sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Padre Manoel João: 57 anos na Paróquia da Laguna

“Alto, magro, claro e corado. Olhos azuis, cabelos grisalhos. Inteligente e preparado, todos os respeitavam”.
Assim Saul Ulysséa em seu livro Laguna de 1880 (pág. 55), descreve o padre Manoel João Luiz da Silva, ou padre Maneca como era carinhosamente chamado, que paroquiou Laguna durante 57 anos.
Nail Ulysséa em Três Séculos na Matriz Santo Antônio dos Anjos diz sobre o padre Manoel João que era “inteligência brilhante, caráter exuberante, orador sacro magnífico, uma bonita voz de tenor e extremamente hábil em angariar simpatia”.
E realça: “É indiscutível que a população lhe devotava uma amizade e uma carinho, que chegava às raias da veneração, e com isto conseguiu manter acesa a luz da fé em seus paroquianos”. (Pág. 193).

Nascimento
Padre Manoel João nasceu na então Vila da Laguna em 19 de dezembro de 1827. Filho de Maria Luíza de Jesus e João Luiz da Silva. Foi batizado na igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos em 1º de fevereiro de 1828, pelo vigário Manoel Fernandes da Cruz. Aliás, padre que casou em nossa Matriz, Ana de Jesus Ribeiro, futura Anita Garibaldi, na data de seu aniversário de 14 anos, 30 de agosto de 1835, com seu primeiro marido Manuel Duarte de Aguiar.
Nascido em família pobre, desde criança o futuro padre Manoel João ajudava em pequenos afazeres no comércio de nossa cidade, a fim de se manter e colaborar no sustento familiar. A partir dos 12 anos de idade tornou-se caixeiro da casa comercial do seu padrinho de batismo, na então Freguesia de Imaruí.

Inteligência rara desde menino
Dotado de uma inteligência rara – e quem conta é o amigo do padre Manoel João, o jornalista lagunense José Johanny em sua Revista Catharinense 1º volume -1911-1912, pág. 29 –, o menino Manoel João logo conquistou o padre João Jacinto de São Joaquim, então o pároco da Laguna, que o tomou a seu cargo, ministrando-lhe ensinamentos de gramática, português, francês, latim história e filosofia. O aluno correspondeu.
Um domingo após a missa o aluno Manoel João falou ao padre Joaquim de seus sonhos na vida sacerdotal.

Da Laguna para o Rio de Janeiro
Padre Joaquim já havia se adiantado e correspondido com o reitor do Seminário São José do Rio Comprido, no Rio de Janeiro. Os recursos financeiros seriam dispendidos por ele, o que ocorreu até sua morte, um ano depois.
Mas o seminarista Manoel João não ficou desamparado. Na continuidade e conclusão de seus estudos o ajudaram o próprio reitor, professores do Seminário e os lagunenses José Ignácio Rocha (o comendador Rocha, mecenas de muitos artistas, entre eles Victor Meirelles), Antônio da Silva Maiato e Joaquim Rodrigues Torres,
Sete anos depois de ter deixado Laguna, em maio de 1853, Manoel João concluída seu curso eclesiástico. Em 4 de agosto do mesmo ano recebeu ordenação de sacerdote pelas mãos do bispo Dom Manoel do Monte Rodrigues de Araújo. Em 15 do mesmo mês fez concurso para o vicariato da Paróquia da Laguna.

Na Revista Santelmo nº 2, de 15 de janeiro de 1922, lê-se que o padre Manoel João aos 19 anos saiu pela barra da Laguna a bordo da escuna Santa Maria para estudar na então Capital Federal do Brasil. A bordo da embarcação fez um voto a Nossa Senhora do Parto para que o protegesse em seus estudos. Se assim se sucedesse prometeu que faria sua primeira missa de sacerdócio em homenagem à Santa, celebrando missa solene todos os anos, até sua morte.
Padre Manoel João foi fiel a seu voto, “pois todos se recordam como o velho, o simpático vigário, todos os anos oficiava a tradicional desta”, finaliza o texto da Revista.
Uma das fotos mais antigas da Laguna. A igreja Matriz, ainda sem as duas torres, que serão construídas em 1894 por Marcos Gazola e Batista Uliano; e o relógio, colocado em 1935.
Primeira Missa na Laguna
De fato, ao retornar a nossa terra natal em 1854, celebrou sua primeira missa na Laguna junto ao altar de Nossa Senhora do Parto (Cfe. O Albor de 4 de junho de 1911). Até seu falecimento foi tesoureiro desta Irmandade.
Naquela época, além desta havia várias outras Irmandades, dentre elas a do Santíssimo Sacramento, Senhor dos Passos, Nª Sª do Rosário, Divino Espírito Santo e a de Santo Antônio dos Anjos.
Padre Manoel João paroquiou nossa cidade por 57 anos, e por alguns anos administrou todas as paróquias do sul do estado. Por exemplo: Foi colado de Nossa Senhora da Piedade de Tubarão (1855), vigário interino de Vila Nova (1856). Encarregado de São João Batista de Imaruí (1987-1877), e de Santana do Mirim (1899).
Reconstruiu a igreja Matriz e criou um colégio
Diz José Johanny, em sua Revista Catharinense:

