sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Há 60 anos era inaugurado o CEAL

 
Às 10 horas de um domingo ensolarado, 20 de setembro de 1964, portanto há exatos 60 anos, era inaugurado em nossa cidade o Conjunto Educacional Almirante Lamego (Ceal), hoje denominado Escola de Ensino Médio Almirante Lamego (EEMAL).
A solenidade realizada há seis décadas contou com a presença do governador Celso Ramos, além de autoridades estaduais e municipais, políticos, professores e alunos, bandas de músicas e de uma enorme multidão que prestigiou o importante evento.
A Escola de Ensino Médio Almirante Lamego (EEMAL) em foto atual.
Origem do CEAL é o Ginásio Lagunense
O Conjunto Educacional Almirante Lamego tem suas origens no antigo Ginásio Lagunense, que funcionou em prédio municipal na rua Voluntário Fermiano, onde hoje está instalada a Biblioteca Municipal Romeu Ulysséa.

Antigo Ginásio Lagunense, hoje Biblioteca Pública Municipal Romeu Ulysséa, situada na rua Voluntário Fermiano. Origem do Conjunto Educacional Almirante Lamego (CEAL).

O Ginásio Lagunense foi inaugurado em 16 de abril de 1932, com a primeira aula ministrada pelo seu diretor e professor major reformado do Exército Manoel Grott.
Esse estabelecimento de ensino secundário foi fundado na gestão do prefeito José Fernandes Martins.
Em 1949 agregou a Escola Técnica de Comércio Lagunense e um ano depois a Escola Normal Brito Peixoto. Os dois cursos em nível de segundo grau facultavam a inscrição para os vestibulares das universidades do país.

Promessa de campanha 
Em 1960, em campanha política ao governo do estado pelo Partido Social Democrático (PSD), o candidato Celso Ramos visitou Laguna e um correligionário de seu partido e amigo, major Pompílio Bento o levou a conhecer as instalações do Ginásio Lagunense, de renome em todo o país.
O candidato Ramos se impressionou com as precárias instalações do prédio e de como, mesmo assim, conseguia absorver a quantidade de alunos dos três cursos mantidos e ser referência em todo o Brasil.
Prometeu que se fosse eleito, dotaria Laguna de um moderno estabelecimento escolar.

Eleito, cumpriu a promessa
Eleito meses depois para o mandato de 31/01/61 a 31/01/66, Celso Ramos cumpriu a promessa e em 17 de março de 1964, pela Lei n° 3.408 o Governo de Santa Catarina encampou o Ginásio Lagunense, criando o Conjunto Educacional Almirante Lamego (CEAL), ainda funcionando no velho prédio da rua Voluntário Fermiano.

Governador (31/01/61 a 31/01/66) de Santa Catarina Celso Ramos. Imagem: Wikipédia

O CEAL recebeu todo o acervo do antigo Ginásio, e manteve nos cargos funcionários, diretores e professores.
O diretor e professor Ruben de Lima Ulysséa continuou como diretor-geral do educandário, enquanto o professor Jairo Ulysséa Baião assumia o recém-criado Curso Científico, com a denominação de Colégio Secundário José Fernandes Martins.
O Curso Normal recebeu a denominação de Colégio Normal Brito Peixoto, tendo como diretor o professor Abelardo Calil Bulos; e o Colégio Comercial Lagunense (CCL), de cursos técnicos ficou sob a direção do médico Paulo Carneiro, tendo o professor Édio de Oliveira como vice-diretor.
Iniciou com um total de 600 matrículas de alunos.

Busto do Almirante Jesuíno Lamego da Costa (Barão da Laguna), defronte ao prédio do CEAL, inaugurado em solenidade cívica realizada em 16 de abril de 1982.

Criada a Fundação Educacional de Santa Catarina, o Colégio Comercial Lagunense (CCL), foi desmembrado do CEAL passando a ser subordinado a nova entidade educacional.
O CCL funcionará nas mesmas instalações do CEAL, mas somente no período noturno.
Já no início da década de 1970, com a criação do Curso Núcleo Comum/Integrado assumiu como diretor do 2° grau o advogado e professor Ronaldo Pinho Carneiro.
Há alguns anos, nosso pesquisador e historiador Antônio Carlos Marega recolheu algumas sementes da chamada “Árvore de Anita”, hoje desaparecida e que ficava situada no Jardim Calheiros da Graça, na Praça Vidal Ramos e plantou-as no quintal de sua casa. 
Uma muda da figueira, doada pelo Marega, foi levada pela professora Márcia Brígido e plantada no jardim defronte a hoje Escola de Ensino Médio Almirante Lamego - CEAL, numa pequena solenidade reunindo estudantes. É a árvore da foto.
Portanto leitor, professores, funcionários e alunos, quando passarem pelo local fiquem sabendo que a figueira plantada ali é filhota da “Árvore de Anita”.
Com a reforma de Ensino de 1998, implantada pelo Conselho Nacional de Educação, o CEAL passou a atender somente alunos do Ensino Médio.
Através da Portaria E/0017 SED, de 28 de março de 2000, altera sua denominação e passa a ser chamado de Escola de Ensino Médio Almirante Lamego (EEMAL). 

