Acordo nesta
terça-feira com a triste notícia do falecimento na manhã cedo de hoje em hospital de Tubarão, onde estava internado há alguns dias, de José
Alves Fernandes, o nosso querido Zé Mala, vítima de um câncer, aos 75 anos. Nasceu na Laguna em 22 de outubro de 1947.
O conheci na
década de 70, quando ele e José Nazareno Duarte (Pisca), comandavam a JUM (Juventude
Unida do Magalhães). Muitas reuniões, além de campanhas de quilo e de agasalho e bailinhos na antiga sede do Clube 3 de Maio, em busca de recursos para obras assistenciais. Quem lembra do Som do Mala?
Era um tempo de
grupos de jovens, descobertas e anseios aflorando em toda uma geração. Lia-se
muito Neymar de Barros, a bíblia, salmos, biografias de santos mártires da
Igreja e discutia-se muita política. Ideológica, não partidária. Havia muito bicho-grilo. Zé Mala era um deles e por isso sua identidade com a turma.
Zé Mala na década de 70. |
Haviam outros
grupos pela cidade como a MACARO (Juventude da Vila Marechal Cândido Rondon),
no bairro Progresso. Lembro que esse último teve entre seus expoentes o
radialista Luiz Néry de Miranda, que chegou a ser presidente do grupo.
Mala sempre
esteve à frente de muitas campanhas em prol dos mais necessitados. Usualmente e carinhosamente com uma palavra de conforto, de alegria. Adorava rir.
Seu local
preferido era o Asilo de Mendicidade Santa Isabel. Ali se realizava por
completo, conversando, promovendo campanhas, fazendo esquetes teatrais, levando
músicos para apresentações, trocando roupas e dando banho nos internos
necessitados.
Assim o fez até
que problemas de saúde não o mais permitiram.
Depois formou-se
professor de Português e Inglês, sempre rodeado de alunos e colegas docentes que
conquistou por toda sua vida. Ministrou aulas em seu começo na Escola Básica Comendador Rocha, no hoje extinto Colégio Comercial Lagunense (CCL) e no Conjunto Educacional (hoje Escola de Ensino Médio) Almirante Lamego (Ceal), onde se aposentou.
Apresentou programa musical e social na hoje extinta Rádio Garibaldi.
Na década de 70
também encarnou Papai Noel no Natal, distribuindo carinho, sorrisos e presentes
à criançada. E assim atravessou décadas, até o ano de 2021 quando parou pela
saúde debilitada.
Em 1996 o
convidei para ser colunista do meu jornal Tribuna Lagunense. Foi o maior
sucesso e atravessou os anos escrevendo suas críticas e notas sociais.
Detestava hipocrisia. Era um ser autêntico, transparente, verdadeiro. De uma coluna passou para uma página inteira. Foram cinco anos de convivência.
Em sua coluna de
estreia, em 29 de junho daquele ano, escreveu:
“Valmir Guedes
Júnior, diretor-proprietário do jornal Tribuna Lagunense convidou-me e a partir
de hoje passo a fazer parte desta família. Sou transparente, escrevo o que
penso e sinto. Não compro brigas com ninguém, falo a verdade e o meu público
gosta”.
Polêmico, não tinha
papas na língua quando defendia suas opiniões. Algumas vezes cheguei a pedir
para maneirar e diminuir um pouco os xingamentos e alguns palavrões em seus escritos.
Mas muitos dos atingidos bem mereceram pelas patifarias que faziam (ainda
fazem?) com a nossa Laguna e seu povo.
Lembro de uma manchete e matéria que o Mala escreveu e que deu o que falar:
"POLÍTICOS ESTÃO ENTERRANDO LAGUNA".
Bem, a manchete e o texto foi lá em 1998, mas acho que a nossa cidade não mudou muito durante todos esses anos.
Quando a Tribuna
Lagunense parou de circular no ano de 2000, Zé Mala se transferiu para o
jornal O Correio, do nosso amigo Paulo Sérgio Silva e lá ficou muitos
anos escrevendo, em seu combativo estilo e sendo muito lido.
Decorou os
salões de muitos clubes recreativos e também de igrejas, nas cerimônias religiosas, festas de
padroeiros e casamentos. Sua fé cristã
era sobejamente conhecida. Pertenceu à Renovação Carismática Cristã, no bairro
Magalhães e à Pastoral Carcerária.
Na procissão de Corpus Christi, no bairro Magalhães, ornamentava a via Getúlio Vargas, defronte a sua casa, onde também instalava um lindo altar. Era tradição.
