão sepultados no cemitério local. O acidente provocou bastante comiseração e tristeza na população catarinense e foi noticiado em muitos jornais brasileiros.
Missas serão encomendadas em sufrágio aos dois ocupantes.
Um triste e trágico acidente que enlutou a todos. 

Nova tentativa e o hidroavião sofre pane na Laguna
Dois meses se passaram e outro avião tentará percorrer o mesmo trajeto. Era a terceira tentativa.
Antes, a primeira delas coube ao italiano Antônio Luigi Locatelli, iniciada em 10 de setembro de 1919. Mas ao pousar em Tijucas, Santa Catarina, seu avião sofreu sérias avarias num capotamento, interrompendo definitivamente a viagem.
O trajeto a ser feito por De Lamare. Desenho A Noite de 26 de outubro de 1920.
Desta vez um novo aparelho, batizado como M.9 Bis, era pilotado pelo capitão-tenente Virginius De Lamare e pelo mecânico Antônio J. da Silva Júnior.
Partiu do Rio de Janeiro em 6 de outubro de 1920 e pousou em Florianópolis no mesmo dia, já quase noite, proximidades da Fortaleza de Alhatomirim por causa de problemas na aeronave. No dia seguinte foi rebocado para reparos ao estaleiro Rita Maria. O mau tempo nos nove dias seguintes o impediu de novamente levantar voo.
Só o pode fazê-lo na manhã de vento sul do dia 16 de outubro, precisamente às 9 horas e 30 minutos em direção a Montevidéu. “O povo apinhou-se ao longo do cais, da Prainha ao Arataca”. 

O acidente nas imediações da Cabeçuda
Com as autoridades da Laguna avisadas por telégrafo da partida do avião de Florianópolis, logo a população se dirigiu novamente ao cais do nosso porto para presenciar o acontecimento.
Todos com atenção aos horizontes do norte para avistar o aparelho. “Um grupo que se achava nas alturas do Morro de Nª Sª do Rosário deu o alarme de seu aparecimento pouco depois das 10 horas da manhã”.
Mas logo o avião foi perdendo altura e amerissou nas águas da nossa Lagoa Santo Antônio dos Anjos, imediações da Cabeçuda.
Rebocado para o cais da Laguna para conserto, o aparelho atraiu uma multidão para vê-lo de perto.
O avião M.9  em manutenção no cais da Laguna. Foto: Acervo Valmir Guedes Jr.
Era a oportunidade, agora sim, ao vivo e a cores, para os lagunenses conhecerem de perto um avião e seus corajosos pilotos de que tanto os jornais noticiavam.
Tratava-se de um Hidroplano Machi nº 9 (M.9), italiano, motor Fiat 280 HP, 180 quilômetros por hora, raio de ação de 4 horas.
De Lamare era capitão-tenente da Marinha de Guerra Brasileira, diretor do departamento de voo da Escola Naval de Aviação, tendo servido no corpo de aviadores ingleses na 1ª Guerra Mundial. Em suma, um herói da nossa pátria.
Os aviadores não puderam de imediato prosseguir viagem em seu raid porque o defeito encontrado era sério e não podia ser rapidamente consertado. Era mau funcionamento das roldanas de comando. 

Hospedagem na Laguna
Recepcionados pelas autoridades lagunenses os dois pilotos foram hospedados no Hotel Brasil (futuro Paraíso Hotel), situado entre duas ruas, a Raulino Horn e a Gustavo Richard.
O mecânico Antônio Silva Júnior e o piloto De Lamare.
Foram cercados de todas as atenções, tanto que o jornal O Albor se rejubilou “extraordinariamente ao constatarmos o alto espírito de cordialidade e de inconteste espontaneidade de todos os lagunenses em cercar os nossos hóspedes, em tão delicada situação, de todo o conforto possível e a altura de nossas forças, quer moral, quer material”.
Era a então já conhecida fama, decantada em versos e prosas, do lagunense bom anfitrião.
Tanto é verdade que no dia seguinte não faltou banda, ora se não. 

