Foi logo pela
manhã quando ele apareceu nos céus da Laguna. Primeiro foi ouvido o forte ronco
de motores. Depois um enorme vulto prateado escuro em forma de charuto se
projetou nos ares, em marcha vagarosa e voo baixo.
Na praia do Mar
Grosso e nos morros as pessoas se aglomeravam apreciando o inédito espetáculo e
davam vivas a sua passagem ao sul do bairro Magalhães.
Depois o
estranho objeto aéreo sumiu em direção ao sul.
Era uma sexta-feira,
29 de junho de 1934. O tempo amanheceu bom em nossa região, passando a instável
com chuvas e trovoadas no decorrer do dia.
A temperatura
máxima naquele dia seria de 23.7° e a mínima de 18.2°. Os ventos eram de
quadrante Norte, rondando para o quadrante Sul, sujeitos a rajadas fortes.
Laguna amanheceu
curiosa, olhando para o céu em busca do grande balão prateado em forma de
charuto, uma máquina aérea que rasgava o firmamento, cortando a linha do
horizonte numa imagem inesquecível.
Muitas pessoas
subiram ao Morro da Glória, ainda denominado Morro do Semáforo ou do Pau de
Sinal.
Outras foram à
Praia do Mar Grosso em busca de uma maior proximidade para assistir uma imagem
nunca vista.
Os jornais e
algumas emissoras de rádio do eixo Rio-São Paulo já haviam noticiado que a
aeronave viria da Alemanha, passaria por Pernambuco e Rio de Janeiro e rumaria
para a capital da Argentina.
Finalmente surge
o Zeppelin
A expectativa
era grande. Por volta das nove horas da manhã ruídos de motores foram ouvidos
nos ares lagunenses e um grande objeto prateado escuro surgiu, chamando a
atenção de todos.
Era o Balão
dirigível Graf Zeppelin D-LZ130 em sua viagem de ida a Buenos Aires.
O Zeppelin
passou, sobrevoando pela ponta sul do Magalhães, proximidades da Ponta das
Pedras, fazendo algumas evoluções, como que saudando à terra juliana.
Era um enorme
vulto a se projetar nos ares, em marcha vagarosa e voo baixo.
Depois sumiu em
direção ao sul.
Foi um
espetáculo inédito, com muita gente falando nele com entusiasmo.
E durante muitos
dias foi tema de conversas nos lares, boticas, cafés e barbearias da nossa
cidade.
O povo já se referia
ao balão como “Zé Pélim”.
Dois dias
depois, o jornal lagunense Correio do Sul noticiou o fato:
“Antes de ontem,
às 9 horas da manhã, a população desta cidade teve ocasião de presenciar a
passagem do Graf Zeppelin” quando se dirigia para Buenos Aires.
Apesar do
dirigível passar um tanto por fora, tornou-se bem visível ao defrontar, rumo ao
sul, a Ponta das Pedras, no Magalhães.
Grande foi o
número de pessoas que afluiu aos morros e à praia para apreciar a bela aeronave”.
Características técnicas
Os mais letrados
contavam sobre a aeronave, discorrendo sobre seus dados técnicos:
O Balão Graf Zeppelin
era uma invenção de Graf (Conde) Ferdinand von Zeppelin, general e aeronauta
alemão.
O Balão
dirigível havia sido construído na cidade de Friedrichshafen na Alemanha em 1928
com as seguintes características:
Cumprimento: 235
metros
Diâmetro: 30
metros
Alimentado a gás
hidrogênio e impulsionado por cinco motores “Maybach” VL2 de 12 cilindros com
capacidade para 2.750 HP. (580 HP cada um).
Carcaça de alumínio,
revestida por uma tela, tendo em seu interior 60 pequenos balões independentes.
Velocidade por
hora de 100 a 110 quilômetros. Autonomia de voo de 11 mil quilômetros.
Possuía
capacidade para 20 passageiros e 15 tripulantes.
Possuía aparelho
de radiotransmissão e recepção e rádiotelégrafo.
Em seu comando
estava Hugo Eckner e seu ajudante Leman, os dois experientes técnicos em
aeronavegação.
Até 1934 já
havia feito cerca de 200 viagens a várias partes do mundo, inclusive ao Polo
Norte.
Em maio de 1930
pela primeira vez realizou a travessia do Atlântico Sul em visita ao Brasil,
inaugurando uma rota regular de passageiros e de serviços postais.
Somente no ano
de 1932 já havia feito nove viagens ao Brasil. E várias outras nos anos
seguintes.
Até um grande
Hangar para dirigíveis foi construído no Rio de Janeiro, o Bartolomeu de
Gusmão, hoje denominado Base Aérea de Santa Cruz.
A viagem a
Buenos Aires
O Zeppelin
soltou as amarras de Friedrichshafen na Alemanha, às 20h30 do dia 24 de junho
de 1934, com destino à América do Sul.
Levava um
passageiro para Recife, um para o Rio de Janeiro e nove para a capital da
Argentina, além de 177 quilos de correspondência e 229 quilos de carga.
