segunda-feira, 25 de setembro de 2023

Sumiu a placa histórica da inauguração do Mercado Público

 Quando das obras no Mercado Público e sua entrega em 1º de fevereiro de 2020, desapareceu a histórica placa de bronze afixada na parede interna quando da inauguração do prédio em 1958 pelo médico e prefeito Walmor de Oliveira. Lá esteve durante 62 anos. Pois sumiu, ninguém sabe, ninguém viu. Vem se somar a outras placas históricas de prédios e monumentos que desapareceram com o passar dos anos. Com isso outras placas foram fixadas com “novos pais da criança”.

Na Laguna há a péssima mania de retirar as placas inaugurais de prédios públicos, praças e monumentos, quando são efetuadas obras de restauração/revitalização.
Foto da Placa em bronze do Mercado Público em 1958. Foto: Valmir Guedes Jr.
Basta uma obra para que o governante de plantão, todo vaidoso, tasque lá na parede, quando de sua reinauguração, uma placa com seu nome em letras garrafais para que fique registrado à posteridade.
É até aceitável, há que se perpetuar o momento para futuros fins políticos.
Mas o que não se pode fazer é sumir com a placa inaugural, histórica, porque traz datas e nomes da época, como um batismo do patrimônio histórico.
Acho que é uma maneira Orweniana de apagar ou reescrever a nossa memória. Ou para usar uma expressão atual, criar uma nova narrativa.

São vários os exemplos
São vários os exemplos desses sumiços. Alguns casos foram furtos, mas também nunca mais as placas foram repostas.
Cito o busto de Giuseppe Garibaldi, no Jardim Calheiros da Graça e o busto de Jerônimo Coelho, na praça do mesmo nome, que ganharam novas placas e datas com “novos nomes de pais da criança” que nada fizeram por esses monumentos.
O Monumento a Domingos de Brito Peixoto é mais um exemplo. Placas sumiram e não foram mais recolocadas ou substituídas.

A mais recente placa de bronze a desaparecer foi a do Mercado Público (foto no começo desse post), que estava afixada na parede à esquerda do corredor da entrada frontal.
Era a placa original da inauguração do prédio feita pelo médico e prefeito Walmor de Oliveira em 1958. Lá ficou durante 62 anos!
Pois sumiu, ninguém sabe ninguém viu.

Espera-se que com o Museu Anita Garibaldi não aconteça o mesmo, depois de finalizadas as intermináveis obras.

Histórico da inauguração do Mercado Público em 1958
O prefeito Walmor de Oliveira governou Laguna de 31/01/1956 a 30/01/1959. Venceu as eleições de 1955 pela coligação PSD/PTB, obtendo 3.791 votos.
Walmor de Oliveira, prefeito da Laguna de 1956 a 1959.
Uma de suas promessas de campanha foi dotar a cidade de um novo e moderno Mercado Público. O primeiro Mercado havia sofrido um grande incêndio em 20 de agosto de 1939.
Para sua concretização, uma parte da Lagoa Santo Antônio dos Anjos foi aterrada, com pequena alteração no formato do cais de granito.
Os trilhos da Estrada de Ferro já cruzavam o centro da cidade em direção ao novo Porto, transformado em Carvoeiro pelo Decreto nº 4.676, de 16/09/1939 assinado pelo presidente Getúlio Vargas, e situado quase no início dos Molhes da Barra, entre os bairros Magalhães e Mar Grosso.
Mercado Público inaugurado em 19 de janeiro de  1958 pelo prefeito Walmor de Oliveira. Foto: Bacha. Acervo: Valmir Guedes Jr.
De janeiro de 1957 a dezembro do mesmo ano, o novo prédio do Mercado Público foi erguido, com recursos do município, ao lado e mais ao fundo do antigo, cujas paredes restantes foram derrubadas 
O leitor leu bem. A construção durou APENAS UM ANO!
Bons tempos em que as obras começavam, não se arrastavam e eram logo concluídas.
Mas para isso tinha que ter pulso e ser um verdadeiro gestor. E um líder, antes de tudo.
Qualidades que hoje em dia . ..

