Ele é lembrado
no meio futebolístico da Laguna quando a conversa é sobre craques de futebol do
passado.
Fez sua história nos campinhos
de várzea ao lendário Barriga Verde F.C.
Do Hercílio
Luz ao Esporte Clube Ferroviário.
E na Bolívia, onde
jogou nos Clubes Aurora, Oriente Petrolero
e Jorge Wilstermann, disputando jogos na Libertadores.
Um craque do
futebol que o tempo não esqueceu.
Santelino Bonifácio Vieira assim está registrado em sua certidão
de nascimento. Mas quem o procurar por este nome dificilmente o encontrará. Já
Miguel... Miguelito é como ficou conhecido.
Ele explica:
“Quando criança eu ouvia no rádio as músicas do cantor mexicano Miguel Aceves
Mejias. Vivia pela rua cantando os seus sucessos. Aí meus amigos de longe já
sabiam quando eu vinha chegando:
– Lá vem o
Miguel cantando... Lá no México é o Miguel, aqui no Brasil, em Laguna é o
Miguelito. Aí o nome pegou e ficou. No fim todos me conheciam assim, até gente
da minha família, o meu pai mesmo me chamava assim”.
Bem. O Miguel
mexicano brilhou na música e no cinema. O nosso daqui, prata da casa, vai brilhar no futebol.
Então vamos
lá, porque a história só está começando.
Primeiros anos
Miguelito
Bonifácio Vieira nasceu em São Tomaz, então distrito de Imaruí, em 4 de
novembro de 1947, filho de Adílio Bonifácio Vieira e Maria Josina Vieira, a d.
Cotinha.
Quando tinha
quatro anos sua família veio morar na Laguna e ele foi matriculado na idade
escolar no curso primário da Escola Básica Jerônimo Coelho.
Logo cedo
começou a trabalhar. Primeiro como auxiliar/ajudante da família do seu Augusto Westphal.
Depois no armazém do seu Lilico Machado, no Mercado Público.
Nos intervalos
e fins de semana jogava num campinho improvisado que existia ali na Paixão,
defronte ao Restaurante Peralta. Ouvia muito os jogos do Rio de Janeiro pela
Rádio Globo, principalmente o Flamengo. Bem por isso virou flamenguista roxo.
Depois o
Wilfredo Silva que trabalhava e era locutor da Rádio Difusora montou um time
chamado Banguzinho e Miguelito jogou numa posição que o consagraria no futuro:
o de meia-esquerda.
No Barriga Verde F.C.
Depois, já aos
14 anos, em 1961, foi treinar no lendário Barriga Verde F.C. Logo a seguir
passou a titular. Ele lembra:
“Foi um tempo
muito bom, jogava Eraldo, Beto Pacheco, Juarez Fortes, Cacaio Pinho, Dido, Dalmo, Nereu, Odilon (que faleceu há poucos dias), Bel e tantos outros.”
Ressalta uma
partida muito disputada entre Barriga Verde X Ferroviário, de Tubarão, onde o
placar foi de 1 X 1, gol dele pelo Periquito. “Acho que o saudoso Bujú (José Carlos
Natividade) foi quem fez o gol de empate pelo Ferrinho”.
Time do Barriga Verde em 1967. Em pé da esquerda p/direita: Tonico, Beto Pacheco, Ná Barzan, Rui, Dalmo Faísca e Cid Siqueira. Agachados: Juarez Fortes, Nereu, Eraldo, Miguelito e Dido. Foto: Bacha. |
Certa vez, com
o Barriga Verde de folga, a convite de amigos foi jogar pela Portuguesa do
Magalhães numa partida em Torres (RS). “Aí um empresário viu o meu jogo, gostou
e me convidou para o Comerciário, de Tubarão, onde jogava Valdomiro, Chiquinho,
Parobé... fiquei uns seis meses e retornei para Laguna”.
Aqui continuou
jogando futebol nos times da TEP (Turma da Esquina do Paulista), do Magalhães,
Areal F.C. e pelo Veteranos do Flamengo.