Teve banda, foguetes e discursos
No dia 17 a Banda Carlos Gomes fez uma retreta no Jardim Calheiros da Graça, na Praça Vidal Ramos. Dali saiu com grande número de populares em direção à frente do Hotel Brasil e tocando dobrados e marchas, homenageou os dois pilotos que neste local se encontravam hospedados.
Jornal A Noite 24 de outubro de 1920
Teve até discursos do dr. Alipio Machado e certamente espocaram alguns foguetes e rojões pelo caminho.
O piloto De Lamare e o mecânico Silva Júnior ficaram por aqui pouco mais de uma semana, o que prova que o defeito no avião foi bem mais sério do que se pensava.
De acordo com Agenor Bessa em suas memórias, auxiliaram no conserto da aeronave, os lagunenses Sebastião Guitarra, Manoel Pilão e João Delgado.
Os dois pilotos também foram convidados para jantares e visitas aos galpões dos clubes náuticos Lauro Carneiro e Lamego e certamente beberam a água da Carioca.
Mais alguns dias por aqui e algum vereador iria propor títulos de cidadão lagunense para os dois. Alguém duvida?

A despedida da Laguna
Mas a viagem prosseguiu e no dia 25 de outubro com grande multidão novamente postada no cais da cidade o avião levantou voo.
O jornal O Albor fala “quase toda a população da cidade”, mas acho que exagerou. Além do mais era uma segunda-feira, início da semana e alguém precisava trabalhar.
A Noite 26 de outubro de 1920.
A não ser que o superintendente (prefeito) Antônio Bessa tivesse decretado feriado municipal, o que não foi o caso.
Bem, o avião levantou voo em direção a Porto Alegre com o relógio marcando precisamente 6 horas e 50 minutos da manhã.
Mas aqui deixo aos nossos leitores, como legítima testemunha ocular e auditiva, a reportagem do O Albor em sua edição de 31 de outubro de 1920, que narrou nos mínimos detalhes a histórica partida do hidroplano: 

“Logo que amanhecera começaram os preparativos necessários.
Assim foi o aparelho suspenso e com todo o cuidado colocado no mar, tendo os mesmos aviadores se revestido das precauções para poderem prosseguir o seu audacioso raid.
Uma vez flutuando sobre as águas da nossa baía, foi o aparelho, com o auxílio de uma canoa, aproado para o sul.
O mecânico provocou então com a manivela do aparelho a explosão do motor, pondo-se assim o hidro em movimento, singrando a nossa lagoa até o Morro dos Martins (Ponta das Pedras) e fazendo dali uma rápida volta.
Foi nessa ocasião que a hélice já em aceleradas rotações impulsionou fortemente o aparelho, que após ter lançado altas colunas d’água pelos flancos, começou a sua brilhante ascensão.
Toda assistência, então não podendo conter tamanha emoção ao presenciar tão admirável espetáculo, prorrompeu em frenéticos aplausos e o aparelho, sempre em gloriosa ascensão foi até a altura de Cabeçuda e de lá voltou em cumprimento a esta cidade, continuando definitivamente o seu raid.
Era de fato o sonho milenar do homem voador que tínhamos de verdade as nossas vistas. E mais ainda, era um brasileiro, rebento deste povo tão menosprezado, quem cortava em voos magníficos os ares lagunenses.
O aparelho partira vitorioso para seu destino, porém conosco ficara uma ânsia indefinida pela sorte dos seus tripulantes.
É que o desastre que acarretou a perda das duas vidas preciosas de Aliatar e Pinder, deixou um sulco de profundo sentimento na alma lagunense”. 

