Jornal Agora Laguna, em sua valiosa seção Retalhos Históricos da Laguna, traz em sua edição de nº 31, de 11 de setembro de 2025, importante recuperação histórica dos tempos em que os primeiros sinais de televisão chegaram em nossa cidade.
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O técnico de rádios e televisores Valmir Guedes em sua oficina na Laguna em 1974. Foto: Loureiro Pacheco Lapa. Acervo: Álbum de família/Jornal Agora Laguna edição nº 31 de 11 de setembro de 2025. |
A matéria traz uma
foto feita em 1974 por meu tio-materno fotógrafo Loureiro Pacheco Lapa, vendo-se meu pai Valmir
Guedes postado em sua oficina de consertos de rádios e televisores, situada na
rua 13 de maio esquina com a então Praça da Bandeira (hoje República Juliana),
palco de muitas lembranças de toda uma infância e juventude.
Meu pai sempre
lembrava que os primeiros aparelhos em nossa cidade foram adquiridos no comércio de Porto
Alegre pelo farmacêutico Cid Cecconi Costa (Farmácia Santo Antônio) e pelo
comerciante Salun Nacif. Marca Admiral. Custavam uma fortuna, no início.
As antenas "espinhas-de-peixe"
Meu pai logo foi chamado para ajustar as válvulas nos soquetes. Os aparelhos da capital gaúcha chegaram aqui todos desregulados.
As antenas eram montadas na ponta de dois canos de ferro soldados pelo seu Itamar "Pilão" ou seu Camilo, ali na Roseta (hoje bairro Progresso). Mas havia quem usasse altos bambus.
A partir de
1965, com enormes antenas chamadas “espinhas-de-peixe” e as primeira repetidoras
instaladas captando o sinal da TV Piratini Canal 5, retransmitindo a Tupi dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, a
novidade da televisão chegou na Laguna e virou uma “coqueluche”, como então se dizia na gíria da época.
Marcas de televisores, desenhos e séries
Algumas marcas de aparelhos de TV daquela época; Invictus, Empire Bonanza, Colorado RQ, Semp, TV ABC, Teleotto, GE Máscara Negra, Admiral e Telefunken.
Logo surgiu a
figura do televizinho. Mas as imagens eram horríveis, em preto & branco e
cheias de chuviscos.
Mas quantos
desenhos! Tom & Jerry, Os Flintstones, Manda-Chuva, Pernalonga, Os Jetsons, Popeye, Tartaruga Touché, O Papa-Léguas, Zé Colmeia, Pepe Legal, Olho Vivo e Faro Fino, Corrida Maluca com o Dick Vigarista e o Muttley, Scooby-Doo Cadê Você e Jonny Quest.
E as séries: Perdidos no Espaço, Viagem
ao Fundo do Mar, Jornada nas Estrelas, Terra de Gigantes, Batman, Rim-Tim-Tim, Agente 86, Zorro, Daniel Boone, Túnel do Tempo, A Feiticeira,
Jeannie é um Gênio...
Foi num aparelho de TV marca Empire Bonanza, pés de palitos, tipo o da foto acima, e que meu pai levou dois meses para sozinho montar, que assisti ao homem pisar na lua em 20 de julho de 1969. Neil Armstrong, seu pulinho e pegada da bota na areia. Imagens icônicas que entraram para a história da humanidade.
Foi um acontecimento que marcou toda uma geração, principalmente nós que ainda éramos crianças. E a pequena sala lá de casa, na rua Voluntário Benevides, na subida para o Morro da Glória ficou lotada de amiguinhos para presenciar as históricas imagens.
Muitos nem acreditando no que viam. Até hoje.
Instalação e manutenção das repetidoras
Não podemos
esquecer de pioneiros que colaboraram para que o sonho lagunense da instalação de repetidoras de TV se tornasse
realidade.
Saudoso Carlos Cordeiro Horn e todo o pessoal da Associação
Comercial, entre eles Mário José Remor e do Rotary Clube da Laguna da época. Campanha para arrecadação de fundos foi efetuada.
