“Alto, magro,
claro e corado. Olhos azuis, cabelos grisalhos. Inteligente e preparado, todos
os respeitavam”.
Assim Saul
Ulysséa em seu livro Laguna de 1880
(pág. 55), descreve o padre Manoel João Luiz da Silva, ou padre Maneca como era
carinhosamente chamado, que paroquiou Laguna durante 57 anos.
Nail Ulysséa
em Três Séculos na Matriz Santo Antônio
dos Anjos diz sobre o padre Manoel João que era “inteligência brilhante,
caráter exuberante, orador sacro magnífico, uma bonita voz de tenor e
extremamente hábil em angariar simpatia”.
E realça: “É
indiscutível que a população lhe devotava uma amizade e uma carinho, que
chegava às raias da veneração, e com isto conseguiu manter acesa a luz da fé em
seus paroquianos”. (Pág. 193).
Nascimento
Padre Manoel
João nasceu na então Vila da Laguna em 19 de dezembro de 1827. Filho de Maria
Luíza de Jesus e João Luiz da Silva. Foi batizado na igreja Matriz Santo
Antônio dos Anjos em 1º de fevereiro de 1828, pelo vigário Manoel Fernandes da
Cruz. Aliás, padre que casou em nossa Matriz, Ana de Jesus Ribeiro, futura
Anita Garibaldi, na data de seu aniversário de 14 anos, 30 de agosto de 1835,
com seu primeiro marido Manuel Duarte de Aguiar.
Nascido em
família pobre, desde criança o futuro padre Manoel João ajudava em pequenos
afazeres no comércio de nossa cidade, a fim de se manter e colaborar no
sustento familiar. A partir dos 12 anos de idade tornou-se caixeiro da casa
comercial do seu padrinho de batismo, na então Freguesia de Imaruí.
Inteligência rara desde menino
Dotado de uma
inteligência rara – e quem conta é o amigo do padre Manoel João, o jornalista
lagunense José Johanny em sua Revista
Catharinense 1º volume -1911-1912, pág. 29 –, o menino Manoel João logo
conquistou o padre João Jacinto de São Joaquim, então o pároco da Laguna, que o
tomou a seu cargo, ministrando-lhe ensinamentos de gramática, português, francês,
latim história e filosofia. O aluno correspondeu.
Um domingo
após a missa o aluno Manoel João falou ao padre Joaquim de seus sonhos na vida
sacerdotal.
Da Laguna para o Rio de Janeiro
Padre Joaquim
já havia se adiantado e correspondido com o reitor do Seminário São José do Rio
Comprido, no Rio de Janeiro. Os recursos financeiros seriam dispendidos por
ele, o que ocorreu até sua morte, um ano depois.
Mas o
seminarista Manoel João não ficou desamparado. Na continuidade e conclusão de
seus estudos o ajudaram o próprio reitor, professores do Seminário e os
lagunenses José Ignácio Rocha (o comendador Rocha, mecenas de muitos artistas,
entre eles Victor Meirelles), Antônio da Silva Maiato e Joaquim Rodrigues
Torres,
Sete anos
depois de ter deixado Laguna, em maio de 1853, Manoel João concluída seu curso
eclesiástico. Em 4 de agosto do mesmo ano recebeu ordenação de sacerdote pelas
mãos do bispo Dom Manoel do Monte Rodrigues de Araújo. Em 15 do mesmo mês fez
concurso para o vicariato da Paróquia da Laguna.
Na Revista Santelmo nº 2, de 15 de janeiro
de 1922, lê-se que o padre Manoel João aos 19 anos saiu pela barra da Laguna a
bordo da escuna Santa Maria para estudar na então Capital Federal do Brasil. A
bordo da embarcação fez um voto a Nossa Senhora do Parto para que o protegesse
em seus estudos. Se assim se sucedesse prometeu que faria sua primeira missa de
sacerdócio em homenagem à Santa, celebrando missa solene todos os anos, até sua
morte.
Padre Manoel
João foi fiel a seu voto, “pois todos se recordam como o velho, o simpático
vigário, todos os anos oficiava a tradicional desta”, finaliza o texto da
Revista.
Primeira Missa na Laguna
Uma das fotos mais antigas da Laguna. A igreja Matriz, ainda sem as duas torres, que serão construídas em 1894 por Marcos Gazola e Batista Uliano; e o relógio, colocado em 1935. |
De fato, ao
retornar a nossa terra natal em 1854, celebrou sua primeira missa na Laguna
junto ao altar de Nossa Senhora do Parto (Cfe. O Albor de 4 de junho de 1911). Até seu falecimento foi tesoureiro
desta Irmandade.