E O Albor finaliza dizendo que em busca de notícias se estabeleceu uma romaria à Estação Telegráfica da Laguna (no prédio onde hoje funciona o Sine, entre as ruas Raulino Horn e Barão do Rio Branco).
O Piloto De Lamare. A Noite 11 setembro de 1920.
Mas logo chegou o telegrama do próprio De Lamare noticiando que o avião com seus dois tripulantes haviam chegado são e salvos a Porto Alegre às 11 horas e 20 minutos daquele dia, 25 de outubro. O piloto fundeou seu aparelho no Guaíba, em frente ao Clube de Regatas Tamandaré e uma multidão foi recepcioná-los.
Antes de chegar a Porto Alegre, depois de deixar Laguna, o avião fez uma parada na Lagoa de Cidreira e depois mais um pouso na Lagoa dos Patos.
Da capital do Rio Grande do Sul o hidroplano com o piloto De Lamare e o mecânico Silva partiram no dia 30 às 8 horas e 45 minutos. Fizeram uma parada de algumas horas em Pelotas de onde partiram às 14 horas e 20 minutos chegando ao Rio Grande dez minutos depois, às 14 horas e 30 minutos.
Mas os contratempos pareciam rondar o histórico voo. Quando o aparelho estava sendo içado por guindaste para o cais daquele porto, para manutenção, o cabo de aço se partiu e o avião caiu de uma altura de três metros. O acidente danificou seriamente a estrutura da aeronave, inutilizando-a.
Estava assim encerrada a viagem, até porque o regulamento não permitia a utilização de outro aparelho para sua conclusão.
Faltavam apenas quatro horas para chegar a Montevidéu (808 quilômetros) e dali a Buenos Aires apenas 239 quilômetros.
No dia seguinte, tanto De Lamare e Silva retornaram ao Rio de Janeiro ao bordo do navio de cabotagem Rui Barbosa, do Lloyd Brasileiro, juntamente com o hidravião. Foram recebidos como heróis por grande multidão.

Números
Para quem gosta de números, o piloto De Lamare percorreu 1.398 quilômetros em seu esforço para atingir Buenos Aires, num tempo de 9 horas e 45 minutos. 

Como se vê, o maior voo feito pelo aviador De Lamare foi o de Santos a Camboriú, no percurso de 426 quilômetros, no tempo de 3 horas e 45 minutos. Em seguida vem a travessia Rio-Santos, com 2 horas e trinta e nove minutos.

Florianópolis a Laguna, 90 quilômetros levou apenas 35 minutos; e da Laguna à Cidreira em seus 290 quilômetros a viagem foi feita em 1 hora e 40 minutos.
Não constam no quadro acima a quilometragem de Porto Alegre a Pelotas e desta ao Rio Grande. 

No dia 12 de novembro daquele ano o piloto De Lamare deu uma extensa entrevista ao jornal A Noite, do Rio de Janeiro onde contou em detalhes como foram os desafios da viagem.
No meio da entrevista, lembrou-se de sua acidental parada em nossa cidade, da maneira como foi calorosamente recebido e agradeceu:

“Devemos ao povo da Laguna e autoridades a nossa gratidão pelos auxílios prestados e pelas manifestações de carinho com que nos receberam”.

Hoje seria – e tenho dúvidas se não o foi na época – uma baita publicidade para nossa terra. O jornal A Noite era um diário de grande circulação não somente na então capital federal, mas contava com milhares de assinantes em todo o Brasil.
De Lamare também narra o quase acidente num local chamado Cabeçudas, em Itajaí, onde passaram apuros no ar.
Fala do pouso forçado na Laguna, num local chamado Cabeçuda.
E da coincidência no Porto do Rio Grande, quando após o acidente com o guindaste que içava o avião e que o quebrou, descobriram nos fundos de um galpão do porto, um armazém cuja tabuleta ostentava o nome de Cabeçuda. Era muita perseguição.
E foi assim, complementa De Lamare, com esse nome “Cabeçudo” que o hidroplano M.9 foi batizado, aliás, como se pode observar na foto abaixo, quando do retorno ao Rio de Janeiro. 
Marinheiros da Escola Naval de Aviação carregam o M.9 BIS (Cabeçudo). A Noite 13 de novembro de 1920.
Enfim, o trajeto é realizado
Eduardo Pacheco e Chaves, mais conhecido como Edu Chaves, foi o primeiro civil brasileiro (depois de Santos Dumont) a conseguir o brevê de aviador. O primeiro no mundo a viajar à noite. Fundador da 1ª escola de aviação no Brasil.
Em 1912 já havia vencido o desafio de realizar o percurso São Paulo-Santos-São Paulo, a bordo de seu pequeno avião Blériot, trazido da França, com motor de 50 HP. É considerado pioneiro da aviação no Brasil, juntamente com Bartolomeu de Gusmão e Santos Dumont.
Quase dois meses depois da interrupção de De Lamare, o piloto Edu Chaves partiu do Rio de Janeiro, em 25 de dezembro de 1920, às 8 horas 45 minutos em direção à capital da Argentina. Seu avião era um Curtiss Oriole motor 150 HP.
Fez escalas em São Paulo, Guaratuba, Porto Alegre no dia 28, e Montevidéu, chegando a Buenos Aires, no aeroporto El Palomar no dia 29 às 16 horas. Levou cinco dias para vencer o trajeto e vencer o desafio do raid.
Recebeu inúmeras manifestações e homenagens em todo o país. Sua façanha foi comentada na imprensa nacional e internacional.
Recebeu um prêmio de 30 contos de réis oferecido pelo Governo de São Paulo, além do reconhecimento em monumentos, medalhas e seu nome batizado em parques e vias públicas.

