sexta-feira, 9 de setembro de 2022

"Pedro Hespanhol" - Um bandido que aterrorizou Laguna

 
Em fins do século XIX, Laguna hospedou um terrível bandido.
Assassino, ladrão, brigão, arruaceiro, suas armas preferidas eram a faca, o punhal e a navalha. Todos o temiam e fez muitas vítimas em nossa cidade. Seus bairros preferidos para atacar eram o Magalhães e o Campo de Fora. Usava o nome e apelido de outro célebre criminoso do passado: "Pedro Hespanhol".
Existiu no Rio de Janeiro no século XIX um malfeitor, um bandido sanguinário que apavorou os habitantes da então Capital Federal.
Tornou-se um criminoso célebre assaltando em plena luz do dia. Provocava terror com sua violência e mortes e era chefe de uma quadrilha com dezenas de outros bandidos.
Contam os antigos jornais que brigava e matava utilizando-se de armas brancas. Navalhas, punhais e facas eram seus instrumentos de trabalho preferidos.
Seu nome era “Pedro Espanhol”.
Fugiu da perseguição da polícia inúmeras vezes. Nas poucas oportunidades que chegou a ser encarcerado conseguiu escapulir espetacularmente das prisões.
Consta que quando interrogado dizia ter nascido em Portugal e não na Espanha.
Ficou famoso por conta de sua má fama e virou posteriormente personagem de folhetins escritos por José do Patrocínio publicados no Jornal Gazeta da Tarde do Rio de Janeiro e mais tarde, em 1884, reunidos em livro de grande sucesso.
Patrocínio conta em seu romance que o bandido, ainda jovem, teria vindo empregado de um dos fidalgos que acompanharam a Família Real (D. João VI) ao Brasil, em 1808, fugindo das tropas de Napoleão. 
Capa do livro romance "Pedro Hespanhol", de José do Patrocínio.
Depois de alguns anos transformou-se em bandido, chefe de uma quadrilha de assaltantes, um rei da malandragem carioca, que provocou o terror com assaltos e assassinatos, além de todo tipo de trambicagens. Virou um bandido célebre no Império.
Bem por isso é um dos personagens do livro “Criminosos célebres”, do escritor Moreira de Azevedo, obra publicada em 1872.
“Pedro Espanhol” teria sido morto em 1833 numa emboscada onde reagiu à prisão pela polícia.
Mesmo com sua morte, outros bandidos nas décadas seguintes, aproveitando-se de sua má fama que ficou registrada na memória de tias e avós, passaram a utilizar-se do seu codinome para aterrorizar o povo.
Foi o caso de um deles que apareceu em nossa região. 

O bandido “Pedro espanhol” da Laguna
Aqui na Laguna também apareceu um sujeito chamado “Pedro Espanhol” e que igualmente aterrorizou a nossa cidade.
Quem conta essa história numa velha crônica é o lagunense Álvaro Dias de Lima, que foi chefe dos Correios e vez ou outra colaborava com seus escritos para os jornais lagunenses da época. Faço um resumo.

Diz Lima que de 1874 a 1879, “Laguna teve a infelicidade de hospedar o mais terrível dos indivíduos aqui aportados.
Desordeiro e atrevido capoeira, esse indivíduo usava o  nome de Pedro Espanhol. Era esse seu apelido, posto que não fosse natural da Espanha, mas parece que de algum lugar do Brasil".
Era jovem ainda, muito forte e ágil. Tinha um gênio de quem nasceu para o crime. Sentia-se bem sempre que, de faca em punho, tinha ocasião de provocar e parar-se à frente de quem cruzasse o seu mesmo caminho, fosse quem fosse até autoridade. 

Suas armas eram a faca e a navalha
Em suas brigas usava sempre faca e navalha bem afiadas. Não tinha medo de ninguém.
"Audacioso, enfrentava a polícia composta naquela época de seis a oito praças", conta Álvaro Lima.
Dos seus crimes foram vítimas muitos moradores da Laguna. Os bairros Magalhães e Campo de Fora eram os pontos prediletos para as arruaças desse perverso indivíduo. Até as autoridades o temiam.
Um dia, porém, após mil coisas horrorosas praticadas pelo bandido e suas inúmeras fugas, o cidadão Manoel Carneiro Pinto assume a Delegacia de Polícia da Laguna. E assume consigo mesmo a responsabilidade de libertar Laguna de tão perigoso elemento. Sua nomeação foi rápida. Ninguém sabia o porquê desse interesse repentino em que Carneiro Pinto procurara ser Delegado. 