Naquela época,
além desta havia várias outras Irmandades, dentre elas a do Santíssimo
Sacramento, Senhor dos Passos, Nª Sª do Rosário, Divino Espírito Santo e a de Santo Antônio dos
Anjos.
Padre Manoel
João paroquiou nossa cidade por 57 anos, e por alguns anos administrou todas as
paróquias do sul do estado. Por exemplo: Foi colado de Nossa Senhora da Piedade
de Tubarão (1855), vigário interino de Vila Nova (1856). Encarregado de São
João Batista de Imaruí (1987-1877), e de Santana do Mirim (1899).
Reconstruiu a igreja Matriz e criou um colégio
Diz José Johanny,
em sua Revista Catharinense:
“Seus primeiros quatros anos de vida paroquial
constituem a época mais brilhante da sua vida.
Encontrara a igreja Matriz da Paróquia em quase
ruínas e reconstruiu-a logo, obtendo parte dos recursos necessários do governo
da província e parte dos seus conterrâneos. Sabendo avaliar, por experiência
própria, das dificuldades e dos males oriundos da falta de professores, fez-se
mestre de seus conterrâneos, instituindo um colégio, onde se instruíram, entre
outros, os distintos lagunenses Francisco Gonçalves da Silva Barreiros, José
Martins Cabral, João Cabral de Mello, Antônio Gonçalves da Silva Barreiros,
Marcolino Monteiro Cabral, Manoel Gonçalves da Costa Barreiros, Bento Monteiro
Cabral, etc.”.
Na política
Ingressou na
política pelo Partido Liberal e foi deputado Provincial (estadual), como
suplente convocado à 12ª legislatura (1858-1859).
Jubileu de ouro em 1904
“Em 5 de junho de 1904, diz Nail
Ulysséa, quando completou seu jubileu de
ouro sacerdotal, padre Manoel João teve a maior homenagem que Laguna já prestou
a um de seus filhos. Ao encerramento das festividades, subiu ao púlpito, junto
ao altar de Nossa Senhora do Parto, sua madrinha, e a quem dedicara sua
primeira missa, para agradecer ao povo e formulou a mais bela peça oratória de
sua carreira. Dirigiu-se aos paroquianos pedindo perdão por não os ter dirigido
melhor, pedindo, entre lágrimas, que esquecessem todas as faltas que havia
cometido. O auditório chorava juntamente com ele”.
Raro registro de um discurso
de Antônio Guimarães Cabral
Pouco ficou registrado dos discursos de Antônio Guimarães Cabral, o Pereira, o maior orador que Laguna já teve, até porque eles invariavelmente eram feitos de improviso. Mas encontrei uma pérola, um raro registro feito pelo jornal lagunense O Commercio, de 12 de junho de 1904, quando dos festejos do Jubileu Sacerdotal do padre lagunense Manoel João, acontecido, como já informado, em 5 de junho de 1904.
Aqui o transcrevo, a título de curiosidade e também para mostrar a riqueza de uma oração feita por Antônio Guimarães Cabral, à entrada da igreja matriz Santo Antônio dos Anjos, perante enorme massa popular e do homenageado:
“Padre, antes de transpordes os umbrais deste templo sagrado, que por tantos anos foi o ninho amoroso da vossa Fé, eu vos peço em nome do povo lagunense, parai; parai para receberdes a coroa da glória tecida pelos afetos e admiração a ele impostos durante os vossos calmos, mas gloriosos 50 anos de sacerdócio, pelas vossas virtudes, pelo vosso saber e pelo vosso trato amável.
E essa coroa de glória será como as preces, as orações evolando-se dos corações lagunenses ao seio de Deus.
Padre, esta manifestação, que os teus paroquianos agora te fazem nada mais é do que a apoteose sublimemente grandiosa da Justiça e da Verdade, tão bem personificada em vós.
Mas, no entanto tudo isso nem sequer representa um pálido reflexo dessa luz de respeito e gratidão que hoje fortemente jorra de todos os corações lagunenses.
Padre, toda a vossa vida foi uma vítima em holocausto constante e contínua à Virtude e à Ciência.
Com aquela, purificavas o coração no teu amor ardente aos teus paroquianos, robustecias a tua alma para com mais coragem venceres todos os embates na vossa árdua e santa tarefa de pai espiritual de milhares de almas!
Com esta – o Saber, iluminavas a estrada da vida a fim de nela distinguirdes a vereda da Virtude e do Bem, a vereda do Vício e do Mal.