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Souza Júnior palestrou sobre o carnaval da Laguna

     O carnavalesco e radialista João de Souza Júnior (que faz falta no rádio lagunense) deu um banho na noite da última sexta-feira (30) no palco do Cine Teatro Mussi, dentro das programações da 39ª Semana Cultural da Laguna.

Souza Júnior na palestra. Print do You Tube da Fundação Lagunense de Cultura.
Por mais de trinta minutos, de improviso, Dão palestrou sobre as origens do nosso carnaval, com datas, nomes de carnavalescos de saudosas memórias e fatos acontecidos em mais de cem anos.
Do inicial entrudo aos blocos de salão nos clubes recreativos; das primeiras agremiações em seus carros de críticas e mutações ao surgimento das escolas de samba; dos desfiles e passarelas ao atual carnaval na praia.
Além do mais, lembrou fundadores, origens, cisões de entidades, suas vitórias e alguns ocasos.
Parabéns a Souza Júnior pela palestra com conhecimento de causa, ele que vive sua vida dedicada à nossa maior festa, desde os recuados tempos dos bloquinhos da Roseta, rua da frente e de trás, Bloco do Pirão d’água, Brinca Quem Pode e depois, como um dos fundadores da Mocidade Independente, a partir de 1981.
Com isso mantém viva a chama e memória do nosso carnaval.
A noite de sexta, toda ela dedicada ao carnaval, teve ainda apresentação de documentários, trechos do último desfile das Escolas em 2013 no sambódromo, finalizando com a bateria da Escola de Samba Mocidade Independente.
Parabéns. 
Abaixo, o link do vídeo do evento publicado no YouTube na página da Fundação Lagunense de Cultura:

sábado, 31 de julho de 2021

Homenagem ao Fundador Domingos de Brito Peixoto

 
Depois do “toque” dado aqui no Blog semana passada, até porque não constava na programação divulgada pela prefeitura alusiva à 39ª Semana Cultural, foi realizada na manhã de quinta-feira, 29 de julho, aniversário dos 345 anos, solenidade junto ao Monumento de Domingos de Brito Peixoto, fundador da Laguna.
Foto: Divulgação/PML
Presenças de autoridades, secretários municipais, da presidente da Fundação Lagunense de Cultura Vanere Rocha Pires, do prefeito e vice-prefeito Samir Ahmad e Rogério Medeiros.
Na ocasião, uma corbelha de rosas foi colocada junto à Estátua do fundador.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Parabéns Laguna pelos seus 345 anos

 

A Laguna de todos nós está comemorando seu aniversário na data de hoje. Uma quinta-feira fria, com vento sul.

"Velho vento vagabundo/No teu rosnar sonolento/Leva ao longe este lamento/Além do escárnio do mundo", como já declamava o poeta Cruz e Sousa.
Uma Laguna de valores e vultos notáveis, berço de heróis da pátria. Uma terra abençoada por Deus em suas belezas naturais.
Laguna das tradições do seu povo, da religiosidade, da cultura, gastronomia, das praias, de seus casarios, do carnaval, dos botos, do Farol de Santa Marta, da Pedra do Frade, de Anita Garibaldi, de Nossa Senhora da Glória, de Santo Antônio dos Anjos. Laguna o lugar de nossas vidas.
Em depoimentos orais, nas nossas memórias e de nossos antepassados, na leitura de livros e jornais que marcaram época, a constatação da pujança de uma cidade que foi pioneira no sul do estado nas mais diversas áreas. 
Tantas histórias...
"Laguna que de tanto ser esquecida aprendeu a não esquecer", no dizer primoroso, verdadeiro, do saudoso deputado por esta terra, Armando Calil Bulos. 
Laguna foi tudo!
Mas também uma Laguna há muito tempo maltratada pela incúria dos homens, traída em seus ideais, negociada em suas aspirações.
Uma Laguna que já perdeu tanto, inclusive grande parte de seu território. 
Uma Laguna do já teve.
Mas a Laguna a tudo resiste, teimosa, impávida, única.
Porque os homens passam e alguns ficam nos rodapés da história, enquanto outros são esquecidos para todo o sempre.
Laguna de esperanças...