“Seus primeiros quatros anos de vida paroquial constituem a época mais brilhante da sua vida.
Encontrara a igreja Matriz da Paróquia em quase ruínas e reconstruiu-a logo, obtendo parte dos recursos necessários do governo da província e parte dos seus conterrâneos. Sabendo avaliar, por experiência própria, das dificuldades e dos males oriundos da falta de professores, fez-se mestre de seus conterrâneos, instituindo um colégio, onde se instruíram, entre outros, os distintos lagunenses Francisco Gonçalves da Silva Barreiros, José Martins Cabral, João Cabral de Mello, Antônio Gonçalves da Silva Barreiros, Marcolino Monteiro Cabral, Manoel Gonçalves da Costa Barreiros, Bento Monteiro Cabral, etc.”.

Na política
Ingressou na política pelo Partido Liberal e foi deputado Provincial (estadual), como suplente convocado à 12ª legislatura (1858-1859).

Jubileu de ouro em 1904
“Em 5 de junho de 1904, diz Nail Ulysséa, quando completou seu jubileu de ouro sacerdotal, padre Manoel João teve a maior homenagem que Laguna já prestou a um de seus filhos. Ao encerramento das festividades, subiu ao púlpito, junto ao altar de Nossa Senhora do Parto, sua madrinha, e a quem dedicara sua primeira missa, para agradecer ao povo e formulou a mais bela peça oratória de sua carreira. Dirigiu-se aos paroquianos pedindo perdão por não os ter dirigido melhor, pedindo, entre lágrimas, que esquecessem todas as faltas que havia cometido. O auditório chorava juntamente com ele”.

Raro registro de um discurso
de Antônio Guimarães Cabral

Pouco ficou registrado dos discursos de Antônio Guimarães Cabral, o Pereira, o maior orador que Laguna já teve, até porque eles invariavelmente eram feitos de improviso. Mas encontrei uma pérola, um raro registro feito pelo jornal lagunense O Commercio, de 12 de junho de 1904, quando dos festejos do Jubileu Sacerdotal do padre lagunense Manoel João, acontecido, como já informado, em 5 de junho de 1904.
Aqui o transcrevo, a título de curiosidade e também para mostrar a riqueza de uma oração feita por Antônio Guimarães Cabral, à entrada da igreja matriz Santo Antônio dos Anjos, perante enorme massa popular e do homenageado:

“Padre, antes de transpordes os umbrais deste templo sagrado, que por tantos anos foi o ninho amoroso da vossa Fé, eu vos peço em nome do povo lagunense, parai; parai para receberdes a coroa da glória tecida pelos afetos e admiração a ele impostos durante os vossos calmos, mas gloriosos 50 anos de sacerdócio, pelas vossas virtudes, pelo vosso saber e pelo vosso trato amável.
E essa coroa de glória será como as preces, as orações evolando-se dos corações lagunenses ao seio de Deus.
Padre, esta manifestação, que os teus paroquianos agora te fazem nada mais é do que a apoteose sublimemente grandiosa da Justiça e da Verdade, tão bem personificada em vós.
Mas, no entanto tudo isso nem sequer representa um pálido reflexo dessa luz de respeito e gratidão que hoje fortemente jorra de todos os corações lagunenses.
Padre, toda a vossa vida foi uma vítima em holocausto constante e contínua à Virtude e à Ciência.
Com aquela, purificavas o coração no teu amor ardente aos teus paroquianos, robustecias a tua alma para com mais coragem venceres todos os embates na vossa árdua e santa tarefa de pai espiritual de milhares de almas!
Com esta – o Saber, iluminavas a estrada da vida a fim de nela distinguirdes a vereda da Virtude e do Bem, a vereda do Vício e do Mal.
Vós vistes nascer uma geração inteira de lagunenses. Com as águas lustrais do Sacramento do Batismo, lavaste-a do pecado original, entregando-a qual lírio tenro, imaculado a rescender de aromas a várzea verdejante.
Muitos deles até uniste-os pelos sagrados laços do himênio; e, no entanto, grande parte perdendo a crença, esse fanal do homem na viagem transitória desta vida, deixaram-se cair, uns no lodo vil e infecto do vício que tudo destrói, que tudo aniquila; outros, num ceticismo cruel, que tudo desfigura, dando a  tudo nesta vida a visão triste e desconsoladora de uma noite tétrica e trevosa.
E no meio dessa crise moral terrível, em que o coração humano sente-se crivado de duros desenganos; nessa crise terrível, em que as delícias inefáveis oriundas da prática da virtude eram trocadas pelos cruéis dissabores do vício, a vossa palavra do alto da tribuna religiosa, pregando dali as mais belas lições de moral, as mais belas e consoladoras verdades, era como o bálsamo suavíssimo que derramando-se sobre as chagas que contaminavam as vossas ovelhas, cicatrizavam-lhe as feridas e davam-lhe alento e fé.
Porque na verdade senhores, o Padre é o verdadeiro médico dessa humanidade sofredora, em que mais depressa o vício com todo o séquito horroroso ceifa-lhe maior número de vidas do que qualquer infecção psíquica.
O vício e a imoralidade são esses dois fatores, esses dois grandes focos procriadores da miséria universal.
Vós, sois um apóstolo dessa religião consoladora dos desprotegidos da sorte; dessa religião que, quando a humanidade envolvida pelas grandes tempestades da vida, ainda vê  acima do horizonte acasteladas às espessas nuvens da dúvida e quase se nos soçobra a crença no mar revolto da dor, ela nos mostra o porto do paraíso; dessa região toda feita de luz e de carinho, onde não se encontrarão os frisantes contrastes que formam esses belíssimos paradoxos, barreiras inexpugnáveis ante as pesquisas profundamente penetrantes da Ciência e do Saber.
Onde com certeza, não se encontrarão, a par do pobre que se clama o rico que se regozija de alegria e de abastança; a par da abnegação e de heroísmos, os quadros tristemente patentes das vítimas aniquiladas no vicio e na miséria.
O apóstolo da religião desse Messias que deu ao mundo o mais belo epílogo até hoje conhecido; dessa religião cuja majestade das escrituras admira, cuja santidade dos Evangelhos toca ao mesmo tempo de doçura e admiração todos os corações.
E que doçura e que pureza também transparecia nas vossas palavras, que graça tocante nas suas prédicas! Que beleza de síntese nas suas máximas!
Portanto, senhores, terminando incompetentemente esta pálida peroração que venho de fazer, peço a todos os lagunenses que num mesmo sentimento uníssono de gratidão, num mesmo palpitar de corações agradecidos, elevemos os nossos ardentes votos ao seio do Altíssimo, manancial perene de Vida e Amor, banhando a terra de um dilúvio de Luz, Vida e Misericórdia, para que derrame as suas copiosas e frutificantes bênçãos sobre o distinto prelado que durante meio século foi o pastor supremo das ovelhas lagunenses”.

O jornalista lagunense José Johanny é quem melhor descreve a cerimônia:

“Em 1904, por ocasião de lhe serem tributadas imponentes homenagens de gratidão e de estima, na passagem do seu jubileu sacerdotal, o velho pároco encerrou o ciclo dos seus trabalhos oratórios de uma fórmula surpreendente, atendendo-se, especialmente, a sua idade e ao quebrantamento do psíquico, em convalescência de enfermidade melindrosa e prolongada.
Raramente poder-se-á ouvir oração que de modo tão intenso eleve e comova, como a última que proferiu aos lagunenses.
O auditório enorme que enchia literalmente a igreja Matriz, naquela memorável tarde de maio, extasiava-se ante a catadupa (grande volume) das palavras energicamente profundas e belamente matizadas do seu velhinho pastor...
E ao chegar à peroração, fora tal o vigor e o sentimento de eloquência com que ele suplicava aos seus paroquianos o perdoassem dos erros ou faltas cometidas, que os circunstantes o interromperam unissonamente pedindo-lhe não prosseguisse, porque já era sobre-humana e poder-lhe-ia ser fatal aquela exuberância de oratória e de emoção indescritível”.