Areal F.C. De pé da esquerda p/direita: Waldo, Mimo, Lilo, Milton, Zazá, Aírton, Silvinho Silveira e Lelo. Agachados: Djalma, Vavá, Zé Carlos, Miguelito e Paulo Sérgio. |
No Ferroviário
O radialista
Wilfredo Silva (olha ele aí de novo), fez contato com uns amigos do Ferroviário
e Miguelito foi contratado. Em 1968 foi escolhido o craque do ano.
Em 1970 o Ferroviário sagrou-se campeão do campeonato estadual. Em
seguida Miguelito foi emprestado para o Hercílio Luz, onde ficou por seis meses e retornou
para Laguna.
Na Bolívia
Ele continua
narrando sua história: “Neste meio tempo o Eraldo foi jogar na Bolívia, a
convite de um empresário. Numa de suas visitas ao Brasil me convidou pra ir pra lá e lá fui
eu jogar naquele país”.
Na cidade de Cochabamba Miguelito jogou pelo Clube Aurora, Clube Oriente Petrolero e Clube Jorge Wilstermann. “Fiz muitos jogos pela Libertadores contra o Boca Júniors (Argentina), River Plate (Uruguai) e Olimpia (Paraguai)”.
Jogando no Aurora da Bolívia. Miguelito é o terceiro em pé, da esquerda p/direita. |
A imprensa boliviana destacando os jogos. O ataque do Clube Jorge Wilstermann em 1978 formado por Oviedo, Vargas, Miguelito e Eraldo. |
Miguelito
ficou jogando na Bolívia até 1979. Antes disso casou aqui na Laguna com Ida
Maria. Sua primeira filha Andréia nasceu naquele país. As outras duas, Aline e
Amanda, nasceram no Brasil.
Entre o futebol e uma guerra civil
“Ai estourou
uma guerra civil por lá. Uma disputa por território com o Chile. O peso se
desvalorizou e quase todo o dinheiro que se ganhou sumiu. Ficou muito pouco na
troca pelo nosso dinheiro, o cruzeiro. Não deu pra fazer um grande pé de meia”, lembra.
De fato o
período foi bastante conturbado. Golpes de estado, regime militar, tensões entre
a Bolívia, que buscava uma saída pelo mar pelo Mediterrâneo e o Chile. Houve protestos
estudantis e de operários, congelamento de preços, bombas, etc. O país parou.
Retorno ao Brasil
“Retornei para
o Brasil e fui treinar no Novo Hamburgo (RS), mas precisou um documento de lá da
Bolívia me liberando para a transferência e não havia como buscar. Não tinha a
facilidade de hoje com telefone e internet. Tudo era demorado e difícil e o
time não podia esperar e aí puseram outro no meu lugar”, explica e lamenta Miguelito.
Miguelito
retornou para Laguna e foi trabalhar em outras áreas em empresas do ramo de
madeiras e alumínio e também como segurança no Clube Congresso Lagunense.
Dias atuais
Em 1984, a
convite de alguns amigos, ingressou na Casan, no escritório da Laguna onde
trabalhou até a sua aposentadoria, depois de 33 anos de serviço. Participou dos
Jogos Abertos promovidos pela empresa.
Viúvo já há
alguns anos, casou com Maria Regina Francisco. O casal reside no bairro
Portinho em nossa cidade.
Em 2009 foi
homenageado pelo desportista Amauri Luchina com um brasão do Barriga Verde F.C.
escrito:
“Miguelito, todo
lagunense orgulha-se de tê-lo como atleta do Barriga Verde F.C. e Copa do
Torcedor”.
Aproveito estes dizeres acima para finalizar essas lembranças e também a minha homenagem ao craque de bola Miguelito, que o tempo não esqueceu.
Ótima lembrança e homenagem. Miguelito jogava muito.
ResponderExcluirVi jogar no campinho do Magalhães. Além de craque, pessoa do bem.
ResponderExcluirQue legal. Bom saber dessas histórias.
ResponderExcluirParabéns Valmir por manter viva a memória de fatos e personagens da nossa Laguna.
ResponderExcluirMuito obrigada por compartilhar está história de vida, trazendo memórias afetivas e históricas do nosso Miguelito e de todos aqueles que fizeram e fazem parte de sua vida. E o melhor da homenagem, é saber que o homenageado pode presenciar em vida.❤️
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