Pertenceu à diretoria
do Clube 3 de Maio.
Dentre as homenagens que recebeu destacam-se o Troféu Pyrilampo, criação de Thiago Santhiago; e do Brasão como amigo da Marinha, ofertado pela Delegacia da Capitania dos Portos da Laguna, ambos em 1997. Em 1998 foi homenageado pelo Grupo Nascer de Novo.
Em 1999 recebeu medalha do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina pela passagem do Sesquicentenário da morte de Anita Garibaldi, em sessão solene realizada no Clube Congresso Lagunense.
Carnavalesco,
foi destaque durante muitos anos na Escola de Samba Xavante, do seu bairro
Magalhães, inclusive como integrante de sua diretoria.
Depois desfilou
por outras entidades carnavalescas, entre elas a Escola de Samba Os Democratas.
Mas anos antes, em sua juventude, já havia desfilado nas Escolas de Samba Mirins Os Aymorés e Os Aprendizes do Samba. E depois nos Acadêmicos do Samba, uma dissidência do Xavantes.
Desfilou nos concursos de fantasia do chamado Baile Municipal, que aconteceram no Clube Blondin e também no Clube 3 de Maio.
Durante muitos
anos Zé Mala também desfilou sobre o palco dos caminhões do Bloco da Pracinha e a
partir de 1996 apresentava o Baile das Bonecas (e depois também das Musas e Drag Queens) e o Concurso
de Marchinhas, na Praça Sousa França.
Seu conhecido
bordão era: Arrasa Bicha!
Foi diretor
social do Bloco da Pracinha durante várias gestões. Foi homenageado pelo Bloco no
ano de 2014 e neste ano de 2023, recebendo o nome do troféu distribuído aos
vencedores dos concursos. Colaborou em 1994 com algumas notas para o Jornal do Bloco da Pracinha, por mim editado.
José Alves
Fernandes foi destaque nas nossas noites de Natal, no carnaval lagunense e na
vida de voluntariado em prol do próximo.
Vai arrasar
também lá em cima.
Velório acontece a partir das 16 horas de hoje na capela do Asilo de Mendicidade Santa Isabel.
Sepultamento vai ocorrer amanhã (22), (quarta-feira de cinzas), às 9h:30m para o Cemitério da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Santo Antônio dos Anjos.
E lá se foi o Zé Mala, o nosso querido filantropo; o eterno Papai Noel, professor, jornalista, religioso, carnavalesco, simpatia em pessoa, amigo sorridente, comunicativo, universal: um enorme coração que deixou de bater entre os nossos. Saudade. Abraço de pêsames à família.
ResponderExcluirMala, amigo querido. Pessoa do bem.
ResponderExcluirFico sem palavras por tudo que o amigo Valmir já expressou. O Mala foi um irmão mais velho para todos nós. Tive o privilégio de conviver muito tempo com Ele. Estivemos na Diretoria do TLC Treinamento de Líderes Cristãos em várias gestões, onde dávamos apoio aos grupos jovens, 16 na época. Um anjo voltou ao seu lar hoje, com certeza.
ResponderExcluirQue lindo texto vontade de chorar meu coração está partido
ResponderExcluirApesar da tristeza, só digo que o Mala foi fazer graça lá em cima....Vai em paz, amigo.
ResponderExcluirFalou tudo.. sem palavras 😞
ResponderExcluirChegou o momento, do nosso Zé Mala, retornar à Casa do Pai.
ResponderExcluirÍntegro, amigo, não pensava duas vezes quando se tratava do "amor ao próximo".
Coração voluntário, Zé Mala, dotado de execelente espírito filantropo, não média esforços, no afã de auxiliar quem mais necessita e sem alarde, sem "fogos de artifício".
Não vou dizer Vá em Paz, porque ele vivia na própria paz e assim permanecerá.
Tchau Zé Mala, até mais ver. Beijos.
Pois é... todo período de festas nos reserva um contraponto, para nos alertar de que em nossa vida "alegria tristeza" andam juntas. Assim, ao chegar praticamente no final do Carnaval... nosso conhecido Zé Mala, aproveitou e partiu para outra dimensão...e com isto a Laguna ficou menor. O Valmir com sua competência habitual, fez um resumo da vida participativa e humanitária do Zé Mala... que se junta a uns poucos lagunenses, que partiram deixando um legado para a história da nossa terra.
ResponderExcluirGrande abraço do Adolfo Bez Filho - Joinville SC.