Nos altos do Mercado foi instalada a prefeitura e anos depois a Câmara de Vereadores.
Na ocasião, discursos do prefeito Walmor de Oliveira, do secretário geral do Governo (não havia a figura do vice), jornalista José Duarte Freitas (Zeca Freitas), do presidente da Câmara de vereadores da Laguna, Henrique Bittencourt de Bona e do prefeito de Florianópolis, Osmar Cunha, convidado.
As solenidades foram abertas com a benção do padre Osni Rosembrock, vigário da paróquia lagunense.
Após, as “autoridades e convidados dirigiram-se ao Clube Blondin, onde lhes foi servido lauto almoço, oferecido pelo governo do município”.

E finaliza a matéria de capa do jornal O Albor, edição nº 2719, de 25 de janeiro de 1958, de onde retirei os dados: 

“Durante o ágape falaram os srs. Artur Teixeira e Alcides Cascais, enaltecendo e aplaudindo a meritória iniciativa do Dr. Walmor de Oliveira, e bem assim o jovem conterrâneo Norberto Ungaretti que mais uma vez  empolgou os presentes com sua oratória fluente e repassada de entusiasmo.
Apreciável, durante a festa em apreço, foi também a participação de nossas bandas musicais União dos Artistas e Carlos Gomes, que executaram vários de seus mais apreciados dobrados”.

8 comentários:

  1. E assim vão acabando com nossa memória. O Iphan não viu isso na época?

    ResponderExcluir
  2. Geraldo de Jesus25/09/2023, 12:46

    Valmir, parece que é proposital apagar, sumir com nossos registros históricos. Querem os seus nomes no bronze ou agora nas placas de acrílico. O passado que se exploda. Sem falar que muitos nem são daqui, não conheceram nem querem conhecer nomes e fatos de nossa história. A não ser que possam faturar de alguma maneira.
    Concordo com a Rosângela, o Iphan na época não viu isso?

    ResponderExcluir
  3. Parabéns Valmir por contar aos seus leitores , verdades. Mas agora o que fazer para colocar esses objetivos em seus devidos lugares? Já não se fazem mais gestores como antigamente.

    ResponderExcluir
  4. Quando reformaram o prédio da Carlos Gomes também levaram de lembrancinha a placa de bronze da sede...prepare qdo forem limpar a estátua do Porto VAI ficar só as pedras ...abraços meu amigo. 🤗

    ResponderExcluir
  5. Valmir, furtadas, refundidas, guardadas por colecionador fetichista, o certo é que, se um Sherlock Holmes moderno fosse contratado, quem sabe não encontraria um cemitério de placas históricas sequestradas em algum recanto remoto. Abraço

    ResponderExcluir
  6. Edison de Andrade25/09/2023, 17:12

    A empresa que fez a restauração que devia dar conta disso. E os órgãos de fiscalização do património também.
    E já que sumiu que tal colocar outra placa com esses dizeres? Pelo menos resolvia parcialmente o problema.
    A essa hora sendo placa de bronze já era.

    ResponderExcluir
  7. É no mínimo bizarro uma cidade histórica não cuidar do seu patrimônio. Sou Historiador, já lecionei na rede pública e pude observar que nossos jovens estão carentes de informações referente a nossa História. Outra bizarrice é com o tanto de tecnologias que temos a nosso favor, que na maioria são utilizadas para futilidades ainda ficamos na escuridão da ignorância histórica. Nossos Imperadores Pedro I e posteriormente seu filho, Pedro II que na minha modesta opinião foi nosso melhor governante, já estiveram em nossa cidade e não há sequer uma menção sobre o fato... Triste, muito triste... essa é nossa "Pátria Educadora"!! Seu blog é fantástico Valmir, Parabéns!!!!

    ResponderExcluir