sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Há 60 anos era inaugurado o CEAL

 
Às 10 horas de um domingo ensolarado, 20 de setembro de 1964, portanto há exatos 60 anos, era inaugurado em nossa cidade o Conjunto Educacional Almirante Lamego (Ceal), hoje denominado Escola de Ensino Médio Almirante Lamego (EEMAL).
A solenidade realizada há seis décadas contou com a presença do governador Celso Ramos, além de autoridades estaduais e municipais, políticos, professores e alunos, bandas de músicas e de uma enorme multidão que prestigiou o importante evento.
A Escola de Ensino Médio Almirante Lamego (EEMAL) em foto atual.
Origem do CEAL é o Ginásio Lagunense
O Conjunto Educacional Almirante Lamego tem suas origens no antigo Ginásio Lagunense, que funcionou em prédio municipal na rua Voluntário Fermiano, onde hoje está instalada a Biblioteca Municipal Romeu Ulysséa.

Antigo Ginásio Lagunense, hoje Biblioteca Pública Municipal Romeu Ulysséa, situada na rua Voluntário Fermiano. Origem do Conjunto Educacional Almirante Lamego (CEAL).

O Ginásio Lagunense foi inaugurado em 16 de abril de 1932, com a primeira aula ministrada pelo seu diretor e professor major reformado do Exército Manoel Grott.
Esse estabelecimento de ensino secundário foi fundado na gestão do prefeito José Fernandes Martins.
Em 1949 agregou a Escola Técnica de Comércio Lagunense e um ano depois a Escola Normal Brito Peixoto. Os dois cursos em nível de segundo grau facultavam a inscrição para os vestibulares das universidades do país.

Promessa de campanha 
Em 1960, em campanha política ao governo do estado pelo Partido Social Democrático (PSD), o candidato Celso Ramos visitou Laguna e um correligionário de seu partido e amigo, major Pompílio Bento o levou a conhecer as instalações do Ginásio Lagunense, de renome em todo o país.
O candidato Ramos se impressionou com as precárias instalações do prédio e de como, mesmo assim, conseguia absorver a quantidade de alunos dos três cursos mantidos e ser referência em todo o Brasil.
Prometeu que se fosse eleito, dotaria Laguna de um moderno estabelecimento escolar.

Eleito, cumpriu a promessa
Eleito meses depois para o mandato de 31/01/61 a 31/01/66, Celso Ramos cumpriu a promessa e em 17 de março de 1964, pela Lei n° 3.408 o Governo de Santa Catarina encampou o Ginásio Lagunense, criando o Conjunto Educacional Almirante Lamego (CEAL), ainda funcionando no velho prédio da rua Voluntário Fermiano.

Governador (31/01/61 a 31/01/66) de Santa Catarina Celso Ramos. Imagem: Wikipédia

O CEAL recebeu todo o acervo do antigo Ginásio, e manteve nos cargos funcionários, diretores e professores.
O diretor e professor Ruben de Lima Ulysséa continuou como diretor-geral do educandário, enquanto o professor Jairo Ulysséa Baião assumia o recém-criado Curso Científico, com a denominação de Colégio Secundário José Fernandes Martins.
O Curso Normal recebeu a denominação de Colégio Normal Brito Peixoto, tendo como diretor o professor Abelardo Calil Bulos; e o Colégio Comercial Lagunense (CCL), de cursos técnicos ficou sob a direção do médico Paulo Carneiro, tendo o professor Édio de Oliveira como vice-diretor.
Iniciou com um total de 600 matrículas de alunos.

Busto do Almirante Jesuíno Lamego da Costa (Barão da Laguna), defronte ao prédio do CEAL, inaugurado em solenidade cívica realizada em 16 de abril de 1982.

Criada a Fundação Educacional de Santa Catarina, o Colégio Comercial Lagunense (CCL), foi desmembrado do CEAL passando a ser subordinado a nova entidade educacional.
O CCL funcionará nas mesmas instalações do CEAL, mas somente no período noturno.
Já no início da década de 1970, com a criação do Curso Núcleo Comum/Integrado assumiu como diretor do 2° grau o advogado e professor Ronaldo Pinho Carneiro.
Há alguns anos, nosso pesquisador e historiador Antônio Carlos Marega recolheu algumas sementes da chamada “Árvore de Anita”, hoje desaparecida e que ficava situada no Jardim Calheiros da Graça, na Praça Vidal Ramos e plantou-as no quintal de sua casa. 
Uma muda da figueira, doada pelo Marega, foi levada pela professora Márcia Brígido e plantada no jardim defronte a hoje Escola de Ensino Médio Almirante Lamego - CEAL, numa pequena solenidade reunindo estudantes. É a árvore da foto.
Portanto leitor, professores, funcionários e alunos, quando passarem pelo local fiquem sabendo que a figueira plantada ali é filhota da “Árvore de Anita”.
Com a reforma de Ensino de 1998, implantada pelo Conselho Nacional de Educação, o CEAL passou a atender somente alunos do Ensino Médio.
Através da Portaria E/0017 SED, de 28 de março de 2000, altera sua denominação e passa a ser chamado de Escola de Ensino Médio Almirante Lamego (EEMAL). 