Vós vistes nascer uma geração inteira de lagunenses. Com as águas lustrais do Sacramento do Batismo, lavaste-a do pecado original, entregando-a qual lírio tenro, imaculado a rescender de aromas a várzea verdejante.
Muitos deles até uniste-os pelos sagrados laços do himênio; e, no entanto, grande parte perdendo a crença, esse fanal do homem na viagem transitória desta vida, deixaram-se cair, uns no lodo vil e infecto do vício que tudo destrói, que tudo aniquila; outros, num ceticismo cruel, que tudo desfigura, dando a tudo nesta vida a visão triste e desconsoladora de uma noite tétrica e trevosa.
E no meio dessa crise moral terrível, em que o coração humano sente-se crivado de duros desenganos; nessa crise terrível, em que as delícias inefáveis oriundas da prática da virtude eram trocadas pelos cruéis dissabores do vício, a vossa palavra do alto da tribuna religiosa, pregando dali as mais belas lições de moral, as mais belas e consoladoras verdades, era como o bálsamo suavíssimo que derramando-se sobre as chagas que contaminavam as vossas ovelhas, cicatrizavam-lhe as feridas e davam-lhe alento e fé.
Porque na verdade senhores, o Padre é o verdadeiro médico dessa humanidade sofredora, em que mais depressa o vício com todo o séquito horroroso ceifa-lhe maior número de vidas do que qualquer infecção psíquica.
O vício e a imoralidade são esses dois fatores, esses dois grandes focos procriadores da miséria universal.
Vós, sois um apóstolo dessa religião consoladora dos desprotegidos da sorte; dessa religião que, quando a humanidade envolvida pelas grandes tempestades da vida, ainda vê acima do horizonte acasteladas às espessas nuvens da dúvida e quase se nos soçobra a crença no mar revolto da dor, ela nos mostra o porto do paraíso; dessa região toda feita de luz e de carinho, onde não se encontrarão os frisantes contrastes que formam esses belíssimos paradoxos, barreiras inexpugnáveis ante as pesquisas profundamente penetrantes da Ciência e do Saber.
Onde com certeza, não se encontrarão, a par do pobre que se clama o rico que se regozija de alegria e de abastança; a par da abnegação e de heroísmos, os quadros tristemente patentes das vítimas aniquiladas no vicio e na miséria.
O apóstolo da religião desse Messias que deu ao mundo o mais belo epílogo até hoje conhecido; dessa religião cuja majestade das escrituras admira, cuja santidade dos Evangelhos toca ao mesmo tempo de doçura e admiração todos os corações.
E que doçura e que pureza também transparecia nas vossas palavras, que graça tocante nas suas prédicas! Que beleza de síntese nas suas máximas!
Portanto, senhores, terminando incompetentemente esta pálida peroração que venho de fazer, peço a todos os lagunenses que num mesmo sentimento uníssono de gratidão, num mesmo palpitar de corações agradecidos, elevemos os nossos ardentes votos ao seio do Altíssimo, manancial perene de Vida e Amor, banhando a terra de um dilúvio de Luz, Vida e Misericórdia, para que derrame as suas copiosas e frutificantes bênçãos sobre o distinto prelado que durante meio século foi o pastor supremo das ovelhas lagunenses”.
O jornalista lagunense José Johanny é quem melhor
descreve a cerimônia:
“Em 1904, por ocasião de lhe serem tributadas
imponentes homenagens de gratidão e de estima, na passagem do seu jubileu
sacerdotal, o velho pároco encerrou o ciclo dos seus trabalhos oratórios de uma
fórmula surpreendente, atendendo-se, especialmente, a sua idade e ao
quebrantamento do psíquico, em convalescência de enfermidade melindrosa e
prolongada.
Raramente poder-se-á ouvir oração que de modo tão
intenso eleve e comova, como a última que proferiu aos lagunenses.
O auditório enorme que enchia literalmente a
igreja Matriz, naquela memorável tarde de maio, extasiava-se ante a catadupa
(grande volume) das palavras energicamente profundas e belamente matizadas do
seu velhinho pastor...
E ao chegar à peroração, fora tal o vigor e o
sentimento de eloquência com que ele suplicava aos seus paroquianos o
perdoassem dos erros ou faltas cometidas, que os circunstantes o interromperam
unissonamente pedindo-lhe não prosseguisse, porque já era sobre-humana e
poder-lhe-ia ser fatal aquela exuberância de oratória e de emoção
indescritível”.