Foi uma luta a instalação e manutenção das repetidoras lá nos altos do Morro da Glória. Nas noites de chuva e do tradicional vento nordeste jogando maresia
e salitre o sistema pifava constantemente.
Ou faltava energia elétrica, o que era bem
comum na época, e tudo desligava e era preciso lá subir para religar o sistema. Quando faltava o sinal era um Deus-nos-acuda de reclamações.
Muitas vezes meu pai e o técnico Antônio dos Santos, acompanharam Carlos Cordeiro Horn aos altos do Morro. Usavam um jipe
cedido pela prefeitura ou um fusca do próprio Mário José Remor, à noite, com
chuva e vento.
Paulinho Remor, irmão de Mário, mais jovem e ágil era o
escolhido democraticamente para subir nas torres.
Pioneiras lojas de televisores
As pioneiras
lojas lagunenses a comercializarem aparelhos de TV foram a M. J. Remor e a
Galeria Gigante. Lojas Fretta logo a seguir também passou a vender os aparelhos.
Meu pai era o técnico contratado da primeira loja e o jovem Lourival Tomaz Antônio se
desdobrava nas vendas na Galeria Gigante.
Depois veio
o sinal da TV Gaúcha, canal 12, retransmitindo a programação da TV Globo.
E as novelas? Ahh... as novelas. Direito de Nascer, Beto Rockfeller, O Bofe, Antônio Maria, Simplesmente Maria, Meu Pé de Laranja Lima, Selva de Pedra, Cavalo de Aço, Escrava Isaura, O Bem Amado, Irmãos Coragem...
Família reunida, todo mundo na sala e sofás, olhos vidrados e hipnotizados nas cenas das telas de tubos.
No Blondin um televisor sobre duas mesas
Lembro-me do primeiro televisor com transmissão de imagens em cores na Laguna. Foi colocado sobre duas mesas sobrepostas no Clube Blondin para os jogos da Copa da Independência ou Mini Copa, como também foi denominada, em 1972. Salão lotado. Uma festa.
A seleção brasileira na final ganhou de Portugal por 1 X 0, gol de Jairzinho aos 44 minutos do segundo tempo. Haja coração, como diria Galvão Bueno anos depois. Todo mundo saiu para a rua e Jardim Calheiros da Graça para comemorar.
Quem não podia comprar o aparelho que custava três vezes mais do que o que captava as imagens em preto & branco, disfarçava com um plástico colorido instalado defronte à tela. Lembra disso? Uma empulhação. Mas vendeu muito esse acessório.
Mas a história da
chegada dos sinais de televisão em nossa cidade é longa e o jornal Agora
Laguna, através do jovem jornalista Luiz Cláudio Abreu, uma alma antiga apaixonado
por histórias e memórias, vai contar mais um pouco nos próximos dias, inclusive com
entrevistas e um documentário com audiovisual caprichado.
A gente que nasceu depois nem imagina como foi, as dificuldades. Ótimas lembranças.
ResponderExcluirDesse plástico eu me lembro. Era pra enganar, era a televisão colorida de pobre.
ResponderExcluirHoje todo mundo tem e mais de uma. E até no celular.
Boa noite.
ResponderExcluirLembro muito bem dessa época e do “chuvisco”.
E muitas vezes a imagem “corria” para cima, era difícil de acompanhar.
Mas muito bom, tudo era novidade 🤗
Eu me admiro é a memória de vocês. Detalhes de 50, 60 anos atrás. Pequenos fatos que marcaram para todo o sempre.
ResponderExcluirValmir, bons tempos. A televizinha (da tia, da madrinha etc.) era a favorita daqueles que não podiam desfrutar de um moderno e, para muitos, inacessível, aparelho de TV em casa. Veja a solidariedade da época e o senso ampliado de vizinhança. Creio que o teu pai foi o mago, o salvador, o expert, a assessorar e socorrer os aflitos pelos intermináveis e indesejáveis chuviscos. Lembro-me do ajuste fino das manobras nas antenas externas e das milagrosas esponjas da Bombril no topo das antenas internas, para calibrar a imagem. Abraço
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