A construção do CEAL
A área escolhida para a construção do prédio da nova Escola estadual foi a sede e o campo de futebol do Clube de Regatas Almirante Lamego, cujos sócios cederam o terreno com a condição expressa que o educandário recebesse o nome do patrono dessa entidade social, náutica e esportiva. O que foi cumprido.

Estádio do Campo do Lamego (Clube Recreativo e Náutico), em 1933. Foto feita do alto do Morro do Rosário. Nessa área será inaugurado em 1964 o Conjunto Educacional Almirante Lamego (CEAL). A frente do muro é hoje a rua Celso Ramos. Na lateral esquerda é atualmente a avenida Colombo Machado Salles e à direita as casas do Campo de Fora, na rua Almirante Lamego.

O CEAL em sua inauguração ocupava uma área de 1.817m2, dispondo de 17 salas.
Os gastos com sua construção foram de Cr$ 37.557.390,00 (Trinta e sete milhões, quinhentos e cinquenta e sete mil e trezentos e noventa cruzeiros).
As obras do CEAL foram iniciadas no mês de outubro de 1962 e acompanhadas atentamente por uma comissão de alunos da União Estudantil Lagunense (UEL).
Em 1963, em visita às obras de construção do futuro Conjunto Educacional (hoje Escola de Ensino Médio) Almirante Lamego (CEAL), uma comissão de alunos da União Estudantil Lagunense (UEL).
Da esquerda p/ direita: Jorge Speek, João Carlos Pacheco, Oclândio Siqueira, Jorge Abrahão, Inezita Silva e Lúcia Baumgarten.
Na foto, da esquerda p/ direita: Odilo Afonso Lindermann Jr., Francisco Carlos Zanella Nunes, Carlos Augusto Baião da Rosa, Jorge Sidney Abrahão, Jorge Speck, Juarez Fonseca de Medeiros.
De terno e gravata Pedro Floriano Jr. (Pepê), seguido por João Carlos Pacheco, Inezita K. Silva, Myrna Bianchini, Selva Salles Teixeira, Maria Adelaide Salles, Lúcia Cabral Baumgarten e Oclândio Siqueira.

A construção do então Conjunto Educacional Almirante Lamego – Ceal, na década de 60, sendo vistoriada pela Diretoria da União Estudantil Lagunense (UEL). Fotos acervo Oclândio Siqueira.

O projeto arquitetônico foi do arquiteto Jaime Machado, com a construção executada pela empresa Rizzo Ltda, sob a fiscalização do engenheiro Jacop Teixeira Tasso, da secretaria Estadual de Viação e Obras Públicas.
Desde então o Ceal passou por diversas reformas, melhorias e ampliações

A edificação, ao longo do tempo, foi bastante ampliada e passou por muitas transformações, tanto internamente como externamente, além de adaptações. Foto: Acervo do autor.  

A inauguração
Eram pontualmente 10 horas da manhã do domingo 20 de setembro de 1964, quando a comitiva do governador Celso Ramos constituída, como então se dizia, por autoridades civis, militares, eclesiásticas, professores, alunos e convidados, se dirigiram ao local que seria entregue à comunidade lagunense.
Presença de deputados estaduais, secretários estaduais e vereadores.

Pátio em frente ao CEAL, já com a Bandeira Nacional hasteada, mostra a multidão que compareceu a inauguração. Ao fundo o Morro da Glória. Foto: Jornal O Estado de 22 de setembro de 1964.

Uma multidão se postou defronte ao prédio, se estendendo até a rua em frente, que meses depois receberá o nome do governador Celso Ramos.
 
