sábado, 21 de novembro de 2020

Morre a madrinha lagunense do samba, Glorinha Barreto Pegorara

Sepultada em nossa cidade na manhã deste sábado (21), no Cemitério da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Santo Antônio dos Anjos, Maria da Glória Barreto Pegorara, aos 80 anos, numa cerimônia restrita a familiares.
Foi a 25ª morte na Laguna causada por complicações em decorrência do coronavírus. 
Glorinha Barreto Pegorara. Foto: Álbum de família
A “Glorinha”, como era carinhosamente conhecida, nasceu na Laguna, altos da Ponta da Barra em 14 de agosto de 1940, filha de Braz da Silva Barreto e Custódia Madalena e teve nove irmãos.
Ainda criança foi morar no Ribeirão Grande com seus pais e na adolescência retornou, primeiramente residindo no Campo de Fora e depois em definitivo no bairro Magalhães.
Trabalhou em nosso comércio e na década de 70 formou-se no Magistério no então Conjunto Educacional Almirante Lamego (CEAL).
Logo depois ministrou aulas na, hoje extinta, Escola Giocondo Tasso no bairro Mar Grosso, onde atualmente está instalada a sede do 4° Batalhão da Polícia Militar.
Depois ingressou no quadro de funcionários do hoje extinto Colégio Comercial Lagunense (CCL), a convite do diretor do estabelecimento escolar, Édio de Oliveira.
Por sugestão do próprio diretor ali montou um Regional Musical, chamado "Banda Furiosa" com seu marido Sidnei Pegorara e colegas do Colégio, entre eles Antônio Souza (Catarina), Orgel Ávila e o seresteiro Manoel Silva.
O grupo se apresentou em muitos eventos e festas pela cidade.
Glorinha começava ali uma carreira musical que a levou a ser reconhecida como a “madrinha lagunense do samba".
De voz aguda, interpretava repertório variado, de Noel Rosa a Clara Nunes, passando pelos sambas de sucesso de Beth Carvalho, Alcione,  Nelson Gonçalves e seus boleros, além de todo tipo de canção popular.
Na década de 1980, a convite do radialista João Manoel Vicente tornou-se intérprete de sambas enredos da Escola de Samba Os Democratas, uma novidade na época para nossa cidade, uma mulher  puxadora de samba, passando também com sucesso pela Escola de Samba Os Bem Amados.
Em 2011 na XXXª Semana Cultural da Laguna Sidnei e Glorinha foram homenageados e participaram, juntamente com Geraldo e Berlinda, da atração "Nos tempos da Seresta".
Mas foi na Escola de Samba Mocidade Independente que se consolidou, atravessando os anos em nossos carnavais.
É de se registrar também a criação do “Regional da Glorinha”, como era mais conhecido, alegrando os bailes de carnaval da S.R. 3 de Maio, no bairro Magalhães, na parte térrea do prédio, quase sempre na boate ou no salão da churrascaria. A apresentação fazia um diferencial de público que pulava no salão do primeiro andar. 
Lembro-me de uma cena inesquecível. Acho que em meados da década de 80, o Brasil saindo do regime militar, com os anistiados desde 1979 retornando. 
A Glorinha com seu Regional começam a cantar "O Bêbado e a Equilibrista", de Aldir Blanc e João Bosco, o hino da anistia, como ficou conhecido. 
A canção, em completo contraste com as alegres marchas-ranchos como "Mamãe eu quero" e "Índio quer apito", e que tais, executadas na parte de cima do Clube 3 de Maio, arrancou emoções e lágrimas de todos nós que estávamos ali reunidos, cantando todos juntos, numa outra vibe como se diz hoje.
"Caía a tarde feito um viaduto
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos.."

Além das apresentações nas noites dos bares do Balneário Mar Grosso e aniversários e outras comemorações em residências de amigos, o Regional da Glorinha chegou a tocar no Palácio da Agronômica, em Florianópolis, no governo de Pedro Ivo Campos; e também do governador Paulo Afonso.
Sidnei e Glorinha Barreto Pegorara. Foto de 1998: Valmir Guedes Jr.
Glorinha foi casada com o “cirurgião-estético-capilar” Sidnei Pegorara, falecido ano passado e deixa os filhos Denise e Sidnei Júnior e os netos Guilherme e Ana Clara.
Sentimentos aos familiares e amigos.
O samba está triste. E todos nós.

3 comentários:

  1. Triste. Muito triste. Muito curti aí em Laguna os carnavais ao seu som.
    Edison de Andrade

    ResponderExcluir
  2. Valmir, que homenagem marcante de reconhecimento à pessoa e à artista. A Glorinha, um desejo de cantar que será eterno, uma voz que ficará gravada em nossos corações e que sempre ecoará nos palcos populares da Laguna, onde era esperada para o deleite de todos e para o aplauso sincero. Creio na existência de dois mundos musicais, um complementando o outro. O show continuará num outro plano com as parcerias de outrora, certamente. Meu abraço de carinho e de conforto aos familiares e fãs. Adolfo PV da Silva

    ResponderExcluir