Parabéns Laguna de todos nós que amamos essa terra, em seus 345 anos.

segunda-feira, 26 de julho de 2021

A Indústria Pedone marcou época na Laguna

 
Há alguns meses em post aqui publicado, abordei a filial da empresa Nipo Brasileira na Laguna nas décadas de 1970/80.
Hoje trago outra empresa sempre lembrada por nossos antepassados e que contribuiu durante mais de trinta anos para o desenvolvimento socioeconômico de toda a nossa região, gerando empregos e rendas.
É uma amostra da pujança econômica da Laguna em seu melhores dias.
Instalações da Indústria Pedone, já desativada, em 1975.
Em meados da década de 1930 instalou-se na Laguna, vinda do Rio Grande do Sul, a Indústria Pedone & Irmão, de propriedade de Francisco Pedone. Ela já existia no vizinho estado, mas trocou de ramo ao aqui se instalar e a de lá fechar.

A fábrica passou a produzir enlatados e palmitos em conserva, doces de variadas frutas, além de vinho de laranja.
Mas seu produto principal e de maior sucesso, além do palmito, era o camarão seco salgado que logo se tornou o carro-chefe da empresa. Os executivos de hoje diriam em inglês, o flagship.
Publicidade inserida no jornal lagunense Correio do Sul, de 6 de janeiro de 1939.
Francisco Pedone trouxe para auxiliá-lo, em diferentes momentos, seus irmãos-sócios, filhos e sobrinhos. Alguns deles aqui constituirão famílias.
A indústria durante muitos anos foi uma das mais pujantes de nossa cidade. Empregava diretamente cerca de cem pessoas quando das safras.
Já os empregos indiretos eram bem maiores porque a empresa comprava toda a sua matéria prima de produtores rurais e pescadores de nossa região.

O pescado, principalmente o camarão, era trazido em canoas pelos próprios pescadores que atracavam em uma pequena doca e trapiche localizados na parte dos fundos da indústria e ali descarregado, sem intermediários.
Na confecção, em suas próprias instalações, das embalagens feitas de folhas de flandres, trabalhava Walter Madruga, técnico especializado em latoaria.

Tecnologia e grandes mercados
A Indústria Pedone era a mais aparelhada da região sul, possuindo tanques de lavagem, salgas, frigoríficos, seção de enlatamento e encaixotamento.
Seus principais mercados consumidores eram o Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo, utilizando-se como meio de transporte o marítimo, aéreo e também o rodoviário, através de caminhões da Empresa Transportadora Lagunense, de sua propriedade.
No inverno, quando decaía a pesca de camarão, aumentava-se a produção do palmito em conserva, cuja coleta era feita nas encostas dos morros de toda a região sul.

A empresa vai funcionar até os últimos anos da década de 1960, quando encerrou suas atividades, deixando uma marca até hoje lembrada graças à visão empresarial de um homem que investiu em nossa terra e que colaborou sobremaneira para o seu desenvolvimento.
A não regularidade dos fornecedores dos produtos, principalmente do camarão e palmito, além da pequena quantidade dessas matérias primas, que dependiam de safras, podem ter contribuído e dificultado os planos de desenvolvimento da indústria. Além do surgimento de outras empresas do mesmo ramo na região.