Oradores
Vários oradores se fizeram ouvir na ocasião, entre eles a aluna Dulce Michels; o estudante Juarez Fonseca de Medeiros; o professor Oswaldo Ferreira de Melo, assessor de Educação e Cultura do Plano de Metas do Governo (Plameg); o professor Ruben de Lima Ulysséa, primeiro diretor do CEAL; o prefeito da Laguna, médico Paulo Carneiro; e por fim falou o governador Celso Ramos.
Jornal O Estado 23 de setembro de 1964.
A Bandeira Nacional foi hasteada ao som do Hino Nacional Brasileiro. Logo após a estudante Dulce Michels apresentou uma biografia do patrono do estabelecimento, o lagunense Jesuíno Lamego (Barão da Laguna).
Pelo microfone, vários oradores enalteceram a obra realizada, entre eles o estudante Juarez Fonseca de Medeiros, que em nome do corpo discente congratulou o governador Celso Ramos pela construção da obra.
Jornal O Estado 22 de setembro de 1964.
O aluno Juarez juntamente com o professor e diretor Ruben de Lima Ulysséa entregaram duas lembranças ao governador em nome do corpo discente e docente, respectivamente.
Falou o deputado por Laguna Armando Calil Bulos dizendo que o funcionamento do CEAL era uma prova do impulso que tomou o ensino público no estado catarinense.
Bulos, autor da célebre frase “A Laguna de tanto ser esquecida aprendeu a esquecer”, também realçou que a conquista e conclusão da obra foi uma vitória do povo da “Terra de Anita” e exemplo da pontualidade de um governante em dia com as grandes metas do ensino.

O discurso do médico e prefeito Paulo Carneiro
Um dos oradores mais aplaudidos daquela solenidade foi o médico e prefeito da Laguna Paulo Carneiro.
O primeiro mandatário lagunense, dirigindo-se ao governador, assim se manifestou em letras poéticas, mas aproveitando a fala para dar uma beliscada nos partidos de oposição, a UDN e o PTB. 
Pelo valor histórico, é importante reproduzir o discurso neste espaço: 

“Sinto neste momento, tremenda responsabilidade sobre os meus ombros, qual seja a de dizer da gratidão deste povo.
Sei que neste momento todos os corações palpitam num ritmo de emotividade, como que a se perguntarem se o prefeito vai dizer o que sentimos e que, nós o povo, queremos que seja dito. É difícil a missão.
Dizer da gratidão é quase impossível. Às vezes uma simples lágrima diz mais do que seria capaz de expressar a mente humana.
Nas minhas divagações durante a inatividade a que me conduziu uma cruel enfermidade, eu me perguntava, muitas vezes, onde fostes buscar tanta energia, tanta força para, em três anos e pouco de governo, construir uma obra que, além de merecer aplausos de nós outros, os vossos amigos, merece a admiração e o respeito daqueles que em trincheiras opostas, esperavam que nada pudésseis realizar por Santa Catarina.
Estes, hoje aqui em Laguna, estão ao nosso lado, ao lado dos vossos correligionários para, neste magnífico clima de admiração e democracia vos tributar a sua homenagem pelo muito que fizestes pela Laguna.
Eles não regateiam aplausos. Eles vieram espontaneamente. Nós os seus amigos nos sentimos compensados”.

Oswaldo Ferreira de Melo em seu discurso referiu-se à importância daquela inauguração para o aprimoramento da cultura e educação da juventude, “que irá oferecer sua contribuição ao progresso do nosso estado”.
O governador Celso Ramos iniciou sua fala dizendo de sua alegria por encontrar-se novamente na velha Laguna, “e mais ainda por saber que nossas obras estão aqui sendo reconhecidas, o que pode se perceber através da grande manifestação de apreço com que fui recebido nesta histórica cidade”.

Na foto superior, a multidão postada em frente ao CEAL. Na foto de baixo o momento em que o governador Celso Ramos corta a fita inaugural à entrada principal do estabelecimento escolar. Foto: Jornal O Estado de 24 de setembro de 1964.

Em seguida o governador cortou a fita simbólica à entrada da porta principal do estabelecimento, sob calorosa salva de palmas da multidão presente, entrando logo após toda a comitiva e o público para conhecer o estabelecimento escolar e suas instalações.

A Programação continuava
A solenidade foi rápida, porque uma hora depois, com início às 11 horas, estava marcada a inauguração da estátua e Monumento de Anita Garibaldi, na então Praça da Bandeira (hoje Praça República Juliana).
Para ler sobre esta solenidade clique Aqui
Uma sala no Museu Anita Garibaldi também levou o nome do governador, com descerramento de seu retrato à parede pela primeira-dama catarinense Edith Gama Ramos. 

Recursos aos Sindicatos
O governador ainda fez entrega de recursos a três sindicatos de nossa cidade, sendo eles o de Trabalhadores da Indústria e Madeira; dos Estivadores; e dos Arrumadores. 

Desfile escolar
E a programação dos eventos continuou logo após, com desfile na rua Conselheiro Jerônimo Coelho de vários estabelecimentos escolares.
Desfilaram o Colégio Stella Maris, os Grupos Escolares Comendador Rocha, Jerônimo Coelho e Ana Gondin, além das Sociedades Musicais União dos Artistas e Carlos Gomes que abrilhantaram todos os eventos realizados naquela ensolarada manhã de domingo.

