quarta-feira, 5 de março de 2014

“Sincericídio”

Romeu Tuma Jr., em seu livro “Assassinato de reputações – um crime de estado”, obra que já me referi aqui há alguns dias, traz uma palavra que me chamou a atenção e fez pensar.

A palavra é o título desta matéria: “Sincericídio”. Que significa o ato de suicidar-se por ser sincero. Um neologismo criado por ele.
Romeu Tuma Jr., perdeu seu cargo de secretário de Justiça e teve seu nome enxovalhado por ser simplesmente sincero e fazer o dever de casa, fazer e dizer aos seus interlocutores e superiores, o que é certo.

Quantos de nós já não perdemos amizades - inclusive familiares - por sermos sinceros? Quantos de nós já não perdemos empregos, cargos ou de galgar posições profissionais, por dizermos verdades?

Evidentemente que não me refiro aqui, aqueles atos e palavras – e às vezes alguns silêncios, muitos silêncios – a que somos obrigados a praticar no dia a dia, por mero protocolo, por afabilidade, educação e por etiqueta.
Se você, como se diz, for casca-dura 24 horas por dia, 365 dias por ano, acaba sozinho, sendo taxado de um sujeito grosseiro, maus-bofes, chato e ignorantão. Um pouco de jogo de cintura sempre há que se ter. Pode-se vergar a coluna, mas nunca quebrá-la.

Enfim, certo tato faz parte do jogo – e da vivência - das relações humanas. Há certas verdades que é melhor calar, olhar para o lado e contar até dez sob pena de você acender o estopim de uma bomba nuclear.
Imagine, por exemplo, você responder sincero a sua mulher, a poucos minutos de um evento social – um jantar, um cinema ou uma balada, se aquele vestido recém-comprado, lhe fica bem, se não a deixa gorda?
Se você for sincero, responder sempre a verdade, putzz... com certeza vai perder o evento. E dormir no sofá, pra deixar de ser besta.
Há sempre que se medir as palavras. E a sinceridade. Há momentos para tudo.

Mas também não ter posição, não ter opinião, ser um insosso nas questões surgidas no dia a dia, estar alheio aos acontecimentos, é também desaparecer na multidão, ser um zé-ninguém, um zero à esquerda.
E por acaso, alguém gosta de picolé de chuchú?

Pois bem. Depois de todo esse nariz de cera que fiz, quero dizer que há muitas pessoas, políticos principalmente, que tão logo assumem o poder, preferem ouvir somente os áulicos que os rodeiam. Quando ouvem!
Porque muitos políticos – vereadores, prefeitos, secretários – picados pela mosca azul, começam a se achar a derradeira cocada preta, a última coca-cola do deserto, como diz a letra do pagode.

E são ludibriados pelos elogios de assessores ou pelas bocas e canetas alugadas por cargos para si ou familiares. Ou então na base de patrocínios de milhares de reais.

Esses políticos, ao defrontaram-se com as realidades das ruas, com a reação do povo em forma de vaias a suas atitudes e atos, ficam surpresos. Dizem que não esperavam, que é injusto.

Não esperavam porque estão fora da realidade, porque ludibriados numa redoma de mentiras e enganações. Já vivem em outra galáxia.
Muitos serão políticos de um mandato só ou não mais serão reeleitos ou eleitos para cargos outros.

Machado de Assis escreveu que é mais fácil cair das nuvens do que do quarto andar, querendo dizer com isso que é melhor despencar de um sonho, do que de um prédio, que é altura real, perigosa e mata, literalmente. Ou politicamente.

É bem isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário