terça-feira, 27 de outubro de 2020

Nipo Brasileira. Uma indústria que marcou época na Laguna

Muita gente desconhece, principalmente as novas gerações, que em um dos velhos prédios situados no centro da cidade já funcionou uma pujante indústria da Laguna.

Ali na avenida Colombo Machado Salles nº 84, defronte à Lagoa Santo Antônio dos Anjos, ao lado da atual sede da Polícia Militar Ambiental, uma empresa do ramo pesqueiro gerou centenas de empregos e incrementou a economia do nosso município.
Hoje seus muros e paredes frontais servem somente para ostentar a chamada arte do grafite e a empresa entrou para o extenso rol do “Laguna já teve”.

 O cenário era bem diferente há 43 anos

Cinco de maio de 1977. Um dia de festa na Laguna. Nesta data aconteceu em nossa cidade a cerimônia oficial de instalação da filial da Cooperativa Mista de Pesca Nipo Brasileira, que tinha sua sede em Santos (SP), fundada em 1953.
Capa do jornal Semanário de Notícias de 7 de maio de 1977.
A Nipo havia adquirido os controles acionários de duas empresas de pesca que, meses antes, haviam encerrado suas atividades na Laguna: a Santa Marta Pescados e a Codipesca. Tornava-se assim a principal indústria pesqueira do município.
Um coquetel em sua sede às 16 horas e um jantar às 20 horas no Clube Blondin, reunindo autoridades, políticos, membros de clubes de serviço e representantes de pescadores e armadores de Santa Catarina, consolidaram o ato.
Que ainda teve palestra sobre cooperativismo e sua importância no desenvolvimento econômico e na emancipação social.

Centenas de empregos
Centenas de empregos criados, direta e indiretamente, incrementaram a renda de muitas famílias, aumentando a receita do município, através dos impostos e taxas recolhidos.
Os barcos traziam o pescado, que era processado, embalado e congelado e em caminhões frigoríficos eram enviados aos mercados consumidores.
Novamente abastecidos com combustível e gelo, as embarcações rapidamente retornavam à lide no oceano.
O prédio em 1977.
No auge da produção, a Nipo chegou a receber vinte barcos por semana, que descarregavam 200 toneladas de camarão vermelho, tipo exportação, além de outros tipos de pescados.
Entre as embarcações, a “Brilhante”, dirigida pelo mestre João José; e “Chimarrão”, do mestre Antoninho.
Seu Nézio era o prático encarregado de orientar os mestres das embarcações.
Como encarregada geral da filial da Laguna a senhora Zair Corrêa. O gerente de indústria era Celestino de Jesus Antônio. Encarregada das funcionárias de manipulação de pescado, dª Alaíde.
A empresa chegou a ter em média 200 funcionários, entre motoristas, produção, manipulação e escritório.
Possuía refeitório, servindo café da manhã e almoço.
Tenho uma irmã, Kátia Guedes, que trabalhou de 1982 a 1992 no escritório, junto com Tânia Roslindo e dª Zair e até hoje relembra a grandiosidade da empresa e do que representou para Laguna.

A peixaria da Nipo
Em 1983, atendendo apelos da população lagunense, a Nipo criou o chamado varejão do pescado, uma peixaria  instalada em seu prédio, com portas abertas à avenida, atendendo o consumidor.
Os preços do pescado eram atrativos, bem abaixo do mercado e logo a iniciativa tornou-se um sucesso na região.
Um dos responsáveis pelo local era Agenor (Bibio) Cereja, progenitor do nosso colega, radialista Paulo Cereja. 

O Natal da Nipo
Até hoje, antigos funcionários da Cooperativa lembram que o Natal da Nipo era uma verdadeira festa em família.
Da matriz em Santos, em dezembro, vinham caminhões trazendo presentes para os funcionários e seus dependentes, comemorações eram feitas num clima de confraternização e alegria, assim como na Páscoa.
 
O aviso
Menos de dez anos depois, em 10 de agosto de 1984, uma importante reunião aconteceu tendo como local o Iate Clube da Laguna. O evento reuniu autoridades da cidade, entre prefeito, vereadores, comerciantes e empresários ligados ao setor.
A direção da Nipo Brasileira avisava que iria deixar Laguna tendo em vista a falta de infraestrutura portuária.
O principal empecilho era o baixo calado da barra e da nossa Lagoa Santo Antônio dos Anjos que estava dificultando a chegada de dezenas de barcos até o cais de atracação da empresa. Outros motivos alegados eram a redução da produção e a falta de incentivo por parte do governo ao setor pesqueiro.
Mas o fechamento, apesar dos inúmeros problemas enfrentados, ainda vai levar oito anos para se concretizar. E neste período não se registraram medidas concretas por parte de nossas autoridades e representantes políticos para que o fechamento não acontecesse. E a sociedade lagunense, de modo geral, estava alheia a perda.

O fechamento
Em 17 de outubro de 1992 a manchete do jornal O Renovador trazia a triste notícia: “Nipo fecha e demite 90”.
Era o capítulo final de uma história de sucesso.
O prédio nos dias atuais.
Posteriormente o imóvel foi adquirido pela Unisul e nele passou a funcionar o seu Laboratório de Ciências Marinhas (LCM), (hoje desativado), e que através de projetos realizados buscava planos de ações locais visando uma pesca sustentável.
Hoje o prédio que se situa num local nobre da cidade encontra-se completamente abandonado.

4 comentários:

  1. Parabéns, Valmir. Realmente, a Nipo, como era conhecida e assim citada e relembrada entre nós lagunenses, foi um empreendimento que nos envaideceu, acolheu nossa força de trabalho e se incorporou à urbe.
    Durante o tempo em que permaneceu entre nós, foi um marco que nos fez acreditar na nossa vocação pesqueira.
    Hoje, só nos resta o consolo da nostalgia para reforçar o chavão histórico, como bem disseste, que, infelizmente, Laguna já teve. Abraço

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  2. E hoje não se fala nem mais no Terminal Pesqueiro. Aliás, nenhum candidato a prefeito aborda esse assunto.
    Geraldo de Jesus

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  3. Fiz parte desta equipe, cada funcionário que saia, chorava, pela perda do emprego e pelo fechamento da empresa. Uma indústria que marcou época mesmo, tinha tudo para dar certo.

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  4. Bom dia. Parabéns por mais essa matéria. Estou indo para a casa dos 50 ano que vem. Vi e constatei, com muita tristeza, o desaparecimento de várias coisas em nossa cidade. Imagino então aqueles um pouco mais velhos (muitos mencionados aqui no blog), que tiveram o privilégio de assistir ín lócuo todo o esplendor de uma era, que aparentemente não retornará mais. Sou de uma geração que sofreu pelas faltas de oportunidades no âmbito profissional. Mas com o tempo descobri e percebi não ser somente a minha geração que sofreu, porque os nossos filhos sofrem até hoje, pela falta de perspectiva e de confiança num futuro mais promissor em nossa região. O que nós temos hoje realmente não faz jus a toda carga histórica do nosso lugar, que no passado foi um celeiro de grande importância política, social, cultural e econômica. O que aconteceu no meio do caminho eu não consigo compreender muito bem, ou quem deixou de fazer o que deveria, só sei dizer que para todos nós lagunenses, de fato ou de coração, isso tudo é uma grande lástima.

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