Almoço no Clube Blondin e despedida
Encerrando a programação, um almoço foi oferecido às autoridades e convidados nas dependências do Clube Blondin, onde discursaram mais uma vez o médico e prefeito Paulo Carneiro e o governador Celso Ramos.
Ao término do ágape, o governador e comitiva retornaram à capital do estado.

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Estátua de Anita Garibaldi na Laguna foi inaugurada há 60 anos

 
Na próxima sexta-feira, 20 de setembro, fará 60 anos que a Estátua de Anita Garibaldi foi inaugurada na Laguna na então Praça da Bandeira, hoje República Juliana.
O movimento efetivo para construção de uma Estátua de Anita Garibaldi na Laguna começou em 1955, mas a efetivação do projeto somente foi realizada nove anos depois.
Foram anos de esforços de uma comissão para concretizar o projeto.
O escultor selecionado em concurso foi o gaúcho Antônio Caringi.
Era exigência do edital do concurso que a obra mencionasse a ação de Anita no Brasil e na Itália, mostrando cenas como seu encontro com Garibaldi, o batismo de fogo nos combates de Imbituba e na Barra da Laguna, a travessia do Rio Canoas, a Retirada de Roma e a sua morte em Mandriole, na Itália. O que foi parcialmente feito.

Depois de 115 anos da morte de Anita Garibaldi nos campos da Itália, foi que a heroína ganhou uma estátua na Laguna, sua terra natal.
A inauguração do monumento foi em 20 de setembro de 1964, na então Praça da Bandeira (hoje República Juliana). Portanto, há exatos 60 anos na próxima sexta-feira.

A ideia do Monumento surgiu no começo do século XX
A ideia de uma estátua em homenagem à heroína lagunense numa praça na Laguna  vem de longe, do início do século XX.
Foi através das memórias de Giuseppe Garibaldi ditadas a Alexandre Dumas e lançadas em livro em 1882, que o público começou a tomar conhecimento dos feitos e da vida de Anita Garibaldi.
Trechos traduzidos para o português começaram a ser publicados na imprensa brasileira, ainda no século XIX.
Laguna desde sempre homenageou sua heroína, tão logo começou a tomar conhecimento dos seus feitos.
As homenagens a Anita Garibaldi não começaram há poucos anos, como alguns pensam e disseminam por aí.
Vejamos:

O semeador de estátuas
O catarinense José Boiteux era estudante de Medicina no Rio de Janeiro, curso não concluído; e depois acadêmico de Direito, envolvido nas lutas republicanas e abolicionistas.
Mais tarde foi jornalista, pesquisador e desembargador e liderou a criação do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.
Empenhou-se desde cedo em erguer monumentos a catarinenses ilustres e bem por isso ficou conhecido como “semeador de estátuas”.
Foi uma das lideranças de uma Comissão para erguer uma Herma de Anita Garibaldi em Florianópolis, o que aconteceu em 1919, na Praça Getúlio Vargas.

Laguna liberou verba para Herma de Anita em Florianópolis
Para isso, em 10 de junho daquele ano, através da Lei nº 323, o então superintendente (prefeito) da Laguna, jornalista Antônio Bessa, autorizou um auxílio de 100$000 (cem mil réis) à Comissão Organizadora.
José Boiteux aqui também esteve em 1920 quando do replantio da chamada Árvore de Anita, nascida na quilha do abandonado barco Seival.
Seu irmão Henrique Boiteux escreveu “Anita Garibaldi – A Heroína Brasileira”, publicado pelo Anuário de Santa Catarina em 1898, reeditado em 1906 e em 1935 pela Imprensa Naval, no Rio de Janeiro.
É dele também, editado pela mesma Imprensa Naval em 1927, “A República Catharinense – Notas para a sua História”, que posteriormente, em 1985, recebeu uma edição fac-símile através do patrocínio da Xerox do Brasil/Governo de Santa Catarina. Eis um dos trabalhos mais importantes sobre o tema.

Um clube na Laguna recebeu o nome de Anita Garibaldi ainda no século XIX
Mas antes disso, Laguna já homenageava sua filha ilustre com a inauguração da Sociedade Recreativa Anita Garibaldi, no bairro Campo de Fora, em 30 de novembro de 1899.
Clube Anita Garibaldi, e sua primeira sede inaugurada em 30 de novembro de 1899, na rua Almirante Lamego.
Poucos anos depois, em 8 de julho de 1906 foi inaugurado em seus salões, em grande solenidade e baile, um retrato a óleo da catarinense, pintado pelo artista plástico César Burlamaqui.
O artista também foi o autor de um projeto de Monumento a Anita Garibaldi que não chegou a ser executado.
Para isso arrecadou-se numerários para a obra, através de quermesses e bailes.