A construção do CEAL
A área escolhida para a construção do prédio da nova Escola estadual foi a sede e o campo de futebol do Clube de Regatas Almirante Lamego, cujos sócios cederam o terreno com a condição expressa que o educandário recebesse o nome do patrono dessa entidade social, náutica e esportiva. O que foi cumprido.

Estádio do Campo do Lamego (Clube Recreativo e Náutico), em 1933. Foto feita do alto do Morro do Rosário. Nessa área será inaugurado em 1964 o Conjunto Educacional Almirante Lamego (CEAL). A frente do muro é hoje a rua Celso Ramos. Na lateral esquerda é atualmente a avenida Colombo Machado Salles e à direita as casas do Campo de Fora, na rua Almirante Lamego.

O CEAL em sua inauguração ocupava uma área de 1.817m2, dispondo de 17 salas.
Os gastos com sua construção foram de Cr$ 37.557.390,00 (Trinta e sete milhões, quinhentos e cinquenta e sete mil e trezentos e noventa cruzeiros).
As obras do CEAL foram iniciadas no mês de outubro de 1962 e acompanhadas atentamente por uma comissão de alunos da União Estudantil Lagunense (UEL).
Em 1963, em visita às obras de construção do futuro Conjunto Educacional (hoje Escola de Ensino Médio) Almirante Lamego (CEAL), uma comissão de alunos da União Estudantil Lagunense (UEL).
Da esquerda p/ direita: Jorge Speek, João Carlos Pacheco, Oclândio Siqueira, Jorge Abrahão, Inezita Silva e Lúcia Baumgarten.
Na foto, da esquerda p/ direita: Odilo Afonso Lindermann Jr., Francisco Carlos Zanella Nunes, Carlos Augusto Baião da Rosa, Jorge Sidney Abrahão, Jorge Speck, Juarez Fonseca de Medeiros.
De terno e gravata Pedro Floriano Jr. (Pepê), seguido por João Carlos Pacheco, Inezita K. Silva, Myrna Bianchini, Selva Salles Teixeira, Maria Adelaide Salles, Lúcia Cabral Baumgarten e Oclândio Siqueira.

A construção do então Conjunto Educacional Almirante Lamego – Ceal, na década de 60, sendo vistoriada pela Diretoria da União Estudantil Lagunense (UEL). Fotos acervo Oclândio Siqueira.

O projeto arquitetônico foi do arquiteto Jaime Machado, com a construção executada pela empresa Rizzo Ltda, sob a fiscalização do engenheiro Jacop Teixeira Tasso, da secretaria Estadual de Viação e Obras Públicas.
Desde então o Ceal passou por diversas reformas, melhorias e ampliações

A edificação, ao longo do tempo, foi bastante ampliada e passou por muitas transformações, tanto internamente como externamente, além de adaptações. Foto: Acervo do autor.  

A inauguração
Eram pontualmente 10 horas da manhã do domingo 20 de setembro de 1964, quando a comitiva do governador Celso Ramos constituída, como então se dizia, por autoridades civis, militares, eclesiásticas, professores, alunos e convidados, se dirigiram ao local que seria entregue à comunidade lagunense.
Presença de deputados estaduais, secretários estaduais e vereadores.

Pátio em frente ao CEAL, já com a Bandeira Nacional hasteada, mostra a multidão que compareceu a inauguração. Ao fundo o Morro da Glória. Foto: Jornal O Estado de 22 de setembro de 1964.

Uma multidão se postou defronte ao prédio, se estendendo até a rua em frente, que meses depois receberá o nome do governador Celso Ramos.
 
