terça-feira, 13 de agosto de 2013

Fofocas e traições

A história da Laguna é repleta de maledicências e traições.
Vários foram os acontecimentos ao longo desses mais de 3 séculos que ficaram registrados nesse chão do sul do Estado.
Se a terra lagunense foi palco e cenário de muitos feitos heróicos que mereceram o registro nos anais da história pátria, foi, igualmente, lugar de sórdidas tramas, de mesquinhas atitudes e de acontecimentos nefastos tramados nos bastidores.

Das maledicências não escapou nem mesmo Francisco de Brito Peixoto, o filho do fundador da Laguna, Domingos, que chegou a ser encarcerado em 1720 pelo juiz da Vila, Manoel Gonçalves Ribeiro, por ordem do governador do Rio de Janeiro e para lá Francisco foi enviado, preso, conforme nos conta o historiador Oswaldo Rodrigues Cabral em sua obra intitulada: “Laguna e Outros Ensaios”, às páginas 47 a 59 , e editada em 1939.

Encarcerado devido às intrigas de um tal de Manoel Manso de Avelar ("que apesar do sobrenome não era manso coisa nenhuma"), residente na Ilha de Nossa Senhora do Desterro. Um mandão, lá da Freguesia de Santo Antônio de Lisboa.

Diz Cabral, que Francisco Brito soube se inocentar, acusando Avelar e o juiz Ribeiro de formarem uma quadrilha que explorava contrabando e navio negreiro. (Não me admira que quisessem destruir o correto e honesto Francisco de Brito Peixoto).
Os acusados conseguiram se safar e voltaram a Desterro dois anos depois. Mas escreve Oswaldo Cabral que os acontecimentos de tal maneira prejudicaram Brito que mais no futuro de nada lhe adiantaram os pedidos ao El Rei, no Rio de Janeiro, de “um quinhão de terras para a lavoura”.

Pedido negado logo a ele que depois de tantos sacrifícios e dedicação à sua pátria, onde empregou todos os seus recursos pessoais na povoação e exploração das terras ao sul. Logo a Brito, heróico bandeirante paulista, “patriarca da família rio-grandense”, com seus gestos patrióticos e de resignação.

O pedido de terras foi negado porque uma comissão da Laguna já havia enviado documento assinado ao El Rei, “fazendo sua caveira”, onde afirmava que Brito Peixoto não havia ajudado a desbravar o sul.  Deslavada e calhorda mentira!

Atente ao detalhe: um grupelho de lagunenses  mandou um documento direto ao Rei, fazendo fofoca.
Veja só!
Ir à Capital ou remeter um documento falando mal de um conterrâneo,  tentando destruí-lo,  já acontece  desde aquela  época!
Desde 1720 !!!

Iam à Desterro a cavalo, ou pelo mar, a bordo de palhabotes para fazer fofocas. Nada diferente do que acontece hoje e bem mais rápido do que naqueles tempos.
Pois por conta dessas fofocas, Francisco de Brito Peixoto morreu na miséria, esperando suas terras, tendo ao lado somente sua amada sobrinha, Ana de Brito, mulher santa que o confortou em seu leito de morte, conta Cabral.

E finaliza na página 112, que “Da terra bastava-lhe agora àquela que recebera o seu velho e cansado corpo. Assim recompensou El Rei ao seu vassalo”.

Como se vê, há sempre na Laguna uma comissão no meio do caminho. E sempre foi esse tipo de comissão que prejudicou esta cidade ao longo de toda sua história. Comissões formadas, na maioria das vezes, por pessoas que se dizem representantes da Laguna, mas que cruelmente emperram o progresso desta terra e da sua gente, visando quase sempre seus próprios interesses.
Comissões que chegaram a esbarrar-se em ante-salas de governadores e autoridades outras, cada uma puxando para o seu lado, impondo dificuldades, dividindo e enfraquecendo.
Uma comissão entrava no gabinete solicitando algo para a cidade. Em seguida outra comissão visitava a mesma autoridade e também solicitava, só que ao contrário, que o pedido anterior não fosse atendido.  Laguna só perdia.

Mesmo nos dias atuais, certos acontecimentos e atitudes maculam o caráter e a honestidade de muitos homens de bem que aqui nasceram e deixaram suas marcas, sempre em defesa da Laguna. Sempre por Laguna, honrando e lutando pelas mais legítimas reivindicações de seu povo e sua gente.
A união, por esses lados, nos dicionários de muitos, não existe. É ausente. Brigas, picuinhas, ciúmes políticos (e ciúme político de homem é mil vezes pior do que ciúme de amor de mulher), questiúnculas, disse-que-disse e fofoquinhas vão se sobrepondo a tudo e todos.

União! Eis a palavra chave. Enquanto este sentimento não vicejar por aqui continuaremos de pires na mão, “pedinchões”, aceitando migalhas e lamentando as reivindicações nunca atendidas.


3 comentários:

  1. Alguém comentou que nas ruas da Laguna vive um bando de desencarnados a incomodar os encarnados. Será que estes que prejudicaram Domingos Brito Peixoto ainda não estão por aqui?
    Olha, não é de duvidar.
    João Carlos Nunes

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  2. Parabéns pela postagem Valmir, vivemos como 1720 e ainda não aprendemos, triste mas verdadeiro. Infelizmente a vida segue assim, algumas gerações simplesmente não existiram, passaram por entre os anos e não produziram e deixaram louros, só deixaram a terra de Anita mais empobrecida e sem cor.

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  3. É o que sempre digo...a sociedade local não é livre, sendo refem de favores politicos seculares, os quais atravessam gerações, pois o poder publico sempre foi o principal empregador da cidade. Tudo em nome de interesses privados enquanto não se pensar de forma coletiva, Terra de Anita sempre padecerá. Mari Ghedin.

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