sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Ahhh esses números... (Parte II – O retorno)

Há alguns dias foi publicada uma matéria no site da prefeitura da Laguna e enviada aos órgãos de imprensa, com a seguinte manchete:

 “Argentinos são os turistas estrangeiros que mais visitam Laguna”.

Até aí nada demais, estamos carecas e eles cabeludos de saber que os hermanos, dos turistas estrangeiros, desde muito tempo são os quem mais visitam a nossa cidade.

Mas, no texto, a secretaria de Turismo da Laguna ainda informava:

“O último levantamento da Santur o número de estrangeiros na cidade nos meses de janeiro a março chegou a sete mil por mês. Ficaram hospedados de 7 a 9 dias, média de gasto de R$ 120 por dia“.

Aí fiquei com as pulgas atrás das duas orelhas. Sete mil estrangeiros por mês?  Na Laguna? Mas nem somando os três meses, santa!
Ou então preciso trocar as lentes dos meus óculos. 

A matéria nos dias seguintes foi replicada em vários jornais, como o Diário do Sul e também lida entusiasticamente por alegres radialistas de nossa cidade.
Diz a boa regra do jornalismo, que não se deve acreditar em tudo que as agências ou órgãos governamentais enviam para publicação.
O otimismo muita vezes é exagerado e a leitura sempre exalta o lado positivo, ao sabor dos interesses do governante de plantão. Faz parte do jogo.

Uma leitura mais atenta deve ser sempre efetuada e até, se possível, uma checagem nas fontes mencionadas e/ou outras fontes, para saber se números e informações estão corretos.

Enfim, quando li a matéria, achei exagerados os números mencionados.
8 mil estrangeiros, sendo a maioria argentinos na Laguna por mês... com uma rede hoteleira da cidade que não comporta 3 mil leitos? 

Mesmo que o período de permanência fosse de dez dias, os hotéis estariam praticamente lotados durante noventa dias, até porque argentino não costuma alugar imóvel. Pelo menos aqui em nossa cidade.
Como a matéria citava como fonte a Santa Catarina Turismo S/A -Santur - , fui em seu site conferir as estatísticas.
De repente, pensei, eu é que estou enganado em minhas deduções. E até, porque sou descrente por natureza em informações ditas oficiais.

Há que se ter muito cuidado na divulgação de números, até porque são eles que servem de base para tomada de decisões, para parâmetros por parte dos governantes.
E de nada adianta superavaliar estatisticamente uma realidade que não é a verdadeira e de fácil constatação, até visual. Pode dar boas manchetes, agradar ao boss. mas não espelha o real. É melhor o pé no chão.

Fui ao site da Santur como escrevi acima, e aproveitei a consulta aos levantamentos efetuados e publicados pelo órgão para trazer aos leitores outros números e dados.
Lá estava a informação, conforme vocês constatarão adiante. 

Em 2013, nos meses de janeiro e fevereiro, os estrangeiros que visitaram Laguna foram de apenas 634 e 825, respectivamente.


A “Pesquisa de Demanda Turística” é realizada anualmente pela Santur em alguns municípios. Aqui no Sul, é feita em Garopaba e Laguna. Ela é alcançada em parceria com os municípios e executada pela Gerência de Planejamento do órgão estadual. Alguns dados são disponibilizados pelas próprias secretarias dos municípios.

Não, não vou ser enfadonho e transcrever ano a ano os levantamentos feitos pela Santur. Quem tiver curiosidade, tempo, paciência, basta acessar o site e conferir os números. Os endereços estão no final da matéria.
São dados interessantes, principalmente numa comparação entre municípios.

Vou trazer aqui apenas os números da Laguna, da temporada de verão de 2013, alta temporada, portanto, e mais recente levantamento feito pela Santur. São números oficiais.
Se quiserem ampliar os quadros basta clicar sobre eles.
Faço pequenos comentários logo após os quadros.

Que o leitor extraia as suas conclusões:

O primeiro quadro começa com o número estimado de turistas nos dois primeiros meses do ano passado. Percebam que o número de turistas estrangeiros no mês de JANEIRO/2013 foi de apenas 634. Fevereiro: 825.
Onde estão os 7 mil estrangeiros/mês?

O segundo quadro traz a receita estimada em reais. Trinta e dois milhões em janeiro e vinte e três milhões em fevereiro é dinheiro pra chuchu que ficou por aqui. Ou não?