Oradores
Vários oradores se fizeram ouvir na ocasião, entre eles a aluna Dulce Michels; o estudante Juarez Fonseca de Medeiros; o professor Oswaldo Ferreira de Melo, assessor de Educação e Cultura do Plano de Metas do Governo (Plameg); o professor Ruben de Lima Ulysséa, primeiro diretor do CEAL; o prefeito da Laguna, médico Paulo Carneiro; e por fim falou o governador Celso Ramos.
Jornal O Estado 23 de setembro de 1964.
A Bandeira Nacional foi hasteada ao som do Hino Nacional Brasileiro. Logo após a estudante Dulce Michels apresentou uma biografia do patrono do estabelecimento, o lagunense Jesuíno Lamego (Barão da Laguna).
Pelo microfone, vários oradores enalteceram a obra realizada, entre eles o estudante Juarez Fonseca de Medeiros, que em nome do corpo discente congratulou o governador Celso Ramos pela construção da obra.
Jornal O Estado 22 de setembro de 1964.
O aluno Juarez juntamente com o professor e diretor Ruben de Lima Ulysséa entregaram duas lembranças ao governador em nome do corpo discente e docente, respectivamente.
Falou o deputado por Laguna Armando Calil Bulos dizendo que o funcionamento do CEAL era uma prova do impulso que tomou o ensino público no estado catarinense.
Bulos, autor da célebre frase “A Laguna de tanto ser esquecida aprendeu a esquecer”, também realçou que a conquista e conclusão da obra foi uma vitória do povo da “Terra de Anita” e exemplo da pontualidade de um governante em dia com as grandes metas do ensino.

O discurso do médico e prefeito Paulo Carneiro
Um dos oradores mais aplaudidos daquela solenidade foi o médico e prefeito da Laguna Paulo Carneiro.
O primeiro mandatário lagunense, dirigindo-se ao governador, assim se manifestou em letras poéticas, mas aproveitando a fala para dar uma beliscada nos partidos de oposição, a UDN e o PTB. 
Pelo valor histórico, é importante reproduzir o discurso neste espaço: 

“Sinto neste momento, tremenda responsabilidade sobre os meus ombros, qual seja a de dizer da gratidão deste povo.
Sei que neste momento todos os corações palpitam num ritmo de emotividade, como que a se perguntarem se o prefeito vai dizer o que sentimos e que, nós o povo, queremos que seja dito. É difícil a missão.
Dizer da gratidão é quase impossível. Às vezes uma simples lágrima diz mais do que seria capaz de expressar a mente humana.
Nas minhas divagações durante a inatividade a que me conduziu uma cruel enfermidade, eu me perguntava, muitas vezes, onde fostes buscar tanta energia, tanta força para, em três anos e pouco de governo, construir uma obra que, além de merecer aplausos de nós outros, os vossos amigos, merece a admiração e o respeito daqueles que em trincheiras opostas, esperavam que nada pudésseis realizar por Santa Catarina.
Estes, hoje aqui em Laguna, estão ao nosso lado, ao lado dos vossos correligionários para, neste magnífico clima de admiração e democracia vos tributar a sua homenagem pelo muito que fizestes pela Laguna.
Eles não regateiam aplausos. Eles vieram espontaneamente. Nós os seus amigos nos sentimos compensados”.

Oswaldo Ferreira de Melo em seu discurso referiu-se à importância daquela inauguração para o aprimoramento da cultura e educação da juventude, “que irá oferecer sua contribuição ao progresso do nosso estado”.
O governador Celso Ramos iniciou sua fala dizendo de sua alegria por encontrar-se novamente na velha Laguna, “e mais ainda por saber que nossas obras estão aqui sendo reconhecidas, o que pode se perceber através da grande manifestação de apreço com que fui recebido nesta histórica cidade”.

Na foto superior, a multidão postada em frente ao CEAL. Na foto de baixo o momento em que o governador Celso Ramos corta a fita inaugural à entrada principal do estabelecimento escolar. Foto: Jornal O Estado de 24 de setembro de 1964.

Em seguida o governador cortou a fita simbólica à entrada da porta principal do estabelecimento, sob calorosa salva de palmas da multidão presente, entrando logo após toda a comitiva e o público para conhecer o estabelecimento escolar e suas instalações.

A Programação continuava
A solenidade foi rápida, porque uma hora depois, com início às 11 horas, estava marcada a inauguração da estátua e Monumento de Anita Garibaldi, na então Praça da Bandeira (hoje Praça República Juliana).
Para ler sobre esta solenidade clique Aqui
Uma sala no Museu Anita Garibaldi também levou o nome do governador, com descerramento de seu retrato à parede pela primeira-dama catarinense Edith Gama Ramos. 

Recursos aos Sindicatos
O governador ainda fez entrega de recursos a três sindicatos de nossa cidade, sendo eles o de Trabalhadores da Indústria e Madeira; dos Estivadores; e dos Arrumadores. 