Duas mulheres torturadas no Magalhães
Três dias depois de assumir o cargo apareceu a oportunidade de prender o bandido.
É que surgiu ao amanhecer a notícia de que lá no Magalhães, Pedro Espanhol de faca em punho mantinha duas infelizes sequestradas e encarceradas dentro de uma pequena casa, com portas e janelas fechadas. Vez ou outra ele fincava pontadas de faca sobre a carne dessas pobres mulheres levado pelo prazer único de vê-las se contorcendo entre gemidos e gritos.
Carneiro, que aguardava a oportunidade, reúne imediatamente alguns homens do povo somando-os à polícia, que se compunha de apenas seis praças e dirige-se ao lugar em que a terrível cena se passava.

O corajoso delegado Carneiro
Amigos e pessoas da família procuravam impedir o gesto de Carneiro, por considerarem-no temerário e muito arriscado, afinal Carneiro já era um ancião, hoje diríamos um homem idoso.
Carneiro então disse:
- “Fiquem tranquilos porque eu vou levado por um dever para com a sociedade lagunense, que precisa ficar livre dessa figura nefanda, prejudicial à tranquilidade de nossos lares. Fiquem tranquilos: Pedro Espanhol vai ser preso hoje, haja o que houver”.
E Carneiro seguiu para o Magalhães. Era por volta das nove horas da manhã. Levava consigo um total de quatorze homens, número que não era por demais grande, quando se sabia o elemento perigosíssimo que teriam que enfrentar.
Chegando ao local (onde seria?) em que se desenrolava a terrível cena praticada pelo facínora, o Delegado dispõe o pessoal de forma a evitar  tentativa de fuga por qualquer das aberturas (portas ou janelas) laterais e de fundos.

Arma engatilhada e faca no chão
Depois, ordena o arrombamento e salta de revólver em punho no meio da sala, gritando ao bandido:
- Se não quer morrer, entregue-se, jogando esta faca no chão!
Pedro Espanhol, que jamais vira na Laguna pessoa alguma enfrentá-lo com tal coragem, acovarda-se deixando cair a faca a seus pés.
E o velho Carneiro, com a arma sempre engatilhada, ordena seja ali mesmo amarrado o bandido que, nestas condições, é levado para bordo de um navio que partia naquele mesmo dia do nosso porto para o do Rio de Janeiro.
E lá na capital federal em uma de suas masmorras, esse bandido, alcunhado "Pedro Hespanhol da Laguna" cumpriu longa pena pelos seus crimes e de quem nunca mais se ouvir falar.

E a Laguna pelos próximos três anos ficou livre e sossegada de criminosos. Até que...
Bem. Até que por aqui apareceu três anos depois, em 1880, outro valentão e criminoso chamado “Manoel Tesoura” que aprontou muito e foi terror nos assaltos, brigas e violências.
Mas esse é outro capítulo que contarei em breve.

7 comentários:

  1. Essa, eu não sabia. 'Pedro Espanhol'. Laguna deve ter muitas estórias para contar!! Parabéns!

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  2. Que história Valmir. A gente lê com ansiedade. Dá um folhetim mesmo.

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  3. Edison de Andrade09/09/2022, 19:20

    Já tô curioso pra ler quem foi Manoel Tesoura. O apelido é sugestivo.

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  4. De prender os olhos na leitura!!
    Também curioso para saber a estória de MANOEL TESOURA.

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  5. Olá, Valmir. A tua crônica é de prender a atenção e a respiração, típica daquelas histórias contadas à luz de velas pelas nossas avós. Tchan tchan tchan tchan ... Aguardaremos, com expectativa, o próximo episódio. Abraço

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  6. Geraldo de Jesus10/09/2022, 13:44

    Dá pra fazer um filme, um curta, com esse Pedro Espanhol. Agora Manoel Tesoura... Usava tesoura será? Era tipo um Jack Estripador? Que medo não passaram nossos antepassados.

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  7. E então Valmir... nesta matéria você nos faz lembrar que a "bandidagem" é tão antiga quanto a história do homem, mas, creio que na época em que estes fatos ocorreram, as autoridades policiais eram mais atuantes e logo tiravam de circulação os maus elementos. Assim, no caso do “Pedro Espanhol” do Rio de Janeiro teria sido morto em 1833 numa emboscada onde reagiu à prisão pela polícia... saiu de circulação (creio que tenha sido apressada sua viagem para o céu). No caso do “Pedro Espanhol” da Laguna, ficou evidente a determinação do delegado Manoel Carneiro Pinto que estava a altura do cargo e, rapidamente acabou com as estripulias do Pedroca e o enviou algemado para o Rio de Janeiro, onde também logo deve ter encontrado com o criador. Meus parabéns por fazer voltar no tempo e reviver o quanto as autoridades, mesmo com poucos recursos... mesmo assim, de forma agil retiravam do convivio social os que insistiam em se manter como fora da lei. Ou seja, que diferença para os tempos atuais, onde as pessoas de bem são obrigadas a viver com medo enquanto os ladrões e bandidos ficam soltos e são acobertados por advogados amparados numa legislação frouxa e que estimula a impunidade.
    Grande abrço do Adolfo Bez Filho - Joinville / SC.

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