O terceiro quadro estampa a Taxa de Ocupação Hoteleira. E aí atentem que os dados são fornecidos pela própria Secretaria de Turismo da Laguna.
Baixíssima taxa de ocupação nos dois meses. Nada daquela história de hotéis quase lotados.

Ocupação baixa e permanência também. Apenas 4,32 dias em janeiro e 3,99 dias em fevereiro. Pouco, muito pouco.

Aqui os números sobem, considerando todos os meios de hospedagem. Mas não passam de uma semana em média.

Agora observem o gasto médio diário em reais nos turistas nacionais e estrangeiros. Convenhamos, nos de origens nacional, R$ 82,80 em janeiro e R$ 66,06 em fevereiro é preço de uma refeição – prato de camarão à milanesa - para um casal, não é mesmo?
Não há onde gastar?

Há muitos anos já sabemos que quem nos visita tem como origem o nosso próprio estado. Os índices de 63,84% em janeiro e 60,18% em fevereiro comprovam isso. Depois, claro, vem os gaúchos. Outros estados, como Paraná e São Paulo os índices são baixos. Rio de Janeiro dá menos de 1%.

No levantamento de 2013, os principais turistas estrangeiros são da Argentina, com incrível empate de 50% em janeiro e fevereiro; Uruguaios 33,33% mas somente em janeiro. Ainda aparecem como que perdidos no levantamento, os alemães (16,67%), austríacos (25,00%) e peruanos (25,00%). Alemães, austríacos, peruanos? Alguém os viu por aqui?

Estes dados são interessantes. Vejam que um grande percentual, quase maioria, se hospeda em casas de parentes/amigos. O percentual de casas próprias também é elevado. São os chamados veranistas oriundos de municípios vizinhos.
Vejam como hotéis estão em terceiro lugar. Camping e pousadas são índices ridículos e albergue e alojamentos nem constam. Traço zero.

Outros dados interessantes. E importantíssimos.
Quem influenciou no destino da viagem, em vir para Laguna, foram amigos e parentes, com 73,56% em janeiro e 77,71% em fevereiro. Quer dizer, está valendo é o conhecido “boca-a-boca” mesmo.
A internet vem influenciando bastante, com 21,84% e 18,07%, janeiro e fevereiro, respectivamente.
Já jornal, televisão, folhetos/folders, revista representaram menos (-) de 1,00%.

Evidentemente que o motivo da viagem é o turismo, com 89,77% e 90,90% nos dois primeiros meses. Já negócios por aqui? Poucos seminários de empresas são realizados.
Já negociatas nos bastidores têm muita, mas isso é outro assunto, deixa pra lá.

Os atrativos naturais, as nossas belezas, é o que ainda continuam atraindo os turistas, com 58,26% e 46,80%.
Turistas que encontram, lamentavelmente, os pontos turísticos abandonados, sujos, com péssimos acessos. Em segundo lugar surgem as visitas aos parentes e amigos e somente terceiro lugar as atividades históricas e culturais.
Já eventos, manifestações populares, compras, entretenimento e religião/peregrinação, aonde mesmo?

Antigamente os ônibus de excursão lideravam por aqui. Dezenas entravam na cidade diariamente. Quase não mais se vê.
Os automóveis despontam como meio de transportes utilizados e bem por isso merecem mais atenção, com bons acessos, estacionamentos e melhores estradas.
Já de avião? Pôxa! Nem sequer uma asinha delta.

Já no último quadro, a capital do estado lidera como a próxima cidade a ser visitada, vindo depois Balneário Camboriú e Garopaba.


Se vocês tiveram paciência para chegar até aqui, antes de mais nada meus parabéns.
Esses foram os dados de 2013 da Santur. 
Se quiserem se aprofundar na matéria, basta acessar dados de anos anteriores e também compará-los com outros municípios, como Garopaba, por exemplo. Aí verão (sem trocadilho) como ainda estamos longe de nos tornarmos um verdadeiro pólo turístico. Ao menos do sul do estado.
Nada adianta divulgar números aquém da realidade. Não adianta cantar em versos e prosas o que não existe. Na marra  a coisa não vai. Delirar não vale.
Que os nossos governantes, empresários, secretários e classes representativas se unam em busca de uma nova e verdadeira realidade.

Para beber na fonte os endereços são estes:

Um comentário:

  1. reclame dos nativos em Garopaba quando vão ao supermercados ,parece que estamos na Argentina,só se habla castejano, e conforme as noticias vigentes a crise tá grande pelos pampas argentinos,mas estão ai em Garopaba e Imbituba (praia do rosa) gastando e não e pouco.
    Jorge Edu

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