Desfile escolar
E a programação dos eventos continuou logo após, com desfile na rua Conselheiro Jerônimo Coelho de vários estabelecimentos escolares.
Desfilaram o Colégio Stella Maris, os Grupos Escolares Comendador Rocha, Jerônimo Coelho e Ana Gondin, além das Sociedades Musicais União dos Artistas e Carlos Gomes que abrilhantaram todos os eventos realizados naquela ensolarada manhã de domingo.

Almoço no Clube Blondin e despedida
Encerrando a programação, um almoço foi oferecido às autoridades e convidados nas dependências do Clube Blondin, onde discursaram mais uma vez o médico e prefeito Paulo Carneiro e o governador Celso Ramos.
Ao término do ágape, o governador e comitiva retornaram à capital do estado.

11 comentários:

  1. Outra aula de história. Desconhecia tudo isso do nosso CEAL.
    Texto para ser lido em sala de aula.
    Parabéns Valmir

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  2. Geraldo de Jesus20/09/2024, 08:23

    Eis uma obra importante para Laguna. Quantas gerações passaram por ali e de formaram e de tornaram profissionais por esse Brasil afora.
    A gente guarda o CEAL no coração.
    E tudo graças ao governador Celso Ramos. Uma época Valmir, que os políticos cumpriam as promessas feitas, a palavra tinha valor, era no fio do bigode como se dizia.
    Hoje? Hoje eles mentem descaradamente e dão gargalhadas na nossa cara e nada acontece.
    Muitos ainda são reeleitos pelo povo que adora sofrer porque só pensam em seus interesses imediatistas vendendo o voto.
    Depois vão pras redes sociais reclamar.
    Maus uma rica matéria sobre Laguna.

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  3. Isso que eu chamo de uma pesquisa porreta.
    Que a direção do CEAL e professores a utilizem em sala de aula fazendo tarefas e promovendo debates.

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  4. Aí passei minha adolescência e início da vida adulta. Conheci pessoas maravilhas e amizades que tenho até hoje. Pesquisa maravilhosa. Obrigada, Valmir.

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  5. Estudei o ginasial no CSJFM,assim estava nas nossas gravatas do uniforme,diretor professor Jairo.
    Depois estudei o Colégio Comercial Lagunense,onde me formei em contabilidade.
    Bons tempos e boas recordações que guardo comigo com muito carinho.
    Muito obrigada a todos os professores,diretores,serventes e a todos os funcionários do colégio que estudei por muitos anos.
    Gratidão a todos os mestres com carinho.

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  6. Ah... Valmir, me fizesse fazer uma viagem no tempo. Estudei no CEAL. Íamos de ônibus de Tubarão. Ah.. tempos de estudos e de paqueras, de descobertas, dos primeiros beijos roubados nos corredores, com medo do seu Jairo, do seu Ronaldo.
    Tempo de nervosismo pelas provas, das aulas de matemática da Natércia, da Elza, do inglês do But.
    Despertasses muita saudade de um tempo bom, mas também apavorante, das temidas provas.
    Que matéria legal, de pesquisa, feita com o coração, com emoção.
    Vou guardar como relíquia.

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  7. Parabéns Valmir pela pesquisa e a riqueza de detalhes .

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  8. Maravilhoso documentário! Muito obrigada pela pesquisa. Tive o prazer de estudar aí e ainda mantenho algumas amizades até hoje. Senti-me voltando ao tempo. Quanta saudade! Fafá- Hoje, Blumenau.

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  9. Pesquisa histórica brilhante, como sempre.
    Fiz o (na época chamado) Curso Primário no Stella Maris.
    Depois o “Curso de Admissão” (professora Ana Maria Mendonça) e a “Primeira Série” no Ginásio Lagunense.
    As Segunda e Terceira Séries já no “Ginásio Novo”, como chamávamos.
    Completei meus estudos em Florianópolis, mas as melhores lembranças são as da Laguna.

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  10. CLEBER GUEDES MATTOS20/09/2024, 20:29

    Obrigado Sr.Valmir .Que aula de História! Ainda sobre o Ceal/CCL, vale lembrar que o CCL funcionou nas dependências do Ceal, no período noturno, antes da mudança para o CIP(HOJE UDESC).O diretor do CCL, era meu pai , EDSON GOMES MATTOS. Então, , por muitos anos, eu estudava no Ceal, de dia, e ia ao encontro dos meus pais(minha mãe Marlise Guedes Mattos, dava aula de História no CCL) À noite espwrá-los para ir oara casa,..morávamos na rua Almirante Lamego..Era uma época bem legal.Obrigado, Valmir.

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