sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Laguna precisa de uma nova “Comissão de aformoseamento”

No começo do século XX, o prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos (1902-1906), promoveu naquela cidade uma urbanização, saneamento e civilização da recente Capital da República. Era o chamado “bota-abaixo”.

O centro da cidade foi o local que sofreu as maiores transformações.

Avenidas foram abertas, morros desmanchados, mangues aterrados. Nem tudo deu certo, é bem verdade. Cortiços foram derrubados e sua população sem ter pra onde ir e não querendo se afastar do centro começou a subir os morros dando origem à ocupação desordenada até hoje.
Mas os maiores objetivos, que era o saneamento básico e a higiene foram conseguidos.  Pereira Passos quando estudou em Paris, tinha presenciado as reformas urbanas promovidas por Georges-Eugène Haussmann e as implantou no Rio de Janeiro.

Urbanização também chega na Laguna
Na Laguna não era diferente. No segundo quartel do século XIX, com a chegada de imigrantes e o início da exploração do carvão no sul do estado e construção da Estrada de Ferro Tereza Cristina, uma onda de progresso começa a varrer a cidade.
Teatro, clubes, Sociedades Musicais e carnavalescas, Grupos Escolares, jornais, biblioteca, hospital, mercado, são construídos e inaugurados. Pelo porto da cidade escoavam produtos primários e chegavam os manufaturados. O tráfego com outras praças era intenso, inclusive com o Rio de Janeiro.
“Inegavelmente, foi a época de maior luxo em nossa terra”, diz Saul Ulysséa, em sua obra A Laguna de 1880.
Mas a cidade ainda sofria com a falta de saneamento básico, as ruas não eram calçadas, não havia um cais para seu porto e existiam zonas alagadiças em pleno centro da cidade.

Num relatório feito pelo Juiz Dr. Francisco Izidoro Rodrigues da Costa, contendo informações da cidade, podemos ler:

“A Laguna, cidade importante da Província, não tem procurado melhorar o seu estado sanitário.
As emanações pantanosas, sobretudo, que favorecem a propagação de epidemias, não são extintas. A Providência favoreceu o povo com uma contínua mudança de ventos, que carregam os miasmas e contribuem para a salubridade, embora de 1874 a 1878 a epidemia da Varíola dizimasse a população. Estando em frequente comunicação com o Rio de Janeiro, facilmente se importa a Febre Amarela, as Bexigas e todas as espécies de epidemias. Deve-se por isso conservar as casas, as ruas, os valos e outros focos de miasmas sempre acionados, observando os preconceitos higiênicos”.

Mais adiante ele faz um alerta:

“Muitas são as necessidades locais que já deixamos ditas no correr deste  trabalho tudo está por fazer: A barra necessita ser melhorada, cemitério ser construído, as suas ruas, calçadas, o mercado, o chafariz construídos. Se pelos esforços comum não se levar a efeito os melhoramentos  indispensáveis ao cômodo e bem-estar, construindo-se, assim uma independência dos favores do Estado, jamais, por outra forma, dar-lhe-á prova de vitalidade e prosperidade. A população almeja possuir tão importantes melhoramentos”.

Pois nos primeiros anos do século XX, comerciantes, armadores e autoridades do município se reuniram para dar uma nova cara para a cidade. Foi criada, em 14 de julho de 1907, por iniciativa de Ataliba Rollin, juntamente com José (Juca) Guimarães Cabral, os dois cunhados, uma “Comissão de Aformoseamento” para sugestões, projetos e arrecadação de numerários para as futuras obras.
É quando surge o jardim Calheiros da Graça e seu chafariz no antigo Campo do Manejo, a construção do cais em granito, passeios, calçamento de ruas, iluminação elétrica, etc.

***
Laguna ficou abandonada nos últimos 12 anos
Que a Laguna ficou feia e abandonada nos últimos doze anos isso é público e notório.
A cidade precisa de um banho de loja, para tornar a vida dos habitantes mais agradável e bonita aos seus olhos. Turistas que visitam Laguna precisam também constatar, além das belezas naturais em que a cidade é pródiga, o esmero e tratamento que o poder público e os moradores dão a polis onde residem.
Não há, creio eu, quem não queira viver e mostrar a visitantes um lugar asseado e bonito e que receba elogios.
Prefeito Mauro Candemil, que de cara pegou duas enxurradas pela frente que praticamente destruiu o sistema viário da cidade, que já estava em péssimo estado, deveria criar no novo organograma da prefeitura (a ser enviado em breve à Câmara de vereadores para aprovação), uma nova “comissão de aformoseamento” da cidade, versão século XXI. 

Este grupo ficaria encarregado, por exemplo, de pintar, florir, iluminar praças, canteiros e ruas, recuperar e manter monumentos, instalar lixeiras, cobrando, acompanhando e fiscalizando os trabalhos de outros órgãos envolvidos.
Em pouco tempo, muito trabalho e algum recurso, evidentemente, já poderíamos colher os resultados da aparência de uma nova Laguna.

Fica a sugestão.

2 comentários:

  1. Concordo, Valmir. Fiquei muito triste com o estado da cidade. Sujeira por todo lado. A Praia não foi limpa no dia primeiro, como acontece todos os anos.

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  2. É isso, Valmir. Concordo. Aliás, dia desses pensei a mesma coisa ao ver o estado de abandono de nossas praças (seria este o motivo de os lagunenses aproveitarem pouco os nossos espaços públicos?). Mas outra coisa me chamou a atenção. Este trecho do texto do juiz: "de 1874 a 1878 a epidemia da Varíola dizimasse a população". Desconhecia que algo assim tivesse ocorrido em Laguna -- ou teria sido exagero do magistrado? Abraços.

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