terça-feira, 15 de março de 2022

Uma Praça (ou seria novela?) chamada Seival

 
No passado era um descampado. Uma área abandonada, de cômoros e mato, usada também como lixão. Uma terra de ninguém, mas valiosa histórica e turisticamente, bem à entrada dos Molhes da Barra. Mas não servia nem para estacionamento.
Praça Seival em março de 2022.

Praça Seival em 2012.
Mas já houve até lançamento de pedra fundamental da Praça Seival e criação de um Monumento neste local, com solenidade, discursos, banda, fogos e descerramento de placa em 29 de julho de 1985, na IV Semana Cultural da Laguna.
Comemorava-se então o Sesquicentenário da Revolução Farroupilha.
Tenho a foto da placa de bronze que foi afixada e que depois, na calada da noite alguém surrupiou do local.
Foi em meados da década de 80, na primeira gestão do prefeito João Gualberto Pereira/Rogério Wendhausen (1983-1988), sendo secretário de Cultura Munir Soares e presidente do Conselho de Cultura Salun Jorge Nacif. 
Presenças no evento do governador de Santa Catarina Esperidião Amin Helou Filho, de José Richa, governador do Paraná e de Jair Soares, governador do Rio Grande do Sul.
Sim, sim, três governadores. Um luxo!
O arquiteto e escritor Wolfgang Ludwig Rau elaborou um projeto – veja a cópia colorida cá embaixo – da réplica do Barco Seival a ser construído ali, no exato local onde aconteceu a Batalha Naval de 15 de novembro de 1839 em que as tropas farroupilhas foram vencidas pelas imperiais. Foi a Retirada da Laguna. A primeira. A segunda, com este nome, aconteceu anos depois na Guerra do Paraguai, vocês sabem.
Retirada é uma expressão militar para substituir fuga. Um eufemismo. Mas isso é outra história.
Com a réplica (Monumento) do barco Seival o local se tornaria, sem dúvida, em mais um ponto turístico. Paisagismo, bancos, quiosques e até uma concha acústica. Mas o projeto nunca se concretizou. Em seu discurso (tenho cópia na íntegra) na tarde fria daquele dia 29 de julho de 1985, Ludwig Rau exultou:

“O início das obras de construção do vultoso monumento será mais um marco de pujança nacional, para orgulho dos catarinenses e para surpresa dos milhares de turistas visitantes dos Molhes do Mar Grosso.
A escolha do local foi acolhida com entusiasmo generalizado, o que evidencia o acerto da decisão”.

Na gestão de Célio Antônio (2005-2012) urbanizou-se a orla, fez-se o calçadão de pavers vermelhos na avenida Rio Grande do Sul, que trocou até de nome.
Logo depois, em 2013, gestão de Everaldo dos Santos (2013-2016) vieram as chamadas revitalizações e urbanizações da orla, com novo calçadão e estreitamento de canteiros. Ampliou-se também a rua Nilton Batista da Silva (via defronte aos prédios) e criou-se bolsões de estacionamento.
E dá-lhe pavers, que esse pessoal adora esses blocos de cimento. Já bancos, floreiras, árvores, parquinhos, lixeiras, nada disso existiu. O espaço vazio foi transformado num local para realização de eventos. “Praça de Eventos Seival”, conforme Lei Ordinária 1646/2013. Eventos particulares, of course. Privatizaram a praça nesses anos todos.

Praça do povo?
A frase “A praça é do povo como o céu é do condor”, no dizer poético de Castro Alves, não corresponde na Laguna.
Sim, sim, uma simples rampa de skate foi construída na orla, registre-se. Mas foi só. E há poucos meses derrubou-se um feio quiosque, abandonado há muito.

Passou o tempo, muita água entrou e saiu pelo canal da Barra, nas mudanças rotineiras de maré. Muita tainha foi tarrafeada ali bem perto, no pontal ou na tesoura e muitos nomes sentaram na cadeira de prefeito. Sentaram e saíram, na alternância democrática e efêmera do poder.  
Lá se vão 37 anos que colocaram a pedra fundamental da Praça Seival e seu monumento, no ano de 1985.
E ainda estamos discutindo regras, projetos, alterações, alternativas, mudanças de local de shows e qual o real aproveitamento futuro do local.
O tempo passa o tempo voa, mas a demora na Laguna continua numa boa...
Tem hora que cansa. Vocês não cansam?

6 comentários:

  1. Edison de Andrade15/03/2022, 12:56

    Uma praça que de praça não tem nada. Só para shows particulares ganharem dinheiro. Bem isso.