O 1° projeto para um Monumento à heroína e o Clube em Urussanga
No mesmo ano de 1906 surgia em Urussanga o Clube Anita Garibaldi. A sociedade foi efêmera, mas a Praça central naquele município continua até hoje batizada com o nome da heroína.
A primeira diretoria do Clube ficou assim constituída:
Presidente: Pedro Bez Batti
Vice-presidente: Francisco de Cesaro
1° Secretário: Fernando Bainha
2° Secretário: Lucas Bainha
Tesoureiro: Angelo A. Nichele
Procuradores: Jacomo de Pellegrin, César Cechinel, Attilio Bainha, Antônio Bez Fontana, Sebastião Bez Fontana e Pedro de Bettio. 

No mesmo ano surgia no Rio de Janeiro uma comissão para erguer uma estátua de Anita Garibaldi na então Capital Federal.
Jornal O Albor 8 de setembro de 1906 lança campanha.
Bem por isso, o jornal O Albor de 8 de setembro de 1906 lança pela primeira vez em nossa cidade uma sugestão/apelo para que o mesmo fosse feito por aqui: 

“Quando é que nós, outros lagunenses, nos lembraremos de honrar com um monumento a memória dessa heroína filha da nossa terra, seguindo o exemplo daqueles que pela sua patriótica iniciativa nos apontam o nosso dever?”

Em 15 de setembro de 1906 o jornal O Albor noticiava que a Sociedade Recreativa Anita Garibaldi havia tomado a iniciativa mandando levantar um monumento à heroína, na então Praça Conselheiro Mafra (hoje República Juliana).
Jornal O Albor 15 de setembro de 1906.
O esboço do projeto já até existia, elaborado por A. César Burlamaqui e era constituído de "Uma coluna oitava de dez metros de elevação, rematando, no cimo do capitel, por um bloco donde emerge o busto de Anita com a seguinte inscrição: “Salve a Heroína Lagunense”.
Na base da coluna sobressaia uma concha de cujo centro ressaltava o busto de José Garibaldi, ladeado de louros presos em uma âncora e guardado por dois índios em atitude defensiva.
O porque dos dois índios eu não entendi.
O pedestal assentava numa fundação de três metros quadrado e trinta centímetros de altura, circundado de uma escadaria de quatro degraus, defendida por um gradil.

Cartões-postais, nome de rua, busto em bronze e escritos 
Ainda no mesmo ano de 1906, cartões-postais com o retrato da heroína são enviados às autoridades e jornais do país por José Boiteux.
No Rio de Janeiro, em 1907, a rua Capitão Salomão passa a denominar-se Anita Garibaldi. Na via morava o deputado catarinense Victorino de Paula Ramos.
Em 1910 um busto em bronze da heroína é inaugurado no Jardim Público.
Em 1912, o catarinense C. S. Marques Leite, sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, publicou pela Papelaria Mendes, do Rio de Janeiro, como evocação histórica, um curto, mas importante trabalho sobre Anita Garibaldi.
Nele, faz campanha pelo erguimento de um monumento a heroína Anita:

 “O Brasil está na obrigação de erigir-lhe um monumento; e é por essa dívida de honra que clama a República.
O melhor ensinamento para o povo é o dos monumentos, e aos governos cabe essa missão, perpetuando, pelas gerações em fora, no bronze. Na pintura, por todos os meios evocativos do engenho humano, as páginas de ouro e os vultos helênicos da terra pátria!
Um povo sem monumentos é um povo sem história, é um povo selvagem, errante, primitivo, pronto a ser absorvido pelas conquistas!
Povos que não cultuam os seus grandes fatos históricos e a memória de seus vultos maiores, retrogradam na marcha da civilização”. 

O Obelisco em 1939
Na Laguna, em 1939, quando do centenário da República Catharinense, um Obelisco foi inaugurado na então Praça Conselheiro Mafra (depois Praça da Bandeira e hoje República Juliana) para relembrar a data. 
Para ler matéria sobre a inauguração do Obelisco já publicada neste Blog, clique aqui
Em 1949, no centenário da morte de Anita Garibaldi, foi decretado feriado estadual, com várias atividades no Rio de Janeiro, Florianópolis e Laguna que enalteceram a heroína.
Em nossa cidade, sete dias foram dedicados à memória da filha ilustre, no que foi denominada “A Semana de Anita”.

Surge os municípios de Anita Garibaldi e Anitápolis
Em 1961, dois novos municípios foram criados em Santa Catarina, gestão do governador Celso Ramos.
Anita Garibaldi, distrito desmembrado de Lages; e Anitápolis, emancipado do município de Santo Amaro da Imperatriz receberam denominações que lembram o home da heroína.