De fato, o
padre Manoel João já demonstrava sinais de enfermidade. Naquele início de ano
(1904) o jornal O Albor já noticiava
que ele encontrava-se enfermo, sendo substituído “nas sagradas funções de
pároco”, pelo padre José Francisco Bertero, coadjutor da paróquia.
Em março ele
ainda se encontrava “em convalescença no arraial da Barra”.
Sua
residência, conforme Saul Ulysséa era uma das três casas geminadas situadas à
esquerda no início da rua Tenente Bessa, descendo pelo morro. 1904 era também o ano de jubileu da Imaculada Conceição, por ser o quinquagésimo aniversário de definição do seu dogma.
Omaggio dedicada ao padre Manoel João
Padre José
Francisco Bertero, então padre-coadjutor, dedicou-lhe em 3 de junho de 1904,
pelas páginas de O Albor, uma homenagem
(Omaggio), toda escrita em italiano:
“Luz que a estrada difícil da vida ilumina”
Em dezembro de
1905, o jornal O Albor estampou uma
poesia intitulada “Fé”, dedicada ao
padre Manoel João. O texto é assinado por João Carlos Greenhalgh que havia sido
engenheiro fiscal quando da construção da Estrada de Ferro Thereza Christina e grande amigo do padre Manoel João.
Na Laguna casou-se com Amélia Bessa Grenhalgh, filha do coronel Antônio José de Bessa. Foram filhos deste casal: Zulmira Greenhalg Cabral, que se casou com o major João Guimarães Cabral.
João Carlos Greenhalh foi também diretor do Instituto Municipal de Instrução da Laguna, estabelecimento de ensino segundário, criado e mantido pela administração municipal.
Naquela ocasião já morava no Rio de Janeiro, deixando muitos amigos na Laguna. Da então Capital Federal escrevia e remetia seus textos para os jornais de nossa cidade, entre eles O Albor, do qual era colaborador assíduo:
Na Laguna casou-se com Amélia Bessa Grenhalgh, filha do coronel Antônio José de Bessa. Foram filhos deste casal: Zulmira Greenhalg Cabral, que se casou com o major João Guimarães Cabral.
João Carlos Greenhalh foi também diretor do Instituto Municipal de Instrução da Laguna, estabelecimento de ensino segundário, criado e mantido pela administração municipal.
Naquela ocasião já morava no Rio de Janeiro, deixando muitos amigos na Laguna. Da então Capital Federal escrevia e remetia seus textos para os jornais de nossa cidade, entre eles O Albor, do qual era colaborador assíduo:
Falecimento
Padre Manoel
João faleceu aos 84 anos em 29 de maio de 1911. Seu sepultamento ocorrido no
dia seguinte foi acompanhado por mais de 1.200 pessoas, numa população total de
7 mil.
Inúmeros
oradores fizeram uso da palavra, entre eles Antônio Guimarães Cabral (o
Pereira) e o professor David do Amaral e Silva.
Narra Nail
Ulysséa que naquele ano (1911) “sentindo-se velho, cansado e doente, pediu a
sua renúncia de vigário colado, tendo sido atendido por Dom João Becker, então
bispo de Florianópolis, que o nomeou Vigário Geral Honorário da Diocese, com
uma pensão de 125$00 mensais e a côngrua do governo federal. A 1º de maio
assinava seu termo de renúncia, e a 26 de junho pediu confissão e viático e a
29 daquele mês morria placidamente”.
O féretro foi
acompanhado pelas Bandas Carlos Gomes e União dos Artistas que executaram
marchas fúnebres. Todas as sociedades musicais e recreativas da cidade
conservaram durante três dias suas bandeiras em funeral (meio mastro).
Apoiou a construção do Hospital de Caridade Senhor
Bom Jesus dos Passos
Padre José Artulino
Besen, escritor, pesquisador e historiador, em sua página publicada na
internet, num resumo bibliográfico sobre o padre Manoel João, escreveu em certo
trecho:
“Padre Manoel João esteve profundamente ligado à
sua terra, buscando seu desenvolvimento.
Foi um dos maiores interessados e apoiadores na
construção de um novo hospital para Laguna. O terreno pertencia à Irmandade do
Senhor Bom Jesus dos Passos. Apoiou a arrecadação de recursos para começar a
obra. Imóveis pertencentes à Irmandade foram vendidos em busca de recursos.
Como a instituição era mantida por esta Irmandade,
foi solicitada ao governo da Província a alteração do nome do Hospital de São
Francisco de Assis para Hospital de Caridade Senhor Bom Jesus dos Passos, o que
foi aprovado pela Lei nº 1.017, de 10 de maio de 1883.