Entre os
passageiros estava o pianista alemão Willy Kern que daria um concerto em Buenos
Aires.
No dia 27 já
estava no Recife, numa viagem de 62 horas.
No dia 28 chegou
ao Rio de Janeiro e no mesmo dia partiu em direção ao Sul, passando por Laguna
no dia seguinte, 29, conforme relatado acima.
Florianópolis
também aguardava a passagem do Zeppelin em sua ida para Buenos Aires.
Mas uma mudança
de tempo repentina, com forte vento sul e chuva impediu que o ilhéu avistasse a
aeronave que passou a distância de 15 milhas do litoral.
O jornal O Estado, de Florianópolis, indagava: Cadê o Zeppelin?...
Somente na
viagem de retorno é que os moradores da capital do estado puderam contemplar o
Zeppelin.
Outras cidades
catarinenses e gaúchas também registraram a passagem da aeronave, como Itajaí,
Blumenau e Brusque, Joinville, Porto Alegre e Rio Grande.
O Zeppelin saiu de
Buenos Aires em sua viagem de retorno às 11h do dia 30 de junho, com 23
passageiros, além de correspondência postal para o Brasil e Europa.
No dia seguinte
já estava no Rio de Janeiro e no dia 2 às 17h35 saiu em direção ao Recife
levando 1 passageiro para esta cidade e 21 para a Europa.
Finalmente no
dia 4 de julho saiu do Recife para a Europa às 7h35.
O Zeppelin e o ronco dos motores
Abaixo, cenas raras do dirigível Graf Zeppelin em vídeo do youtube. Ouçam o ronco dos motores da aeronave que nossos antepassados testemunharam quando de sua passagem por aqui.
E abaixo, filmagem do Zeppelin quando de sua primeira passagem pelo Rio de Janeiro, em 1930.
Fim das viagens
com dirigíveis
Parecia que
seria uma nova opção para viagens comerciais de longos percursos.
Mas três anos
depois, um acidente de grandes proporções, pôs fim ao sonho.
Em 6 de maio de 1937, durante
manobras de pouso em Nova Jersey, nos EUA, outra aeronave, o dirigível LZ 129 Hindenburg pegou fogo, matando 36 pessoas
que estavam a bordo.
Um ano depois do
acidente as viagens e operações com dirigíveis foram encerradas em definitivo.
Muito legal, não sabia que o Zeppelin tinha passado em Laguna.
ResponderExcluirBom dia.
ResponderExcluirParabéns pela (como sempre) bela pesquisa histórica.
Eu também não sabia que o Zepelim tinha sobrevoado Laguna.
Meu pai deve ter visto.
Imaginem a euforia do povo , vendo o Zeppelin passar. Quantos sonharam em fazer a viagem? Reportagem muito legal.
ResponderExcluirFico pensando a turma toda, nossos avós subindo o morro ou correndo pra praia pra ver a novidade. Até eu iria.
ResponderExcluirDeve ter sido o máximo. Sem tv, internet, o rádio só começando.
Muita gente nem sabia ler.
Que visão deve ter sido.
Não sabia que o balão tinha passado por aqui. Veja só!
Valmir, como estou há 38 anos em Joinville, sabia das memoráveis passagens do Graf Zeppelin LZ 127 (1934) e do Hindenburg LZ 129 (1936), por aqui, pois os fatos de tão marcantes, foram transmitidos às gerações. O que eu não sabia era que o mesmo Zeppelin, aquele enorme charuto voador, símbolo da propaganda nazista, na mesma época também houvera passado pelos céus da nossa Laguna de 1934, ostentando, no seu leme, a marcante suástica. Valeu o registro. Abraço
ResponderExcluirValmir... parabéns pela excelente matéria sobre o Zeppelin, sobrevoando a nossa terra. Também, gostaria de complementar o comentário do meu xará (Adolfo Silva, que também mora há muitos anos em Joinville), que aqui a "visita" do Hindenburg ocorreu em 01/Dezembro/1936 no início da manhã, sendo que outras cidades próximas como, Blumenau, Brusque, Indaial e Jaraguá do Sul... também tiveram a oportunidade de avistar o dirigível. Tenho um bom material de época escrito e também registrado em filmes, sendo que ao que parece muitas pessoas de Joinville e Blumenau sabiam com antecedência deste evento com data e hora. Conforme você relata, alguns meses depois (em 06/Maio de 1937) esta bela aeronave sofreu um acidente terrível e das 97 pessoas a bordo 36 faleceram. Uma curiosidade é que o nosso ex-governador Aderbal Ramos da Silva (de saudosa memória), quando do seu casamento com a Dona Ruth Hoepcke da Silva em Abril de 1936, os recém casados ganharam como presente Lua de Mel... da Donna Anna Hoepcke (sogra de Dr. Deba), uma viagem à Europa. A ida foi num navio transatlântico e o retorno para o Brasil foi realizado no Graf Zappelin. Claro que pela quantidade pequena de passageiros, imagino que tenha sido um belo presente.
ResponderExcluirGrande abraço do Adolfo Bez Filho - Joinville / SC.