De fato, o padre Manoel João já demonstrava sinais de enfermidade. Naquele início de ano (1904) o jornal O Albor já noticiava que ele encontrava-se enfermo, sendo substituído “nas sagradas funções de pároco”, pelo padre José Francisco Bertero, coadjutor da paróquia.
Em março ele ainda se encontrava “em convalescença no arraial da Barra”.
Sua residência, conforme Saul Ulysséa era uma das três casas geminadas situadas à esquerda no início da rua Tenente Bessa, descendo pelo morro. 1904 era também o ano de jubileu da Imaculada Conceição, por ser o quinquagésimo aniversário de definição do seu dogma.

Omaggio dedicada ao padre Manoel João
Padre José Francisco Bertero, então padre-coadjutor, dedicou-lhe em 3 de junho de 1904, pelas páginas de O Albor, uma homenagem (Omaggio), toda escrita em italiano:

“Luz que a estrada difícil da vida ilumina”
Em dezembro de 1905, o jornal O Albor estampou uma poesia intitulada “”, dedicada ao padre Manoel João. O texto é assinado por João Carlos Greenhalgh que havia sido engenheiro fiscal quando da construção da Estrada de Ferro Thereza Christina e grande amigo do padre Manoel João.
Na Laguna casou-se com Amélia Bessa Grenhalgh, filha do coronel Antônio José de Bessa. Foram filhos deste casal: Zulmira Greenhalg Cabral, que se casou com o major João Guimarães Cabral.
João Carlos Greenhalh foi também diretor do Instituto Municipal de Instrução da Laguna, estabelecimento de ensino segundário, criado e mantido pela administração municipal.
Naquela ocasião já morava no Rio de Janeiro, deixando muitos amigos na Laguna. Da então Capital Federal escrevia e remetia seus textos para os jornais de nossa cidade, entre eles O Albor, do qual era colaborador assíduo:
Falecimento
Padre Manoel João faleceu aos 84 anos em 29 de maio de 1911. Seu sepultamento ocorrido no dia seguinte foi acompanhado por mais de 1.200 pessoas, numa população total de 7 mil.
Inúmeros oradores fizeram uso da palavra, entre eles Antônio Guimarães Cabral (o Pereira) e o professor David do Amaral e Silva.
Narra Nail Ulysséa que naquele ano (1911) “sentindo-se velho, cansado e doente, pediu a sua renúncia de vigário colado, tendo sido atendido por Dom João Becker, então bispo de Florianópolis, que o nomeou Vigário Geral Honorário da Diocese, com uma pensão de 125$00 mensais e a côngrua do governo federal. A 1º de maio assinava seu termo de renúncia, e a 26 de junho pediu confissão e viático e a 29 daquele mês morria placidamente”.
O féretro foi acompanhado pelas Bandas Carlos Gomes e União dos Artistas que executaram marchas fúnebres. Todas as sociedades musicais e recreativas da cidade conservaram durante três dias suas bandeiras em funeral (meio mastro).

Apoiou a construção do Hospital de Caridade Senhor Bom Jesus dos Passos
Padre José Artulino Besen, escritor, pesquisador e historiador, em sua página publicada na internet, num resumo bibliográfico sobre o padre Manoel João, escreveu em certo trecho:

“Padre Manoel João esteve profundamente ligado à sua terra, buscando seu desenvolvimento.
Foi um dos maiores interessados e apoiadores na construção de um novo hospital para Laguna. O terreno pertencia à Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos. Apoiou a arrecadação de recursos para começar a obra. Imóveis pertencentes à Irmandade foram vendidos em busca de recursos.
Como a instituição era mantida por esta Irmandade, foi solicitada ao governo da Província a alteração do nome do Hospital de São Francisco de Assis para Hospital de Caridade Senhor Bom Jesus dos Passos, o que foi aprovado pela Lei nº 1.017, de 10 de maio de 1883.
A pedra fundamental do nosso hospital foi colocada em 6 de setembro de 1879, com a benção do padre Manoel João. Em 7 de setembro de 1884 o novo hospital foi inaugurado.
Com a criação da diocese de Florianópolis, em 1908, os antigos padres “brasileiros”, formados no Padroado Imperial, patriarcas em sua comunidade, não eram bem vistos pelo novo bispo e pelo clero alemão e italiano, particularmente por serem casados. Buscou-se aposentá-los. Foi o que Dom João Becker sugeriu ao padre Manoel João que detinha o título vitalício de vigário colado, portanto inamovível: deu-lhe o título de Vigário Geral Honorário da Diocese de Florianópolis em 30 de abril de 1911. No dia seguinte, 1º de maio, o padre Manoel renunciou ao benefício de vigário colado. Diferente de Dom José e de Dom Duarte, o alemão Dom João Becker, primeiro bispo de Florianópolis, media o padre a partir do celibato, sem levar em consideração o heroísmo desses sacerdotes que, por décadas, na solidão de pequenas e distantes paróquias, não tiveram nem retiro espiritual, nem acesso à formação.
Já apresentava sinais de doença e muita fraqueza, acentuadas pela promoção/punição da Igreja que o afastava do rebanho. Em 26 de junho do mesmo ano de 1911 pediu a confissão e o viático. Três dias depois, na Festa de São Pedro e São Paulo, morria placidamente.
Laguna deve muito a ele o forte catolicismo lagunense e das adjacências. Afinal, educou na fé católica quase três gerações”.

Um fato pitoresco
Numa crônica publicada no jornal Semanário de Notícias, de 17 de agosto de 1974, o músico Agenor dos Santos Bessa, e colunista do citado periódico, escreveu sobre o sepultamento do padre Manoel João e relembrou um fato inusitado e pitoresco que aconteceu à ocasião e foi narrado por gerações, entrando para o anedotário popular da Laguna:

“Mõnreu ou não mõnreu?”
“No dia do falecimento do padre Manoel João, o seu velório foi concorridíssimo. Laguna vestiu-se de luto. Não só o mundo católico, mas também os espíritas, pois naquele tempo só havia estas duas correntes religiosas aqui, e todos os espíritas eram amigos do vigário.
Para o seu enterro não ficou uma única pessoas em casa. Todo mundo foi prestar a sua última homenagem ao extinto.
Ao chegar o féretro ao cemitério, começaram os discursos. Falou o orador oficial da Laguna, Antônio Guimarães Cabral (o Pereira), e disse que o padre Manoel João não havia morrido porque continuaria vivendo na nossa saudade.
Falou um espírita (teria sido o dr. Ismael?), dizendo que o padre morreu para a matéria  mas que a alma continuaria vivendo, porque o espírito é imortal.
Quando um terceiro orador falou e disse que o padre Manoel João continuaria vivendo em espírito com seu povo, uma voz fanhosa no meio da multidão perguntou:
- Afinal, o homem mõnreu, ou não mõnreu?
Era o seu Alípio Bertinho, pessoa dada ao gosto pelo álcool, o que fazia tornar-se expansivo e curioso. Era bem fanho e mordaz. Àquelas horas já se achava com a “pressão” bem alta”.  
                            
O busto em sua homenagem
Em 13 de junho de 1954, em meio às comemorações em honra ao padroeiro da Laguna, precisamente às 15 horas, foi inaugurado na pequena praça João Pinho então existente, defronte à Casa Paroquial da Matriz, um busto em homenagem ao padre Manoel João.
A cerimônia foi abrilhantada pelas Sociedades Musicais, União dos Artistas e Carlos Gomes, como consta na programação da festa e também pode ser observado em uma das fotos abaixo.
A inauguração do Busto em 13 de junho de 1954. Foto: arquivo Marega
As duas bandas postadas frente à frente. Foto: arquivo Marega
 Era uma feliz iniciativa da Irmandade Santo Antônio dos Anjos, de Manoel Américo de Barros e Agenor da Silva Brun. 
No pedestal, a placa com os dizeres: “Laguna católica. A seu filho Padre Manoel João Luiz da Silva, vigário da Paróquia de 1854 a 1911”.
Uma rua no bairro Magalhães também recebeu seu nome.

Um comentário:

  1. Muito Obrigada, estou subindo aos poucos pela igreja de Jesus Cristo a genealogia (family search), disponibilizou os nascimentos, casamentos e falecimentos a nível mundial on line, de Famílias de Laguna como vi que o Padre Manoel João Luiz da Silva foi quem batizava todas as crianças num interregno de tempo. E vim ler aqui. Comovente a história.

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