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  2. Como morador do entorno da praça posso afirmar categoricamente que o barulho é ensurdecedor, o movimento é muito grande, com acesso muito difícil para as forças de segurança e de saúde (GML, PM, Samu e Bombeiros), a poluição visual do local com o fechamento privado metade do ano é deprimente (pensem na comemoração quanto o último item foi removido e a beleza restaurada!), a sujeira pós festas e a depredação do patrimônio "público", e tudo fruto de contratos de alienação da administração pública para com particulares feitos às escuras, cujas publicações somente saem no Diário Oficial do Município em meados do ano, quando tanto o clima quanto o sentimento ruim em relação ao péssimo uso do espaço público já esfriaram.
    Minha opinião neste momento (e desde há muitos anos) é a de que estes eventos devam ser levados para o sambódromo. Sim, nosso elefante branco parado, abandonado. Deve servir para desfile cívico (sem fechar mais a via principal do Centro Histórico), MotoLaguna, festas e shows particulares. Lá tem menos vizinhança, espaço de sobra para ambulantes explorarem a venda de itens diversos, estacionamento de sobra para foliões, e facilidade de acesso para as forças policiais e de saúde. Poderia ser melhor? Claro! Mas não temos neste momento um espaço mais adequado. Então penso que ali é o melhor local dado o contexto atual.

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  3. E a Praça Seival? De novo, em minha humilde opinião, deveria ser objeto de uma revitalização e de seu entorno da seguinte forma:
    1) Calçamento dos molhes da barra com pavers e colocação de bancos de concreto para pescadores e admiradores usufruírem do espaço. Acesso apenas para pedestres e ciclistas. Veículos apenas de socorro e de segurança.
    2) Sede da associação de surf e pista de skate: deveriam ser demolidas e reconstruídas de forma melhor e mais produtiva no local onde existia aquele bar na esquina e que foi recentemente removido. Motivo para ir para ali? Todos. Facilitaria o estacionamento dos surfistas naquele bolsão que se formou ali, e o prédio em si poderia, além de ter dois andares, servir como base temporária para bombeiros e policiais na Operação Veraneio. Guarda de viaturas (p. ex. motos aquáticas que vêm e vão todo santo dia pro quartel, economizando tempo e combustível do erário público, espaço para adoçamento de embarcações miúdas), banheiros condizentes para homens, mulheres e pessoas com deficiência, um espaço para a ASL explorar a venda de itens destinados ao surf, artesanato da cidade, trabalhos de fotógrafos locais, distribuição de sacolinhas de lixo para o turista e também o morador ter a consciência de usar espaços públicos e trazer de volta sua sujeira, andar superior que servisse para narração, acompanhamento e premiação dos campeonatos locais, e por aí vai. E a pisa de skate poderia ser reconstruída também, mas pelo que acompanho da janela, ela tem muito pouca serventia – talvez, pelo vento, talvez pelo formato e tamanho, talvez pela falta de manutenção... Várias hipóteses que eu seria leviano se afirmasse categoricamente que é esta ou aquela. Mas vejo ela com muito pouco uso, infelizmente.
    3) Sem reinventar a roda, utilizar o projeto “quarentão” da réplica do Seival, bancos de concreto, arborização apenas com o butiá (planta nativa e que realmente aguenta o tranco dos nossos fortes ventos à beira mar), e nem precisa da concha acústica.
    4) Por fim, alargamento e calçamento da rua Rubi Pinho Teixeira, que é paralela à Av. Eng Aderson Pinho Remor (antiga São Joaquim, vulgo “do porto”). E transformar ambas as vias em mão única com sistema binário, facilitando o fluxo do trânsito consideravelmente.
    Enfim, ideia seria fomentar o convívio turístico, esportivo e familiar no entorno da praça, enaltecendo a beleza de molhes + canal + pesca com botos + pesca esportiva + surfe + skate + ambiente familiar, tudo com a presença de forças de segurança e de saúde, para que o turista tenha vontade de vir e não querer mais ir embora dali, e que o morador se torne mais que um mero habitante, mas sim um síndico, zelador e até divulgador das belezas locais, falando de peito estufado com orgulho da Terra de Anita.
    Está é a melhor ideia para o local? Não sei. É a minha ideia.
    Dá pra melhorar? Sempre dá.
    Falta vontade e capacidade de governantes e de governados para fazer acontecer. As poucas andorinhas precisam se multiplicar para poderem fazer verão.

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    1. Ótimas ideias. Falta vontade política para implementá- las.
      Ficamos sempre no muito blábláblá.

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  4. NUNCA ENTENDI O BLOQUEIO DA AVENIDA EM EPOCAS DE VERAO. A CIDADE DE UM VISIONARIO PARA APLICAR UM PLANO PILOTO AO TRÂNSITO QUE SE TORNA CAÒTICO. [AFINAL A NOSSA LAGUNA NÂO DEPENDE DE TURISTAS PARA SOBREVIVER?} [COM REGRAS, È CLARO}

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  5. Geraldo de Jesus17/03/2022, 09:28

    Otimo5 retrospecto. Enquanto isso outras cidades já passaram na frente.
    Já pensou essa área em Tubarão? Ou Balneário Camboriú?

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