Laguna ganha Monumento e Estátua de Anita Garibaldi
Foram anos de esforços de uma comissão para concretizar o projeto.
O objetivo era inaugurar o monumento em 17 de abril de 1956, quando das comemorações do primeiro centenário da Comarca da Laguna. Mas a inauguração não aconteceu.

A 1ª Comissão
Em 10 de agosto de 1955 numa Assembleia Geral Ordinária realizada em sessão no Clube 12 de Agosto, na capital do estado, foi montada uma Comissão Pró-Monumento à Anita Garibaldi, que ficou assim constituída:

Presidente: Desembargador Henrique da Silva Fontes
1º Vice-Presidente: Oswaldo Rodrigues Cabral
2º Vice-Presidente: Luiz Oscar de Carvalho
Secretário-Geral: Tenente Ayres Melchiades Ulysséa
1º Secretário: Professor João dos Santos Areão
2º Secretário: Professor Hélio Barreto dos Santos
Tesoureiro: Geral: General Paulo Vieira da Rosa
1º Tesoureiro: Capitão Ângelo Crema
2º Tesoureiro: Tenente Andrelino Natividades da Costa
Orador: Oswaldo Bulcão Viana

Conselho Consultivo: Julibio Jupi Barreto, Luiz Sanchez Bezerra da Trindade, Carlos da Costa Pereira, Tenente Cel Sylvio Pinto da Luz, Armando Calil Bulos, Wolney Colaço de Oliveira, Acary Silva, Octávio Renê Lebarbechon, Amir Mussi, Roberto Bessa, Thales Ulysséa, João Nicolazzi, Edgar da Cunha Carneiro, João Francisco da Rosa, Aroldo Joaquim Camillo, Jupy Ulysséa, José Baião, Antônio Batista Júnior, Major Jaldyr Bhering Faustino da Silva, Tenente Octávio Ulysséa e Major José Lipércio Lopes.

Comissão de Publicidade: Othon Gama D’Éça, Tenente Ildefonso Juvenal, Zedar Perfeito da Silva, Tenente Anchelino Natividade da Costa, Osmar Cook, Walter Piazza, Juvenal Melchiades de Souza, Waldir Grisard, Martinho Calado Júnior e Paulo Henrique Blasi.

Vogais: Hélcio Góes, Irê Ulysséa, Manoel Cabral Pinho, Silvio Alano, José de Assis Alves, Antônio Quirino dos Santos, Darcy Pacheco, Mário Ribas Maciel, Alfredo Flores da Silva, José Antônio Silva Carvalho, Oswaldo da Silva Rollin e Walter Pinho da Silva.

A 2ª Comissão
Em 30 de junho de 1956, foi organizada uma nova Diretoria da Pró-Comissão cuja nominata é a seguinte: 

Presidente: General Paulo Vieira da Rosa
1º Vice-Presidente: Oswaldo Rodrigues Cabral
2º Vice-Presidente: Luiz Oscar de Carvalho
Secretário-Geral: Tenente Ayres Melchiades Ulysséa
1º Secretário: Aroldo Joaquim Camillo
2º Secretário: Octávio Renê Lebarbenchon
Tesoureiro: Roberto Bessa
1º Tesoureiro: Capitão Ângelo Crema
 Tesoureiro: Acary Silva
Orador: Oswaldo Bulcão Viana

Conselho Consultivo: Tupy Barreto, Coronel Mário Guedes, Julibio Jupy Barreto, Hélio Barreto dos Santos, João Francisco da Rosa, Major José Lupércio Lopes e José Baião.

Comissão de Publicidade: Tenente Andrelino Natividade da Costa, Juvenal Melchiades de Souza, Zedar Perfeito da Silva e Paulo Henrique Blasi.

Projetos e verbas
O deputado Wanderley Júnior apresentou na Câmara Federal projeto de lei prevendo a destinação de 1 milhão de cruzeiros para a obra.
“Anita é uma glória do Brasil. Precisamos homenageá-la com a mesma devoção com que os estrangeiros o fazem”, justificou da tribuna o deputado catarinense.
O projeto de lei foi aprovado na sessão de 5 de outubro de 1956.

Presidente Juscelino Kubitschek autorizou verba
A lei nº 3.098, autorizando a concessão do valor para a obra, foi assinada pelo presidente Juscelino Kubitschek.
Logo em seguida foi publicado o edital do concurso para seleção do escultor do monumento.
O escultor escolhido foi o gaúcho Antônio Caringi, o mesmo que executou, entre outras obras, a estátua do Laçador em Porto Alegre.
O batismo de fogo em Imbituba.
A travessia do Rio Canoas
O encontro com Garibaldi na Fonte d'água.

