Muita gente
desconhece, principalmente as novas gerações, que em um dos velhos prédios
situados no centro da cidade já funcionou uma pujante indústria da Laguna.
Ali na avenida
Colombo Machado Salles nº 84, defronte à Lagoa Santo Antônio dos Anjos, ao lado
da atual sede da Polícia Militar Ambiental, uma empresa do ramo pesqueiro gerou
centenas de empregos e incrementou a economia do nosso município.
Hoje seus muros
e paredes frontais servem somente para ostentar a chamada arte do grafite e a
empresa entrou para o extenso rol do “Laguna já teve”.
Cinco de maio
de 1977. Um dia de festa na Laguna. Nesta data aconteceu em nossa cidade a cerimônia
oficial de instalação da filial da Cooperativa Mista de Pesca Nipo Brasileira, que
tinha sua sede em Santos (SP), fundada em 1953.
A Nipo havia
adquirido os controles acionários de duas empresas de pesca que, meses antes,
haviam encerrado suas atividades na Laguna: a Santa Marta Pescados e a
Codipesca. Tornava-se assim a principal indústria pesqueira do município.
Um coquetel em
sua sede às 16 horas e um jantar às 20 horas no Clube Blondin, reunindo
autoridades, políticos, membros de clubes de serviço e representantes de
pescadores e armadores de Santa Catarina, consolidaram o ato.
Que ainda teve
palestra sobre cooperativismo e sua importância no desenvolvimento econômico e
na emancipação social.
Centenas de empregos
Centenas de
empregos criados, direta e indiretamente, incrementaram a renda de muitas
famílias, aumentando a receita do município, através dos impostos e taxas
recolhidos.
Os barcos
traziam o pescado, que era processado, embalado e congelado e em caminhões
frigoríficos eram enviados aos mercados consumidores.
Novamente
abastecidos com combustível e gelo, as embarcações rapidamente retornavam à
lide no oceano.
No auge da
produção, a Nipo chegou a receber vinte barcos por semana, que descarregavam
200 toneladas de camarão vermelho, tipo exportação, além de outros tipos de
pescados.
Entre as
embarcações, a “Brilhante”, dirigida pelo mestre João José; e “Chimarrão”, do
mestre Antoninho.
Seu Nézio era
o prático encarregado de orientar os mestres das embarcações.
Como
encarregada geral da filial da Laguna a senhora Zair Corrêa. O gerente de
indústria era Celestino de Jesus Antônio. Encarregada das funcionárias de
manipulação de pescado, dª Alaíde.
A empresa
chegou a ter em média 200 funcionários, entre motoristas, produção, manipulação
e escritório.
Possuía refeitório, servindo café da manhã e almoço.
Tenho uma
irmã, Kátia Guedes, que trabalhou de 1982 a 1992 no escritório, junto com Tânia
Roslindo e dª Zair e até hoje relembra a grandiosidade da empresa e do que
representou para Laguna.
A peixaria da Nipo
Em 1983,
atendendo apelos da população lagunense, a Nipo criou o chamado varejão do
pescado, uma peixaria instalada em seu prédio, com portas abertas à avenida, atendendo o consumidor.
Os preços do
pescado eram atrativos, bem abaixo do mercado e logo a iniciativa tornou-se um
sucesso na região.
Um dos
responsáveis pelo local era Agenor (Bibio) Cereja, progenitor do nosso colega, radialista
Paulo Cereja.
O Natal da Nipo
Até hoje,
antigos funcionários da Cooperativa lembram que o Natal da Nipo era uma
verdadeira festa em família.
Da matriz em
Santos, em dezembro, vinham caminhões trazendo presentes para os funcionários e seus
dependentes, comemorações eram feitas num clima de confraternização e alegria,
assim como na Páscoa.
O aviso
Menos de dez
anos depois, em 10 de agosto de 1984, uma importante reunião aconteceu tendo
como local o Iate Clube da Laguna. O evento reuniu autoridades da cidade, entre
prefeito, vereadores, comerciantes e empresários ligados ao setor.
A direção da
Nipo Brasileira avisava que iria deixar Laguna tendo em vista a falta de
infraestrutura portuária.
O principal
empecilho era o baixo calado da barra e da nossa Lagoa Santo Antônio dos Anjos
que estava dificultando a chegada de dezenas de barcos até o cais de atracação
da empresa. Outros motivos alegados eram a redução da produção e a falta de
incentivo por parte do governo ao setor pesqueiro.
Mas o
fechamento, apesar dos inúmeros problemas enfrentados, ainda vai levar oito
anos para se concretizar. E neste período não se registraram medidas concretas por parte de nossas autoridades e representantes políticos para que o fechamento não acontecesse. E a sociedade lagunense, de modo geral, estava alheia a perda.
O fechamento
Em 17 de
outubro de 1992 a manchete do jornal O
Renovador trazia a triste notícia: “Nipo
fecha e demite 90”.
Era o capítulo
final de uma história de sucesso.
Posteriormente
o imóvel foi adquirido pela Unisul e nele passou a funcionar o seu Laboratório
de Ciências Marinhas (LCM), (hoje desativado), e que através de projetos
realizados buscava planos de ações locais visando uma pesca sustentável.
Hoje o prédio
que se situa num local nobre da cidade encontra-se completamente abandonado.
Parabéns, Valmir. Realmente, a Nipo, como era conhecida e assim citada e relembrada entre nós lagunenses, foi um empreendimento que nos envaideceu, acolheu nossa força de trabalho e se incorporou à urbe.
ResponderExcluirDurante o tempo em que permaneceu entre nós, foi um marco que nos fez acreditar na nossa vocação pesqueira.
Hoje, só nos resta o consolo da nostalgia para reforçar o chavão histórico, como bem disseste, que, infelizmente, Laguna já teve. Abraço
E hoje não se fala nem mais no Terminal Pesqueiro. Aliás, nenhum candidato a prefeito aborda esse assunto.
ResponderExcluirGeraldo de Jesus
Fiz parte desta equipe, cada funcionário que saia, chorava, pela perda do emprego e pelo fechamento da empresa. Uma indústria que marcou época mesmo, tinha tudo para dar certo.
ResponderExcluirBom dia. Parabéns por mais essa matéria. Estou indo para a casa dos 50 ano que vem. Vi e constatei, com muita tristeza, o desaparecimento de várias coisas em nossa cidade. Imagino então aqueles um pouco mais velhos (muitos mencionados aqui no blog), que tiveram o privilégio de assistir ín lócuo todo o esplendor de uma era, que aparentemente não retornará mais. Sou de uma geração que sofreu pelas faltas de oportunidades no âmbito profissional. Mas com o tempo descobri e percebi não ser somente a minha geração que sofreu, porque os nossos filhos sofrem até hoje, pela falta de perspectiva e de confiança num futuro mais promissor em nossa região. O que nós temos hoje realmente não faz jus a toda carga histórica do nosso lugar, que no passado foi um celeiro de grande importância política, social, cultural e econômica. O que aconteceu no meio do caminho eu não consigo compreender muito bem, ou quem deixou de fazer o que deveria, só sei dizer que para todos nós lagunenses, de fato ou de coração, isso tudo é uma grande lástima.
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