Toda a área onde ela se localizava foi vendida, passando por diversos proprietários.
Em 1975, quando da inauguração do Monumento ao Tratado de Tordesilhas, ainda era possível se avistar os prédios e a chaminé da indústria, obviamente já fechada, ostentando o nome da empresa, como se pode observar na foto abaixo.
Instalações da Indústria Pedone, já desativadas, em 1975, quando da inauguração do Monumento ao Tratado de Tordesilhas, em primeiro plano.
Logo depois, imóvel arrendado, funcionou em suas instalações com grande sucesso entre a juventude, a Boate New Yave, pertencente a um grupo de amigos radialistas de nossa cidade.
A indústria vista de outro ângulo, quando da enchente de março de 1974. Foto: Bacha.
Já na década de 1990 toda a área foi adquirida novamente e no terreno frontal foi erguido o Shopping (hoje Centro Administrativo) Tordesilhas.
Para efeito de localização, no exato local da indústria funcionou há bem pouco tempo a secretaria Municipal de Saúde, evidentemente com várias alterações e reformas em sua estrutura.
Por uma dessas incompreensíveis injustiças da Laguna, nem Francisco ou Mário Pedone, dois industriais que investiram aqui, foram homenageados com seus nomes em vias públicas da nossa cidade. Enquanto outros...

Genealogia
Para quem gosta de genealogia, como eu, algumas informações interessantes:

O industrial Chico Pedone, como ficou conhecido carinhosamente em nosso meio, trouxe para auxiliá-lo, em diferentes épocas, os filhos Francisco, Odorico e José (Juca) Pedone.

Mais tarde veio o sobrinho Mário Pedone e os genros Vitório e Alexandrino Bandarra. Como encarregado geral, Alcides Bandarra. Com seus irmãos veio também a senhorita Alice Bandarra.
Alguns anos depois, em 1941, o industrial Chico Pedone teve uma grande perda pessoal por causa do falecimento prematuro de sua esposa Antonieta.
Mais tarde vai contrair novas núpcias com Leonor Flores ou dª Leonor Pedone como ficou mais conhecida. Lembro que morava, já viúva, ali no Largo do Rosário naquele sobrado à esquerda de quem sobe ao morro.

Francisco Pedone faleceu em 1957 e quem passou a gerenciar a empresa foi seu sobrinho Mário Pedone, de grande estima em nosso meio, inclusive exercendo a presidência do Rotary Clube de nossa cidade. Casou com Eloá Magalhães e da união nasceu a futura professora Terezinha Pedone Carneiro que casou com o advogado e também meu professor no Ceal, Ronaldo Pinho Carneiro.

Alcides Bandarra veio em 1948. Era casado com Laura Lopez e tiveram como filha Aydê, casada com Jaime Oliveira, irmão, dentre outros, do ex-prefeito da Laguna Walmor de Oliveira.

Dª Alice Bandarra vai casar com o lagunense Sílvio da Silva Barreiros e desta união nasceu Sidnei Bandarra Barreiros, advogado e futuro promotor público de Justiça e hoje procurador aposentado do estado, casado com Maria Salete Folchini Barreiros. 

PS: Agradeço ao estimado primo e amigo Sidnei Bandarra Barreiros. Com sua prodigiosa memória, obtive para esta pesquisa valiosas informações quanto a nomes de familiares e datas.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Semana Cultural: E a homenagem a Jerônimo Coelho?

Conforme programação divulgada pela prefeitura da Laguna, através da Fundação Lagunense de Cultura, a Semana Cultural da Laguna começa dia 28 de julho.
Não consta no programa qualquer homenagem ao lagunense Jerônimo Coelho.

Pois foi neste dia, há exatos 190 anos, portanto em 1831, que o lagunense Jerônimo Francisco Coelho, considerado o maior estadista do Império, lançava em Nª Sª do Desterro o primeiro jornal em nosso estado, O Catharinense, além da criação da Maçonaria, através da Loja Concórdia.
Lagunense Jerônimo Coelho, fundador da Imprensa e Maçonaria catarinense. Considerado um dos maiores estadistas do Império. Elaborou os termos do acordo de Poncho Verde que pôs fim a Revolução Farroupilha.
Jerônimo Coelho foi também quem alinhavou os termos do acordo de paz de Poncho Verde, que pôs fim a Revolução Farroupilha.

Ele não merece neste dia 28 uma retreta por uma das bandas em frente ao busto do jornalista, que fica bem ali na Praça que leva seu nome, no Largo do Rosário?
Ou uma corbelha de flores com direito a discursos e hino da Laguna com as presenças de Veneráveis e irmãos das cinco Lojas de nossa cidade?
Não consta nenhuma homenagem  na programação divulgada, como já escrevi.
Por que não haverá? 
Para conferir a programação basta clicar aqui