A pedra fundamental do nosso hospital foi colocada
em 6 de setembro de 1879, com a benção do padre Manoel João. Em 7 de setembro
de 1884 o novo hospital foi inaugurado.
Com a criação da diocese de Florianópolis, em
1908, os antigos padres “brasileiros”, formados no Padroado Imperial,
patriarcas em sua comunidade, não eram bem vistos pelo novo bispo e pelo clero
alemão e italiano, particularmente por serem casados. Buscou-se aposentá-los.
Foi o que Dom João Becker sugeriu ao padre Manoel João que detinha o título
vitalício de vigário colado, portanto inamovível: deu-lhe o título de Vigário
Geral Honorário da Diocese de Florianópolis em 30 de abril de 1911. No dia
seguinte, 1º de maio, o padre Manoel renunciou ao benefício de vigário colado.
Diferente de Dom José e de Dom Duarte, o alemão Dom João Becker, primeiro bispo
de Florianópolis, media o padre a partir do celibato, sem levar em consideração
o heroísmo desses sacerdotes que, por décadas, na solidão de pequenas e distantes
paróquias, não tiveram nem retiro espiritual, nem acesso à formação.
Já apresentava sinais de doença e muita fraqueza,
acentuadas pela promoção/punição da Igreja que o afastava do rebanho. Em 26 de
junho do mesmo ano de 1911 pediu a confissão e o viático. Três dias depois, na
Festa de São Pedro e São Paulo, morria placidamente.
Laguna deve muito a ele o forte catolicismo
lagunense e das adjacências. Afinal, educou na fé católica quase três
gerações”.
Um fato pitoresco
Numa crônica
publicada no jornal Semanário de
Notícias, de 17 de agosto de 1974, o músico Agenor dos Santos Bessa, e
colunista do citado periódico, escreveu sobre o sepultamento do padre Manoel
João e relembrou um fato inusitado e pitoresco que aconteceu à ocasião e foi
narrado por gerações, entrando para o anedotário popular da Laguna:
“Mõnreu ou não mõnreu?”
“No dia do falecimento do padre Manoel João, o seu
velório foi concorridíssimo. Laguna vestiu-se de luto. Não só o mundo católico,
mas também os espíritas, pois naquele tempo só havia estas duas correntes
religiosas aqui, e todos os espíritas eram amigos do vigário.
Para o seu enterro não ficou uma única pessoas em
casa. Todo mundo foi prestar a sua última homenagem ao extinto.
Ao chegar o féretro ao cemitério, começaram os
discursos. Falou o orador oficial da Laguna, Antônio Guimarães Cabral (o
Pereira), e disse que o padre Manoel João não havia morrido porque continuaria
vivendo na nossa saudade.
Falou um espírita (teria sido o dr. Ismael?),
dizendo que o padre morreu para a matéria
mas que a alma continuaria vivendo, porque o espírito é imortal.
Quando um terceiro orador falou e disse que o
padre Manoel João continuaria vivendo em espírito com seu povo, uma voz fanhosa
no meio da multidão perguntou:
- Afinal, o
homem mõnreu, ou não mõnreu?
Era o seu Alípio Bertinho, pessoa dada ao gosto
pelo álcool, o que fazia tornar-se expansivo e curioso. Era bem fanho e mordaz.
Àquelas horas já se achava com a “pressão” bem alta”.
O busto em sua homenagem
Em 13 de junho
de 1954, em meio às comemorações em honra ao padroeiro da Laguna, precisamente
às 15 horas, foi inaugurado na pequena praça João Pinho então existente,
defronte à Casa Paroquial da Matriz, um busto em homenagem ao padre Manoel
João.
A cerimônia
foi abrilhantada pelas Sociedades Musicais, União dos Artistas e Carlos Gomes,
como consta na programação da festa e também pode ser observado em uma das
fotos abaixo.
A inauguração do Busto em 13 de junho de 1954. Foto: arquivo Marega |
As duas bandas postadas frente à frente. Foto: arquivo Marega |
No pedestal, a placa com os dizeres: “Laguna católica. A
seu filho Padre Manoel João Luiz da Silva, vigário da Paróquia de 1854 a 1911”.
Uma rua no
bairro Magalhães também recebeu seu nome.
Muito Obrigada, estou subindo aos poucos pela igreja de Jesus Cristo a genealogia (family search), disponibilizou os nascimentos, casamentos e falecimentos a nível mundial on line, de Famílias de Laguna como vi que o Padre Manoel João Luiz da Silva foi quem batizava todas as crianças num interregno de tempo. E vim ler aqui. Comovente a história.
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