Pelo projeto, na base do Monumento deveria haver um local para guardar os restos mortais da heroína, quando fossem transportados em breve futuro da Itália para o Brasil. O jazigo foi construído, como pode-se se constatar na foto.
Jazigo construído no Monumento de Anita Garibaldi na Laguna para receber os restos mortais da heroína que sepultados na Itália.
Mas o translado até hoje não aconteceu e dificilmente irá se concretizar, apesar de campanhas que foram encetadas ao longo do tempo, como pode-se ler  em matéria já publicada neste Blog.

Recursos não foram liberados pelo Governo Federal
Mas o Ministério da Fazenda nunca liberou os recursos. Conforme correspondência que a Comissão enviou aos jornais em 1963, o processo de liberação entrou na Diretoria Geral de Despesas Públicas “e de lá não mais saiu”.
Placa afixada no Monumento com os nomes dos membros da Comissão Executiva: Governador Celso Ramos, General Paulo Vieira da Rosa, Capitão Ayres Melchiades Ulysséa, e doutores Aroldo Joaquim Camilo, Oswaldo Rodrigues Cabral e Ângelo Novi.
Governador Celso Ramos liberou 2 milhões de cruzeiros
Foi quando o governador catarinense Celso Ramos interferiu e liberou a quantia de 2 milhões de cruzeiros dos cofres do estado.
Aprovada pelo Legislativo Estadual, foi sancionado e transformado na Lei nº 3.335, de 27 de novembro de 1963.
Em sua justificativa ao Projeto de Lei enviado à Assembleia Legislativa o governador Celso Ramos assim se manifestou: 

“Enquanto em países como a Itália, França, Argentina e Uruguai erguem-se importantes monumentos que perpetuam o nome e os feitos dessa notável heroína, expoente de liberdade, não é justo que esqueçamos que ela também é uma glória do Brasil.
Erigindo um monumento em memória de Anita Garibaldi, na cidade da Laguna, sua terra natal, estarão governo e o povo catarinense, contribuindo para reparar um esquecimento injustificável”.

Na mesma data da Estátua foi inaugurado o Ceal
A estátua foi inaugurada em 20 de setembro de 1964, dentro da programação alusiva aos 115 anos da morte de Anita.
O guindaste  Lorain pertencente ao nosso porto, foi utilizado para os trabalhos de içamento.
O Monumento de Anita Garibaldi ainda sem as correntes de proteção.
Dentro das solenidades ainda constou a inauguração do Conjunto Educacional Almirante Lamego (CEAL), conferência do historiador gaúcho Dante Laytano, declamação da poesia “Retrato de Anita”, pela poetisa catarinense Maura de Senna Pereira, apresentação do Grupo Folclórico Italiano do Paraná, e do Centro de Tradições Gaúchas 35 de Porto Alegre, além da inauguração da Sala Governador Celso Ramos, no Museu Anita Garibaldi.
Governador Celso Ramos discursa em 20 de setembro de 1964 por ocasião da inauguração da Estátua de Anita Garibaldi. Jornal O Estado de 23 de setembro de 1964
O Obelisco inaugurado em 1939 naquele local, foi retirado semanas antes, no início do mês de agosto e transferido para uma pequena área no início da rua Almirante Lamego no bairro Campo de Fora, hoje denominada lei nº 2.277/2022, como Praça União dos Artistas. 

Eis a programação do evento, publicada no jornal O Albor:
Um dos discursos mais aplaudidos foi feito na abertura da cerimônia, às 11 horas pelo presidente da Pró-Comissão pelo Monumento, General Paulo Vieira da Rosa.
Pela beleza e riqueza do enunciado, além das palavras que continuam atuais, transcrevo-o a seguir:

 Anita Garibaldi

General Paulo Vieira da Rosa

 Vivemos uma época de profundo desprezo pelo passado. O egoísmo humano aguçado pela intranquilidade da ameaça nuclear, vem tornando o homem estupidamente materialista, brutal e cínico.
Sente-se isso nos processos políticos, nas emoções da arte, nas explosões da inteligência, no formalismo das questões espirituais.
Em meio dessa glacial da civilização, obnubilada pelo desenvolvimento assustador da ciência e da técnica, há o trágico da transformação de cada invenção descoberta em arma de destruição.
Por isso o passado onde o ideal era a motivação da luta e posto de lado, por mais grandioso que haja sido.
Vivemos somente o presente, evadindo-nos da responsabilidade do futuro pelo alhearmo-nos às lições do passado.
Ora, em breve seremos também passado. E o que dele ofereceremos aos nossos descendentes?
As sombrias e materiais pirâmides do Nilo ou a luminosidade dos grandes pensadores dos modestos báculos à mão.
Erostrato queimando em Éfeso o templo de Diana, ou o Código Romano que argamassou um mundo?
Talvez estejamos legando coisas trágicas, como a brutalidade das lutas, o dantesco da guerra nuclear é, pior que tudo, uma noite medieval de escravidão totalitária.
No panorama brasileiro há uma alameda orlada de bronzes de homens e mulheres que dignificaram o país. Foram fixados na estatuária nacional, ao longo da história com uma linha comum de amor e verdade.
Estão ali, para que as gerações ao passarem por ela, dá infância   moderna se embebam no exemplo que esses vultos nos dão.  São a experiência do passado.
Nessa alameda havia um local vazio.
Enchemo-lo agora.
Era destinado àquela que simbolizou o amor à liberdade e por ela morreu. Anita Garibaldi, heroína de Dois Mundos.
Tangeu-se, é certo, mais o amor ao heroico nicense do que os motivos que a levaram à glória, mas foi em holocausto à liberdade que ela se finou na Itália. O amor sempre leva às causas da liberdade, o ódio, às da escravidão.
Modesta de origem, egressa de quietude de um povoado praiano, subiu ao palco da história, igualou-se aos heróis, a muitos deles sobrepujando, no amor ao seu bravo companheiro e na devoção pela liberdade.
Bravo entre os bravos, disseram os centauros farroupilhas, após os combates das Forquilhas.
Foi lutadora, foi mártir. Nem mesmo faltou quem tentasse denegrir-lhe a glória. Perseguiram-na, prenderam-na, exilaram-na, insultaram sua memória. Olvidados os nomes de seus inimigos nas sombras da história, mas iluminando esta ficou a caipirinha heroica.
Tem estátuas em Ravena onde dorme Dante; em Nice onde nascera o esposo amado; em Roma, a eterna; em Porto Alegre onde surgira a epopeia Farroupilha; tem busto em Belo Horizonte, São Paulo e Tubarão; tem medalhão em Florianópolis.
Mas aqui, no chão da Laguna de Santo Antônio dos Anjos, só Deus lhe erguera o monumento carinhoso da figueirinha do Seival.
Agora, não.
Está aqui no bronze magnífico de Caringi.
Amanhã, lagunenses, nós o entregaremos a vossa guarda.
Honrá-lo como o símbolo do vosso amor à liberdade.


A poesia de Maura Senna Pereira declamada quando da inauguração da Estátua em 1964
Abaixo a poesia “Retrato de Anita”, declamado à ocasião do evento pela sua autora, a poetisa catarinense Maura de Senna Pereira.
A poesia consta de seu livro “A Dríade e os Dardos”, lançado no Rio de Janeiro em 1978:

Retrato de Anita

Maura de Senna Pereira

“É filha de rei
esta que vamos celebrar?
Vestiu-se de ouro e prata
teve pérolas nos dedos
colar de água-marinha
axorcas e tiaras
teve manto de rainha?

Não é filha de rei
nem mulher de grão-senhor.
Não cintilou de pedrarias
e não nasceram em castelo
os frutos do seu amor.

É uma filha do povo
e mulher de espadachim.
Usou vestido singelo
e cinto de couro cru.
Escandalizou o seu burgo:
Fugiu com um louro guerreiro
os pés morenos afoitos
no peito uma rosa brava.
Não teve filho em castelo
mas foi mãe de generais.
Não teve reis aos seus pés
mas tem o culto dos povos.

É a Heroína de Dois Mundos
que vamos celebrar.

Lutou no convés dos navios
pela República Juliana.
Lutou de espada na mão
pela unidade italiana.
Passou fome, passou frio
dormiu noites ao relento.
Na própria terra natal
caiu um dia prisioneira
e julgou morto seu amado.
Ah, figura da tragédia:
face bela transtornada
um archote na mão pálida
espiando rostos mortos.

Mas o amado não achou
esperança renasceu
toda épica fugiu
sobre um dorso de um cavalo
cabelos soltos ao vento.
Vinte léguas até Lages
a heroína percorreu.
(Ao vê-la surgir da noite
galopando em seu corcel
os guardas fogem de espanto:
Era centauro? Aparição?)
O coração ardente batia
sob a lua fria da serra
e com o primeiro filho no ventre
moça guerreira corria
para seu amor encontrar

É a musa de liberdade
que vamos celebrar.

Eis então que seu rosto
não mais o vemos contido em nenhum quadro
e sim transfigurado
repartido pelo universo.
Os cabelos parecendo faíscas
presos ao solo europeu.
O queixo fincado na barra da Laguna.
Profundos olhos, rasgados mundos
brilhando como estrelas
passados sobre os povos.

Oh, e os lábios se abriram como outrora
para invectivar
aquele que oprime seu semelhante
e aquele que se esconde na hora de lutar.

É Anita Garibaldi
que vamos celebrar”.